terça-feira, 21 de abril de 2015

Sobre desconfiar dos próprios motivos




               Pelo bem se vai além, diz-se. Mas, esse tal bem, quem o conhece? Qual categoria de bem é irrevogável? Tu julgas o bem como uma categoria vigente nas proposições nas quais o mundo diz “isto é bom”, mas dá uma olhada para esse mundo sem emoção. Será mesmo que aquilo que o mundo diz que é bom é confiável?

               Perguntas, então, se as pessoas que construíram a “melhoria” do mundo são realmente pessoas boas. Será, por exemplo, que os ‘Médicos sem Fronteiras’ são pessoas que estão a perder tempo? Seria Irmã Dulce uma pessoa que perdeu seu tempo? Então, se não acreditas mesmo nisto, qual será a parte da tua mente que se ilude com o “bem de mundo” como uma falácia em “bem estar” orbitando no umbigo? Queres mesmo saber se há bem no mundo? As pessoas que querem fazer o bem são as melhores pessoas que aparecem para outras.

               Mas não entendem de ser melhores para outras obedecendo a leis exteriores. Elas não estão divulgando a si mesmas em suas ordenanças gentis. Elas nem sabem que são boas. As pessoas realmente boas geralmente nem se entendem assim. Há muito personalismo no bem que se vê bom.

               Aliás, é bom que saibas que o bem, no sentido de um volver em direção à mente certa, dá um trabalho danado! Quase nunca traz o envelope de glória e satisfação que o tolo sonha obter. Vide a vida de Jesus. Mas Jesus era um trabalhador de milagres, o maior que existiu, e decerto que era muito feliz. Somente um homem feliz poderia fazer o que ele cumpriu.

               O que se diz no UCEM é que a parte Dele já foi cumprida e por isso se diz que Jesus Cristo trouxe a salvação do mundo. Não precisamos mais de sacrifícios e mesmo Ele não viu Sua função cumprida como tal. Mas precisamos de espelhos claros do que Ele deixou, em mensagem de salvação, qual seja: "amar ao próximo como a ti mesmo". Entretanto, se tu acreditas que o próximo tem que te amar primeiro, há uma perspectiva invertida em teu pensamento.

               Agora o trocadilho acerca do que foi dito poderia vir à tua mente desta forma: ‘ora, se no UCEM é dito que servir ao Espírito Santo, ou seja, cumprir nossa função, não dá trabalho nenhum, por que então se diz aqui que a felicidade verdadeira e o verdadeiro bem são trabalhosos?’ Na verdade, eles não são trabalhosos em perspectiva verdadeira, do ponto de vista do conhecimento, que não vê diferença em níveis e não classifica. Mas há um empenho verdadeiramente visto como trabalhoso em se fazer, em um mundo de cabeça para baixo, algo de cabeça para cima. Pelo menos, por um tempo, pode ser assim. Mas não é verdade que existem pessoas que cumprem trabalhos exaustivos, mas não percebem tais ações como sendo sacrifícios, posto fazerem aquilo que gostam? Até que possas ouvir uma Única Voz, o teu trabalho em voltar-se para Deus é uma acepção de tua aceitação do mesmo, ou seja, do outro, que ainda vês como diferente. Isso pode ser difícil no começo, como diz a canção. Mas trará novamente a alegria de trabalhares duro, com significado. 

               Se quiseres ser amado, doe amor. Essa é a prerrogativa básica do UCEM. Nunca se sabe quem vai receber amor no estado de amado. Alguém pode estar muito doente. Estes precisam dos trabalhadores de milagres em devoção total. Quem pode se crer bom vendo a miséria em imagens? Ele está se curando, se ajudar. Ele divulga o aprendizado generoso em compreender que amar ao próximo não é ater-se ao que precisa. Nisso, o amor ao próximo configura o perdão. Louvados sejam os irmãos que sabem que a salvação nesse mundo urge!

               Não há duas pessoas aqui. Portanto, podes receber amor se deres amor, pois dás ao mesmo, se não há dois. Na verdade, não é aquilo que dás que configura o teu amor. Podes certamente dar um milhão em moedas de ouro para uma pessoa em condições tais que venhas até mesmo a humilhar tal pessoa. Podes, por outro lado, em um bom dia sincero efetivar uma cura aparentemente impossível. Não é isso que o mundo prega, pois parece que o valor verdadeiro está nas coisas. Os símbolos do ego podem vir até mesmo na forma de um santo generoso!

               [Raul Seixas dizia: “o meu egoísmo é tão egoísta, que o auge do meu egoísmo é querer ajudar”]

               E foi grande a sacada dele. Uma percepção correta em disponibilidade, pois não é a ajuda que configura o amor, mas o contrário. Em um mundo de cabeça para baixo, parece que amar é pagar com amor o amor que se paga. Mas o amor não se troca por si, pois se reconhece no mesmo e apenas se dá. Ele não cobra nem paga. Decerto, para uma pessoa muito orbitada em seu umbigo, às vezes é preciso começar com o aprendizado da ajuda meramente ensinando uma forma de ajudar, como um princípio em reeducar. Isso é o que deveria ser praticado com nossos irmãos nos presídios, por exemplo. Pelo castigo não se reeduca, mas pode-se realmente enfatizar a correção com um exemplo forte. Isto, diante de nosso aprendizado, estará a cargo de quem sabe disponibilizar.

               Finalmente, se teus motivos implicam em desconfiança, lembra donde as boas intenções residem, quando tortas. Para saber se tua intenção é boa, ama ao próximo na tua disponibilidade em intenção. Não é aquilo que fazes que vá dar significado ao amor, mas o amor é simbolizado no que fazes, se fazes com amor. Por isso, não há tamanho nem valor que possa substituir algo dado por uma criança, por exemplo. Muitas das vezes é uma coisa bastante simples, como um desenho, uma flor de mato, um abraço, mas aquilo vem agregado a uma total disponibilidade, e é isso que cura. Às vezes, o amor pode vir em forma de estetoscópio ou numa moto usada. Apenas a culpa indica medo e falta de propósito verdadeiramente generoso. Eis uma regra boa: se fores a doar, despeça-te.


               A caridade — que sabemos ainda ver diferenças em níveis — é, no entanto, um princípio valioso na reeducação. Tu sabes que podes. Vá à prática e não te faltarão ajudantes. Perceberás facilmente o que significa dizer que “Eles Vieram. Eles vieram, afinal.”

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