"O plano do ego é fazer com que
vejas, em primeiro lugar, o erro com clareza e depois não o vejas. Mas como é
possível não veres aquilo que fizeste com que fosse real? Vendo-o com clareza,
tu fizeste com que fosse real e não podes deixar de vê-lo. É aqui que o ego é
forçado a apelar para "mistérios", insistindo que precisas aceitar o
que não tem significado para salvar-te." (T-9. IV. 4: 2-6).
O que são os mistérios aos quais
o ego apelaria por?
Uma condição nova, apropriada
pelo ego como novidade, pode ser a velha forma de enxergar o mundo falsamente renovada. O
ego dança com as imagens do mundo como se fosse um com elas, em separação ordenada,
julgando tudo o que vê como se fosse dono e juiz. Sendo um com tudo o que vê,
mas no formato “dono”, o ego apregoa que o medo de Deus faz todo sentido, pois
ver a fonte da "Ameaça" é para ele o mesmo que a morte. Portanto — ainda segundo o ego —, é altamente recomendável ter sempre novas ideias sobre o mundo, com a finalidade de "renovar" a separação.
Já quanto a cura, a benção e o perdão, haverá uma série de mistérios dificultando seu entendimento, pois o ego fará com que penses que é tudo muito difícil de ser entendido, que não é para você, deve ser algo para pessoas especiais e inteligentes, diferentes de você, melhores que você e mais tolices deste tipo, que o ego consegue oferecer com muita habilidade de convencimento. Portanto, é preciso pensar muito bem antes de
dar qualquer passo em favor da mente certa, segundo o ego. Seu pressuposto
básico é este: cada dia deve julgar o dia anterior, e prosseguir temendo o futuro de acordo com os acontecimentos passados. Para o ego, este é o uso favorável do
tempo.
Da mesma forma, para o sistema de
pensamento que usa, o medo deve estar sempre dirigindo os atos mais
corriqueiros do teu dia, sob a égide da perda. Vivendo em escassez perene, o
ego adverte para a necessidade de preservação. Uma forma de fazer isso é dar ao
seu fazedor um instinto de reação imediata, provocando um rápido afastamento de
tudo aquilo que o Filho de Deus acreditaria correto e justo para se investir.
Assim, o medo surge neste
contexto como um sucedâneo para o pensamento construído diante deste erro. Se o
medo faz mistérios, diante de uma ocorrência anódina — pois para ele tudo será
ameaçador —, o medo também estará propondo uma série de ameaças misteriosas, que
divulgam para aquele que visa aplicar o perdão verdadeiro, ou seja, aquele que
perdoa meramente vendo o visto, sem antes julgar para só então, depois,
perdoar, pois aquele que busca apenas ver o visto, a esse é dito que o medo
deve ser percebido como um sinal da interferência correta de teu irmão sobre
tua vida. Ele é maravilhoso, sim; um Filho de Deus, sim; tem direito ao Amor?
Claro que sim! Mas com reservas, nunca se sabe o que pode vir no futuro. Como
podemos confiar em alguém que não etc.
Esse discurso é um velho
conhecido. Todos de alguma maneira se engalfinharam nele. É misterioso simplesmente
como é misterioso algo que não existe. É muito sedutor falar em termos
ficcionais de um planeta ou de outra dimensão, porque para a mente isto tudo se
torna muito misterioso. Um irmão pecador é, para o Espírito Santo, um grande
mistério, pois isso é algo que Ele nunca viu. Isto está escrito sob a forma de
piada, pois o pecado, e, consequentemente, um irmão pecador, não existem de
forma alguma. O ego apela para o mistério da existência de pecados mortais, infernos
desastrosos, medos inenarráveis, traições e outros termos que sabemos somente
existir sob a égide do medo, e o medo é um estado que não existe.
A solução é perdoar o visto,
vendo o visto, sem antes julgar para, então, perdoar. Este é o plano do ego,
que busca entender o “mistério da vida”. Não há nenhum mistério. Simplesmente,
o corpo não existe, esse mundo foi feito para tentar fazer verdadeiro um estado
no qual a mente estaria separada em partes e que tudo estaria fora do teu
alcance, não fosse as parcas percepções que o corpo provê. Tudo isso parece
muito misterioso, assim como é complexo e misterioso tentar tornar uma mentira
verdadeira. Tudo que o ego diz sobre o mundo e sobre teu irmão é uma ficção
daquilo que ele é. E geralmente é uma ficção bem construída, pois o ego é muito
competente em arguir e responder. Ele não teria capacidade para fazer como fazemos
aqui, pois ele não defende estas ideias nem as consequências para as quais
estas palavras dirigem, mas ele te diz exatamente o que pensar sobre o mundo,
sobre teus irmãos, e onde deves investir teu comprometimento, pois há um mistério
de punição e medo rondando todo o seu sistema errado de pensamento. Assim, para
o ego, perdoar é primeiro ver o erro, e depois tentar não o ver mais. Segundo
ele, isso será possível. Faz algum sentido para ti? Uma vez marcado, o teu
irmão torna-se pecador. É possível tornar o pecado real e depois perdoá-lo?
Isso daria ao ego o poder de um
Deus. Por isso o julgamento é tão importante para ele. É uma ferramenta
imprescindível para o aprendizado ao qual o sistema de pensamento da mente
errada te dirige.
Mais uma vez: perdoar é ver o
visto, e só. Não há mistérios nas coisas de Deus, pois Deus é abundância e
dádiva. Acredita nisto e verás novamente.
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