O
excesso de pensamentos não é aparente para quem não os percebem, ou se acredita
confundido com eles. É possível confundir-se com uma sequencia de pensamentos,
de tal forma aparentemente difundido como “nossos”, que a presença do
pensamento torna-se a realidade da pessoa naquele instante.
Para
além do “penso, logo existo”, que define o homem à luz do pensamento racional e
estabelece uma relação de causa e efeito entre estruturas lógicas do
pensamento, o “existente por pensar” está apenas aderindo a uma causa sem
efeito, pois o pensamento “solto” nasce de uma volição, não está em busca de aderir
a si mesmo nenhum efeito. Ele apenas surge,
traz consigo uma ideia, depois desaparece, e o sujeito busca compreender a si
mesmo a partir de imagens, ideias, noções aproveitadas de coisas escutadas de
orelhada e assim por diante. Alguém que está agindo nestes termos, mas não se
percebe assim, pode muito bem ser influenciado por qualquer tipo de
ideologia.
Por
outro lado, aquele que percebe a si mesmo como um ser pensante, pode muito bem
iniciar a observar-se como portador de uma estrutura que aqui chamaremos de “mente
errada” (termo encontrado no livro Um Curso em Milagres) capaz de fornecer
diversos tipos de pensamentos em variadas formas através da imaginação, tais
como imagens, opiniões, pseudos planejamentos, conselhos, ativismos libertários
e todo tipo de noção acerca da qual o pensamento seja capaz de construir como
ideia, a fim de distrair o observador deste fenômeno e fazê-lo aderir ao
pensamento fornecido como se isto fosse ele mesmo.
A luz desfaz a escuridão |
No
entanto, quando você consegue finalmente perceber-se destacadamente do
pensamento como uma noção totalmente identificada com você, ou seja, quando
você percebe que você não é seu pensamento, você pode ver a si mesmo como um
observador da mente. Este observador da mente seria algo como a mente
observando a si mesma, ou como dito também no livro Um Curso em Milagres, você
percebe-se identificado com a “mente certa” a observar a “mente errada”. Quando
isso começa a acontecer, é realmente uma benção, mas pode ser interpretado pelo
observador como loucura.
O
medo é o princípio que rege o apego ao pensamento como um fundamento da
existência e a base única do nosso eu. Quando essa loucura é vista em ato, ou
seja, quando a natureza ilusória dos pensamentos é percebida, é possível que o
sujeito seja tentado a perceber a si mesmo como louco, pois doutrinou a si
mesmo durante anos a identificar-se com o pensamento como a realidade única de
seu ser e viu que essa realidade é ilusória. Mesmo assim, a tentação em querer
manter uma relação com o pensamento como uma identidade pessoal ainda não
desapareceu por completo. Neste caso, o sujeito pode experimentar um conflito
muito agudo: ele percebeu que não é aquilo que são seus pensamentos, mas também
não sabe onde encontrar uma base sólida onde encontrar seu verdadeiro Ser. Isso
pode provocar no sujeito uma grave ansiedade.
Esse
é o momento da fé. Quando o Filho de Deus passa a abandonar a ideia de si mesmo
como uma mera estrutura de pensamentos, começará a surgir para si, em sua total
completeza, algo que ele poderá descrever como um novo eu, com tudo o
que é amoroso e belo ressurgindo para si, brilhando em sua mente como uma
ocorrência feliz, reverberando com o mundo em amor e capaz de atribuir a si mesmo
aspectos positivos ou capacidades revigorantes que o individuo acreditava
estarem perdidas para sempre.
Neste
momento, aspectos mantidos através de pensamentos privados, isto é, tudo aquilo
que o sujeito relegou ao esquecimento e não quis ver em si mesmo ou mostrar,
será trazido à luz. É preciso ter
confiança e saber que a completeza do Filho de Deus é luz e não escuridão.
Certamente, seria muito difícil realizar isso sem ajuda.
A
Ajuda é fornecida por Deus, através de Seu Espírito Santo. A “mente certa” é o
lugar onde os pensamentos de Deus podem ser observados e tudo o que estava
oculto pela escuridão será revelado sem mancha, como se lê na Bíblia: “e não me
lembrarei mais de seus pecados e de suas iniquidades.” (Hebreus 10:17). Tais
pecados não são as “coisas erradas” nas quais você se vê condenado por tê-las "feito". Tampouco a solução para dirimir suas consequências ilusórias, lançando-as na sombra e relegando-as ao esquecimento terão sucesso. O pecado que você acredita ver em si mesmo não reside no ato passado, mas na culpa e no desamor associados a tais coisas. Quando elas aparecem, o perdão surge como uma perspectiva de cura. O caminho mais curto para a realização de tal processo dá-se através do perdão aos outros.
Caso
escolhas ouvir a “mente certa”, poderás escutar o Pensamento de Deus, ao invés de teus
tolos pensamentos sobre devaneios imaginados. O mundo que vês é apenas o reflexo
destes devaneios. A “mente certa” não possui pensamentos privados, pois tudo lá
é compartilhado. “No mundo novo, nada passa desapercebido / e não existe mais
sabido / tá tudo aí” (Tá tudo aí,
música de Rubinho e Mauro Assumpção).
Certamente,
já é possível perceber a esta altura que o teu papel neste jogo chamado vida é
o de escolher entre observar a “mente certa” ou a “mente errada”. Observar a
mente errada e se identificar com ela é o mesmo que chamar pela condenação, pelo
erro ou o desamor. Estes são os regalos do ego, dados para depois serem
cobrados como culpa ou medo, ou a falcatrua da dor disfarçada de prazer. Você
não existe como um feixe de pensamentos. Você é um tomador de decisão.
Acaso
você se decida por ouvir apenas os pensamentos oriundos da “mente certa”, certamente
vais encontrar um Amigo capaz de te ajudar. Ele não te influencia, não te
dirige, não te compele. Mas se O escolhes como Guia, ouve-O e escolhe segui-Lo,
os efeitos das ações sugeridas por ele podem muito bem ser interpretadas e seus
efeitos comparados com o modo antigo de pensar. É essa comparação que te faz
distinguir entre a “mente errada” e a “mente certa” e escolher bem.
Portanto,
por um tempo é necessário ouvir toda a confusão da mente como algo destacado de
você. Esse é o princípio da sanidade. Por fim, a oração é o caminho para a paz.
Sempre que quiser paz na tua
consciência, faz da oração teu link com a mente certa. E o Amor despontará na
tua consciência por Si Mesmo. Como é dito em Um Curso em Milagres: você não precisa fazer nada.
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Música citada no texto: "Tá tudo aí".
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