E sejas tu o meio pelo qual o teu irmão ache a paz na qual os teus desejos se realizem |
O mundo é carente de amor verdadeiro e de relações reais. E tantas são as vezes em que nos queixamos por não presenciar relações assim! Por outro lado, será que esperamos sempre de outros a abertura? Será que não vale a virtude de apresentar-se neste mundo como bom para outros? Não será tal a ausência de misericórdia neste mundo que estejamos sempre culpando aos outros, deixando de incluir a nós mesmos como vetores de um mundo favorável ao despertar?
Todas estas perguntas parecem
direcionar para a ideia de que o mundo bom precisa de um começo. Nós precisamos
ser este começo. Não basta apenas esperar o amor como algo que vem de fora sem
que estejamos dispostos a dar amor. Este é um ponto importante. Para ver o
mundo bom, temos que ser o mundo bom para os outros também.
Este pequeno ato de coragem — em ser bom para os outros — precisa ser mais bem explicado. Ser bom não significa que você deva ser o cumpridor ético e moral de todas as virtudes que o mundo prega. Sabemos pela nossa própria experiência que o bom de hoje é o mal de amanhã, pois neste mundo tudo muda o tempo todo. Então não se trata de ser atoleimado neste bem, como fosse para sempre uma mão aberta diante de palmatórias. Palmatórias às mãos abertas são ilusões, e elas podem muito bem ser repreendidas. Não se trata de ser ingênuo neste bom, mas há uma forma de gentileza e de amor ao próximo que está presente em todas as ações, e se forem entregues ao Espírito Santo podem ajudar para que sejamos bons e educados, gentis e generosos, felizes em ver o nosso irmão e alegre em contagiar os encontros com boas vibrações. E não existe uma forma certa de se fazer isso. Mais vale xingar ao teu amigo no sentido contrário que chamá-lo por um elogio diante de uma hipocrisia.
Podes muito bem contemporizar que
somente um santo conseguiria se portar desta forma em todas as suas relações. Realmente,
neste mundo, em que algo bom pode se transmutar em ruim de uma hora para outra,
isso não deixa de ser verdade. Mas deve haver uma predisposição nesta direção:
quero ser o mundo bom para as outras pessoas, quero ser gentil, quero ser
alguém que traz alegria, e se eu não puder estar neste modo de ser em todos os
momentos, quero acreditar que posso me esforçar neste sentido e fazer isto
sempre que me for possível.
O mundo bom não pode ser só um
mundo no qual eu usufruo de suas benesses, mas é um mundo totalmente bom, tanto
na ida quanto na volta. Não pode ser um mundo bom só para mim. Eu preciso fazer
minha parte.
Ver o mundo bom é tão alegre e
consistente que doar o mundo bom e receber as suas dádivas em bem se tornam
valores com o mesmo peso. Tanto é bom dar como receber. É tudo a mesma coisa.
Então ver o mundo bom pode muito bem começar com uma intenção em ser o mundo
bom para os outros também. Pode ser necessário um esforço nessa direção no
início.
Alguém poderia dizer aqui que ser
bom para meu irmão e estar bem em relação a ele são ações que demandam autoestima.
Convém lembrar o que o Livro Texto cita sobre a autoestima: “a autoestima em
termos egóticos não significa nada além de que o ego iludiu a si mesmo a ponto
de aceitar a própria realidade e é, portanto, temporariamente menos predatório.
Essa “autoestima” é sempre vulnerável à tensão, um termo que se refere a
qualquer coisa percebida como ameaça à existência do ego” (T-4, II, 6). Portanto,
estar bem para teu irmão não é uma questão de autoestima e trégua. E o Curso
define ser caridoso como uma ação em ver ao teu irmão como se ele já estivesse
além de suas ações no tempo, que é o mesmo que dizer “olhar para teu irmão com olhar
de perdão”. Não precisa de autoestima para se saber perfeito, o que só pode ser
desdito pela arrogância. Mas nas flutuações deste mundo em que nós mesmos duvidamos
disto, podemos evitar de duvidar da perfeição de nosso irmão em sua existência
de além daqui e manifestar isso honrando-o.
Convém lembrar que o encontro é
santo porque ambas as partes dele o são. Essa consciência ajuda a estar diante
dos outros promovendo o mundo bom, sem medo de não “receber”. Tampouco estamos
em busca de barganha. Seja educado, sem ser cerimonioso; seja gentil, sem bajulações;
e seja amável e considere bem fazer isso mesmo em silêncio, honrando teu irmão
em tua forma de pensar.