A raiva é um atraso na
comunicação. Ela propicia um senso de justiça baseada na separação e na
teimosia em se sentir sempre correto quanto ao seu próprio propósito, ou seja,
a raiva é certeza desviada de propósito verdadeiro. Sempre que estás com raiva,
estás defendendo uma ideia que não é verdadeira.
A primeira das ideias defendidas
pela raiva é a sujeição. Na medida em que não consegues destacar a ti mesmo da
raiva que sentes, como se fosses um com ela, torna-tes sujeito à raiva que
sentes, como se fosses um “escravo” de teu modo de sentir. No entanto, já vimos
que todos os processos da separação são efeitos, e não causas. Portanto, tu
mesmo produziste o efeito “raiva” e agora parece que ela é quem te domina.
Existe um engodo neste processo que seria bom que escrutinássemos.
Observa que a raiva traduz uma
certa visão de mundo, um ponto de vista, no qual estás “certo”. Ela garante
que, diante de uma imutabilidade teimosa, você poderá “ganhar” alguma coisa. O
que tal coisa seja, nunca se sabe exatamente, ou pode ser qualquer coisa.
Qualquer pessoa que já teve a oportunidade de discutir com uma pessoa irascível
sabe muito bem dos caprichos dos propósitos defendidos pelo argumento raivoso,
que nunca parecem realmente estar em busca de satisfação. E se pensarmos que a
raiva é um instinto primário, muito parecido com uma pulsão irracional, veremos
que não existe nenhuma contraposição racional capaz de justificar um fim para a
raiva de modo completo, pois a raiva é uma forma de medo e não se pode discutir
racionalmente com o medo.
O Livro Texto diz que a relação
entre raiva e ataque é óbvia, mas a relação entre raiva e medo não é tão
direta. Na raiva, o aspecto voluntarioso em se ter “razão” está em sua máxima
aplicação, e o medo de se estar “errado” produz o efeito desejado “raiva”, que
argumenta em favor da insanidade de uma razão sem apoio real.
A raiva é sempre um refúgio. Uma
tentativa de estabelecer a segurança em favor de um pensamento valorizado como
certo e incontestável. Todos já experimentaram a irracionalidade em se discutir
com alguém tomado pela raiva. Para o raivoso, portanto, a única alternativa
parece ser esperar o tempo passar, ou rezar, pedir ajuda a Deus, meditar, se
contrapor a si mesmo, através de autoargumentações muitas vezes inócuas,
propiciando no mais das vezes culpa. Como o sujeito não suporta a culpa gerada
por algo do qual a raiva diz que “se tinha razão”, a alternativa para tal
processo insano é ficar com medo de tudo, posto que, se a raiva é a crença no
ataque, obviamente o ataque virá de algum lugar, como represália, de tal
maneira que este processo advoga que a única maneira então de conseguir se
defender é produzir mais raiva, e manter-se em tal estado de prontidão em
relação ao que vem de fora.
Tudo isso é visto como muito
engraçado para quem observa o processo, ou mesmo para o próprio raivoso, quando
em intervalo são. Geralmente, constitui a base para o famoso “um dia a gente
ainda vai rir disso”, posto que se baseia naquela ideia da qual “o filho de
Deus esqueceu de rir”.
Embora não pareça assim tão fácil
para o separado — uma vez que esteja tomado pelo equívoco “raiva” — ver a si
mesmo como advogando por um estado ridículo, muitas vezes tomando partido por
situações tolas, quando não degradantes, há uma alternativa para o processo que
é infalível. Parece loucura de início, mas acompanhe até o final e veremos como
o ridículo pode se tornar consciente (já que a raiva é um sentimento primário,
como dissemos; quase um instinto, decalcado de alguma arremedo de razão).
