Obrigado a ti! |
A curiosidade
abrange o empenho do ego em conseguir “entender” a revelação. Aquele que está “curioso”
está envolto em determinações que não abrangem a fé, pois não entende aquilo
que quer ver. No entanto, quer ver para, então, entender.
A fé, em
oposição a isto, mas abrangendo mesmo isto, se aporta no que é totalmente real
e não precisa de explicação. Ninguém pode acreditar
em ter fé. A fé surge de uma disposição em lembrar. Lembrar não é “querer
ver”. Lembrar é apenas “desvelar”.
Tu, que estás
curioso acerca da revelação, deverias ser mais cuidadoso em relação à tua
curiosidade. Ela aponta para o futuro, para algo que será um dia demonstrado,
ou revelado, sendo a tua curiosidade uma pulsão em direção a este tal futuro.
Assim, qualquer disposição tua para estar presente neste momento será apenas um
prenúncio defasado, já que a tua curiosidade, a partir de então, buscará meios
de aderir o teu entendimento à experiência, alcançando para ti a “explicação”
do fenômeno.
Aquele que
acredita ser “curioso”, acha que possui vantagens em relação ao devoto. Segundo
o raciocínio egótico, a curiosidade é um catalisador da experiência, e
apresenta em relação ao sujeito um determinante que aposta no segundo seguinte
como a verdadeira amostra de Deus — explicada, logicamente.
Assim, no
instante mesmo em que perceberes o mundo a rodar, quererás sair disto para
entender, pois, curiosamente, eis aí o novo! E se entregar à paz que sobreviria
à entrega total ao fenômeno da revelação parece algo impossível, pois é algo
que o ego não compreende, e não deixa que vejas, pois não pode aceitar o que
não podes “mentalizar”. Por isso é dito no curso que o ego quer que “busques,
mas não aches”. Isto é, o ego te quer sempre “curioso”.
Obviamente,
mesmo isto pode ser usado em teu favor se deixares que o Espírito Santo assuma
a responsabilidade por “procurar”. Ele “achará” para ti o que queres, e poderás
relaxar na perfeita disposição da vontade para o aprendizado, que é
estabelecida na fé.
A fé,
diferentemente da curiosidade, não abrange o amor como um “fenômeno”, uma
discussão ética ou comportamental. Tampouco se estabelece em menores
habilitações do mesmo, quando se fala sobre o seguro-desemprego, a valia de
algo ou símbolos do mundo para a justiça. A fé, seu empenho seguro, não está
envolta em nenhum comentário ou expectativa. A fé é semelhante a sentar-se numa
cadeira e sentir a temperatura do ambiente ou observar um muro ou uma janela. Esperando o quê? Esperando nada,
esperando apenas o que nada pode ser, ou seja, esperando que a espera suprima
por si só a experiência em esperar.
Falar em
termos de opostos sobre a colocação da fé neste mundo é tarefa que empenha
concentração e esforço. É preciso que não queiras absolutamente nada para teres
fé. O mundo apregoa o contrário: ter fé é ter disposição, curiosidade, empenho,
devoção etc. Mas a verdadeira fé, que é a abstenção ao ego, como dito no Curso,
“sentar-te de lado e não interferir”, esta fé faltam em muitos que ainda se crêem
separados. A fé de Tomé vale por uma imagem. A fé de Cristo não se compreende
por palavras. No entanto, a fé de São Tomé é a mesma fé em Cristo, vista em
imagem.
A fé de teu
irmão vale, portanto, pela tua fé — caso consigas ao menos amar ao teu irmão.
Por isso se diz que o Instante Santo é um instante de verdadeira fé. O verdadeiro
amor não é “curioso”. Ele não quer saber nada sobre o outro, ou sobre a “iluminação”
do outro. As crianças são ainda pequenas e descuidadas, mas abrangem em si a
disposição em aproximar-se de outras crianças com fé perfeita. Como seus egos
estão em formação, em breve discutirão, e esta parece ser a natureza da relação
infantil, que difere da adulta apenas pela sinceridade. A criança ainda está
presa ao fazer. Tu, que já deverias desfazer, ages como criança quando és
curioso, e queres fazer a tua fé, ao
invés de entregar-se à Expiação, ao verdadeiro desfazer.
A única
alegria verdadeira vem de se fazer a função que Deus estabeleceu para ti. Qual
é essa função? O Espírito Santo revelará para ti, quando estiveres disposto a
não querer saber! É disso que estivemos falando, pois o ego quereria que tu
acreditaste na “forma” de tua função. No prêmio, no reconhecimento, no empenho
devotado à miséria de sua explicação formal. Tu estás muito curioso em saber
qual a tua função, mas acreditas que ela será “demonstrada” para ti. Estás tão
curioso por isto, que não te entregas à tua função, que te auxiliará no teu
desfazer.
Como fazê-lo?
Simples! Acorda pela manhã e viva a vida sem esperar nem um segundo sequer por
um pensamento ou explicação sobre nada. Apenas veja o visto. No zen se diz: “almoçou?
Então vá lavar os pratos”. Eis tudo!
Parece
difícil, não é? O simples parece o absurdo maior. É sentido como insatisfatório.
“Precisa-se de um pensamento”, eis a tabuleta que poderia ser colocada na mente
de cada curioso. No entanto, o pensamento que surge da fé não surge apenas
através do empenho em perceber ou entender. Vejamos agora palavras seguras
sobre a tua forma de fé:
1
A fé move montanhas e sonhos. As montanhas são
sonhos. Se sonhas com montanhas ou sonhas com metades de montanhas ou sonhas
com cabeças de dinossauro, sonhas com sonhos. Se sonhas com sonhos, sonhas com
histórias. Se sonhas com histórias, sonhas com o passado envolto na memória das
histórias.
2
A metade do abismo não é a queda.
3
A montanha é o palanque do abismo.
4
A cura é a montanha olhando de dentro do abismo
para Si Mesma.
5
O olho da montanha é a fé.
Logo,
A fé remove montanhas
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