domingo, 27 de outubro de 2013

Sobre a inveja



             A inveja parece ser uma condenação do sujeito a uma expectativa exterior a si, da qual não faz parte e não pode ter como sua. Assim, a inveja é uma satisfação em sonho, naquilo que se quer abranger como seu. É bem uma falácia em contraposição, pois a inveja garante que nunca será possível ter, já que o objeto almejado “está fora”. Diante desta perspectiva, invejoso é todo aquele que quer ter para si uma vontade diferente da sua própria.

O invejoso é, portanto, um sujeito bem confuso. Ele acredita que a diretividade é sua, isto é, acredita que pode dirigir a si mesmo, mas nisto não sabe como fazê-lo; e acredita que o caminho exterior é plausível em imitação. O invejoso quer-se cópia, mas ele não sabe sequer discernir de qual original a fonte procede.

Então, sem objetivo certo, o invejoso atravessa os dias a querer mais para si. Pode ser mais de qualquer coisa, desde que esta coisa não seja sua. Ele não acredita que possa ter algo novo ou criativo, e neste sinal de desesperança, advoga para si um espelho malgrado em miséria e complacência, no qual vê a si mesmo desvalido e sem condições de criatividade e força. Adianta, então, algum sonho; acredita que neste sonho futuro — pode ser qualquer coisa mesmo — está a felicidade, e nisto ele investe todas as suas forças. O objetivo é comprovar, pela diferença, que aquele caminho não servirá para ele. Receberá desta peleja muita frustação, e finalmente o ego dirá, categoricamente: “viu, como tu não serve para nada?” ou variações do mesmo tema, algumas bem incisivas, com o intuito sempre redarguindo para o fato premente de que o filho de Deus não poderá jamais encontrar sua função.

A inveja é o sucedâneo da culpa em projeção. O ego acredita que alguma coisa pode ser sua mediante o querer, mas este querer pode não ser genuíno, pois em estado de grande confusão, um pode não saber mais sequer o que gosta, e se jogar para os infindos abismos do desejo, no qual se quer algo a mais, algo diferente, algo que seja, preferencialmente, bem sucedido para os outros.

Como resultado certo, apenas a incerteza prevalecerá nisto. Nada verdadeiro será apresentado, e nada restará. A vontade de poder será o condutor de sua maledicência, pois muita malícia é necessária para efetivar tal processo, e segundo diretivas totalmente apartadas do amor, o filho de Deus poderá, finalmente, provar que não existe felicidade para si, somente para alguns outros. Sua busca será devotada, entretanto, para encontrar algum outro ego, tão miserável como ele, que queira supor sobre tais coisas em discursos morosos de derrocadas, nas quais um prova ao outro que não prestam, e a tal coisa podem até nomear “amizade”.

Este é um panorama minimizado das desventuras de um invejoso. Em suma, inveja é fazer uma vontade em conflito. Seus resultados não serão mais divulgados daqui por diante. É muito doloroso emitir um conceito desapropriado de amor como guia, pois a identificação pode surgir como uma garantia de que “é assim para ti também”. Mas vejamos agora tal ponto de vista sobre aquele que se confundiu ao ponto de se acreditar desvalido: será que a inveja pode ser determinada antecipadamente? Digamos: será que se vês algo que “te falta” e queres ter para ti não estás apenas a aderir um significado de tua falta projetado em uma coisa física? Mais facilmente: será que não estarias, portanto, apenas acreditando que podes preencher teu senso de incompletude com um modelo de completude fornecido “pelo mundo”? Acreditar nisso não é idolatria?

A inveja é idolatria, portanto. Não há em si nenhuma garantia de sucesso. Um vê que a sua proposta no mundo em imagem pode ser bem sucedida e logo visa aderir a si meios de copiar as formas de ver o mundo como seu. O dono do mundo seria o supremo invejoso, nesta perspectiva. Temes a mim porque quero apresentar para ti um mundo limpo de toda a inveja, de toda a tentação em teres o que não é teu. Tens medo do conflito, pois ele demonstra, em infelicidade, que estás a optar erradamente.

