domingo, 25 de março de 2018

Sobre a Expiação como defesa



A Expiação é uma defesa na medida em que pode integrar. Parece um contrassenso dizer que algo defensivo possa capacitar a integração do quer que seja, mas a Expiação integra justamente porque desfaz. A Expiação desfaz um a um os equívocos colecionados pelo ego, como se fossem várias camadas de uma cebola, até alcançar o bulbo, onde, no templo chamado corpo, estaria o altar. O desfazer das camadas permite a comunicação com o altar, e assim defende a comunicação própria. 

Pergunta: de qualquer maneira, o altar não pode ser destruído. Então, como assim defendê-lo? Porque algo que não pode ser ameaçado precisaria de uma defesa como a Expiação?
A Expiação é uma defesa que atrai o altar mais para perto da consciência, e apenas por conta disto possui tal designação. Não se pode chamar de defesa algo que revela, mas no caso da Expiação, podemos enxergar que a verdade se torna patente diante de nossa experiência. Assim, a cada vez que a defesa exercida pela Expiação atua, ela desfaz um conceito equivocado, e revela mais e mais aquilo que é verdadeiro. No entanto, é uma defesa, pois atua como segurança. A Expiação defende tua capacidade em lembrar. E como a lembrança é uma atividade relativamente passiva, a Expiação é uma defesa que não pode atacar.
 As defesas do mundo atacam ou contra-atacam. Existe até um famoso ditado sobre isso: a melhor defesa é o ataque. Mas, como diz o Livro, isso não precisa ser assim.

Pergunta: você poderia dar um exemplo deste tipo de defesa que chama de Expiação?
Certamente. Quando alguém lembra a você acerca de uma característica da verdade, através de um milagre de comunicação ou meramente desmontando sua argumentação através de qualquer coisa que mostre a impossibilidade da atuação em “sabido”, tudo é trazido para uma atmosfera de revelação. Por outra: a Expiação pode ser uma digna promessa feita a alguém e posteriormente quebrada, pois não estava de acordo com a vida de quem a fez. No entanto, nesta medida, somente o que pode garantir a certeza da defesa correta é o complexo de certeza, que se manifesta diante de um ato tido como revelador. São aqueles momentos em que a única atitude possível seja calar, diante de um fato óbvio e esclarecedor. No entanto, o significado do fato em si não deve ser interpretado, pois o ego adora desenvolver “teorias”.

Pergunta: e estas teorias todas?
Nada que está aqui representado difere d’Aquilo que está no Livro.
“Representar a vida” é o mesmo que estar em acordo contínuo com uma entidade separada e desesperada por autonomia. O teatro do mundo, para tal entidade, advoga todos os pressupostos da separação: medo e seus derivados. A única maneira de se reintegrar é a Expiação. Expiar é revelar a si mesmo à consciência. O medo sempre aparece no início deste processo como um sucedâneo para o que parecia ser o conforto em estar separado: as ideias próprias, a razão sobre o mundo, as opiniões e certezas etc. O medo sempre esteve por trás destas coisas. A Expiação “revela” o medo, na mesma medida em que revela mais e mais as camadas de interpretação egoica que sustentam tal medo. Por isso é dito no livro que “expiar é desfazer”.

Pergunta: como você interpreta a sequência que diz: a expiação é o princípio, o milagre é o meio e a cura é o resultado?
A cura é o final do processo. Quando a Expiação está completa, o Filho de Deus é são. Expiar é desfazer. O milagre te capacita a perceber que a separação é irreal. A cada vez que for preciso te fazer ver que a separação é irreal, um milagre te será dado. A cura será o resultado. Mas o princípio da Expiação vem da tua vontade em ter de volta para si a responsabilidade sobre este mundo. Para isso, basta querer fazer parte da Expiação, quando todos os erros serão corrigidos por ti, com auxílio de milagres.

sábado, 17 de março de 2018

Sobre a Mente Única e os pensamentos privados



Quem poderia ocultar o que quer que seja diante de uma mente única? Somente através de sonhos tal coisa seria possível. O sonho de ter pensamentos privados pode ser entendido como uma decente insurreição dos princípios éticos que alguém avalia e condiciona. Assim, um valente ardente cavaleiro que admite ter para si princípios “melhores” que outro, definitivamente lutará para mantes os seus. Isso somente seria possível até o momento da guerra, quando a imposição de um modo de pensar visa sobrepujar o “inimigo”.

Uma mente única, tal qual um inconsútil infinito, não pode ser segmentada em pensamentos passíveis de serem “privados”. Toda tentativa de esconder algo demonstra o medo de “pecar”. Pecado, neste contexto, significa esconder o erro. Mas esconder de quem? Se a mente é única? Assim, o conceito de “esconder” ou de “ocultar” somente pode ocorrer caso haja alguém a quem se denomina o inimigo, do qual o segredo precisa ser defendido.

No mundo dos sonhos, o efeito de ocultar prevalece diante de um desejo em se inferir um propósito adequado a um proceder. Os sistemas morais, os contextos civilizatórios, as normas e códigos, todas estas coisas estão em via de divulgar o erro através do paradigma do acerto. Frente a frente com tais continentes de parâmetros, a necessidade de correção pode surgir como uma necessidade em se ocultar uma conduta alheia, até que seja vista como passível de punição, por conta da culpa em se estar à margem de uma tal justiça.

A única maneira de não se estar em vias deste tipo insano de raciocínio é lembrar que nada pode ser ocultado, mesmo se houver um grande esforço nesta direção. A mente única não pode ter partes “ocultas” ou “separadas”. Por isso no Livro Texto se diz: quando estiveres disposto a não esconder nada, estarás disposto à comunhão e saberás da paz e da alegria.

Não esconder nada é o mesmo que concordar com todas as coisas? Claro que não!  A verdade não tem preferências. Será que a única maneira de entrar em comunhão é fazendo mea-culpa sobre si mesmo? Somente se você for um tolo. Você sente culpa pelo medo de ser quem sempre foi? Então liberte-se diante de um lembrete: nada poderia desfazer quem você é, mesmo se você se acreditasse errado acerca de si mesmo. Somente o medo precisa de definições. A verdade está sempre em si mesma, sem necessidade de um parâmetro para atestá-la. E, acima de tudo, creiamos nisso: a verdade não pode ser ameaçada, pois nada real pode ser ameaçado.

A mente única possui os meios para deixar claro aquilo que te convém. Muitas insurreições contrárias podem surgir a partir daí, em favor de uma retomada de poder. Mas se já sabes o que queres diante daquilo que te é dito, porque precisarias te insurgir? Contra a mente única? Queres mudar a ideia da totalidade? Talvez te lembre que o Livro Texto disse que a separação surgiu quando uma ideia louca e diminuta brotou no reino e o filho de Deus esqueceu de rir. O que é falso não se torna verdadeiro pela insistência.

Entregar-se completamente à comunhão significa não ter medo de estar sendo julgado, pois a mente única não poderia condenar parte de si mesma. Portanto, sempre que falares com fé, estás a pedir comunhão, mas não poderás dominar nem se controlar. Para isso, não precisas de nenhum tipo de exemplo ou tabela de valores. Basta querer encontrar naquilo que se diz o comum com o teu irmão, mas sem agregar ao sistema de pensamentos de um e outro o conluio de palavras que passa por conversações no mundo. Conversar é o mesmo verso.

Assim, a mente única está sempre disposta à comunhão diante daquilo que se diz via o mesmo. Aprenderás a fazer isto quando “não te preocupares com o que dizer ou que fazer, pois Aquele Que Me enviou me dirigirá”(Pág 30).