sábado, 2 de março de 2013

A culpa como formadora das imagens




               As imagens que vês na separação são o fundamento do teu pensamento condensado em matéria. Por isso se diz que há “acasos significativos”. Na verdade, acasos são impossíveis, pois tudo o que ocorre está dentro da tua mente, conforme o UCEM diz ser óbvio. Não é óbvio para ti, pois para manteres a dualidade culpa-pecado é deveras importante que as imagens pareçam exteriores, distantes e, principalmente, independentes.
               Um objeto que se vê e dele se diz algo, como um tipo de ferramenta ou uma chave, tem em lugar de seu pressuposto imediatamente imagético (características de cor, tamanho, densidade etc) uma definição. Portanto, em lugar da “coisa” vê-se a “coisa em potência”, a utilidade ou o juízo daquilo conforme a experiência do observador. Isto é a superfície do problema. Realmente, uma paisagem bela a qual se reporta a ti como sendo unicamente visível, sem utilitarismo, geralmente é passível de ser contemplada serenamente, se apenas vires o visto, pois ali não há elementos projetivos diretores de tua experiência passada. Obviamente, é possível te perturbares mesmo em frente a mais bela paisagem do mundo, mas pensa em como a utilidade das coisas tem um elemento tangível, que as condiciona em juízo, diferentemente daquelas as quais observas com certa isenção.
Seria impossível asserir que um determinado objeto esteja dentro de outro, pois as imagens não se sobrepõem, e para isso serve um mundo tridimensional. Uma imagem — e dizemos por “imagem” qualquer coisa — uma imagem dentro de outra, ocupando o mesmo espaço, fere um dos princípios básicos dos estudos da mecânica da separação. Quando vês uma bicicleta na frente de uma árvore, estás a ver dois objetos separados, um atrás do outro. No entanto, se quiseres te ater a um exercício discriminativo, pensa nos dois como sendo a “mesma imagem”. As coisas que são vistas separadas são uma só, ocupando diferentes “perspectivas” que devotam ao observador a separação das imagens em profundidade e altura. Isto ainda é uma espécie mecânica da observação das imagens como unitárias, pois elas em si são uma só, indiferentemente. Quando uma pressuposição de imagens alcança aquilo que se vê através das definições, temos as “imagens úteis”. Quando existe uma devoção meramente contemplativa às imagens, elas se tornam abstratas, e a realidade “além de seus usos” pode ser revelada para ti. Tal revelação não pode ser descrita, pois o que dissemos acerca do fato de todas as coisas comporem apenas uma imagem é uma metáfora muito pobre perto do que é a experiência da unidade do pensamento.
 No entanto, mesmo as imagens mais discriminativas são meramente simbólicas. Teu pensamento não é a imagem que vês de forma diretiva. Por isso se diz que as imagens não são ocorrências diretas de tua mente. Se vires a chuva, não significa que “está chovendo em ti”. A chuva que vês pode muito bem ser o tempo bom ao agricultor, conforme seja teu pensamento em abundância, ou o mero ato de lavar; e mesmo o dilúvio é a metáfora do recomeço, conforme guarde-se os pares — o mesmo mundo, lavado.
Podes ver a cura de tua mente em atos e imagens que teu ego discorda como sendo razoáveis e aprazíveis. Para ele, o amor não pode vir de forma alguma, a não ser em propósito de discórdia. Tal propósito é atraente para ele, e sempre vem a ser pintado com cores mágicas, geralmente embotados em muito sentimentalismo, agregando valores diretivos às situações escolhidas por ele como “belas”. Não é verdade que parece merecido que fulano sofra, pois ele tanto fez que mereceu? E se vires seu sofrimento, não é agora culpa dele, e tu mesmo não estás com nada a ver com isso em juízo? Esse é o propósito do ego nas imagens. Julgá-las para definir o que vale e o que é descartável. Descartável é tudo o que é pacífico.
Claro que ele não te deixará em turbilhão de ameaças, pois ele sabe que precisas de descanso, ou apelarias para “O Inimigo” com a devoção genuína e geralmente disponibilizada pelos desesperados em ato imediato e grave. Não é esse o caminho do UCEM. Nosso aprendizado é gentil. O objetivo do UCEM em relação às imagens é que as vejas no “mundo real”, que é o mundo no qual as imagens refletem os pensamentos da tua mente certa. Esse mundo, no qual a gentileza predomina, é o cenário ideal para que te seja dada a revelação da verdadeira natureza das imagens, sem nenhuma gravidade ou temor.
Em última instância, a culpa é o princípio formador das imagens como as vês.  Parece não haver lógica em tal afirmação, mas é a culpa que não te permite olhar para as imagens em abstração. Ela assere que o juízo em relação as coisas deve ser tal que catalogue todas elas   em teu repertório, de tal forma que adiciones a cada imagem vista um conceito, imediatamente, pondo “cada coisa em seu lugar”. Isso é tido como inteligência pelo mundo. Um homem que sabe diferenciar e discernir as imagens por seus usos é um sujeito polivalente.  No entanto, polivalência é separação, pois os pedaços do mesmo não são significativos.
Por outro lado, inconscientemente, tudo isso ocorre mediante uma total disponibilidade tua aos inversos, tanto quanto inconsciente, enquanto dormes teu sono de Adão. As coisas que vês são o véu, em imagem, do qual o teu pensamento se reveste para não se reencontrar contigo mesmo. O medo deste “reencontro”, que não é um reencontro em absoluto, mas uma lembrança, o medo disto vem de tua indisponibilidade em te livrar da culpa, pois é mais fácil construir um mundo entre tu e Tu Mesmo do que assumires que não podes ter medo de Deus.
Assim, surgiram os corpos, as coisas, a natureza, e toda a separação ocorreu em um mil de minuto em que dissestes: não sou o Que Sou. Então, precisastes pensar o que eras, a maçã vem pela serpente no mito bíblico como uma tentação, apenas porque representa uma imagem em desobediência ao mesmo. Não foi preciso que Eva comesse a maçã, mas apenas pensar em maçã fez da serpente uma surpresa, e todo um mundo surgiu em dois: maçã e serpente — as coisas e o ego.
De quem é a culpa? Essa é até para a gente se rir um pouco! Não há culpa, irmãozinho, pois a culpa é o fundamento da separação. Se Eva dissesse: “não quero a maçã que não quero”, toda a separação se desfaria, pois esta dupla negação afirma a inculpabilidade de Eva e desfaz qualquer argumento em favor disto. Mas se Eva pensa: “ a maçã é” então a serpente completa para si pensamento. As imagens surgem como um pressuposto completivo, uma adição ao pensamento. Entre pensamento e a neutralidade do próprio pensamento aí estão as imagens e todo um mundo para brincares de solidão, separação etc.
Já foi muito bem dito que, além da culpa de Eva, que se projeta e se faz imagem, há a culpa em Adão, que “falava com Deus”. Ademais, isto está correto apenas segundo este ponto de vista: Adão e Eva sentiram-se culpados e se separam do paraíso em imagens. Isto está simbolizado em precisarem vestir-se para esconder suas “vergonhas”. A culpa é a nutriz da vergonha.
Assim, livrar-se da culpa é passo primordial para lembrar-se do perdão. A culpa congela tudo, e é bem um artifício que afirma o mundo em separação. Somente o passado pode gerar culpa. Arrepender-se vem na direção de “dizer para trás, sentir, pesar”. O arrependimento é arrogância, pois és livre em Deus. Mesmo o maior criminoso é livre em Deus, embora precises ter cuidado com teu ego aqui, pois as imagens de restrição surgem em um contexto de alto investimento em escassez.
Tu, que estás muito longe disto, pois chegastes até este ponto da leitura, bem sabes que o amor é o teu propósito, único e inequívoco. É o amor que vai te lembrar da liberdade em Deus. A natureza das imagens pode ser apenas experimentada. Elas serão reveladas para ti como são em si. No entanto, é necessário um total desnudar-se de culpabilidades quaisquer, pois ela é o maior entrave em teu caminho. O maior medo de Adão, assim como o era o do Filho Pródigo, é o de voltar para casa, ou lembrar-se de Deus. Esse terror não existe, e se quiseres realmente abandonar de vez as tuas culpas, mediante um esforço diretivo e em Ajuda verdadeira, poderá se revelar o que está previsto para ti no UCEM, acerca daquilo que está por trás do véu das imagens:

