PERGUNTA:
Por que é dito
no UCEM que uma das maiores dificuldades para achar um perdão genuíno é que
ainda acredita-se ter que perdoar a verdade, e não ilusões?
A ilusão não
pode ser perdoada verdadeiramente, simplesmente por não existir nada de real
nas imagens da ilusão no formato mundo. No entanto, quando as ideias que
configuram no mundo sua “aparência de existência” vigoram na suposição de que
existe algo real a se perdoar aqui, damos
realidade ao erro. Assim, surge através do perdão dado deste modo uma espécie
de justificação da condenação, pois agora o erro é real, e se o erro é real,
podemos inclusive nomeá-lo “pecado”. O perdão que admite a realidade do erro
visa conceber um pecador.
A contradição
presente nestes termos divulga, por oposição, a sinceridade presente no perdão
que se dá independentemente do ato a ser perdoado. O perdão que não julga, ele
não vê o erro como um pressuposto para doar bondade. Por outro lado, o perdão
associado ao conceito de erro como algo ilusório é uma verdade por conta da
característica permissiva de correção por parte de algo errado, passível de
correção, e que não é nenhum pecado. Já a contra-parte do perdão que visa
incorporar a culpa ou uma condenação expiatória ao erro, visa demonstrar a
superioridade daquele que perdoa “até mesmo isso”.
Isso não é
perdão — é doença. Por isso se demonstra claramente que perdoar não é ver o
erro como condenável, para depois “desculpar”. Jesus nos adverte: “observa a
trave no teu olho antes de ver o argueiro no olho de teu irmão”.
A consciência
do erro não visa ater condenação perpétua associada a um tipo de perdão. Não
existem vários tipos de perdão. A palavra perdão não pode admitir plural.
Perdoa-se apenas de um modo, pois existe apenas uma escolha a se fazer.
Vejamos: cada
vez que na perspectiva da ilusão alguém adverte um caminho correto, procura-se
distinguir o erro do acerto. Para finalmente respondermos à pergunta, dizemos
que o perdão segundo nosso currículo associa uma total disponibilidade em não
validar nenhum ato no mundo como real ao contexto plenamente divulgado de que o
mundo é uma ilusão. Portanto, há apenas um tipo de perdão: o perdão das
ilusões. Neste caso, poderíamos até chegar ao ponto de dizer que podes perdoar inclusive
as coisas boas que são feitas a ti, mas isso seria um pouco radical, visto que
não há porque se ater ao conceito de amor uma necessidade de perdão, pois o que
vigora aqui como simbolo de amor não precisa de perdão, pois é a presença da
sanidade se revelando em símbolos. Mas poderíamos associar ao claro estigma da
ferocidade da paixão de Cristo, conforme apresentada nos filmes mais recentes,
como uma associação em medo daquilo que fora apenas Jesus sabendo do perdão em
seu próprio corpo, não associando ao ato da Paixão nenhum tipo de julgamento.
Sendo assim, Ele não poderia crer que estava sendo levado para ser morto, pois
tudo ali era perdoado e estava-lhe sendo revelada a clareza das ilusões.
Notadamente, isto somente poderia ser realizado por alguém altamente presente.
Nisto, podemos verificar igualmente que não houve real sacrifício, pois ninguém
morreu naquela ocasião. E por demonstrar que não existe morte, Jesus também nos
adverte que o ato da crucificação não precisa de ser repetido, pois sua
mensagem é a ressurreição.
Portanto, a
verdadeira ação do perdão reside no pleno poder de associar à ilusão a
característica ilusória que a define. O perdão é a consciência da irrealidade
da forma. Exercitar o perdão vigora na não validação das formas do mundo,
conforme disse-me certa vez meu amigo Marcos Morgado. Por isso também se adverte
no UCEM para que se perceba o perdão tal como é. O perdão não é barganha,
tampouco visa condenar afirmando o erro. O perdão livra a forma de qualquer
tipo de condenação, por associar ao erro sua característica de irrealidade.
Convém se possuir ética para uma vida calma, e honestidade para solidez da
mansidão, mas nenhuma virtude pode ser associada à verdade como barganha. Vide
para isto a história do Bom Ladrão.
Perdoe e ame.
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