sábado, 11 de março de 2017

Sobre o excesso de pensamentos e a sombra.

       


        O excesso de pensamentos não é aparente para quem não os percebem, ou se acredita confundido com eles. É possível confundir-se com uma sequencia de pensamentos, de tal forma aparentemente difundido como “nossos”, que a presença do pensamento torna-se a realidade da pessoa naquele instante.

       Para além do “penso, logo existo”, que define o homem à luz do pensamento racional e estabelece uma relação de causa e efeito entre estruturas lógicas do pensamento, o “existente por pensar” está apenas aderindo a uma causa sem efeito, pois o pensamento “solto” nasce de uma volição, não está em busca de aderir a si mesmo nenhum efeito. Ele  apenas surge, traz consigo uma ideia, depois desaparece, e o sujeito busca compreender a si mesmo a partir de imagens, ideias, noções aproveitadas de coisas escutadas de orelhada e assim por diante. Alguém que está agindo nestes termos, mas não se percebe assim, pode muito bem ser influenciado por qualquer tipo de ideologia.

          Por outro lado, aquele que percebe a si mesmo como um ser pensante, pode muito bem iniciar a observar-se como portador de uma estrutura que aqui chamaremos de “mente errada” (termo encontrado no livro Um Curso em Milagres) capaz de fornecer diversos tipos de pensamentos em variadas formas através da imaginação, tais como imagens, opiniões, pseudos planejamentos, conselhos, ativismos libertários e todo tipo de noção acerca da qual o pensamento seja capaz de construir como ideia, a fim de distrair o observador deste fenômeno e fazê-lo aderir ao pensamento fornecido como se isto fosse ele mesmo.

A luz desfaz a escuridão
        No entanto, quando você consegue finalmente perceber-se destacadamente do pensamento como uma noção totalmente identificada com você, ou seja, quando você percebe que você não é seu pensamento, você pode ver a si mesmo como um observador da mente. Este observador da mente seria algo como a mente observando a si mesma, ou como dito também no livro Um Curso em Milagres, você percebe-se identificado com a “mente certa” a observar a “mente errada”. Quando isso começa a acontecer, é realmente uma benção, mas pode ser interpretado pelo observador como loucura.

O medo é o princípio que rege o apego ao pensamento como um fundamento da existência e a base única do nosso eu. Quando essa loucura é vista em ato, ou seja, quando a natureza ilusória dos pensamentos é percebida, é possível que o sujeito seja tentado a perceber a si mesmo como louco, pois doutrinou a si mesmo durante anos a identificar-se com o pensamento como a realidade única de seu ser e viu que essa realidade é ilusória. Mesmo assim, a tentação em querer manter uma relação com o pensamento como uma identidade pessoal ainda não desapareceu por completo. Neste caso, o sujeito pode experimentar um conflito muito agudo: ele percebeu que não é aquilo que são seus pensamentos, mas também não sabe onde encontrar uma base sólida onde encontrar seu verdadeiro Ser. Isso pode provocar no sujeito uma grave ansiedade.

           Esse é o momento da fé. Quando o Filho de Deus passa a abandonar a ideia de si mesmo como uma mera estrutura de pensamentos, começará a surgir para si, em sua total completeza, algo que ele poderá descrever como um novo eu, com tudo o que é amoroso e belo ressurgindo para si, brilhando em sua mente como uma ocorrência feliz, reverberando com o mundo em amor e capaz de atribuir a si mesmo aspectos positivos ou capacidades revigorantes que o individuo acreditava estarem perdidas para sempre.

         Neste momento, aspectos mantidos através de pensamentos privados, isto é, tudo aquilo que o sujeito relegou ao esquecimento e não quis ver em si mesmo ou mostrar, será trazido à luz.  É preciso ter confiança e saber que a completeza do Filho de Deus é luz e não escuridão. Certamente, seria muito difícil realizar isso sem ajuda.

          A Ajuda é fornecida por Deus, através de Seu Espírito Santo. A “mente certa” é o lugar onde os pensamentos de Deus podem ser observados e tudo o que estava oculto pela escuridão será revelado sem mancha, como se lê na Bíblia: “e não me lembrarei mais de seus pecados e de suas iniquidades.” (Hebreus 10:17). Tais pecados não são as “coisas erradas” nas quais você se vê condenado por tê-las "feito". Tampouco a solução para dirimir suas consequências ilusórias, lançando-as na sombra e relegando-as ao esquecimento terão sucesso. O pecado que você acredita ver em si mesmo não reside  no ato passado, mas na culpa e no desamor associados a tais coisas. Quando elas aparecem, o perdão surge como uma perspectiva de cura. O caminho mais curto para a realização de tal processo dá-se através do perdão aos outros.

       Caso escolhas ouvir a “mente certa”, poderás escutar o Pensamento de Deus, ao invés de teus tolos pensamentos sobre devaneios imaginados. O mundo que vês é apenas o reflexo destes devaneios. A “mente certa” não possui pensamentos privados, pois tudo lá é compartilhado. “No mundo novo, nada passa desapercebido / e não existe mais sabido / tá tudo aí” (Tá tudo aí, música de Rubinho e Mauro Assumpção).

           Certamente, já é possível perceber a esta altura que o teu papel neste jogo chamado vida é o de escolher entre observar a “mente certa” ou a “mente errada”. Observar a mente errada e se identificar com ela é o mesmo que chamar pela condenação, pelo erro ou o desamor. Estes são os regalos do ego, dados para depois serem cobrados como culpa ou medo, ou a falcatrua da dor disfarçada de prazer. Você não existe como um feixe de pensamentos. Você é um tomador de decisão.
  
            Acaso você se decida por ouvir apenas os pensamentos oriundos da “mente certa”, certamente vais encontrar um Amigo capaz de te ajudar. Ele não te influencia, não te dirige, não te compele. Mas se O escolhes como Guia, ouve-O e escolhe segui-Lo, os efeitos das ações sugeridas por ele podem muito bem ser interpretadas e seus efeitos comparados com o modo antigo de pensar. É essa comparação que te faz distinguir entre a “mente errada” e a “mente certa” e escolher bem.


           Portanto, por um tempo é necessário ouvir toda a confusão da mente como algo destacado de você. Esse é o princípio da sanidade. Por fim, a oração é o caminho para a paz.  Sempre que quiser paz na tua consciência, faz da oração teu link com a mente certa. E o Amor despontará na tua consciência por Si Mesmo. Como é dito em Um Curso em Milagres: você não precisa fazer nada. 

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Música citada no texto: "Tá tudo aí".

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