sábado, 19 de março de 2011

Carta aberta aos meus amigos — Diógenes Burns.

Diógenes Burns
        Meu amigo Burns certo dia me pediu que fizesse para si um “retrato intuitivo”. Ora, no exato momento em que ele me fez o pedido, desfizeram-se os meios uteis para extrair um retrato seu a partir de nossa amizade cordial, pois quando ele me pediu para fazer, me impediu de fazer. Um “retrato intuitivo” não sai se solicitado, pois seu lugar é o mesmo incerto lugar onde estão minhas ideias, as quais eu mesmo tenho dificuldade de acessar, e por isso mesmo, caso tenha que extraí-las, não resultará em um retrato intuitivo, mas em um retrato meramente descritivo, frio, no qual minha vontade virá interferir. Minha vontade é apenas dizer que Burns é um bom amigo; mas todas as cores que pintariam o retrato se esvaíram nessa vã tentativa mínima.
       
Mas não posso — não tenho como — desapontar o pedido do meu caríssimo Diógenes Burns, companheiro de trabalho, meu amigo nesses tempos em que o mundo anda esquecendo o que é a amizade, esse atributo divino que há entre os Filhos de Deus.
                Portanto, hoje mesmo, neste site, do qual ele é um dos 04 (quatro) seguidores, declaro inaugurada em sua homenagem as “cartas abertas aos meus amigos”. Aqui, não é mais a descrição do indivíduo que voga, mas o diálogo intrínseco, cabível, acessível a todos, pois sendo eu e meu amigo Diógenes Burns unidos com Deus como apenas Um, contigo e conosco seremos elevados juntos, todos unidos neste Sagrado Um.
                Pois te digo, meu amigo Burns: a vida é esse caminho, tão trilhado pelos tempos, toda a nossa juventude já passada em seus momentos que se foram e agora a maturidade bate à porta — e se convida — —— aceitamos?
                É verdade que se fala em resistência, e muita propaganda se anuncia dos contrários, principalmente na TV, com suas tolices: o flúor para estragar os dentes, o carro que cheira a veneno, tudo muito disfarçado em Big Brothers pesadelos. Não peço que entendas nada, apenas passeie pelos pensamentos de seu amigo, que queria lhe dizer algo direto, mas ele mesmo não entende assim objetivamente. Portanto, tem que falar de si mesmo em terceira pessoa, e tudo que se diz fica escorado nas estantes da personalidade. Olha só: o medo não existe. E isso é uma coisa boa, que precisa ser aprendida logo, meu amigo, com todas as urgências, porque o medo se disfarça neste mundo e pode um dia atacar sem mais nem menos num inofensivo almoço de domingo ou numa conversa em que se o diz o que não se quer. Assim, parece que há armadilhas; mas, na verdade, não há nada: tudo são meras ilusões, meu amigo Burns. Nunca houve nada nesse mundo que merecesse sequer um grão de mau humor nosso, ou a mais diminuta de nossas insatisfações. Pode-se falar em injustiças, e completar esse raciocínio dizendo que é necessária uma voz ativa, que acerte para já o que se faz de errado, e que te peça que respondas com ódio às coisas que vês tão injustas, que brigues, que mates, que faças alguma coisa para corrigir. Mas eis que eu te digo, meu querido, meu tão irmão em Deus, que ódio não desata ódio. Nunca desatou, nunca desatará. Por que então insistimos tanto? Te digo, meu amigo: porque somos ainda muito aprendizes nessa vida. Mas uma vez que escolhemos um Caminho que nos leve de volta à paz de Deus — e todo Templo é sagrado — lembraremos de tudo o que é amor divino em nossos corações; do que anda esquecido, lembraremos; com alegria cantaremos a Canção da Glória, e unidos com todos lembraremos por que somos assim irmãos. Sei que você, meu caríssimo, pode estar pensando nos motivos pelos quais esta carta adotou esse tom religioso, e por isso te peço que se lembre do início desta conversa, em que falamos sobre maturidade. Maturidade é buscar a si mesmo. Cada qual faz de si a sua busca. Caminhos são variados, há os enganos, os erros passados, mas tudo é presente, a vida só existe no agora, no momento este. Nada nunca foi pecado na vida de um Filho de Deus, que nunca errou e nunca — jamais — foi esquecido. Às vezes é uma carta como essa que serve para lembrar-se de si. Às vezes, é um bom dia que dás ao porteiro, uma canção esquecida que ouves, um favor que fazes pela graça da amizade, pela graça do amor, nosso amigo J. Silva, me lembrei agora dele.  
No mais, meu velho, é lembrarmo-nos de amar o outro, para amar também a si, para sermos verdadeiramente justos, e assim a maturidade se apresenta simples, com seus todos os regalos que a vida tem para dar, se quiseres aceitar.
                Assim, me despeço, meu amigo. E fico feliz por conversarmos nesta carta.
                Desejo-te paz, muita luz, alegrias várias.
                Cordialmente, de seu amigo
                André Sena.
                PS: dedico a música abaixo para você. É do pernambucano Di Melo. O título é para refletir: “A vida em seus métodos diz: calma.” Abraço.



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Obrigado por leres até aqui. És bem vindo aqui. Te amo.


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