O corpo tem
valor pelo que traz. Esse pensamento tem em si toda uma tese divulgada sobre o
que significa a brecha da qual tanto se fala no UCEM. Já dissemos em outra
oportunidade que não há nada de errado com o corpo, e que tal entendimento
seria algo como um desvio de significado. O que precisa ser entendido com muita
urgência é que o corpo pode ser utilizado equivocadamente, como um bloqueio, ou
brecha, na comunicação.
Falemos, então,
e primeiramente, sobre a comunicação. A mente é única e se comunica através deste
um, em um princípio simbólico e unitário, que no UCEM é chamado de filiação. A filiação não é nada mais
nada menos que o reconhecimento integral desta mesma mente em todos os teus
irmãos. Muito simplesmente, os instantes santos podem te reafirmar isto, a cada
vez que for percebido, e tal percepção ocorre mediante a tua disponibilidade em
comunicar “pelo um”.
Presta atenção
às palavras de teus irmãos, perdoando seja o que for que te digam. Nem sempre eles
estarão na consciência da filiação, e neste caso, deves mesmo tomar a decisão
correta, mas o teu amor por eles pode facilitar bastante esta ocorrência. Não
pense que por estarem em corpos separados suas mentes estão separadas igualmente.
Isso não faz nenhum sentido. O mundo pensa em termos de pensamentos privados e
acredita firmemente nisso. Tal crença dá realidade a um mundo de corpos separados,
e corpos assim separados seriam “brechas”, nas quais poder-se-ia manter os
pensamentos privados, isoladamente.
Mas se todo pensamento
cria forma em algum nível, então é impossível que o mundo como um todo esteja
separado do pensamento coletivo da humanidade. A noção de que “uma andorinha só
não faz verão” está bem representada pela forma com a qual todo tipo de ocorrência
que se vê no mundo não é nada mais nada menos que uma construção coletiva,
embora ainda bastante inconsciente neste momento da história. O mundo é uma
construção simbólica, mas muito útil, mesmo quando usada diretivamente. No
entanto, não é real.
O investimento
nos pensamentos privados — e por essa expressão não queremos dizer apenas dos pensamentos
que julgas indignos, ou daqueles que gostarias de ocultar, mas de todo o
pensamento possível —, repetindo, o investimento na possibilidade de haver pensamentos
privados é uma decorrência da crença do corpo como uma cápsula para a mente. Isso
provocaria uma brecha na comunicação, e a ocorrência firme da separação como um
esteio para o pensamento próprio, motivado pelo ego, seria comprovada, caso os
pensamentos pudessem manter-se privados.
De modo bastante
diferente, a mente única pode se comunicar “pelo um” direta ou simbolicamente. “Sinal
amarelo”, por exemplo, “é atenção”. Pois não tem essa música, que diz: “no Novo
Mundo / nada passa desapercebido. / E não existe mais sabido, / tá tudo aí.” Mas,
se olharmos diretamente para isso, veremos os símbolos da mente única, para o
bem ou mal, pois estarás preparando a si mesmo para que vejas a Cristo em todos
os teus irmãos, ao que a brecha será, assim, desfeita. Para isso, no entanto, a
disponibilidade deve ser total. A entrega ao instante santo não deve ser entendida
tampouco como um atributo a ser realizado mediante a presença de pessoas
especiais. Quantas vezes será preciso repetir que não existe tal coisa como o especialismo?
Cristo está em todos e em cada um, e nesse paradoxo está revelada a unidade da mente.
Negar o perdão na presença de qualquer um que seja é negar o instante santo, e consequentemente
reforçar o significado da brecha, tendo o corpo reforçado como uma cápsula que te
dá uma ideia de personalidade.
Jung criou na
psicologia a expressão “complexo”. Existem os “complexos de superioridade e
inferioridade” e vários outros que foram determinados utilizando esta expressão,
como o “complexo Materno e Paterno”. No entanto, um estudioso das obras de Jung,
chamado Edward Whitmont, atentou para um caso específico desta distorção: ele
recolheu das obras do psicólogo o conceito de que o ego é apenas mais um
complexo, o “complexo de personalidade”. E esta definição deixa claro que o ego
é apenas uma crença em uma personalidade que pode fazer coisas.
