A arrogância surge de uma concepção
falha entre o que é a verdade em dar e o que é a doação. A verdadeira doação
não é uma conquista ou uma aprendizagem. Doar e dar são conceitos distintos,
não se conjugam como evidências destacadas de um partilhamento, pois doar é
“partilhar em perder” e dar é desapegar. Um presente não pode ser doado, pois
um presente é uma dádiva para alguém. No entanto, doar levanta suspeições
políticas, pois doar associa o ato ao interesse, que pode ser social, altruísta
ou meramente despejante. Não se doa o que se quer, mas se doa o que não se quer. Aquilo que se quer não pode
ser nomeado como dispensável, pois é uma farsa em conceituação, e não poderá
ser aceito como dádiva.
No entanto, doar pode suprir uma
carência julgada em escassez, e o sonho da doação pode ser corrigido pelo ato
de dar. Somente através do “dar” se assume responsabilidade. A expectativa da
doação é muito semelhante à caridade, pois ambas veem diferenças em níveis. A
arrogância baseia-se, portanto, numa relação entre o que é Poder Real e o que é
sua construção, pois ela mesma não pode “surgir” sem efeitos.
A arrogância não é causa de coisa
alguma. Não produz nada, e também não acontece realmente. Sendo um dos
elementos da ilusão, ela aparenta ter uma acepção contrária ao amor, e até
mesmo passa a ser o seu oposto, nos casos em que o medo é sobrevalorizado como uma
ação a se tomar.
A humildade é Efeito da Vontade de
Deus. Ela não surge de uma vontade alheia a Ele, pois seria impossível. A
arrogância precisa de fabricação em doação, mediante um fazer, que associa o
que é ao que produz. Ela não pode produzir e ser produzida em si mesma. O amor
dado produz amor no mesmo. O amor dado no “diferente” é uma dádiva imerecida,
ou desviada; uma dádiva dada onde não é apropriada não é real, pois não pode
haver amor em diferenças.
A humildade, por outro lado, não vê
diferenças. O homem verdadeiramente humilde sabe que seu objetivo está em
aceitar a Vontade de Deus como a sua; e cumpri-La. Ele não espera para construir uma relação em
altruísmo. Não vê o que é de Deus como diferente do que é seu. Ele não está em
débito para com a filiação. Ele não precisa doar para ser “aceito” por seu Pai.
Isso parece ilógico e cruel? Se pensares com o ego, sim! O ego acredita
que um filho de Deus doente precisa do amor de si mesmo, mas sendo o ego também
a fonte da cura. Jesus Cristo, neste raciocínio, seria um mago, sendo muito
superior a todos os seus irmãos, pois saia a distribuir senhas de segredos em
nome de Deus e produzia milagres em associação ao que lhe era poder.
No entanto, Jesus foi um homem que
viu a Cristo em todos, assim sendo ele mesmo o Cristo, pois o milagre em
confiança dado por Jesus vinha através de um desfazer completo, de uma
disponibilidade total. Estar na presença de um professor de Deus avançado pode
curar, mas a consciência plena da humildade ainda foi pouco vista neste mundo.
Jesus foi o homem mais humilde que já se viu. E Dele vieram milagres.
No entanto, a fé de Jesus em Deus
não foi apenas o precursor de Si Mesmo como o Cristo. A Fé é um princípio, a
Expiação é o meio. O homem verdadeiramente humilde não se dá como um elemento
devotado a uma causa. Qual é a causa a qual o UCEM se reporta? Não há causa
alguma ali, pois a salvação não é uma causa a se lutar, simplesmente porque um
efeito não pode lutar por sua causa. Isto é óbvio! Mas pode parecer que o UCEM
revela seus efeitos como sendo valiosos, e que precisas adquirir empenhos
devotados à sua causa.
O Curso em Milagres não advoga por
nenhuma causa. Seu único objetivo é a expiação, pois ela permitirá que Deus, a
única Causa de Tudo o Que É Real, possa novamente ser lembrado por Seu Filho. A
expiação não é a causa da salvação. Ela é o meio; a fé é o fundamento e a
revelação, que é a causa, é dada pela Única Causa, que é Deus. A expiação é o
objetivo do curso, para que o Filho de Deus perceba que Ele é para sempre um
Efeito de Deus. Lembrar-se disso não pode ser “querer uma causa”, a não ser,
obviamente, que queiras tomar o lugar de Deus.
No entanto, caso se acredite em
escassez, a crença em causalidade é forte na separação. Tudo foi causado por
uma revelação ao contrário. O filho de Deus se separou de Seu Pai e agora, para
ele, que é sem causa, tudo que lhe acontece é alheio. Isso, se fosse assim,
seria a irresponsabilidade total.
Paremos então um pouco para
agradecer a Deus por nos ter Dado a Sua Resposta. Não estamos perdidos na
insanidade nem por um momento, pois o Espírito Santo de Deus pode nos falar
mesmo através da doação, pois Ele Sabe onde está ocorrendo o amor para ti,
enquanto dormes.
Neste mundo, no qual tudo está ao
contrário, o homem humilde pode passar por arrogante. “Eu
tenho tudo, nada me falta. Sou completo e feliz, e estou satisfeito. Sou Filho
de Deus e tenho a herança de Meu Pai e a mim são dados os Seus Milagres.
Eu não sou um corpo, eu sou livre.”
Esta fala parece ser o ápice da arrogância para o ego, mas é um fala
totalmente humilde, pois ela põe em perspectiva verdadeira a Causa e o Efeito.
Humildade está relacionada ao ato de
se estar consciente de sua origem. O humilde não é aquele a quem a educação
poliu, ou a quem sua própria escassez aprouve como “simples”. Humildade quer
dizer “receber em amor”, pois assim a Fonte do humilde verdadeiro pode ser
estabelecida como plenamente confiável. O amor é a única fonte da humildade, e
apenas em amor podemos encontrar a verdade sobre Quem Somos.
A diferença básica entre humildade e
arrogância é, portanto, uma perspectiva entre assumir ou não a responsabilidade
por esse mundo. Tudo o que vês é tua criação ou tua feitura, conforme escolhes
em arrogância ou humildade. Dar é assumir responsabilidade, pois estás
estabelecendo a reconexão, estás trazendo de volta o que sempre foi teu. Dando
amor, recebes amor. As imagens evocadas diante de ti estão te apresentando o
estado da tua mente. Isto não deve ser entendido diretivamente, pois as imagens
são simbólicas! Um ato de amor pode ser um evento que nomeias “acaso”. Segundo
o julgamento do teu ego, pode ser até uma ocorrência desfavorável. Logicamente,
teu ego tentará dificultar tua interpretação amorosa das imagens confusas que o
mundo apresenta. Mas é impossível que algo venha até a ti sem tua permissão. Os
símbolos do mundo não existem, mas são densos e o chamas “matéria”. O tempo o
amarra em “estabilidade”, pois ele não é descontinuado, como teu sonho noturno.
É bem uma invenção engenhosa, mas o engenho é do ego. Amar verdadeiramente é
bem possível mesmo neste mundo, e continuadamente. O perdão está totalmente
associado à humildade. A felicidade está em sermos como Somos Nele. Assim, a
humildade se estabelece em verdade, e sabe-se de Deus o que é sagrado.
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