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“Me vejo no que vejo
Como entrar por meus olhos em um olho mais límpido.
Me olha o que eu olho,
É minha criação isso que vejo (...)”
(Marisa Monte – Blanco).
Os sonhos que tens durante a noite são extensões ou são ilusões, assim como o sonho que tens durante tua vigília. No entanto, durante o adormecer físico, teu ego supõe descanso, mas descortina algumas tendências da sua artimanha através de possibilidades evocadas em imagens. Assim, surgem os pesadelos. No entanto, antes de discorremos exatamente sobre os pesadelos, vejamos como se comportam as imagens nos sonhos.
Ninguém em sua sanidade advogaria que um sonho que teve durante seu adormecer físico foi real. No entanto, existem crenças sobre os sonhos. Algumas pessoas crêem que seus sonhos contêm de tudo, desde a premonição dos números da loteria ao escapar do medo pelo entender de si. Nada disso é real. O caráter premonitório de alguns sonhos apenas apontam para a relação que há entre o nada e o nada, ou seja, entre o sonho adormecido e as imagens do sonho em vigília. Por isso, queremos dizer que acordas todas as noites de um sonho para outro. Obviamente, neste momento de tua compreensão, de nada adianta acreditares em um conceito tão radical de ti mesmo sem pesares suas aparentes incongruências. Por conta disso, tentaremos estabelecer uma conexão entre o sonho de vigília e o sonho noturno, ou adormecido. Isto é, veremos como o nada jamais influencia o nada.
Quando o sonho se apresenta em tua vida, digamos, enquanto dormes, as imagens fornecem as relações de sentido. Obviamente, sem o caráter da percepção dos órgãos dos sentidos, acreditas que o sonho te induz ao entendimento do que ocorre, pois o sonho adormecido promulga seus sentidos em um momento instantâneo. Por isso, queremos dizer que existe um “agora” no sonho das noites. Este é o único caráter do tempo que permanece no sonho adormecido. Portanto, durante o sonho, estás verificando imagens que não são perceptíveis por outra coisa que não seja tua mente. Neste sentido, o sonho noturno aproxima-se de uma compreensão mais próxima da unidade, na medida em que as imagens que vês não estão apenas associadas ao teu perceptível andamento durante a vigília do corpo, mas acontecem agora, como uma aparição imediata.
Por outra: sonhas através da mente. O que vês em sonhos são imagens, e isto é válido também para o mundo da percepção. No entanto, no sonho noturno não conjugas as imagens aos seus conceitos de uso, ou a juízos quaisquer, tão diretamente como o fazes durante a vigília. A vigília, na verdade, aproxima teu ego de tua mente, ocasionando o que o UCEM chama de ‘mente errada’. Durante o sonho que é o que se chama mundo, observas um objeto e logo atribuis a ele um significado. O sonho noturno não opera assim.
Em breve, falaremos do conceito da escolha. Por hora, admitamos que o sonho noturno não é real. Isso basta para entenderes daqui por diante. Vejamos: o amor não te deixa jamais. Enquanto dormes, o Espírito Santo ainda é um atributo inerente à tua mente certa. Ele jamais te abandona. Ele te oferece um propósito para todas tuas ações, e podemos certamente admitir que nos sonhos noturnos ocorrem ações. Estas não são tão lineares como ocorre no que chamamos mundo, pois aqui, no mundo da percepção, o sonho admite o conceito linear do tempo. No sonho noturno, o tempo está ao encargo da mente, e não se estabelece mediante conceitos lineares, mas sim através de sucessões não lineares de imagens. Podes sonhar com um ambiente noturno e, ao virares o rosto, estás em uma praia numa linda manhã. Não ocorre assim? Pois o tempo é subjugado à mente durante o sono, e apenas o que o conduz em ações é o ato de percorrer sua mente durante as ocorrências das imagens.
Sempre que vês pessoas em teus sonhos não as vês em absoluto. Vês as projeções mentais de suas ocorrências. A vida no sonho é apenas a sucessão das imagens, como aqui. Mas não crês ainda que seja assim. Quando acontece alguma coisa ao sujeito do teu sonho, ou seja, a mente, a transição de seu despertar pode evocar uma imediata ação tentadora, que acaba por induzir-te a outra imagem, que não te entregará a mente até que seja tua escolha fazê-lo. Para isso, daremos um exemplo.
Digamos que sonhes com uma ponte. A ponte em si não existe. É uma imagem, um conceito, e tens que atravessar esse conceito para chegar ao outro lado. Assim, a mente te põe em um carro, e, dependendo do teu amor próprio, dirigirás um belo carro em teu sonho. Assim, brincamos com os conceitos. Continuemos: diriges pela estrada que é a ponte de teus sonhos. De repente, olhas para o chão, e vês que não há chão, que estas flutuando sobre a ponte, isto é, teu conceito da travessia. Então podes perceber a imagem do carro virando nada e a própria travessia da ponte se transmutar na imagem da transparência, que supõem, digamos, um voo. Agora voas tua travessia. Mas de repente, neste sonho, podes estar já em outro lugar, pois temestes isto, e estás agora sujeito a outras imagens. Isto pode ocorrer durante toda a noite, com uma infinidade de exemplos. Mas todos transitam entre o amor e o medo, as duas únicas emoções possíveis.