Há, no entanto, meios para a mudança. Não és a bagunça que as ideias mal ajambradas em tua mente gostariam de fornecer. Tu te confundes com essas ideias apenas para “parecer ser”. Mas se entregares as tuas ideias mal ajambradas à correção, como poderias “sair perdendo”? A ganância é culpa em escassez, decerto. Se gostas de ter, tens que tomar. “Ter” não está associado a “gostar”, mas a “receber”. E se recebes o que é teu, não terás medo de ter, pois será sempre dado e não tomado. Apenas recebe-se o que é dado, não podes tomar uma imagem ou uma profissão. O mau humor que vige nestes pressupostos está em aguentar uma forte disposição em contrário da paz.

Amado amigo, que não está perdido nestes escritos tensos e altamente investidos em culpa, escuta isto: não és uma imagem. A imagem que “roubastes” não é tua; não a inventastes, o teu ego não é a ti mesmo, e tudo o que queres como teu é erro. Há acerto em encontrar ajuda e pedir ajuda, mas o Ajudante que pode te fornecer a verdade não é aquele que pode ser um dia admirado e condizente com as glórias do mundo, com o reconhecimento do mundo, pois o mundo reconhece Jesus em uma cruz e até hoje não entendeu a ressurreição. Quererias mesmo que eu estivesse ainda pregado a uma cruz, meu amado? Achas que essa imagem agrada a fé que estou a te ensinar? Se não crês na morte, porque acreditas que precisas de coisas finitas para seres feliz? Percebe que em cada dia devotado à cópia tu apenas te empenhas mais e mais em querer repetir a crucificação. Eu não preciso mais ser crucificado, já escapei disso contigo. Que tal sairmos agora pela porta da frente, hein? Que tal se apenas víssemos o visto, sem pressupor. Não aguardando mais que o amor de nossos irmãos? Parece difícil, eu sei, eu já estive aí, mas veja que o amor não é impossível, pois tu consegues fazer, não é mesmo? Então, como não poderias CRIAR?

Olha, não te perturbes mais com o que não entendes. Não te peço que saia daqui para encontrar o ali. Não se trata de como vais te perceber, entende? Não será apenas através de diretivas que encontrarás a paz, entendes? A mudança na mente é certa, mas é preciso que estejas disponível para seres TU a mudança, entendes assim? Não ocorrerão mudanças no que não existe. As ilusões de amor, paz, felicidade, glória, amizade etc são ilusões, nada mais que isso. Não significa que, por não existirem, não possam simbolizar amizade, esperança, paz, felicidade, alegria, bem-aventurança etc, mas não esteias nas imagens destas coisas a sua fonte. A fonte de toda a alegria do mundo és tu mesmo, meu mim. Lembra-te de Mim?

Senão, não temas o que virá como coisa. Planeja, se quiseres planejar, mas não te atenhas ao planejamento como se fosses te salvar. Olha: vê aos exercícios do UCEM na fé que te guarda e ajuda, pois eles ajudam a mim também e eu virei para te salvar. Com CERTEZA. Não temas, minha criança, pois não são as ideias destes textos que podem te ajudar. Não precisas temer as ideias. Não precisas temer a nada, pois nada há a temer. Eu estou atrás e à tua frente. Eu guardo para ti tuas criações. És demasia em alegria e pelos teus tantos, que levaremos conosco em lembrança, eu agradeço neles, por eles, agora em benção, pois há neste instante, querido irmão, muita alegria, mesmo aqui. Podes vê-la, podes tê-la para ti, sem ser tua, entretanto.

Calma nisto! Decerto que se faz muito pouco em julgar. Adianto que um se atrasa na medida em que se adianta pelos mistérios de grande e forte devoção, fé genuína e disponibilidade atestada em crase! Quisera ter dois irmãos como André. E tenho — pelo que este mundo está salvo — pois enquanto há dois falando sobre mim, eu estarei com eles.


Pai, lembra a teu filho de Mim. Não temes ele a Mim, mas ao seu anseio mal atraído, Pai, pois ele teve ideia de que não valia nada. Teu Filho, Pai, perdeu-se por um instante nessa ideia. Ele não lamenta, ele não sabe; mas peço a Ti, que tens lembrança de Nós, que traga a Nós o Vosso Reino, Seja feita Tua Vontade, e para nós seja dada a lembrança em harmonia e alegria, conforme é assim Tua Vontade e é Nela que queremos voltar, Amém.

