quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

Sobre a firmeza da crença diante das dúvidas



A firmeza da crença estabelece a direção. Caso um estudante acredite firmemente que algo de ruim acontecerá, isso será transmutado em forma, mas tal coisa não se dá por conta de o “universo conspirar” contra ele. Na verdade, houve um erro de pensamento e isso realizou-se na matéria como equívoco em ato. Da mesma forma, e através de um efeito semelhante, não existe tal coisa de o “universo conspirar a teu favor”. Certamente, a Ajuda existe e está sempre a teu lado, mas isso não ocorre ao acaso. Assim, é preciso direcionar correta e favoravelmente as crenças nas quais investe teu pensar.

Um mundo claro se descortinará a partir de um único pensamento correto. O mundo é efeito e o pensamento é o meio através do qual a causa pode ser controlada. No momento em que o ego se torna o construtor das causas pelas quais pensas que pensas, os efeitos tornam-se destrutivos, embora possam ocorrer inicialmente sob o disfarce benfazejo. Mas o tempo é o liame entre os efeitos e suas causas, e terrivelmente os efeitos de pensamentos errados mostram em ato os erros em formato mundo. A depressão, por exemplo, é efeito de um acúmulo destes tipos de pensamentos. “A solidão é uma forma de egoísmo.” (Arnaldo Antunes).

Então a pergunta lógica que surge deste preâmbulo é esta: como ter somente pensamentos corretos, que possam mostrar em ato as imagens de um mundo amoroso? Inicialmente, a mente precisa ser treinada nesta direção. O mundo não fornece este tipo de treinamento em abundância, pelo menos não neste momento da história. Uma alternativa te foi dada e a gratidão por leres até aqui somente surge porque de alguma maneira reconheces um sistema de pensamento consistente, e tal pensamento se baseia nos ensinamentos de Um Curso em Milagres. Posto, então, que nosso Curso é uma benção, vejamos algo baseado na compreensão dos erros surgidos do especialismo, que pode fazer-nos convencer de nossa mente certa.

O especialismo, como sabemos, é uma tentativa de distinção. De alguma maneira, o ego quer se distinguir. Não importa a direção da distinção. Como o Curso mesmo diz, pode ser mais prestígio, mais razão, mais certezas, mais posses, mais cultura, ou até mesmo mais dor, mais miséria, mais sofrimento que outros, qualquer coisa que aponte para uma distinção. De alguma forma, precisa ser “mais”. A igualdade para o ego é morte, pois quando dois estão a dizer do mesmo, sabemos a Quem chamamos, nestes casos. Mas o especialismo difere e aponta para o isolamento, que pode certamente acontecer em um cume de glorificação para o mundo. Veja o caso de famosos como Marilyn Monroe ou Kurt Cobain e seus trágicos destinos. Por outro lado, alguém pode se pensar “humilde”, o menor de todos, equivocadamente tomando isso como um “especialismo para baixo”. O menor de todos é o sem-ego, mas isto não se diz “menor” em uma escala comparativa. Portanto, as garantias que o ego provê de distinções especiais são o escudo contra a união.

Vejamos, então, como podemos realizar um processo prático para evitar a compulsão para a distinção que o ego provê.

A primeira distinção é teorizada por um corpo. Se eu sou um corpo, logo eu sou diferente daquele outro corpo ali. Essa crença em ser um corpo já é distinção. Não existe qualquer problema com o corpo, como pensam tolamente alguns estudantes do Curso. Mas o ensinamento de que ele é apenas um instrumento de aprendizado não pode ser bem compreendido se o corpo for visto como um fim em si mesmo. Vocês sabem o que dizem por aí: o meio é a mensagem. Se o corpo for o meio, a mensagem é material, carne, ossos e, futuramente, morte. Mas o corpo certamente morre, então como nos vemos diante do ensinamento de que não existe morte? Somente se nossa crença for direcionada firmemente para o fato — e isto realmente é um fato — de que não somos o que cremos corpos, poderemos escapar da ideia de que existe morte. Isso dificilmente ocorrerá do dia para noite. Ocorreu com Paulo dos Evangelhos e mais modernamente com Eckhart Tolle, mas sabemos que o processo de Buda, por exemplo, foi paulatino. Ele percebeu que os desejos apegavam o corpo às coisas, e a mente ao corpo. Isso não quer dizer absolutamente que você não possa saborear um bom prato em uma ilusão de satisfação, mas você precisa saber que se trata de uma ilusão. Descrer na matrix ainda dentro da matrix desfaz o desejo insano daquele que preferiu a ilusão de sabor como verdade amnesiada. Portanto, as coisas que o corpo sente através de suas percepções são ilusórias, mas não são amaldiçoadas. No entanto, favorece em direção à mente certa pensar em tais oferendas do corpo como ilusões, e não se apegar ao “mais”.