Na verdade, a
filiação se une nas criações de Deus, que não podem ser concebidas através da
mágica. “A união faz a força” nem sempre parece dar certo. Porque será?
Pede para ver
e verás. É muito simples! É muito mais simples do que sempre pensas. Não existe
nada mágico nisso. A mágica quer fazer crer que existe unidade em coincidências
fortuitas, na medida em que nega o instante santo ao falar de amor exterior,
amor pelo próximo, amor pelas pessoas, pela humanidade, em ser sempre bom e de
bem, em estar amoroso em vias de se dizer gestor de tal tipo de amor. O ego escolhe
a quem amar de acordo com as vantagens que vê ou não. E até uma mesma pessoa
pode ser vista por ele hora como boa, hora como má. Isso traz o conceito de distanciamento,
pois é preciso se precaver contra os momentos em que teu irmão irá atacar. Para
isso, muitas vezes é necessário, em nome de tal amor, contra-atacar para
preservar tua segurança. Não parece loucura tudo isso, diante de nosso
aprendizado?
E é bem isso
que é! Certamente, neste momento da história, um despertar coletivo não parece possível.
O sistema de pensamento que reforça o corpo como cápsula é sobrevalorizado, e
quando surgem histórias de pessoas que se comunicam “pelo um”, isto é dito como
um fenômeno paranormal, reservado a algumas pessoas especiais.
A verdade é
que não existem pensamentos privados. Existem escolhas. Nisso podemos seguir
por um caminho bastante familiar: parece que não sabemos decidir direito, e por
isso a união “pelo um” pode muito bem ser mal compreendida como repreensão. Na
verdade, o mal e o bem são categorias que podem ser vistas de cima do campo de
batalha como sendo irreais. Então, como poderia surgir a culpa? Houve o erro na
escolha? O equívoco na decisão? Pois escuta o que o livro te diz: escolhe outra
vez. É simples. No entanto, reserva-te no que Jung dizia sobre a realização do
arquétipo de si-mesmo: ao se perceber a característica da unidade, é preciso
ter ética. O que se quer dizer com tal ética? O que poderia ser, senão o perdão
ao outro, e consequentemente a si mesmo?
Todos temos
que tomar decisões aqui. Isso nos leva a uma questão fundamental, e a questão é
essa: quem é você? Ora, muito simplesmente você é a instância que toma as decisões,
enquanto assiste a esse corpo mitar em ego ou se comunicar pelo um. Você é o observador,
o tomador de decisão, apenas isso, enquanto se pensa encapsulado neste fenômeno
corpo. O ego ou o Espírito Santo atuam em corpo, enquanto dormes. Mas sempre é
um ou outro que está atuando neste teatro mundo, e você vai perceber isso,
quando quiser parar de jogar o jogo do bem versus o mal.
Portanto, e
muito simplesmente, a comunicação não se dá pelas palavras “em estado de dicionário”,
como diz Drummond. Às vezes, algo é dito em sentido completamente diferente das
sequencias de palavras, acaso isoladas em significação unicamente racional. Muitas
vezes, o que se fala não condiz com o que se diz, e a resposta não está nas
entrelinhas, está na comunicação “pelo um”, que sempre deixa seus claros sinais.
Falamos sobre
o tempo como sendo irreal e isso parece que não pode deixar de ser assim, pois
uma coisa sempre parece surgir depois da outra. Mas é justamente por conta
disso que podemos ver sua irrealidade, pois o tic-tac do tempo não é nada mais
que uma ilusão de mudança nas formas. De onde estamos, não temos nada a ver com
essas coisas que vemos mudar. Lembra disso, pede apenas para lembrar disso por
ti mesmo.
Então, do
ponto onde somos um, o mundo se torna o símbolo da união “pelo um”. E o corpo
perde o significado de trincheira contra a unidade, ao que o perdão se torna a
única resposta possível. Há ajuda nisso. Pede, mas pede com certeza. Usa os
exercícios para isso. “No começo é difícil
/ eu sei que é / mas depois não é mais não.”
.
Nenhum comentário:
Postar um comentário