A firmeza da
crença estabelece a direção. Caso um estudante acredite firmemente que algo de ruim
acontecerá, isso será transmutado em forma, mas tal coisa não se dá por conta
de o “universo conspirar” contra ele. Na verdade, houve um erro de pensamento e
isso realizou-se na matéria como equívoco em ato. Da mesma forma, e através de
um efeito semelhante, não existe tal coisa de o “universo conspirar a teu favor”.
Certamente, a Ajuda existe e está sempre a teu lado, mas isso não ocorre ao acaso.
Assim, é preciso direcionar correta e favoravelmente as crenças nas quais
investe teu pensar.
Um mundo claro
se descortinará a partir de um único pensamento correto. O mundo é efeito e o
pensamento é o meio através do qual a causa pode ser controlada. No momento em
que o ego se torna o construtor das causas pelas quais pensas que pensas, os
efeitos tornam-se destrutivos, embora possam ocorrer inicialmente sob o
disfarce benfazejo. Mas o tempo é o liame entre os efeitos e suas causas, e
terrivelmente os efeitos de pensamentos errados mostram em ato os erros em
formato mundo. A depressão, por exemplo, é efeito de um acúmulo destes tipos de
pensamentos. “A solidão é uma forma de egoísmo.” (Arnaldo Antunes).
Então a
pergunta lógica que surge deste preâmbulo é esta: como ter somente pensamentos
corretos, que possam mostrar em ato as imagens de um mundo amoroso?
Inicialmente, a mente precisa ser treinada nesta direção. O mundo não fornece
este tipo de treinamento em abundância, pelo menos não neste momento da
história. Uma alternativa te foi dada e a gratidão por leres até aqui somente
surge porque de alguma maneira reconheces um sistema de pensamento consistente,
e tal pensamento se baseia nos ensinamentos de Um Curso em Milagres. Posto,
então, que nosso Curso é uma benção, vejamos algo baseado na compreensão dos
erros surgidos do especialismo, que pode fazer-nos convencer de nossa mente
certa.
O
especialismo, como sabemos, é uma tentativa de distinção. De alguma maneira, o
ego quer se distinguir. Não importa a direção da distinção. Como o Curso mesmo
diz, pode ser mais prestígio, mais razão, mais certezas, mais posses, mais
cultura, ou até mesmo mais dor, mais miséria, mais sofrimento que outros,
qualquer coisa que aponte para uma distinção. De alguma forma, precisa ser “mais”.
A igualdade para o ego é morte, pois quando dois estão a dizer do mesmo,
sabemos a Quem chamamos, nestes casos. Mas o especialismo difere e aponta para
o isolamento, que pode certamente acontecer em um cume de glorificação para o
mundo. Veja o caso de famosos como Marilyn Monroe ou Kurt Cobain e seus
trágicos destinos. Por outro lado, alguém pode se pensar “humilde”, o menor de todos,
equivocadamente tomando isso como um “especialismo para baixo”. O menor de
todos é o sem-ego, mas isto não se diz “menor” em uma escala comparativa. Portanto,
as garantias que o ego provê de distinções especiais são o escudo contra a união.
Vejamos,
então, como podemos realizar um processo prático para evitar a compulsão para a
distinção que o ego provê.
A primeira
distinção é teorizada por um corpo. Se eu sou um corpo, logo eu sou diferente daquele
outro corpo ali. Essa crença em ser um corpo já é distinção. Não existe
qualquer problema com o corpo, como pensam tolamente alguns estudantes do Curso.
Mas o ensinamento de que ele é apenas um instrumento de aprendizado não pode
ser bem compreendido se o corpo for visto como um fim em si mesmo. Vocês sabem
o que dizem por aí: o meio é a mensagem. Se o corpo for o meio, a mensagem é material,
carne, ossos e, futuramente, morte. Mas o corpo certamente morre, então como
nos vemos diante do ensinamento de que não existe morte? Somente se nossa
crença for direcionada firmemente para o fato — e isto realmente é um fato — de
que não somos o que cremos corpos, poderemos escapar da ideia de que existe
morte. Isso dificilmente ocorrerá do dia para noite. Ocorreu com Paulo dos
Evangelhos e mais modernamente com Eckhart Tolle, mas sabemos que o processo de
Buda, por exemplo, foi paulatino. Ele percebeu que os desejos apegavam o corpo
às coisas, e a mente ao corpo. Isso não quer dizer absolutamente que você não
possa saborear um bom prato em uma ilusão de satisfação, mas você precisa saber
que se trata de uma ilusão. Descrer na matrix ainda dentro da matrix desfaz o
desejo insano daquele que preferiu a ilusão de sabor como verdade amnesiada.
Portanto, as coisas que o corpo sente através de suas percepções são ilusórias,
mas não são amaldiçoadas. No entanto, favorece em direção à mente certa pensar em
tais oferendas do corpo como ilusões, e não se apegar ao “mais”.
