A Expiação é
uma defesa na medida em que pode integrar. Parece um contrassenso dizer que
algo defensivo possa capacitar a integração do quer que seja, mas a Expiação
integra justamente porque desfaz. A Expiação desfaz um a um os equívocos
colecionados pelo ego, como se fossem várias camadas de uma cebola, até
alcançar o bulbo, onde, no templo chamado corpo, estaria o altar. O desfazer
das camadas permite a comunicação com o altar, e assim defende a comunicação
própria.
Pergunta: de qualquer maneira, o altar
não pode ser destruído. Então, como assim defendê-lo? Porque algo que não pode
ser ameaçado precisaria de uma defesa como a Expiação?
A Expiação é
uma defesa que atrai o altar mais para perto da consciência, e apenas por conta
disto possui tal designação. Não se pode chamar de defesa algo que revela, mas
no caso da Expiação, podemos enxergar que a verdade se torna patente diante
de nossa experiência. Assim, a cada vez que a defesa exercida pela Expiação
atua, ela desfaz um conceito equivocado, e revela mais e mais aquilo que é
verdadeiro. No entanto, é uma defesa, pois atua como segurança. A Expiação
defende tua capacidade em lembrar. E como a lembrança é uma atividade relativamente
passiva, a Expiação é uma defesa que não pode atacar.
As defesas do mundo atacam ou contra-atacam.
Existe até um famoso ditado sobre isso: a melhor defesa é o ataque. Mas, como
diz o Livro, isso não precisa ser assim.
Pergunta: você poderia dar um exemplo
deste tipo de defesa que chama de Expiação?
Certamente.
Quando alguém lembra a você acerca de uma característica da verdade, através de
um milagre de comunicação ou meramente desmontando sua argumentação através de
qualquer coisa que mostre a impossibilidade da atuação em “sabido”, tudo é
trazido para uma atmosfera de revelação. Por outra: a Expiação pode ser uma
digna promessa feita a alguém e posteriormente quebrada, pois não estava de
acordo com a vida de quem a fez. No entanto, nesta medida, somente o que pode
garantir a certeza da defesa correta é o complexo de certeza, que se manifesta
diante de um ato tido como revelador. São aqueles momentos em que a única atitude
possível seja calar, diante de um fato óbvio e esclarecedor. No entanto, o
significado do fato em si não deve ser interpretado, pois o ego adora
desenvolver “teorias”.
Pergunta: e estas teorias todas?
Nada que está
aqui representado difere d’Aquilo que está no Livro.
“Representar a
vida” é o mesmo que estar em acordo contínuo com uma entidade separada e
desesperada por autonomia. O teatro do mundo, para tal entidade, advoga todos
os pressupostos da separação: medo e seus derivados. A única maneira de se
reintegrar é a Expiação. Expiar é revelar a si mesmo à consciência. O medo
sempre aparece no início deste processo como um sucedâneo para o que parecia
ser o conforto em estar separado: as ideias próprias, a razão sobre o mundo, as
opiniões e certezas etc. O medo sempre esteve por trás destas coisas. A Expiação
“revela” o medo, na mesma medida em que revela mais e mais as camadas de interpretação
egoica que sustentam tal medo. Por isso é dito no livro que “expiar é desfazer”.
Pergunta: como você interpreta a
sequência que diz: a expiação é o princípio, o milagre é o meio e a cura é o resultado?
A cura é o
final do processo. Quando a Expiação está completa, o Filho de Deus é são.
Expiar é desfazer. O milagre te capacita a perceber que a separação é irreal. A
cada vez que for preciso te fazer ver que a separação é irreal, um milagre te será
dado. A cura será o resultado. Mas o princípio da Expiação vem da tua vontade
em ter de volta para si a responsabilidade sobre este mundo. Para isso, basta
querer fazer parte da Expiação, quando todos os erros serão corrigidos por ti,
com auxílio de milagres.
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