"Este é um Curso em Milagres" |
Não podes
perguntar como aconteceu o impossível. Isso já foi explicado no Manual de
Professores. O que é a separação? A separação não existe. Não faz sentido
perguntar o que é aquilo que não existe. Portanto, a separação é um silêncio em
termos de assunto. O Curso em Milagres não trata em nenhum momento da separação
em si. Ele retrata a “dinâmica” da ilusão em termos fáceis de identificares, e
assim a desfaz em tua mente, na qual é possível ser dada como real, pois a
mente pode sonhar e imaginar.
A noção de alteridade é um engenho
prodigioso, no qual o teu estado dividido é atestado em imagem. Obviamente,
isto não parece fácil, pois uma imagem parece poder machucar outra. Duas
pessoas conversando são dois. Os elementos vistos deste modo estão separados, e
teu irmão e tu são esses dois, divididos e recriados em partes. Como cada um
fez para si um ego, o amor não pode ser compartido como uma unidade em
comportamento. Assim, surgem duas personalidades. Soma-se a isso as diferenças
de cor, raça, credo, aparência, etc e a distância entre dois indivíduos vistos
em corpos parece abranger o infinito. E dizer que somos um, criados neste mesmo
Um, e que todos são Um contigo, na tua observação diária, parece algo
facilmente refutável, e sem nenhum sentido.
A primeira noção de alteridade
surgiu da criação de um ego. Dissemos “criação”, mas seria melhor redizer
“feitura”, pois o ego não é criado, ele é feito, conforme estas duas acepções
são diferenciadas na metodologia do Curso. Portanto, fizeste um ego para ti.
Esse ego é o elemento precursor da noção de alteridade. Isso é óbvio, não há
dificuldade nenhuma aqui. Quando um recém-separado começa a observar o mundo em
separado, em sua nova alteração, ele passa a perceber que há diferenciações
possíveis. Assim, uma criança precisa aprender a contar, a separar o um do
dois, e assim criar o três e o resto. A partir de então, aparecem-lhe figuras
as quais pode chamar de mãe, pai, tio, irmão, qualquer alguém, enfim. Ele
percebe aos poucos que possui um nome, e que esse é o nome pelo qual o separam.
Assim, todos os outros também possuem um nome, e estão separados de si,
“recuperados” pelo ato da linguagem. No entanto, a linguagem surge para ele
como um som vindo de outra boca, que não é a boca de seu corpo, e depois
aprender a ler palavras em papéis “fora dele”. Depois que dois se tornam três,
ou quatro ou mais, de um corpo se visa dois, de um papel se visam mil palavras,
da boca são tantos sons, e de família em amigos surgem os outros, e aos poucos
a separação torna-se palpável, real e passível de planejamento.
A maioria de nós, no entanto,
associa a infância a um período mágico, em que tudo é ouro. No entanto, Jesus nos diz no Curso que “a
infância do teu corpo e aquele lugar que o abrigava, é agora uma memória tão
distorcida que apenas seguras um retrato de um passado que nunca aconteceu”
(Lição 182). Obviamente, mesmos alguns "separados" menos inclinados
ao despertar pensam assim, mas muitas vezes
isso está projetado em muito rancor e ancorado na elaboração do passado como
existente e mau. A infância nunca existiu, simplesmente porque a separação não
ocorreu. As metáforas paradisíacas sobre a infância estão associadas a um
período no qual o ego não possuía total controle sobre ti em relação ao
Espírito Santo, e Sua Voz ainda poderia ser ouvida ou percebida. Mas mesmo na
infância, o próprio predomínio do nome e do sofrimento das doenças do corpo são
reiterações para ela de que a separação é a realidade. No entanto, como tudo
para ela é novo, o caráter predominante é a empolgação, e realmente a vida
também é um brinquedo. Mas o fato de brincar com o irreal não o torna real. O
irreal é uma acepção da verdade como uma fantasia. Na infância, as fantasias
estão associadas diretamente ao prazer de maneira muito mais intensa, pois o
vício em se pensar que se está habitando um corpo ainda é muito novo.
Por outro lado, em caso muito pouco
lembrado pelos nostálgicos pensamentos, o ego possui na infância grande
liberdade para dirigir sua insana vontade. Se diz que as crianças são os anjos,
mas também se diz, no popular: “menino, trem do diabo”. Essa oposição está
associada ainda a uma disposição da vontade em fazer e criar. Dizem que as
crianças são muito criativas, e realmente elas dispõem-se a afrouxar os
julgamentos de uma maneira que ainda não foi atoleimada pelo ego. No entanto,
grande parte da educação das crianças está associada ao fazer, e a tentativa em
dirigi-las com finalidade à maturidade futura. Toda a educação infantil está
dirigida para fora, pois surgem em oposição ao ato de uma infância paradisíaca
um juízo oposto, e deste juízo apresenta-se um formato no ego “adulto” que
impossibilita ver a criança como um irmão. Então, enquanto tenta-se educar e
deixar a criança “pronta para o mundo”, o caráter dos opostos em sua transição,
isto é, o ego ganhando terreno, argumenta mais e mais em favor de sua
“personalidade” para a manutenção dele, e o ponto alto da personalidade virá
como a adolescência e seu total comprometimento com a “liberdade”.
