sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Sobre o exercício 14 "meus pensamentos são imagens que fiz"



Por que é dito que “meus pensamentos são imagens que fiz?”.

Os pensamentos são imagens imateriais. Todo pensamento é imagem ou gera imagem. Mesmo o pensamento abstrato é imagem, em termos acertados do que garante perceptivelmente. Assim: se o pensamento sobre democracia não gera imagem direta, pois o conceito de democracia é em si abstrato, por outro lado, o conceito em si perdura na mente em forma de estrutura passível de “imaginar”, no que se refere a: o povo, os eleitos, a partilha, a divisão, a justiça, a fome, a saciedade, a igualitariedade, o mesmo. Neste último exemplo, a elisão e a verdadeira democracia. Portanto, em abstrato, tal termo [democracia] alcança vigência em pressuposto imagético de outras abstrações ou termos que o significam. De certa forma, tudo são imagens em extensão. Ao pensar em democracia um roteiro simples e possível é pensar em igualdade — justiça — harmonia — felicidade — uma flor.

               No entanto, nem todos são poetas e não digo que as coisas no mundo se resolvam assim. Como seria então o mundo uma significação explícita de teus pensamentos se não fossem estes mesmo os diretores do teu mundo? Especulação metafísica não vai gerar muito entendimento. Portanto, vejamos os pressupostos do espírito como uma ferramenta de significação do mundo, sem medo de compreender somente por que é “diferente”. Aquilo que vem “de igual” para ti, na bagunça que virge em tua vida, nunca foi democrático.

               Vamos à prática: esse relógio que está a tua frente, ele é um pensamento?
               r- Não parece ser.

               Pois bem, o que ele é, então?
               r- Ele é um objeto útil. Eu posso pegar nele, mas não posso pegar em um pensamento. Um pensamento também não me dá as horas.

               Certo. Ele é um símbolo, então?
               r- Pode ser. Mas não me parece ser um “pensamento”.

               Mas existe o pensamento sobre horas, sobre o tempo,  e eis um relógio a tua frente. O que podes dizer sobre isso, levando em consideração o Curso?
               r- Ele é o símbolo de meu pensamento sobre tempo?

               Ou sobre correias, ou ataduras, ou ainda sobre estéticas e atavios, ou ser for um relógio caro, sobre status e por aí podemos dizer então que ele simboliza muitas coisas além da simples marcação das horas, não é mesmo?
               r- Sim. Certamente. Então não posso dizer quase nada sobre ele?

               Na verdade, não. No entanto, em todas essas figuras a que chamas objetos destes nomes e considerasses como sendo verdadeiro e que o nome que deste era certo. Adão nomeou todos os animais por desígnio de Deus, pois o poder criativo de Adão, em unidade, era o mesmo poder Dele. Depois da separação, o homem passou a projetar nomes. A abstração, que era o estado da unidade, são os pensamentos abstratos. Eles representam em ato a abstração no mundo, como a ocorrência de um Estado Democrático, o Amor Romântico, o Livre Arbítrio etc. Mesmo assim, essas coisas se conjugam como imagens muito facilmente, pois o estado democrático, por exemplo, precisa de “representantes”.

               As imagens que vês não devem ser temidas nem veneradas. Pessoas são imagens e símbolos de seus egos ou da mente certa. O que vês depende deles? É claro que eles podem representar o equívoco de suas mentes, mas a prontidão é de Cristo, portanto, não julgues e tudo o que surgirá serão imagens certas. Isso pode mesmo te levar ao medo, como diz o Curso, mas não será assim por muito tempo. Quanto aos objetos (como, por exemplo, um gato ronronando, uma flor dançando ao vento, um carro colidindo com outro etc) isto é, a dinâmica dos objetos, não há culpa no que vês. Se o que vês é terrível isto não significa que constelastes o terror, mas que estás a ver terror com muita dúvida. Vemos que isso é assim pois, em momento terrível, queres mesmo é te livrar do terror. A não ser quando acontece com “os outros”. Neste caso, pode ser que um pare o carro no trânsito para ver cadáveres. Isto significa que viram sua própria morte? Sabes que não é assim. Portanto, não existe associação direta entre os símbolos e seus significados, mas podes ter certeza de que os pensamentos são imagens que fiz. E o mundo é pensamento.