.

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Sobre falar sozinho

         



            O mundo apregoa que falar sozinho é “coisa de maluco”. Certamente, não atribui esse mesmo patamar àqueles que passam os dias a “pensar sozinho”. Estes não se ativeram ao simples fato que ouvir pensamentos desandados é o mesmo que ouvir sua própria voz desandada. Mas ao invés de soar pelos ares, a voz destes soa pelo pensamento, como ideias em palavras.

               Aquele que “fala sozinho”, em voz alta, parece estar a divulgar a loucura, e por isso é tido como louco. Os pensamentos não deixam sua fonte, pode-se falar em voz alta tanto os pensamentos derivados da mente certa quanto aqueles provindos da mente errada, e seus augúrios ou alinhos estarão mais ajustados à sanidade de acordo com a sanidade da qual proveem. Não adianta supor que a mentalidade certa utiliza apenas um canal de comunicação. Ela comunica apenas uma ideia, que é esta: és o filho santo de Deus, e não habitas um corpo. Os meios são aqueles aos quais disponibilizas a Aquele Que fala por Ele. E podem ser orais ou não.

               Falar sozinho é ato estranho em supor de isolamento. Demonstra certo solipsismo em ater-se como único auditor de suas próprias mensagens. Muitas das vezes, um pode falar sozinho para ater a si mesmo um conceito de professor de Deus, ou um atestado das sabedorias que “guarda para si”. Pode julgar-se tímido ou incapaz de transmitir tais “sabedorias”, e passa a crer que um monólogo interior ou externado solitariamente será apropriado para que essas sabedorias sejam divulgadas, mediante uma avaliação fechada em si mesmo, que avalia, prende e julga, sem jamais compartilhar o que é dito. Neste vício, aprende muito como não comunicar, pois passa a atestar em fala que não é necessário um ouvinte para dizer “sabedorias”. E, assim, o grande professor do nada vive a aderir uma audiência metafísica às suas ideias em suposição de prazer ao ater a si aquilo que pode “pensar”.

O onanista está novamente manifestado em tais atos. Todo prazer solitário é uma espécie de onanismo. Ele nega o compartilhamento e visa abarcar em si mesmo tudo o que é necessário para o compartilhar. Assim como o onanista pode fantasiar qualquer coisa em qualquer nível, o “professor solipsista” pode compreender a si mesmo como professor e aluno, o que seria uma deturpação da ideia de comunicação. A função disso é ater-se a uma culpabilidade em não ter capacidade de conseguir professar para os outros aquilo que tão sabiamente “recebe”, uma vez que está sozinho em tamanho isolamento. A timidez entra como desculpa para este isolamento, e mais uma vez o pensamento solitário é abrangido em termos de audiência para alcançar glórias de “incompreendido”.

Enquanto isso, a verdadeira sabedoria busca falar com ele e ele não ouve. Atem a si uma proposta diferenciada: está a se guardar para o dia da revelação. Ora, muito bem arranjado isto, pois se estás a aguardar o dia da “revelação” para “revelar”, estás muito bem em ser adequado como se vivesses um repetir dos dias em ideias; e se vives em um mundo de ideias, ideias solitárias são ideias de grandiosidade, que visam aplacar teus acessos de fúria amenizados por uma suposição de que, no entanto, tu sabes bem o que aprendes.

Tudo falácia do teu ego! E agora vens a dizer que este escrito também deve ser solipsismo. Mas não é? Se não queres compartilhar as ideias, mas como não compartilharias as ideias? Se as ideias SÃO compartilhadas? Em meio de te disponibilizares tua mente certa, não é neste escrito que vais achar desculpa para te encerrar no solipsismo. Não te é pedido para salvar o mundo antes de salvar-te a ti mesmo! Quando DOIS ou mais se reúnem em meu nome, então estão a falar sobre mim e eu estou entre eles, em instante santo. Quando escreves este texto, um dia será lido, podes ser a ti mesmo a ler; e nele eu garanto tua fé verdadeira, mas não te apraz que seja em garantias de sabedorias, pois se fosse possível, apagarias este texto por acha-lo demasiado ruim, esteticamente mal elaborado etc.

