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“E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
é doce herança itabirana.”
é doce herança itabirana.”
Carlos Drummond de Andrade.
As imagens que a fantasia provoca podem também ilustrar um passatempo grotesco, do qual nenhum homem está passível de livrar-se pelo fácil. No entanto, advogo que a palavra “fácil” não é adequada aqui, pois “fácil” indica diferenças entre níveis, e a fantasia é meramente ilusão, não existe em si mesma, sendo, portanto, engendrada. Toda ilusão é ilusão, não é fácil ou difícil livrar-se dela, apenas é diferente perceber as distinções.
Essa faculdade da mente “engendrar” atrai o homem por seu natural encantamento mimético ao ato criador, e isso o coloca em condição de esquecer seu último estado de presença, isto é, o último momento em que estava imerso no agora, para vislumbrar, em troca disto, as suas criações mentais. Estas criações podem ser tanto motivadas como espontâneas. Assim, há uma “realidade criada” e outra “feita” no nível das fantasias. A “realidade” criada pertence às correções simbólicas nas quais o Espírito Santo atua. Por outro lado, a “realidade” feita advoga a forma da fantasia, e é aí que reside geralmente o prazer. A forma na qual a fantasia mimetiza uma ocorrência, seja lá qual for, ocorre através de superposições de imagens, que sugerem estados emocionais, assim como várias imagens em um poema sugerem um “estado inspirado” (Valery). Entretanto, a fantasia é uma mera possibilidade, que visa substituir na mente o desenrolar das coisas no tempo. Na medida em que as imagens da fantasia desenrolam-se na mente, o tempo em que o corpo está imerso, isto é, o tempo como o conhecemos, passa a ser substituído pelo tempo da fantasia, o tempo da emotividade. Nesse mergulho, o sujeito desaparece do “instante este” e passa a ser meramente uma ideia, que a mente fez, auxiliada para isso por um ideal do ego. Assim, as emoções que a fantasia evoca são muitas vezes diferentes do que o sujeito vivencia no agora. Percebemos isto pelo simples fato de as diversas emoções serem valorizadas neste mundo como algo superior ao investimento único na alegria, e, em alguns casos, as pessoas realmente acreditam que é melhor ser triste que alegre, ou, para não sermos tão dramáticos, que há uma série de emoções nas quais podemos transitar, e que a alegria é apenas mais uma, geralmente muito difícil de alcançar, e torna-se inclusive quase impossível advogar a integridade permanente deste estado. Assim, invertidamente, o mundo advoga que tudo é tão triste, tão difícil, tão penoso, tão extasiante, tão quente, tão etc. Na verdade, as possibilidades plurais da emoção são desdobramentos do amor ou do medo, conforme vemos no Curso em Milagres. Contudo, nas fantasias, estes desdobramentos estão solicitando atenção através das imagens e não pela experiência do indivíduo. Isto quer dizer que sonhar com o “grande amor da sua vida” não significa que haja amor real nas imagens da pessoa que a fantasia evoca, e sim projeções. Às vezes, enquanto a pessoa sonha com o amor da sua vida, pode estar chovendo no planeta terra, no “momento este”. A isto se chama “romantismo”, mas não poderei explicar esta associação agora, pois este é apenas um aspecto da fantasia, que pode tomar dez mil formas diferentes do mesmo. Paramos agora, aqui, e pedimos a Deus que nos conceda observar em nós, por este instante, o que está acontecendo. Pedimos para parar com o racionalismo deste argumento em troca de Amor. Que possamos ver o Amor como Ele é, e não como o imaginamos em nossos sonhos de grandeza, em variantes de sofridas flores. Assim, pedimos a graça da Presença de Deus agora, pedimos a lucidez de estar aqui, isento de tolas fantasias, imersos na Glória do Pai. Deus abençoa também a ti nisto. Olha para o aqui, irmão, Amém.
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