O tempo dita as regras do
cotidiano. Uma causa não admite jamais que não haja sobre ela um efeito. Se tu
és um efeito de Deus, como poderia que a Causa disto pudesse ser uma evidência
em favor do tempo? O diâmetro que circunda os dias, as eras, a história como
ciência ou como uma procissão de fatos não nos diz quem somos. Um tempo virá em
que o momento presente será a medida de todas as coisas. Até lá, a ciência
histórica ou a procissão dos fatos dirá sobre o homem o que significam seus
erros, traduzidos em efeitos e causas.
Mas — repito — se tu és um efeito
de Deus, como então admitir que de alguma maneira o tempo possa te determinar e
dizer quem és, ou onde erraste? O pior inimigo da verdade é a mentira sobre si
mesmo, não é? A proclamação de independência não pode ser contextualizada se
não houver uma metáfora que a reitere como causa, diante de fatos. Assim, por
mais memória que se aplique ao reter dos fatos, sempre haverá um resíduo de
julgamento.
Até onde pode ir um homem em
busca da verdade sobre si mesmo? Se ele pensa que pode encontrar uma memória
que repita seu ser diante de sua história — como uma injustiça recebida ou
cometida — necessariamente ele se condena ao passado. A causa estaria lá onde
foi cometida/recebida a injustiça. Como voltar lá para remediar/restaurar?
A servidão voluntária é um erro.
Ninguém pode se sujeitar a um erro diante de fatos que o justifiquem como tal,
a não ser que seja insano. Uma doença mental, entretanto, pode ser curada pelos
milagres com tanta facilidade quanto uma doença física. Se tu és verdadeiro em
teu coração, como poderias encontrar medo diante de pessoas dignas e decentes?
Não será porque tais pessoas te dizem que tu tens que estar errado diante de
teu próprio medo? Ou seja, não será porque imediatamente te verias como ela e
te perdoarias por tudo o que fizeste ou deixaste de fazer? As pessoas honestas,
decentes e morais existem somente em especialismos.
Quem sabe o que fazer em qualquer
situação é Aquele Que responde pela mente certa. Apenas ele sabe tudo o que é
certo, em qualquer situação. Nem sempre o certo é uma correção moral ou um
contexto ético válido para a pessoa. Muitas vezes, o contexto ético de uma
pessoa foi forjado diante de muito medo
e falta de julgamento em favor de si mesmo, e assim se é colocado em meio a
muito desfavor mental e perigosas neuroses insidiosas que precisam de algum deságue,
geralmente nem um pouco ético.
Talvez, se um prior de um condado
esquecido na Alemanha ou na cidadela armada no Chile dissesse sobre si mesmo o
que espera da vida, ser-lhe-ia fornecido um ponto de vista mental e ele poderia
ou não acreditar naquilo. Mas não é o
medo quem trama as conseqüências surdas da derrota ou vitória. Na verdade, tudo
o que se especializa em novidades aguerridas traz consigo a vontade deliberada de
sacudir um pouco a poeira da moral, da ética.
Sob o signo de Jó, podes pedir
uma experiência durante vários anos, e não verás nada, porque és arrogante e
queres tudo como barganha. Só precisas vir com as mãos vazias, até mesmo de
força de vontade, desde que estejas pronto para não querer sujeitar-se a nada
deste mundo. Nem mesmo à morte.
Mas ainda queres algo aqui, ainda
acreditas que vale a pena buscar, ter, adquirir, fazer, receber com glórias ou
se definir com medo. Tolices, mas altamente valorizadas. Tolices, mas duramente
aprendidas. Agora, o medo pode definir melhor quem és, pois há coisas a se
fazer, e podes temer não conseguir.
A experiência vem a cada um
quando estiver pronto, como diz o Curso. O momento não é agora, mas está
próximo, pois a tua decisão foi firme e não foi feita no tempo. Não pode ser
mudada.
Pai, venho pedir-te de mãos
abertas e livres de qualquer desejo que seja feita a Vossa Vontade. Venho dizer
que não tenho nada a adicionar que não seja loucura e medo. Não peço função nem
coragem, apenas a sadia expressão de Ti, diante daquilo que queiras Teu, e nada
mais adquiro como vontade própria. Mas peço tua compreensão amável e teu olhar
voltado ao Teu Filho, pois ele te ama e te espera, como um Filho, Que Ama Seu
Pai. Amém.
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