Ou terias muito orgulho em ser o transmissor! Rapaz, endireita a tua mente rápido, pois precisamos de ti em amor. Não vês que em doação tu crias? Não és capaz de ver isso? No entanto, em teu sonho de glória, queres ser professor de professar! Isso é uma incúria entre os profetas, pois ser profeta não é nada fácil em termos que o mundo apraz como real. Mas é muito fácil, pois sendo a vontade de Deus — não se abriu o Mar Vermelho? Não parou por horas o sol?

Estejas apenas em amor, e palavras de amor sairão pela tua boca e serão bem vindas aonde chegares. Tu és amado por Deus, não estás em solidão de entender nada. Não precisas disponibilizar em formas que outros não entenderiam. Precisas de sabedoria, sim; mas nisto não podes determinar nem julgar os meios. Se falas sozinho em teu quarto, para o vento, como podem te responder os teus irmãos? Estás a te iludir em prazer de discurso, em acreditar, onanista, que sabes o que é a verdade e podes divulgá-las em solipsismo. Decerto que neste escrito queres ver uma ocorrência disto, mas não sabes do Plano de Deus, não julgues o que não entendes. O que dizes para o vento se vai com o vento. Teu útil proceder neste mundo está ligado ao ensinamento, mas não está proposto como uma ocorrência solipsista. Não tenhas medo destas palavras, elas não visam te trazer nenhum prazer, tampouco estão ligadas a algum tipo de satisfação. Precisarás, inclusive, de alguns dias para aceita-las como tuas. Assim, poderás lê-las e entende-las, e seremos dois a ler, e eu estarei contigo neste evento que não está em julgamento, conforme pensas agora em juízo.

Teu medo da sabedoria se traveste de sabedoria apenas para te engabelar. Queres dizer-te grande orador, mas tens medo de teus irmãos. Então, não podes lhes dizer quase nada, por enquanto. Portanto, segue por agora apenas em vias de OUVIR! Não vais a falar o que quer dizer a tua boca. Ouve bem a teu Amigo, a Quem deste ouvido nestes dias. Ele não fala para o vento ou para os objetos. Ele fala para ti! Podes até emprestar a boca do teu corpo para que Ele fale CONTIGO. Assim, não és tu o solipsista que visa encontrar a si mesmo como onanista. És aquele que ouve de um Outro, mas sendo este a Ti Mesmo, em diálogo em dois, e isto podes até falar em voz alta, no meio do ponto de ônibus, se quiseres, pois nisto estarás a divulgar a sabedoria, desde que, nisto, seja ELE Quem te diga o que fazer. Ele não vai te expor ao ridículo, mas lembre-se que Deus parece ridículo para o mundo. Não tenhas pressa, que não visamos aqui assustá-lo. Queremos dizer de tua coragem em expor o que é o comum a todos, em vias de te parecer que vais a “manchar” tua “imagem”. Uma imagem não pode ser manchada; simplesmente, porque uma imagem não existe. Não és o professor de Ti Mesmo, como pode supor um incauto leitor do UCEM, que lê sobre o fato de “teu professor estar em ti”. Mas És o Professor de Ti Mesmo —  não és imagem de tua imagem.

Se rirem de ti, deixa rirem de tua imagem! E rias tu também, pois foi uma bobagem que fizeste para provar o erro. Não é risível isso? Seria orgulho querer manter o professor de Deus aprisionado ao teu ego, como um conforto para o isolamento, em prazer de jogar nada ao vento. A ideia de isolamento não condiz com a noção de compartilhamento, e não pode ser verdadeira. Logo, nada que venha da ideia de isolamento é real, mesmo que esteja envelopada em altas alegorias.


Pai, pedimos ao Teu Companheirismo Amoroso a generosa ajuda dos milagres. Pedimos em amizade verdadeira que sejas para Teu Filho, visto Nele Mesmo, Quem És. Pedimos em nome de Tua Glória e Teu Amor a revelação verdadeira, em milagres, pelo que esperamos em sabedoria pedir Ajuda, ao que sempre e sempre respondeste. Pelo amor ao Teu Filho Santo, te pedimos, Amém. 