Um dia depois
de outro dia. É assim que se faz. Muitas vezes, o desejo por ter mais luz é uma
forma enganosa de se acreditar “espiritualizado”. É uma falácia em direção ao
que o Curso ensina acerca de buscar e não achar. Ter uma crença firmemente estabelecida,
mesmo quando os efeitos não são visíveis, é o mesmo que fé. A fé não deseja
nada mais. No entanto, a fé é um passo preliminar. A liberdade surge mesmo é do
conhecimento.
Como o Curso
define conhecimento? Na verdade, ele não define, pois “Deus é indelineável”
(Guimarães Rosa). O conhecimento surge na mente daquele que tem fé. Ver para
crer é a crença daqueles que buscam “algo mais”. Crer ainda que não se veja é a
crença daqueles que seguem a esperança balizada em um fato concreto. O conhecimento
é um fato, o corpo não.
“Mas como
assim o corpo não é um fato? Ora, eu estou até doente!” Eis uma questão típica.
Você pode sentir coisas, mas a percepção é ilusão. Se você ainda não sabe fazer
passar sua dor de cabeça através de um processo mental, não existe erro em
tomar uma aspirina, mas você deve ter em mente que a ciência é feita por homens
que tem a mente voltada para o fato de que acharam a cura em pílulas e comprimidos.
É por isso que os medicamentos dão certo. Há todo um sistema de crenças que
favorecem a cura através de meios físicos, e neste momento da história isso tem
nos atendido, e muito bem.
Mas você deve
saber que aquele comprimido um dia foi uma ideia na cabeça de alguém. Assim, sua
cura está sendo indiretamente abençoada por meio de uma associação de duas
crenças amáveis: aquele que creu na cura e aquele que crê no efeito. “Tudo é
uma ideia” (T-5. I. 4:2). “Todo pensamento produz forma em algum nível” (T-2. VI.
9:14).
Então, quem
pode estar doente, senão a mente? O corpo fornece a tese, a mente teoriza. Ninguém
pode morrer se não for sua própria decisão, isto o Curso deixa claro. Uma outra
coisa que o Curso deixa igualmente manifesto é que “daquilo que tu queres, Deus
não te salva” (T-12. VII. 14:6). Deus não pode invadir tua mente e te fazer
crer. Isso seria uma violação do teu poder e Deus não é um invasor. O ego, por
outro lado, é totalmente oposto a essa ideia, entra sem pedir licença e tenta
de convencer de que você é fraco, doente, escasso, miserável, infeliz,
solitário e outros etc que muitas vezes divertem a mente voltada para a fé no
especialismo.
Sim! A fé pode
ser mal direcionada. Cura a ti mesmo associando tua fé aos pensamentos certos
de Deus. Tens que treinar tua mente nesta direção, pois sozinho não vais
conseguir. Pede para ouvir o Espírito Santo, pois ele é um fato, e um fato
amigo, um amigo indicado. Pede, mas pede com fé, e não esperes nada nem
acredites que a aparente ausência de resposta seja motivo para desmotivação. Mantenha
firmeza em tua crença mesmo diante da dúvida, e se uma tese de especialismo se
apresentar para ti, lembra que você não precisa de nada para experenciar o nascer
ou o pôr do sol. “O melhor da vida é de graça” (Marcelo Jeneci).
Ama, mesmo que
seja sangrando. Até que o amor — e a dor que o amor verdadeiro aparentemente
traz — seja para ti o mesmo que a benção do corpo desacostumado com o que amansa
e reconforta, e parece um incômodo, traduzido em um espelho claro de efeitos
que passarão a surgir no mundo a partir da causa real: a mente certa. Mas para
isso é preciso empenho de tua parte. A fé
pode ser mal direcionada, mesmo diante de tua boa vontade, pois a boa vontade,
por si só, diz muito pouco.
Ama o teu
corpo, mas não pares nele. Nem te ilhes. O Curso diz: te insere entre teus irmãos
com alegria. Eles não precisam que tu dês a festa, se não quiseres; alegria é para
contigo mesmo, e é mais que suficiente. Isto será sentido, não é necessário
nenhum esforço se estiveres satisfeito consigo mesmo. Leste até aqui e entendestes,
então como poderias não estar satisfeito consigo mesmo e com teu aprendizado?
Como poderias não ter acesso aos pensamentos da mente certa, se entendes?
Mas logo virão
as tais “dúvidas”. Vamos chutar as dúvidas para longe! Outra hora a gente tenta
tirar as dúvidas. Basta, por enquanto, saber que querer mais de qualquer coisa
é uma bobagem e fé no especialismo. E que o corpo é um instrumento de
aprendizado que pode ser muito útil. E vamos brindar a isso com uma ilusão de
vinho!
“Onde está, ó
Morte, a tua vitória?
Onde está, ó Tumba,
o teu aguilhão?” (1 Coríntios 15:55).
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