Quando você sentir raiva de
alguém ou de alguma coisa, procure, se for possível, reservar um tempo para fazer
o que vamos sugerir agora: preferencialmente de modo silencioso, coloque toda a
culpa daquilo que aparentemente está lhe causando raiva em Deus, no Espírito
Santo ou em qualquer outra entidade que você julgue sagrada. Permaneça livre
nas formas que tal expressão venha a se dar, não tenha nenhuma restrição quanto
a isso. Você pode, por exemplo, xingar a Deus ou ao Espírito Santo neste
processo (pode ficar tranquilo, Ele está consciente disso). Coloque a culpa de
tudo que estiver lhe fornecendo argumento para raiva em Deus ou em Seus
Representantes Reais, preferencialmente naqueles que para ti ainda pareçam
abstratos (como o Espírito Santo, Cristo, Buda etc). Assim, estaremos
retornando toda raiva ao seu ao motivo original: o medo de Deus, o medo da alegria
e o medo da felicidade em não se precisar de qualquer razão para ser feliz. Com
esse processo, se feito com bastante honestidade, poderemos perceber o quanto
de nossa raiva surge a partir da Grande Projeção, Na Qual lançamos aos
personagens “fora de nós” a nossa grande raiva primeira: o medo da retaliação
de Deus, uma vez que deixamos Sua Casa (vide neste processo a similaridade com
a parábola do Filho Pródigo, que tinha muito medo de seu pai).
Pois bem, para acelerar o
processo em se perceber a raiva como inócua e totalmente insana, apelamos neste
processo para uma conscientização do primeiro processo de projeção, que foi
atribuído à Deus, no momento da separação, já que o medo de Deus é também o
medo do Amor, que obviamente não é compatível com a raiva. Assim, ao retornar
honestamente sua raiva à Origem que parece fazer sentido, podemos nos tornar
conscientes da insanidade de todo o processo da raiva em sua origem, e torná-lo
sem qualquer efeito, uma vez que você pode tentar atacar Deus o quanto quiser,
pois Ele não compreende o ataque. Assim, a ferramenta que visa contextualizar o
medo da punição em todas as formas, torna-se totalmente conscientizada diante
do fenômeno perdão, e poderemos perceber o medo da Grande Retaliação por parte
do sagrado como um erro de percepção, e a raiva se vai.
Caso tal processo lhe pareça
muito radical — visto a compreensão dada pelos homens a Deus neste momento da
história —, é possível também pedir a Deus que lhe ajude a desfazer a raiva
através da oração. Este é um segundo processo, caso não lhe convenha o
primeiro. A busca da amenização ou sublevação da raiva através da oração
verdadeira é sentida quase que imediatamente, e tende a aumentar mais e mais,
até que a raiva se torne algo totalmente sem sentido, geralmente acompanhada de
uma mediação pacífica, como uma benção totalmente aplicada ao sagrado através
de nossa verdadeira forma de ser.
Pois bem, falamos aqui de dois
processos: o primeiro deles visa conscientizar — de uma forma que pode ser
vista como radical e que deve ser realizada com muitas reservas nas primeiras
tentativas, em caso de insucesso — o primeiro processo visa conscientizar o
sujeito da experiência que toda a raiva é, em sua fonte, medo da retaliação de
Deus, uma forma insana de proteção que, em última instância, é projetada na
vingança Dele, ou seja, na defesa contra Ele. A causa disso é a culpa original,
causada pela separação. Com isso, poderemos perceber também que a imagem “Deus
castiga” é um erro na percepção. O segundo processo, baseado na oração (meditação,
ho’oponopono, recitação de mantras etc), visa trazer a tua consciência para
mais perto de Sua Origem , evitando o imenso desgaste de energia que a raiva
desprende, na medida em que a constituição original da raiva é falsa, não
criativa, e precisa de todo o teu empenho para fazer com que o estado raivoso
aconteça. A raiva não é criada, é feita; precisa consumir uma grande parte de
tua energia para acontecer. E a ressaca da raiva toma a forma de culpa. No
entanto, nada disso faz parte do teu escopo, e, portanto, não é coisa tua, e
podes ainda utilizar este argumento moral como um terceiro modo de se livrar
deste apenas incômodo.
Pai, pedimos aqui que nos ajude a
perceber a raiva como insanidade, diante de Tua Presença amorosa em todas as
coisas. Nos ajude a perceber nossa verdadeira Visão diante de nossos olhos e de
nossa percepção amorosa do mundo, ao que podemos ver em todas as coisas a Tua
Presença generosa, dando-nos consistência em nossa caminhada, auxiliando-nos a
perceber que não existe culpa em nós e nem crueldade em Ti. Assim, Pai, pedimos
serenidade neste dia e sempre, Amém.
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