A vida não pode ser vivida como
uma teoria. A entrega ao princípio organizador da vida pode ser compreendida
como um advento da noção espiritual dentro de um sistema completamente
integrado ao consciente, sem mistérios envolvidos. A noção misteriosa de uma
revelação oculta e difícil está na origem da complicação de muitas associações
equivocadas.
Estar imerso em sua própria vida
não significa perder os vínculos irreais que te deste. O Curso diz que não quer
acabar com teus relacionamentos especiais, apenas santificá-los. Saber de si
mesmo como uma emancipação arquetípica, ou seja, saber que o Espírito Santo
está no comando e que uma entrega total ao seu dispositivo de vida está em
realização não quer dizer que é preciso compreender este processo de modo cognitivo.
Aliás, isto é impossível.
A natureza das imagens é um
comunicado diferente, mas ainda está atrelado ao princípio reinante das ideias
(tudo é uma ideia). A única saída é treinar a tua mente em favor das ideias
certas. Também é preciso crer nas ideias certas que te destes. Tens o Curso em
Milagres e Seus exercícios a teu favor, para direcionar teu pensamento em uma
direção ordenada. Não poderia ser diferente, caso estivéssemos querendo outra
coisa, pois a direção da salvação é inequívoca e tal coisa seria em breve
desmascarada como falsa, ou equívoco.
A direção do acerto de
determinado equívoco não é a punição, mas a correção. A punição sugere a culpa,
de tal forma que mesmo após passado o efeito da punição, a culpa pode
permanecer sub-repticiamente, deixando o sujeito da experiência a crer que o
melhor corretivo para si diante de erros é ser punido, pois a culpa passa a ser
para ele um modo de se ver no mundo, de tal forma que sua crença em punição
trará para si a tônica das relações. Tal estado de coisas somente pode fazer o
sujeito viver morrendo de medo de tudo.
Isto é insanidade. Ao Filho de
Deus somente o amor pode suprir, e é apenas isso que ele merece. Amor derivado
de nenhuma causa, amor puro, sem objeto, sem precisão de qualquer forma que
seja para se manifestar; de tal maneira abrangente que toda forma pode ser por
ele amada. Se alguém está em grave erro, a correção vem no sentido de um
resgate, que pode ter consigo noções difíceis de ser totalmente gentis neste
momento da história, mas no afeto se garante o retorno de um Jedi. “Até o mais
desandado / dá um tempo na função / quando percebe que é amado” (Criolo).
Quantos são aqueles que precisam
lembrar-se do amor? Quantos estão à espera de algo no mundo que possa
finalmente lhes trazer a felicidade? Quantos conseguiram? As respostas para
estas três perguntas deveriam ser suficientes para se saber que o amor não é
uma conquista da forma. Não há esperança de que algo externo possa lhe trazer
felicidade duradoura. Mesmo um estado interior pode ser interpretado como uma
ferramenta projetada como uma conquista. Noções abstratas como a paz de
espírito, iluminação, salvação ou beatitude ganham corpo como objetivos
materiais, algo palpável que possa ser considerado pelo ego como bom ou “a felicidade”
que algum dia, mediante algum investimento futuro, chegará.
Não chegará. Já está aqui. A
rendição total é a única saída. Rendição total, sem reservas. Toda doença é
curada, todo o mal é visto como irreal e toda vida será honrada como é. Isso
não pode ser realizado em um estado de profundo medo. Medo evoca culpa, e culpa
pede punição. Naturalmente, tal estado de coisas sugere o inferno para quem os
vive. Mas lembremos da lição 39 do Livro de Exercícios, que pergunta: “se a
culpa é o inferno, qual é o seu oposto?”. Há uma relutância em se responder a
essa questão simples: “se a culpa é o inferno, qual é o seu oposto?” Tal
relutância não se dá por conta de sua dificuldade intelectual — já que o título
do exercício é “a minha santidade é a minha salvação” —, mas por conta de tua
crença, pois no mundo louco e separado, quase ninguém consegue acreditar que a
culpa é o inferno. A culpa parece ser o estado natural. Neste caso, seria muito
difícil responder àquela questão, pois a culpa é o maior recurso de manutenção
deste mundo, e para os que acreditam neste mundo, a culpa é o normal; e o
perdão, diante de tal conclusão insana, seria o inferno. A relutância em uma
resposta direta surge de nossa indisponibilidade em perceber a culpa como o
inferno, pois a culpa é supervalorizada como a versão da justiça diante dos
arrependimentos.
A saída é se render. Se render e
se calar. Não sair aos quatro ventos a dizer disto e daquilo, quem o erro e
qual acerto, como o juiz das causas perdidas. O mundo é uma causa perdida, que
pode ser vivido calmamente, para quem pretende se mostrar completamente, sem
temores, no instante presente, totalmente responsável pelo mundo que vê.
Assumir a responsabilidade por este mundo se trata apenas disto. Se depois você
quiser mudar o mundo, tudo bem. A ilusão toma muitas formas e certamente
existem formas que favorecem o caminhar do irmão perdido. No entanto, quem pode
julgar a perdição de um ou de outro?
Julgar é condenar. Se tal estado
de coisas te parece impossível de ser germinado, na medida em que será
necessário divulgar estas palavras agora no facebook, então o que queres é uma
resposta diante de uma miséria de atividades completamente devotadas ao prazer
sensual de receberes likes. Como é tolo o jogo egótico! Como faz rir.
De toda forma, apoia este
instante. Apoia-o completamente. Não o futuro da sociedade ou os erros e
acertos do mundo. Mas este instante, sem grandiosidades ilusórias. Aceita-o
completamente. Sinta-se responsável por este mundo a partir desta sensação.
Respira. Não queira nada. Não tens nada a perder ou ganhar. O mundo é uma vasta
ilusão. Sorria para esta certeza e lembre-se de que nada real pode ser
ameaçado.
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