.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Sobre a consulta a oráculos (I-Ching, Tarô etc.)



               A consulta oracular não possui em si nenhum pressuposto em garantia que proverá uma previsão acertada. A forma mais adiantada a que se pode remeter o “futuro” não está estabelecida pelo tempo, e sim pelo instante. Uma consulta oracular pode, entretanto, estabelecer para o consulente uma “forma” para aquele instante, mas se o próprio consulente não estiver em sua mente certa, a forma da consulta será indeterminável ou incógnita.

               Todo tipo de oráculo visa estender em criação a expectativa do consulente. Se vai a “acertar” ou não, isto é de uma variabilidade imensurável, pois tudo depende, obviamente, da disponibilidade do consulente. O oráculo é um desenho da mente do consulente em certo instante; e somente se ele estiver em sua mente certa poderá perceber em tal desenho um cartel de possibilidades plausíveis e pontuais em sua diretividade. Mas, se estiver em sua mente certa, precisará de outro tradutor?

               Uma maneira de agregar ao oráculo um sentido, já que parece não fazer nenhum sentido aguardar uma previsão de algo que vem “de fora”, é acreditar nele. Segundo a nossa perspectiva de aprendizado, não existe tal coisa de oráculo, pois este não pode ser o portador da salvação, visto a salvação não vir de fora em nenhum formato. A conscientização de que a salvação é um processo interior não tem em si nenhuma garantia de evocação simbólica. Tudo é dado de forma direta e legível, sem partições em símbolos ou necessidades interpretativas que gerem variações: pode ser isso, mas pode ser aquilo. No entanto, se acreditas no oráculo, precisas de uma atenção em relação a tua mente certa, para que nenhum tipo de desídia possa ocorrer em submissão à consulta que foi realizada como portadora da “mente errada”. Nesses casos, o melhor a se fazer é não levar a consulta a sério, pois ela não pode garantir diretividade precisa.

               Quando um Filho de Deus segue em busca de um oráculo, certamente está a pedir orientação em favor de sua mente certa, pois gostaria de saber sobre algo que não apraz, ou não o contenta no momento. A dúvida leva o consulente ao oráculo, que é procurado em momento de conflito e busca-se nele a Vontade de Deus. Não deixa de ser um ídolo, uma construção que visa encontrar Deus em vias mundanas, e por conta disto foi completamente rechaçado pelos teus antepassados como incúria ou má fé. A idolatria é problemática e é ela quem gera a noção de “pecado”, pois o ídolo visa substituir. Nisto, o oráculo é uma moldura falsa para abrigar falsas expectativas, pois nada pode substituir a palavra de Deus dada por Aquele Que fala por Ele. Quem pode se arrogar como intérprete Dele, senão o Seu Espírito Santo?

               Tua teimosia em aceitar este explicado vem de uma tentativa em manter mais um ídolo. Quantos mais queres construir? Decerto, durante anos consultastes o I-Ching, que muitas vezes te serviu e serviu bem. Agora, estás a consultar o tarô, que também não é risível em suas formas, conforme poderia pensar alguma involução em juízo. Ora, uma garantia espetacular de acerto não significa a repetição do acerto. Ganhar uma vez na loteria não implica em ganhar sempre. Mas, se o que fascina é o dinheiro, jogas na loteria ou queres o dinheiro? Ou o fascínio está no jogo? Seria possível que o fascínio do ídolo estivesse “além dele”? Isto é assim, pois se vieres a ganhar um milhão na loteria, não dirás: “venci o jogo”, mas sim: “tive sorte”.

