Entrega a Deus |
Assim como qualquer coisa deste mundo, o esporte pode encarnar o ídolo. O ídolo sendo, então, algo percebido e dado a si a crença de real, divergindo de tudo o que é verdadeiramente real. Uma vez que não é possível que haja somente a afirmação “a verdade é verdadeira e nada mais é verdadeiro” para quem acredita em ídolos, o esporte pode, como qualquer outra coisa, ser favorável ao despertar, pois muitos milagres acontecem durante atividades esportivas.
É tudo a mesma coisa, mas falemos
da crença no impossível apenas por enquanto. Alguns símbolos que as imagens fornecem
— bem como as fantasias, as quais chamamos “costumes da civilização” — são todas
irreais, tanto quanto a imagem ou fantasia portadora. Contudo, é preciso que
seja inserida no rol das esperanças a própria esperança de que o impossível
seja vencido, como nas palavras de Jesus. Embora essa ilusão tão convincente —
como diz meu amigo Marcos Morgado — tome as vezes a forma de impossível, no esporte
ela tende a ser desafiada muito costumeiramente, e a crença em vencer o impossível
toma forma, em sua acepção mais contundente.
Não há nada a ser superado. O
esporte como encarnação do ídolo possibilita crenças na vitória e na derrota.
Essa crença é a base para muitos encantamentos diante da paixão que a crença em
uma equipe/atleta vencedor engendra. O vencedor seria um valor em si, uma
vantagem, um ato de conquista, e em grande parte o esporte suscita isso com
paixão, o que pode vir a ser um tipo de idolatria, uma crença no irreal esportivo.
É comum vermos discussões entre
torcedores, muitas vezes com um desenlace bastante inconsequente. Este aspecto
da crença em que algo pode vencer outra coisa é uma ilusão. Mas neste momento
da história, assim como qualquer outra coisa, o esporte encarna também campo largo
para milagres.
Não se trata tampouco dos
milagres de superação. Superar algo não é uma meta propriamente dita. Não há
que se superar ilusões. “Eu venci o mundo” quer dizer apenas que não se crê
mais em ilusões, algo que, neste momento da história, parece ser um feito
realmente incrível. Cabe ao Espírito Santo, que olha para as ilusões e não acredita nelas, um julgamento correto sobre o que quer que seja. Assim, alta performance significa alinhamento com o Espírito Santo.
Mas o esporte alarga a medida da
fé. Quando vemos um atleta competir como se estivesse entregue a algo “maior do
que ele”, podemos entender este efeito. O piloto Ayrton Senna declarava que
corria como se fosse “a pista que estivesse vindo”. Parecia-lhe que estivesse
apenas a cumprir um ato pronto, dado, e ele era o vetor desta ocorrência que
resultava em vitórias. A entrega lhe dava um aspecto de perfeição que o
enquadrava entre atletas de alto rendimento.
Assim, pode o esporte permitir
uma participação da disponibilidade do atleta em se ver com Deus. Claro está
que Deus não tem preferidos, então, se o atleta oponente também estiver em
Deus, teremos uma bela partida. E diante de adversários que se abracem, ganha também
a torcida, que fica feliz com o espetáculo.
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