A criança não está totalmente
disposta a uma associação egótica total. Muitos devem lembrar-se de
experiências de elevação do ser na infância, ou mesmo de “alguma coisa” que
gostariam de “ter de volta”. Assim, surge a idolatria da infância, ou um sonho
de passado, uma recordação favorável ou um atraso lindo. Em verdade, “ser como
as criancinhas” significa associar a si a disposição em não julgar, tal qual as
crianças muitas vezes conseguem. Percebe-se nelas predisposição verdadeira à
inocência e ao perdão. Mas isso é contraposto em educação através da noção da
comparatividade ressaltada pelos adultos em atos forçosos de “seguir o
exemplo”, sendo este “exemplo” um outro, uma divisão, uma noção de alteridade e
uma evocação ao especialismo.
As experiências beatíficas da
infância foram passageiras, quando associadas à percepção. Aquelas que foram duradouras são eternas. Portanto,
não pertencem ao tempo, isto é, não precisas voltar lá para buscá-las. O
caráter da revelação não está marcado pela idade do teu corpo. E a infância se
desfaz se queres ser de novo como as criancinhas, e não queres mais julgar a
teus irmãos.
Portanto, a alteridade como vista
no mundo, é uma construção adequada à educação do "separado",
confundido em ser um nome, ou uma profissão, ou uma tarja de especialismo.
Decerto, a função que vieste para exercer é a única certeza na qual podes
encontrar em ti mesmo o que precisas em termos de forma. Somente assim o curso
usa o termo "especial", quando diz que tens uma "função
especial" mesmo aqui. Mas esta não é necessariamente a função que os pais
querem que os filhos sigam, e surge novamente a dificuldade em separar o irmão
em idades.
Educar uma criança não será fácil,
mas é possível manter a mente certa em sua evocação do mesmo, pelos atos de
amor e pelo real exemplo, que é seguires a única coisa que queres, que é a Tua
Real Vontade. A alegria real vem de compartilhar com Aquele Que sabe o que é a
união em todos como uma referência pedagógica válida. Enquanto isso não
ocorrer, a separação seguirá como uma ferramenta de aprendizado invertida, associando
o que se precisa a uma vontade feita, isto é, ao ego.
“Confio em
meus irmãos, que são um comigo." (lição 181)
Não acredites,
portanto, que o Espírito Santo tenha que evoluir junto com as criancinhas. Em
todos, Ele está atento em caráter infalível quanto à disposição daquele. Todos
são importantes à salvação. Sequer os atos das crianças podem ser julgados.
Devem ser corrigidos, quando são perigosos para elas. Mas lembra que o plano de
Deus é completo, e isto se atesta no próprio Curso, pois uma criança correndo
alvoroçada que esbarra em um adulto é tida como exemplo de uma possibilidade de
um encontro santo no Manual de Professores (Seção 3, “quais os níveis de
ensino?”). Certamente, todos encontram a ajuda de que necessitam.
Assim, o amor estendido como uma
falta não pode ser realmente estendido. Não podes ver a teu irmão como uma
criança a quem falta algo. Decerto, precisamos de cuidado aqui, pois teu ego
pode adquirir vantagens em atoleimar os conceitos segundo sua falta de visão.
Lembra que as crianças santas de Deus são todos, e que o tempo somente existe
para diferenciar o que é o ego e o que é certo. Na medida em que isso é
realizado, a verdade aparece como uma certeza e uma constância. Não há dívidas
quanto ao que é certo, pois o certo divulga a si mesmo, e não há contas a
acertar com a infância. O amor por tuas crianças é tudo o que elas esperam de
ti, e é tudo o que realmente podes dar para que elas sejam encaminhadas no
sentido do amor. Mas não as diferencies como não santas, pois são tuas irmãs,
assim como tu és irmão para com elas. Finalmente, os pais são diferentes dos
filhos apenas no tempo, pois “os pais
dão à luz as crianças, mas as crianças não dão à luz aos pais. Contudo eles dão
à luz as suas crianças e assim dão à luz como os seus pais. (T-7, I -1)”. Até
nisto eles são o mesmo, ainda que disfarçados no tempo, entre pai-irmão-filho.
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