                Quem negará a relação entre o jogo e a sorte? Mas o que é a sorte? Existe tal coisa? Seria como se houvesse uma parte de Deus que estivesse em descontrole e precisasse da mágica para acertar as coisas. Um Filho de Deus quer muito sair de uma situação de conflito e de repente, sem sequer se dar conta, lembra que sua vontade é a mesma de Deus, e surge para ele o desatar do nó. Na verdade, o conflito não existe, pois o que há é a Vontade de Deus em Si, sem nenhum arranjo possível em outra forma. A sorte não entra nisso, pois não é sorte conseguir aquilo que é teu. Podes ter certeza que ganhar na loteria pode ser um grande atraso para um que precisa de outros meios para entender do Céu. Um homem assim, muito medroso, pode até ganhar na loteria e dizer: “tive sorte”, enquanto está mesmo é se atrasando. Portanto, não há acasos nos planos de Deus. Nada pode ser determinado por um pressuposto que seja em sorte, pois Seu Plano é perfeito, e não admite conflitos. O “atalho” em relação ao Seu Plano não vem da sorte, mas da disponibilidade em aceitá-lo tal como É.

               Voltemos então à questão do oráculo. Vimos que uma consulta oracular verdadeira não tem nada a ver com sorte. Também não está determinada por uma pressuposição em termos de futuro, pois o tempo é uma ilusão em formas, passando algumas na frente de outras. Quando lanças as moedas do I-Ching ou dispõe em mesa as cartas do Tarô, estás a colocar em tua frente, em mágica, uma especulação do que seria tua mente certa. Decerto, é uma tentativa de disponibilizar, mas sem muito sucesso garantido, pois se está a investir em algo que “pode falhar”. O oráculo infalível não pode existir, mas a mente certa é infalível. A garantia do oráculo não está nele mesmo, mas naquele que é Seu Intermediário, ou o Intérprete. Pode ocorrer de o Intérprete ser o próprio consulente, mas nesse caso sua precisão dependerá de uma honestidade total. Em todo caso, somente em honestidade o jogo é anulado e passa a constituir determinantes que se elidem em azar-sorte e passam tão somente a significar.

               A interpretação do oráculo, portanto, deve estar a serviço da mente certa, ou do Intérprete. É Ele Quem diz o que as cartas significam, ou o que os símbolos significam. Se ativeres disponibilidade em realizar isto através destes meios, nisto não há problema algum, pois não estás a esperar nada da sorte, nem visas encontrar nos símbolos idolatria. Se vires a carta nomeada Imperador, não esperas dela um aviso reinante: quase não sabes o que quer dizer o Reino. Mas tal “informação” está em ti, e pode ser revisitada por Aquele Que sabe. A carta IMPERADOR deve ser compreendida em contexto, fora de seu valor histórico, mesmo dentro da história do tarô. Assim, podes começar a “brincar” de ouvir tua mente certa através Daquele Que te fala de certezas, e se assim fizeres, perceberás que as cartas do tarô, as moedas do I-Ching, os búzios, enfim, todos apontam em direção da certeza. Verás tuas consultas “dando certo”. No entanto, na medida em que neste exercício tu mesmo te aproximas desta Voz, em breve não precisarás mais de um meio material para que ela se expresse para ti, e um oráculo verdadeiro, que é a vida mesma, se apresentará em imagens, conforme sendo imperador aquele que visa no mundo Outro Reino, pelo que é e será para sempre distante deste aqui, de formas, nas quais um pode acreditar em ato de divergir, e outro pode aproximar em ato de instruir, sempre no intuir de superar estas duas apreciações em favor de Deus, pelo que não necessita nenhuma substituição para gerir sabedoria em Seu Amor, que não tem meio e não se expressa, não determina categorias, não aprecia nenhum tipo de desídia. Portanto, eis que o tarô amável, o I-Ching generoso, lançados búzios em amor, visam compreender que transitar pelos meios não pode deixar de ser enganoso, embora mesmo o errado possa ser consertado pelo amor em meios, e nisto se vê pelo que os corpos se enganam em serem a Nós mesmos, mas podemos ver amor na mente em atos de corpos, tanto que na cura dos milagres o meio em corpo, ao invés de vetor da discórdia, passa a ser prova do Amor de Deus, Que curou a mente que curou o corpo.


