quarta-feira, 9 de outubro de 2013

O instante santo



Um irmão pode acolher a ti amorosamente, mas sua intenção dada em alternativa pode te parecer obscura, pois teu irmão pode parecer “obscuro” nesta intenção, dificultando que o vejas ou entendas o que ele diz. Palavras podem sair claramente de sua boca e tu não o entendes. Palavras claras que dizem de clarezas que tu podes entender, mas não percebes. Um irmão na rua, um amigo no facebook, uma ocorrência de “acaso”, um pretexto de informação, uma necessidade quaisquer de comunicação podem prover vetores para a salvação, mediante o instante santo. Se não quiseres o instante santo, as palavras que o envolvem podem não alcançar sentido para ti, bem como o ato sem palavras de “estar no instante santo” pode ser bastante dificultado pelo medo de ficar bem.

O medo de ficar bem. Isso soa insano para qualquer um, pois as diretrizes do ego também visam “fazer bem” a ti. Todo mundo quer “ficar bem”, mas não estão dispostos ao verdadeiro bem. Perdoar é estar aberto à comunicação. Enquanto ainda julgas, buscarás pressupostos para a comunicação que visem proteger-te de ti mesmo. Preferes, então, apenas aquilo que entendes como ego. Daí: as palavras serão incompreensíveis porque não estás “maduro” ou “não são para ti”; os acasos serão julgados como “sinais” ou “símbolos de ordem” e não verás que fabricas o mundo que vês; os adventícios de anjos não serão permitidos, pois “cada um” está buscando “à sua maneira”; e por aí se vai a fraquejar pelas crenças em que o mesmo pode ser julgado como diferente. Temes o mesmo, pois o mesmo é a mesma coisa, e a mesma coisa somente pode ser uma coisa só.

No entanto, podes categorizar o mundo. Veja como ele é uma construção perfeita para te distrair. Podes ir para a praia, onde vês o mar: calmo, grandioso etc. Não podes, entretanto, ir à favela? Ah, mas lá os símbolos são feios, e muita pobreza e sofrimento etc. E o sertão? Também não. Oriente Médio? Calabar? Preferirias o Taj Mahal? Percebes o jogo?

Não existem “lugares”, pois o espaço é uma crença na aparição física de duas ou mais coisas. Ora, mas não se vá daqui às tolices, pois não estamos a dizer que deves mesmo crer que podes estar em qualquer lugar ou em nenhum lugar ao mesmo tempo, como diz o UCEM, sem perceber verdadeiramente que as diferenças entre todos não existem. Se o fizeres, sem perceber verdadeiramente a unidade, estarás apenas a repetir uma sensação de dândi: uma figura que se insere em um nada conceitual, e assim perceberás uma unidade exótica. Isso é outro jogo enganador. O UCEM diz: há vários deles; e adverte isto sobre a economia: vais a experimentar todos?

É perda de tempo, rapaz! Não existe o medo, mas precisas deixar de temer o medo. A gaiola do medo é feita com barras de receio: “talvez, seu eu for cauteloso aqui ou ali, não percebam isto ou aquilo, então, mais tarde, eu deixo que ocorra a abertura, e então, o agora, etc”. Tudo conceito. Bobo tonto de querer achar que, achando, encontrará. Está aqui, mas não vês porque crês que tens que te defender para encontrar um lugar só teu! Isso é a base do especialismo, será que não vês? Defender-te garante apenas tua idiotia. A gaiola do medo está aberta com uma placa posta sobre a porta escancarada, donde se lê: perdoe! Ora, se perdoas em mim, porque não perdoarias em todos os teus irmãos, IRMÃOS, ajuda nisto.

Tu és a luz do mundo. Tu és a salvação do mundo. A salvação do mundo depende de ti, que és humilde. Enquanto quiseres te adormecer, em sonho de isolamento em bobo tonto, serás para ti mesmo bobo tonto. No entanto, és amado por Deus de modo que não podes sequer perceber, pois esperarias ainda uma punição pela tua “desobediência”. Não escutas o que o amor diz, queres ainda subverter o teu querer até conseguir provar que és o contrário de ti mesmo, mas escuta: o contrário de nada não existe, não podes ser o contrário do teu corpo. A dureza da lição vem da teimosia em perdoar. Então, não perdoarias isso, sequer?

Sei que virás, sem demora, conforme entendes o que é dito sem julgar. Mas saiba que a abertura verdadeira te foi apresentada hoje e negaste a teu irmão. Não esperes o galo cantar mais três vezes! Ora, sobre ti edificarei a minha fé, a minha luz e a nossa salvação. Não renegues a teu irmão por acreditares em conceitos. O instante santo é para ti e está à tua disposição agora, não o temas novamente. Não estás sozinho nisto, e verás apenas o amor chegar, com a palma da mão estendida e os anjos da anunciação em belos lírios. Aceita ao teu irmão em instante santo, pois eu não vou te deixar sem resposta, amado amigo, irmão.

Precisamos de ti. Que venhas sem demora, e não espere pelo que não podes mais ater como conceito. Viva o instante santo agora. Viver é a dádiva da vida. Saia deste quarto, entregue o que queres ao que vês, e terás o que vês no que queres.

Ainda temes que a entrega possa te prejudicar. Essa crença na escassez deve-se a um investimento em amargo sentimento de autopunição. Piedade de punição inexistente eu não posso ter, mas sinto muita comiseração pela miséria que se inflige. Quando um irmão se devota à miséria, uma lágrima cai do céu e são as inundações de Noé claras em feridas de Jó. Mas não se desespere; embora eu não possa ter pena de um irmão perfeito apenas porque ele esqueceu sua perfeição, posso ajudá-lo a lembrar disto facilmente.

Aceita o instante santo e não temas ao teu irmão. Ele não vai te ferir. Ele precisa de ajuda tanto quanto tu. Não és apenas um perdido no mundo. Este mundo é um lugar doente e precisa muito de ajuda. Cada ato de amor constrói realmente um mundo melhor. Essa é a verdadeira e única revolução. Proteste contra tua falta de amor amando. Abre-te todo ao teu irmão, sem reservas; ele não vai te ferir se assim. E se ele te pedir ajuda em desamor, poderás ajudar ao teu irmão verdadeiramente, sem ter dele piedade, mas em compaixão de vê-lo perfeito, pois estás o recebendo perfeitamente — nele não vês nada que não seja a perfeição.

Ainda temes que os teus improvisos de corpo possam te desidratar. Secos tempos são esses... Mas Caymmi quem disse: o mar, quando quebra na praia, é bonito —— é bonito. Não percas mais a oportunidade da beleza para investir em miséria. Precisamos de ti, precisamos de tua companhia. Como pode o peixe vivo? Viver fora? Se vivo, André!

Nada há a temer.


Não estamos planejando nada. O plano de Deus é perfeito e já está realizado. Não é preciso fazer nada para realizar o certo. Fazer nada é estar aberto, pois não se teme o que já está feito. Assim, se é humilde em aceitar apenas o belo e bom. Lírios para ti, meu caro, e pedimos a Deus a revelação da Verdadeira Humildade. Para que tenhamos fé perfeita nisso, o Espírito Santo está em ti para a Ajuda. Pedimos a Ele que esteja em nossa guarnição perfeita, para que saibamos Quem Somos e o que viemos a fazer aqui, conforme seja Sua Vontade a nossa, amém. 

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