Os pensamentos
são imagens imateriais. Todo pensamento é imagem ou gera imagem. Mesmo o
pensamento abstrato é imagem, em termos acertados do que garante perceptivelmente.
Assim: se o pensamento sobre democracia não gera imagem direta, pois o conceito
de democracia é em si abstrato, por outro lado, o conceito em si perdura na
mente em forma de estrutura passível de “imaginar”, no que se refere a: o povo,
os eleitos, a partilha, a divisão, a justiça, a fome, a saciedade, a igualitariedade,
o mesmo. Neste último exemplo, a elisão e a verdadeira democracia. Portanto, em
abstrato, tal termo [democracia] alcança vigência em pressuposto imagético de
outras abstrações ou termos que o significam. De certa forma, tudo são imagens
em extensão. Ao pensar em democracia um roteiro simples e possível é pensar em
igualdade — justiça — harmonia — felicidade — uma flor.
No
entanto, nem todos são poetas e não digo que as coisas no mundo se resolvam
assim. Como seria então o mundo uma significação explícita de teus
pensamentos se não fossem estes mesmo os diretores do teu mundo? Especulação
metafísica não vai gerar muito entendimento. Portanto, vejamos os pressupostos
do espírito como uma ferramenta de significação do mundo, sem medo de
compreender somente por que é “diferente”. Aquilo que vem “de igual” para ti,
na bagunça que virge em tua vida, nunca foi democrático.
Vamos à prática: esse relógio que está a tua frente, ele é um pensamento?
r- Não parece ser.
Pois
bem, o que ele é, então?
r- Ele é um objeto útil. Eu posso pegar
nele, mas não posso pegar em um pensamento. Um pensamento também não me dá as
horas.
Certo.
Ele é um símbolo, então?
r- Pode ser. Mas não me parece ser um “pensamento”.
Mas
existe o pensamento sobre horas, sobre o tempo,
e eis um relógio a tua frente. O que podes dizer sobre isso, levando em
consideração o Curso?
r-
Ele é o símbolo de meu pensamento sobre
tempo?
Ou sobre
correias, ou ataduras, ou ainda sobre estéticas e atavios, ou ser for um
relógio caro, sobre status e por aí podemos dizer então que ele simboliza
muitas coisas além da simples marcação das horas, não é mesmo?
r-
Sim. Certamente. Então não posso dizer quase nada sobre ele?
Na
verdade, não. No entanto, em todas essas figuras a que chamas objetos destes
nomes e considerasses como sendo verdadeiro e que o nome que deste era certo.
Adão nomeou todos os animais por desígnio de Deus, pois o poder criativo de
Adão, em unidade, era o mesmo poder Dele. Depois da separação, o homem passou a projetar nomes. A abstração, que era o estado da unidade, são os pensamentos abstratos.
Eles representam em ato a abstração no mundo, como a ocorrência de um Estado
Democrático, o Amor Romântico, o Livre Arbítrio etc. Mesmo assim, essas coisas
se conjugam como imagens muito facilmente, pois o estado democrático, por exemplo,
precisa de “representantes”.
As
imagens que vês não devem ser temidas nem veneradas. Pessoas são imagens e
símbolos de seus egos ou da mente certa. O que vês depende deles? É claro que
eles podem representar o equívoco de suas mentes, mas a prontidão é de Cristo,
portanto, não julgues e tudo o que surgirá serão imagens certas. Isso pode
mesmo te levar ao medo, como diz o Curso, mas não será assim por muito tempo.
Quanto aos objetos (como, por exemplo, um gato ronronando, uma flor dançando ao
vento, um carro colidindo com outro etc) isto é, a dinâmica dos objetos, não há
culpa no que vês. Se o que vês é terrível isto não significa que constelastes o
terror, mas que estás a ver terror com muita dúvida. Vemos que isso é assim
pois, em momento terrível, queres mesmo é te livrar do terror. A não ser quando
acontece com “os outros”. Neste caso, pode ser que um pare o carro no trânsito
para ver cadáveres. Isto significa que viram sua própria morte? Sabes que não é
assim. Portanto, não existe associação direta entre os símbolos e seus
significados, mas podes ter certeza de que os pensamentos são imagens que fiz.
E o mundo é pensamento.
Se
quiseres harmonizar as imagens de “teu mundo” basta não interpretar nada e,
ausente de todas as defesas, siga a vida. O que te aparecer à frente é
responsabilidade tua, pois são teus pensamentos de volta, mas isso não
significa que a sua aparição imediata é uma “leitura” de tua mente. O mundo não
é oráculo. Se fores a bater em termos de “bom” ou “mal” decerto julgaràs errado
em muitas ocasiões, pois a correção do pensamento pode apresentar necessidades
de correção do mundo não apenas em comportamento, mas em atos graves nos quais
as constelações, isto é, as várias combinações de símbolos possíveis podem
aparecer hora como grave ocorrência, hora como evento aprazível, mas nunca há
um “fim” nas imagens, uma imagem decisiva, que aponte certa crise como “finada”.
O que acontece é que, de repente, o nó se desata, e eis tudo. O navegador busca
o porto, apenas isso. A ocorrência das marés ele pode prever, mas não pode
controlar os fenômenos que partem de contextos dos quais ele mesmo não está
consciente. Neste caso, o melhor a fazer é prosseguir navegando nos termos mais práticos possíveis, pois se, por capricho, um comandante quiser encerrar a navegação para tentar "entender" o simbolismo da tempestade, pode acabar encontrando uma referência em naufrágio, pois todo pensamento gera imagens em algum nível, e toda dúvida é emergência. Melhor será, sempre, trabalhar firme, com fé em Deus; relembrando aqui que Deus é a força na qual confio. Não se pode ler o mundo como símbolo sem medo, a não ser com a ajuda do Espírito Santo, que interpreta sempre corretamente.
Portanto,
medo é falta de responsabilidade. O covarde é, de certo modo, um irresponsável, pois está a não
assumir diante de si seus pensamentos. Esteja aberto a tudo que vês. Aberto não
significa estar atento ao que vês como se tudo fosse favorável. Aberto é assumir
responsabilidade sobre o mundo como ele é, com suas tristezas e alegrias, como
se tudo de certa forma favorecesse. Não há meios de categorizar o tempo em suas
ocorrências em conceitos e objetos e dizer com garantias: isso é bom, aquilo é
ruim; pois o tempo transita virando ao avesso essas categorias de modo muito
frequente, postos estarmos sempre a mudar nossos pensamentos inquietos. Amar “o
que é” é amar "como é", até que mudes definitivamente tua maneira de pensar. O
medo dos pensamentos livres produz um mundo acorrentado. Ausência de defesas é
a chave para o relacionamento acertado com o mundo.
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