“Deus pode levar-te ate lá, se estiveres disposto a seguir o Espírito Santo através de aparente terror, confiando em que Ele não te abandonará e não te deixará lá. Pois não é o Seu propósito amedrontar-te, mas apenas o teu. Tu és profundamente tentado a abandoná-Lo no primeiro círculo do medo, mas Ele quer conduzir-te em segurança através disso e muito além.
 “O círculo do medo está exatamente abaixo do nível que o corpo vê e parece ser todo o fundamento no qual o mundo se baseia. Aqui estão todas as ilusões, todos os pensamentos distorcidos, todos os ataques insanos, a fúria, a vingança e a traição que foram feitos para manter a culpa no lugar de forma que o mundo pudesse surgir dela e mantê-la oculta. (T-18. IX. [3:7-9] e [4:1-2])”.

Lembremo-nos aqui do medo infundado de Adão e do Filho Pródigo. Assim, receberemos a revelação da natureza das imagens mediante nossa coragem em amor próprio verdadeiro, que é lembrar-se da inculpabilidade do Filho de Deus. Recomenda-se fortemente, em esforço e empenho, a leitura imediata da seção IX do capítulo 18 do UCEM, que será compreendido mais facilmente diante das ilustrações expostas acima. Não leve teu ego a dizer que é trabalho demais, pois o mais importante está lá!

Obrigado por leres até aqui. És bem vindo aqui. Te amo.


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