               Não julgues. Acima de tudo, não julgues. Não sabes o que é o Amor ainda. Portanto, faça daquilo que te parecer adequado um meio para a felicidade, mas felicidade verdadeira vem do Pai, e não pode ser determinada de outra forma a não ser em ilusões. Se podes ouvir a Voz por Deus em meios de oráculo, verifica se tal meio produz para ti alegria genuína, se tudo o que vês é verdadeiro em seu transitar no tempo, e se o Intérprete ao Qual ouves está a te dizer dos meios ou sobre Ti Mesmo. Se assim for, bendito seja o teu oráculo, até que venhas a saber que de Deus - sabemos todos nós em verdade - o futuro é apenas um: a reunião de todos os Filhos de Deus em Si, como sempre É. Bem como, Sabedoria nisto é: cada um tem o seu caminho, e o encurta de modos que ninguém saberá como julgá-lo, amém.

.

sábado, 12 de outubro de 2013

Poema sem título

Em não me entender,
Lancei-me ao caos;
E quis entender todo o caos.

Em não entendê-lo,
Achei-me como ele;
E perdi metade dos dentes.

Ó fruta maldita,
Que jamais saibo ler:
Tomé acredita,
O corpo quer ver.

Perdidos no vulto do tempo,
(Donde vim?  Pron’ vou?)
Metade de mim é resposta:
Não sei — Eu Sou.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

O instante santo



Um irmão pode acolher a ti amorosamente, mas sua intenção dada em alternativa pode te parecer obscura, pois teu irmão pode parecer “obscuro” nesta intenção, dificultando que o vejas ou entendas o que ele diz. Palavras podem sair claramente de sua boca e tu não o entendes. Palavras claras que dizem de clarezas que tu podes entender, mas não percebes. Um irmão na rua, um amigo no facebook, uma ocorrência de “acaso”, um pretexto de informação, uma necessidade quaisquer de comunicação podem prover vetores para a salvação, mediante o instante santo. Se não quiseres o instante santo, as palavras que o envolvem podem não alcançar sentido para ti, bem como o ato sem palavras de “estar no instante santo” pode ser bastante dificultado pelo medo de ficar bem.

O medo de ficar bem. Isso soa insano para qualquer um, pois as diretrizes do ego também visam “fazer bem” a ti. Todo mundo quer “ficar bem”, mas não estão dispostos ao verdadeiro bem. Perdoar é estar aberto à comunicação. Enquanto ainda julgas, buscarás pressupostos para a comunicação que visem proteger-te de ti mesmo. Preferes, então, apenas aquilo que entendes como ego. Daí: as palavras serão incompreensíveis porque não estás “maduro” ou “não são para ti”; os acasos serão julgados como “sinais” ou “símbolos de ordem” e não verás que fabricas o mundo que vês; os adventícios de anjos não serão permitidos, pois “cada um” está buscando “à sua maneira”; e por aí se vai a fraquejar pelas crenças em que o mesmo pode ser julgado como diferente. Temes o mesmo, pois o mesmo é a mesma coisa, e a mesma coisa somente pode ser uma coisa só.

No entanto, podes categorizar o mundo. Veja como ele é uma construção perfeita para te distrair. Podes ir para a praia, onde vês o mar: calmo, grandioso etc. Não podes, entretanto, ir à favela? Ah, mas lá os símbolos são feios, e muita pobreza e sofrimento etc. E o sertão? Também não. Oriente Médio? Calabar? Preferirias o Taj Mahal? Percebes o jogo?

Não existem “lugares”, pois o espaço é uma crença na aparição física de duas ou mais coisas. Ora, mas não se vá daqui às tolices, pois não estamos a dizer que deves mesmo crer que podes estar em qualquer lugar ou em nenhum lugar ao mesmo tempo, como diz o UCEM, sem perceber verdadeiramente que as diferenças entre todos não existem. Se o fizeres, sem perceber verdadeiramente a unidade, estarás apenas a repetir uma sensação de dândi: uma figura que se insere em um nada conceitual, e assim perceberás uma unidade exótica. Isso é outro jogo enganador. O UCEM diz: há vários deles; e adverte isto sobre a economia: vais a experimentar todos?

É perda de tempo, rapaz! Não existe o medo, mas precisas deixar de temer o medo. A gaiola do medo é feita com barras de receio: “talvez, seu eu for cauteloso aqui ou ali, não percebam isto ou aquilo, então, mais tarde, eu deixo que ocorra a abertura, e então, o agora, etc”. Tudo conceito. Bobo tonto de querer achar que, achando, encontrará. Está aqui, mas não vês porque crês que tens que te defender para encontrar um lugar só teu! Isso é a base do especialismo, será que não vês? Defender-te garante apenas tua idiotia. A gaiola do medo está aberta com uma placa posta sobre a porta escancarada, donde se lê: perdoe! Ora, se perdoas em mim, porque não perdoarias em todos os teus irmãos, IRMÃOS, ajuda nisto.