Então, ao acordares, queres “entender” o que aconteceu. Existem dois caminhos neste particular. Alguém pode subjugar o sonho aos seus usos e acreditar que está próximo à iluminação, pois o sonho simboliza o desejo de liberdade total do mundo. Ou podes crer que na verdade estás te destacando da realidade, conforme chamamos mundo, e precisas, por conta disso, voltar ao mundo urgentemente. Essas duas apreciações não se ancoram em mistérios, mas em opostos, que são o modo operacional da mente para traduzir as imagens do sonho em categorias mentais julgadas como “interpretações”. Ora, interpretar o nada é o mesmo que dizer que podes estabelecer um conceito a partir de teus sonhos e dirimir tuas dúvidas mediante suas ocorrências. Isto não é assim. As correlações parecem que existem por advogar uma suposição, mas jamais podem garantir o acerto da interpretação, pois o “agora” do sonho está sendo julgado posteriormente, e não vivenciado.
Por isso se diz que o psicoterapeuta apenas pode curar a mente. Isso se dá através do relacionamento santo, mas não falaremos disto aqui. Remeto o leitor ao suplemento “Psicoterapia: propósito, processo e prática”, relacionado ao UCEM, para o entendimento mais completo sobre o atuar criativo deste ofício.
Continuemos, contudo, nossa explanação. Este texto aparenta ser de difícil entendimento por conta da natureza de seu conteúdo. Estamos discorrendo sobre dois níveis diferentes de “criação” da mente: o sonho de vigília e o sonho adormecido, e estas duas formas de ocorrências admitem diferenças em níveis em si mesmas. A tentativa de chegar a uma conclusão definitiva é impossível, dada a complexidade das relações de níveis. Mas já sabemos que todas as complexidades admitem elisão no perdão. Portanto, o sonho noturno precisa ser perdoado para tornar-se de alguma forma significativo. Isso não se dá mediante uma interferência tua no sonho adormecido. Ocorre, seguramente, segundo teu empenho em despertar a ti mesmo, ou seja, conheceres a ti mesmo durante tua vigília. Quanto obtiveres o conhecimento, todos os teus sonhos noturnos serão presenciados pelo espírito, através de imagens produzidas por tua mente certa. Assim, não surgem imagens terríveis em teus sonhos, mas possibilidades de expressão da consciência através de relações inconscientes de tua mente certa. Assim que estiveres disposto a ser desvanecido, teu ego não encontra mais lugar em tua mente para apoiá-lo, pois tua escolha perdura com o caráter da eternidade, e te acompanha mesmo durante o sono noturno.
Sobre a natureza das imagens, convém dizer que o sonho da noite não se esteia em éticas e comportamentos adequados, e sim em imagens que são adequadas para ti. Podes ter sonhos eróticos ou sonhos místicos, no entanto, ambos apontam para os opostos, enquanto estiveres aguardando teu retorno à Tua Casa. Quando Aqui estiveres, tamanha será a alegria que a estenderá aos teus sonhos, e verás o gentil desaparecer do pesadelo, que é o descortinar do ego em suas formas inconscientes.
Na verdade, não precisas de nada disso para entenderes sobre ti mesmo. Para isso, há o UCEM e seus exercícios, que são suficientes para tua cura. Apenas queremos apontar para o ato da escolha. Tu ainda não entendes, mas és o “tomador de decisões” acerca da mente certa ou mente errada. Precisas ainda sonhar, pois não percebestes isto. Mas lembra-te que o caráter da Expiação é de natureza mental, e assim tu estás realmente protegido de qualquer perigo que venhas a intencionar inventar sobre ti mesmo. Não és um sonho, não és a imagem, mas és aquele que vê, aquele que se produz através de conceitos ou em entrega ao desfazer do ego e à ação dirigida do Espírito Santo. Quando fizeres isso no teu cotidiano, mediante os exercícios do UCEM, por exemplo, estarás completamente despreocupado em relação aos teus sonhos noturnos, que são tão ilusórios quanto o mundo da percepção, e que não dizem quase nada sobre ele.
Assim, pedimos a Ti que nos dê sua complacente harmonia em nossos sonhos, para que através dele possamos despertar. Pedimos a Ti que nos relacione com Tua proteção, pois sabemos do caráter amoroso que tens para com todos os Teus Filhos. Pedimos agora ao nosso Pai que nos atenda em amor e gentileza como sempre faz, e que nos demonstre quando estivermos pronto o caráter ilusório dos sonhos. Assim te pedimos a Ti, Deus. Amém.
(...) Perceber é conceber
Águas de pensamento.
Sou a criatura do que vejo.”
(Marisa Monte – Blanco).
"Blanco", de Marisa Monte.
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