O mentiroso tenta alocar a todo custo uma interpretação desviada buscando ajustar à força seu pensamento ao mundo e às pessoas ao seu redor . De repente, onde era para dizer “sim”, ele diz “não”, e faz com que o outro acredite em “não”. Mas você não vai conseguir mentir para a verdade de modo algum; sequer manter-se nesta estratégia durante muito tempo, ainda mais se estiver diante daqueles que acreditam na verdade. Uma hora ou outra, você vai começar a passar vergonha, o castelo vai cair, o rei vai tombar e tudo o que foi projetado como mentira será para sempre arruinado ou substituído por uma tentativa de novos ajustamentos, ainda sob a tentativa de tentar fazer prevalecer uma noção particular. No entanto, como você poderia mentir para uma mente única? Isso é completamente impossível, por definição, pois o caminho da verdade prevalece por acatar as premissas de "publicidade" de uma mente única.
Uma vez ouvi uma história acerca de certa crença em vigor entre os evangélicos - notadamente entre as camadas mais populares - de que Jesus iria contar (narrar) todos os pecados da pessoa de cima do telhado dela. Não sei qual a fonte desta história, nem mesmo se ela é verdadeira. Mas tomando-a como simbólica, acho que faz todo sentido. Esta história traz consigo a ideia de "publicidade" da mente única. Claro que o contexto atemorizante dela e o ridículo da imagem vêm de uma concepção temerosa acerca da verdade, pois tal advertência, assim colocada, faz pairar sobre o ouvinte a ameaça de um Jesus delator. E a noção de pecado ali presente também faz com que a cena se torne bastante cômica: Jesus, no telhado, relatando os pecados de alguém. Isso não faz nenhum sentido literal.
Mas tomemos a história como uma referência simbólica para nosso raciocínio sobre mentiras. Jesus seria a Mente Única, o telhado seria a parte superior da sua mente, acima de sua morada (ou da morada de seu corpo, se preferir). Isso significa que tudo o que você fizer não pode ser escondido de Jesus, não porque ele vai dar publicidade ao seu "segredo" de maneira vingativa, mas pelo simples fato de uma mente única ser ciente de tudo. Isso tampouco me parece dizer que tudo o que for feito aqui neste mundo separado virá a público (quem dera todas as falcatruas de corrupção do mundo viessem a público tão facilmente), mas tal história me faz lembrar um ditado bastante conhecido, que diz: "um homem pode até mesmo fugir, mas não pode se esconder".
Todos
mentimos, se pensarmos neste conceito como uma ilusão voluntária a qual nos
entregamos para estar aqui. No entanto, há aqueles que preferem mentir ainda
diante da ilusão. Para estes, haverá muito sofrimento arraigado e a correção pode
demorar mais a chegar, por conta da mente aturdida e crente em ajustamentos. Por
outro lado, é possível a correção diante do abandono das tentativas egóicas de
ajustamento. O ego não aceita que as coisas aconteçam confiante na verdade. Ele
não aceita que você possa dizer: “o mundo que eu vejo não contém nada do que eu
quero”. Assim, surgem os ídolos. E você vai criar ajustamentos para chegar até
um ponto determinado pelo ego como aquele que ele acha melhor. Assim, tudo se
refaz com um intuito indigno, mas tão ilusório quanto qualquer outro, embora o sofrimento
por conta destas coisas seja um adicional dispensável, não é verdade?
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