Um dia depois de outro dia. É assim que se faz. Muitas vezes, o desejo por ter mais luz é uma forma enganosa de se acreditar “espiritualizado”. É uma falácia em direção ao que o Curso ensina acerca de buscar e não achar. Ter uma crença firmemente estabelecida, mesmo quando os efeitos não são visíveis, é o mesmo que fé. A fé não deseja nada mais. No entanto, a fé é um passo preliminar. A liberdade surge mesmo é do conhecimento.

Como o Curso define conhecimento? Na verdade, ele não define, pois “Deus é indelineável” (Guimarães Rosa). O conhecimento surge na mente daquele que tem fé. Ver para crer é a crença daqueles que buscam “algo mais”. Crer ainda que não se veja é a crença daqueles que seguem a esperança balizada em um fato concreto. O conhecimento é um fato, o corpo não.

“Mas como assim o corpo não é um fato? Ora, eu estou até doente!” Eis uma questão típica. Você pode sentir coisas, mas a percepção é ilusão. Se você ainda não sabe fazer passar sua dor de cabeça através de um processo mental, não existe erro em tomar uma aspirina, mas você deve ter em mente que a ciência é feita por homens que tem a mente voltada para o fato de que acharam a cura em pílulas e comprimidos. É por isso que os medicamentos dão certo. Há todo um sistema de crenças que favorecem a cura através de meios físicos, e neste momento da história isso tem nos atendido, e muito bem.

Mas você deve saber que aquele comprimido um dia foi uma ideia na cabeça de alguém. Assim, sua cura está sendo indiretamente abençoada por meio de uma associação de duas crenças amáveis: aquele que creu na cura e aquele que crê no efeito. “Tudo é uma ideia” (T-5. I. 4:2). “Todo pensamento produz forma em algum nível” (T-2. VI. 9:14).

Então, quem pode estar doente, senão a mente? O corpo fornece a tese, a mente teoriza. Ninguém pode morrer se não for sua própria decisão, isto o Curso deixa claro. Uma outra coisa que o Curso deixa igualmente manifesto é que “daquilo que tu queres, Deus não te salva” (T-12. VII. 14:6). Deus não pode invadir tua mente e te fazer crer. Isso seria uma violação do teu poder e Deus não é um invasor. O ego, por outro lado, é totalmente oposto a essa ideia, entra sem pedir licença e tenta de convencer de que você é fraco, doente, escasso, miserável, infeliz, solitário e outros etc que muitas vezes divertem a mente voltada para a fé no especialismo.

Sim! A fé pode ser mal direcionada. Cura a ti mesmo associando tua fé aos pensamentos certos de Deus. Tens que treinar tua mente nesta direção, pois sozinho não vais conseguir. Pede para ouvir o Espírito Santo, pois ele é um fato, e um fato amigo, um amigo indicado. Pede, mas pede com fé, e não esperes nada nem acredites que a aparente ausência de resposta seja motivo para desmotivação. Mantenha firmeza em tua crença mesmo diante da dúvida, e se uma tese de especialismo se apresentar para ti, lembra que você não precisa de nada para experenciar o nascer ou o pôr do sol. “O melhor da vida é de graça” (Marcelo Jeneci).

Ama, mesmo que seja sangrando. Até que o amor — e a dor que o amor verdadeiro aparentemente traz — seja para ti o mesmo que a benção do corpo desacostumado com o que amansa e reconforta, e parece um incômodo, traduzido em um espelho claro de efeitos que passarão a surgir no mundo a partir da causa real: a mente certa. Mas para isso é preciso empenho de tua parte. A  fé pode ser mal direcionada, mesmo diante de tua boa vontade, pois a boa vontade, por si só, diz muito pouco.

Ama o teu corpo, mas não pares nele. Nem te ilhes. O Curso diz: te insere entre teus irmãos com alegria. Eles não precisam que tu dês a festa, se não quiseres; alegria é para contigo mesmo, e é mais que suficiente. Isto será sentido, não é necessário nenhum esforço se estiveres satisfeito consigo mesmo. Leste até aqui e entendestes, então como poderias não estar satisfeito consigo mesmo e com teu aprendizado? Como poderias não ter acesso aos pensamentos da mente certa, se entendes?

Mas logo virão as tais “dúvidas”. Vamos chutar as dúvidas para longe! Outra hora a gente tenta tirar as dúvidas. Basta, por enquanto, saber que querer mais de qualquer coisa é uma bobagem e fé no especialismo. E que o corpo é um instrumento de aprendizado que pode ser muito útil. E vamos brindar a isso com uma ilusão de vinho!

“Onde está, ó Morte, a tua vitória?
Onde está, ó Tumba, o teu aguilhão?” (1 Coríntios 15:55).

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