quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Sobre a arrogância e a humildade



            A arrogância surge de uma concepção falha entre o que é a verdade em dar e o que é a doação. A verdadeira doação não é uma conquista ou uma aprendizagem. Doar e dar são conceitos distintos, não se conjugam como evidências destacadas de um partilhamento, pois doar é “partilhar em perder” e dar é desapegar. Um presente não pode ser doado, pois um presente é uma dádiva para alguém. No entanto, doar levanta suspeições políticas, pois doar associa o ato ao interesse, que pode ser social, altruísta ou meramente despejante. Não se doa o que se quer, mas se doa o que não se quer. Aquilo que se quer não pode ser nomeado como dispensável, pois é uma farsa em conceituação, e não poderá ser aceito como dádiva.

            No entanto, doar pode suprir uma carência julgada em escassez, e o sonho da doação pode ser corrigido pelo ato de dar. Somente através do “dar” se assume responsabilidade. A expectativa da doação é muito semelhante à caridade, pois ambas veem diferenças em níveis. A arrogância baseia-se, portanto, numa relação entre o que é Poder Real e o que é sua construção, pois ela mesma não pode “surgir” sem efeitos.

            A arrogância não é causa de coisa alguma. Não produz nada, e também não acontece realmente. Sendo um dos elementos da ilusão, ela aparenta ter uma acepção contrária ao amor, e até mesmo passa a ser o seu oposto, nos casos em que o medo é sobrevalorizado como uma ação a se tomar.

            A humildade é Efeito da Vontade de Deus. Ela não surge de uma vontade alheia a Ele, pois seria impossível. A arrogância precisa de fabricação em doação, mediante um fazer, que associa o que é ao que produz. Ela não pode produzir e ser produzida em si mesma. O amor dado produz amor no mesmo. O amor dado no “diferente” é uma dádiva imerecida, ou desviada; uma dádiva dada onde não é apropriada não é real, pois não pode haver amor em diferenças.

            A humildade, por outro lado, não vê diferenças. O homem verdadeiramente humilde sabe que seu objetivo está em aceitar a Vontade de Deus como a sua; e cumpri-La.  Ele não espera para construir uma relação em altruísmo. Não vê o que é de Deus como diferente do que é seu. Ele não está em débito para com a filiação. Ele não precisa doar para ser “aceito” por seu Pai.

            Isso parece ilógico e cruel?  Se pensares com o ego, sim! O ego acredita que um filho de Deus doente precisa do amor de si mesmo, mas sendo o ego também a fonte da cura. Jesus Cristo, neste raciocínio, seria um mago, sendo muito superior a todos os seus irmãos, pois saia a distribuir senhas de segredos em nome de Deus e produzia milagres em associação ao que lhe era poder.

            No entanto, Jesus foi um homem que viu a Cristo em todos, assim sendo ele mesmo o Cristo, pois o milagre em confiança dado por Jesus vinha através de um desfazer completo, de uma disponibilidade total. Estar na presença de um professor de Deus avançado pode curar, mas a consciência plena da humildade ainda foi pouco vista neste mundo. Jesus foi o homem mais humilde que já se viu. E Dele vieram milagres.

            No entanto, a fé de Jesus em Deus não foi apenas o precursor de Si Mesmo como o Cristo. A Fé é um princípio, a Expiação é o meio. O homem verdadeiramente humilde não se dá como um elemento devotado a uma causa. Qual é a causa a qual o UCEM se reporta? Não há causa alguma ali, pois a salvação não é uma causa a se lutar, simplesmente porque um efeito não pode lutar por sua causa. Isto é óbvio! Mas pode parecer que o UCEM revela seus efeitos como sendo valiosos, e que precisas adquirir empenhos devotados à sua causa.

            O Curso em Milagres não advoga por nenhuma causa. Seu único objetivo é a expiação, pois ela permitirá que Deus, a única Causa de Tudo o Que É Real, possa novamente ser lembrado por Seu Filho. A expiação não é a causa da salvação. Ela é o meio; a fé é o fundamento e a revelação, que é a causa, é dada pela Única Causa, que é Deus. A expiação é o objetivo do curso, para que o Filho de Deus perceba que Ele é para sempre um Efeito de Deus. Lembrar-se disso não pode ser “querer uma causa”, a não ser, obviamente, que queiras tomar o lugar de Deus.

            No entanto, caso se acredite em escassez, a crença em causalidade é forte na separação. Tudo foi causado por uma revelação ao contrário. O filho de Deus se separou de Seu Pai e agora, para ele, que é sem causa, tudo que lhe acontece é alheio. Isso, se fosse assim, seria a irresponsabilidade total.

            Paremos então um pouco para agradecer a Deus por nos ter Dado a Sua Resposta. Não estamos perdidos na insanidade nem por um momento, pois o Espírito Santo de Deus pode nos falar mesmo através da doação, pois Ele Sabe onde está ocorrendo o amor para ti, enquanto dormes.

            Neste mundo, no qual tudo está ao contrário, o homem humilde pode passar por arrogante.  “Eu tenho tudo, nada me falta. Sou completo e feliz, e estou satisfeito. Sou Filho de Deus e tenho a herança de Meu Pai e a mim são dados os Seus Milagres. Eu  não sou um corpo, eu sou livre.” Esta fala parece ser o ápice da arrogância para o ego, mas é um fala totalmente humilde, pois ela põe em perspectiva verdadeira a Causa e o Efeito.

            Humildade está relacionada ao ato de se estar consciente de sua origem. O humilde não é aquele a quem a educação poliu, ou a quem sua própria escassez aprouve como “simples”. Humildade quer dizer “receber em amor”, pois assim a Fonte do humilde verdadeiro pode ser estabelecida como plenamente confiável. O amor é a única fonte da humildade, e apenas em amor podemos encontrar a verdade sobre Quem Somos.

            A diferença básica entre humildade e arrogância é, portanto, uma perspectiva entre assumir ou não a responsabilidade por esse mundo. Tudo o que vês é tua criação ou tua feitura, conforme escolhes em arrogância ou humildade. Dar é assumir responsabilidade, pois estás estabelecendo a reconexão, estás trazendo de volta o que sempre foi teu. Dando amor, recebes amor. As imagens evocadas diante de ti estão te apresentando o estado da tua mente. Isto não deve ser entendido diretivamente, pois as imagens são simbólicas! Um ato de amor pode ser um evento que nomeias “acaso”. Segundo o julgamento do teu ego, pode ser até uma ocorrência desfavorável. Logicamente, teu ego tentará dificultar tua interpretação amorosa das imagens confusas que o mundo apresenta. Mas é impossível que algo venha até a ti sem tua permissão. Os símbolos do mundo não existem, mas são densos e o chamas “matéria”. O tempo o amarra em “estabilidade”, pois ele não é descontinuado, como teu sonho noturno. É bem uma invenção engenhosa, mas o engenho é do ego. Amar verdadeiramente é bem possível mesmo neste mundo, e continuadamente. O perdão está totalmente associado à humildade. A felicidade está em sermos como Somos Nele. Assim, a humildade se estabelece em verdade, e sabe-se de Deus o que é sagrado.


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