Tu és a luz do mundo. Tu és a salvação do mundo. A salvação do mundo depende de ti, que és humilde. Enquanto quiseres te adormecer, em sonho de isolamento em bobo tonto, serás para ti mesmo bobo tonto. No entanto, és amado por Deus de modo que não podes sequer perceber, pois esperarias ainda uma punição pela tua “desobediência”. Não escutas o que o amor diz, queres ainda subverter o teu querer até conseguir provar que és o contrário de ti mesmo, mas escuta: o contrário de nada não existe, não podes ser o contrário do teu corpo. A dureza da lição vem da teimosia em perdoar. Então, não perdoarias isso, sequer?

Sei que virás, sem demora, conforme entendes o que é dito sem julgar. Mas saiba que a abertura verdadeira te foi apresentada hoje e negaste a teu irmão. Não esperes o galo cantar mais três vezes! Ora, sobre ti edificarei a minha fé, a minha luz e a nossa salvação. Não renegues a teu irmão por acreditares em conceitos. O instante santo é para ti e está à tua disposição agora, não o temas novamente. Não estás sozinho nisto, e verás apenas o amor chegar, com a palma da mão estendida e os anjos da anunciação em belos lírios. Aceita ao teu irmão em instante santo, pois eu não vou te deixar sem resposta, amado amigo, irmão.

Precisamos de ti. Que venhas sem demora, e não espere pelo que não podes mais ater como conceito. Viva o instante santo agora. Viver é a dádiva da vida. Saia deste quarto, entregue o que queres ao que vês, e terás o que vês no que queres.

Ainda temes que a entrega possa te prejudicar. Essa crença na escassez deve-se a um investimento em amargo sentimento de autopunição. Piedade de punição inexistente eu não posso ter, mas sinto muita comiseração pela miséria que se inflige. Quando um irmão se devota à miséria, uma lágrima cai do céu e são as inundações de Noé claras em feridas de Jó. Mas não se desespere; embora eu não possa ter pena de um irmão perfeito apenas porque ele esqueceu sua perfeição, posso ajudá-lo a lembrar disto facilmente.

Aceita o instante santo e não temas ao teu irmão. Ele não vai te ferir. Ele precisa de ajuda tanto quanto tu. Não és apenas um perdido no mundo. Este mundo é um lugar doente e precisa muito de ajuda. Cada ato de amor constrói realmente um mundo melhor. Essa é a verdadeira e única revolução. Proteste contra tua falta de amor amando. Abre-te todo ao teu irmão, sem reservas; ele não vai te ferir se assim. E se ele te pedir ajuda em desamor, poderás ajudar ao teu irmão verdadeiramente, sem ter dele piedade, mas em compaixão de vê-lo perfeito, pois estás o recebendo perfeitamente — nele não vês nada que não seja a perfeição.

Ainda temes que os teus improvisos de corpo possam te desidratar. Secos tempos são esses... Mas Caymmi quem disse: o mar, quando quebra na praia, é bonito —— é bonito. Não percas mais a oportunidade da beleza para investir em miséria. Precisamos de ti, precisamos de tua companhia. Como pode o peixe vivo? Viver fora? Se vivo, André!

Nada há a temer.


Não estamos planejando nada. O plano de Deus é perfeito e já está realizado. Não é preciso fazer nada para realizar o certo. Fazer nada é estar aberto, pois não se teme o que já está feito. Assim, se é humilde em aceitar apenas o belo e bom. Lírios para ti, meu caro, e pedimos a Deus a revelação da Verdadeira Humildade. Para que tenhamos fé perfeita nisso, o Espírito Santo está em ti para a Ajuda. Pedimos a Ele que esteja em nossa guarnição perfeita, para que saibamos Quem Somos e o que viemos a fazer aqui, conforme seja Sua Vontade a nossa, amém. 

.