Primeiramente,
é o medo que desfaz todas as perspectivas favoráveis no mundo. Não se sabe de
onde vem o medo, mas o percebemos como uma disposição desfavorável em relação
ao mundo. Às vezes, parece que os mecanismos do mundo desfazem a toda hora, sob
a forma de medo, nosso aprendizado mais feliz. No entanto, isso ocorre
simplesmente porque não queremos um aprendizado realmente feliz, amoroso e sem
temor. Ora, não é verdade que muitos dizem estar em busca de amor em um mundo
sem amor? Como encontrá-lo, baseando-se em ideias conflitadas? Se não há amor
no mundo, como encontrá-lo? Não se acha o caminho para o Oeste seguindo em
direção ao Leste. Mesmo se deres a volta ao mundo, estarás caminhando sempre
para o Leste.
Esta
dicotomia — ou dissociação — na qual se busca encontrar algo onde não está
surge de uma tentativa em ser “diferente”. Não é o amor que realmente se busca,
mas o “sucesso”, o êxito em encontrar. Geralmente, isto é confundido a tal
ponto que ser feliz no mundo em contratos sociais passa a ser o objetivo para
ter paz. Portanto, se não podemos encontrar o amor no mundo, podemos projetá-lo
no sucesso. Jesus venceu o mundo, mas não o fez pelo meio ilusório. Jesus não
foi exatamente um “homem de sucesso”. Dar certo não é uma prerrogativa da
forma, mas ser feliz, isto sim, nisto Jesus sucedeu, desfez o desamor e
soube-se a Quem Ele Respondia. Na verdade, qualquer um que queira realmente
experimentar o que seja “dar certo” tem que ser feliz. O amor infeliz é
impossível. Quem “sofre por amor” está enganado.
A partir do
momento em que se deseja ser feliz, não se pode mais pensar em sucesso. A
chegada do amor é a escolha em ser feliz. Tampouco seja o caso em que se projete
esse amor nas coisas, crendo que apenas o bonito é o certo. Ou que “perdoar o feio”
é o certo. Ser feliz não é uma escolha estética. Na verdade, ser feliz não é
uma escolha, mas um estado de graça que surge de uma verdadeira disposição ao
mundo. Ver tudo com os olhos de Cristo significa isso. Não abençoas apenas o
que dá certo ou o que é belo. Teu olhar deve ser sempre benção. Nisto se é
puro.
Mas não deves
esconder nada de ninguém. É isto que se diz “disponibilidade ao Espírito Santo”.
Aquilo que dá certo não é um meio garantido, mas olhar para o certo ou o
incerto com amor abre as portas pelas quais Ele Mesmo verifica os meios. Como
diz a música do Pato Fu: “conte o teu angélico segredo”, pois “quando algo sai
do seu controle / o mundo volta a respirar”.
Agora
falemos sobre o domínio do medo sobre o mundo. O mundo precisa da ideia da
superação como o medo precisa de mais terror. A ideia de superar-se garante o
sucesso no futuro, enquanto o presente será sempre indigno. O desamor garantirá
o teu olhar de desejo e verás no sucesso a garantia de superar a si mesmo. Geralmente,
como o sucesso tem a outros como modelo, a ideia de superação é a própria inveja,
pois tudo o Que Se É permanece obscuro, sob os auspícios do “bom exemplo”. A
moral não entra nisso, pois o “bom exemplo” é criado em cima do desejo do
sonhador. Se estiver em conflito com os ideais do mundo, o sonhador pode até crer
que é revolucionário. Se estiver em favor, será um guardião de algo. Por conta
disso se diz que o desejo somente pode surgir do conflito.
No
entanto, o desejo em si não é um erro. A questão deste texto é: quem pode
garantir que está desejando o que é melhor para si? Cada passo parece incerto
demais e as garantias são tão poucas que qualquer ideia pode fazer com que o
individuo busque ancorar suas expectativas no que não faz sentido. Há pessoas
tão vazias de si, que qualquer ideal lhe serve como tampa, desde a simples visão
de si mesmo como melhor que os outros — geralmente através da fofoca e da maledicência
— até assumir ideias que não lhe cabem em absoluto, enquanto crê que caminha.
Como
saber se estás agindo assim? Simples. Estás feliz? Realmente feliz? Acordas
feliz para fazer o que fazes? Então estás atuando no caminho certo. Caso
contrário, não entre na armadilha da autoavaliação. A autoavaliação pode fazer
surgir o desejo de se superar. Teu papel é sair do caminho. Olha para tudo com
benção, e a resposta surgirá. Deixa que os meios sejam avaliados para ti, mas
não por ti. Não precisa ser religioso para se fazer isso. Mais uma vez: teu
papel é sair do caminho. Como se faz isso? Busca a Deus não como um objetivo de
sucesso, ou uma superação da tua falta de fé, mas busca Deus no Amor, pois Lá
certamente O encontrarás, mesmo que seja “por amor às causas perdidas”, pois
uma causa nunca é perdida se é para ti.
Todos os dias
lembra de dizer a ti mesmo: “Ainda sou como Deus me criou”, ou “ Deus me ama
independentemente do que eu pense sobre mim mesmo”, ou ainda “sou feliz, pois
sou amado pelo próprio Deus”, ou qualquer outra frase com o sentido de que és
amado, pois deves lembrar de que és amado, que és digno, e que o erro e o
acerto são categorias e que Deus não é categorizador. Deus é perdão e amor. No
Amor que dás, Deus está ali. Ama e és livre, pois Deus é amor. Essa consciência
abre espaço para uma nova consciência que pode te mostrar algo favorável. Não desejas
ser feliz? Então lembra que és amado. Deus te ama independentemente de tuas
ações, pois Deus é Amor e o amor não categoriza em certo e errado. Quem faz
isso são os homens, com medo e julgamento. Faz o que é certo no mundo, para não
naufragar, para viver uma vida boa, mas se errastes, o que tem se errastes? Se
acertastes, o que isso te dá na verdade? Seja feliz, e largue mão do controle
sobre quem merece ou não ser amado por ti. Todos são filhos de Deus. Todos
merecem teu olhar de benção. Sucesso verdadeiro é amar e ser amado.
Isso, sim, dá
certo. E o certo virá para ti na forma que é para ti. Amém.