               Se quiseres harmonizar as imagens de “teu mundo” basta não interpretar nada e, ausente de todas as defesas, siga a vida. O que te aparecer à frente é responsabilidade tua, pois são teus pensamentos de volta, mas isso não significa que a sua aparição imediata é uma “leitura” de tua mente. O mundo não é oráculo. Se fores a bater em termos de “bom” ou “mal” decerto julgaràs errado em muitas ocasiões, pois a correção do pensamento pode apresentar necessidades de correção do mundo não apenas em comportamento, mas em atos graves nos quais as constelações, isto é, as várias combinações de símbolos possíveis podem aparecer hora como grave ocorrência, hora como evento aprazível, mas nunca há um “fim” nas imagens, uma imagem decisiva, que aponte certa crise como “finada”. O que acontece é que, de repente, o nó se desata, e eis tudo. O navegador busca o porto, apenas isso. A ocorrência das marés ele pode prever, mas não pode controlar os fenômenos que partem de contextos dos quais ele mesmo não está consciente. Neste caso, o melhor a fazer é prosseguir navegando nos termos mais práticos possíveis, pois se, por capricho, um comandante quiser encerrar a navegação para tentar "entender" o simbolismo da tempestade, pode acabar encontrando uma referência em naufrágio, pois todo pensamento gera imagens em algum nível, e toda dúvida é emergência. Melhor será, sempre, trabalhar firme, com fé em Deus; relembrando aqui que Deus é a força na qual confio. Não se pode ler o mundo como símbolo sem medo, a não ser com a ajuda do Espírito Santo, que interpreta sempre corretamente.


               Portanto, medo é falta de responsabilidade. O covarde é, de certo modo, um irresponsável, pois está a não assumir diante de si seus pensamentos. Esteja aberto a tudo que vês. Aberto não significa estar atento ao que vês como se tudo fosse favorável. Aberto é assumir responsabilidade sobre o mundo como ele é, com suas tristezas e alegrias, como se tudo de certa forma favorecesse. Não há meios de categorizar o tempo em suas ocorrências em conceitos e objetos e dizer com garantias: isso é bom, aquilo é ruim; pois o tempo transita virando ao avesso essas categorias de modo muito frequente, postos estarmos sempre a mudar nossos pensamentos inquietos. Amar “o que é” é amar "como é", até que mudes definitivamente tua maneira de pensar. O medo dos pensamentos livres produz um mundo acorrentado. Ausência de defesas é a chave para o relacionamento acertado com o mundo.


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quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Sobre a sensação de estar sendo advertido



Por que sinto sempre a sensação de “estar sendo advertido” nas entrelinhas do que vejo e ouço?

R: A advertência visa corrigir ou educar no sentido de um melhoramento, ao menos assim supõe aquele que adverte. Quem tem garantias do que adverte? O que se pode advertir que não esteja ligado ao futuro? Poderemos responder estas questões simplesmente, com uma única resposta. Para isso, vejamos algo sobre os relacionamentos especiais.

Especialismo é idolatria também. Há pressuposição de níveis no especialismo. Com tempo de estudo, podemos adquirir a crença de que o especialismo está restrito aos relacionamentos. Contudo, não é apenas neste nível que ocorre especialismo. Acontece que, entre nossos irmãos, o especialismo ocorre de modo mais ou menos explícito, pois vemos que há “hierarquias sociais” (familiares, profissionais, de afinidade etc) que nos colocam em bom termo para julgar os outros, para o ‘bem’ ou para o ‘mal’. Decerto, o especialismo entre nós e nossos irmãos trará o importante conceito do relacionamento especial, que vimos abranger os conceitos de amor e ódio especiais. Tudo isso para cumprir o teatro do mundo. Ver o irmão em igualdade, sem ressignificá-lo socialmente, é um contexto da lição que diz: “hoje quero ver meu irmão como a mim mesmo”.

Dois juízos não podem ocupar dois irmãos unidos em um.  Portanto, eles terão que desfazer-se de seus juízos durante o instante santo. Já dissemos que o instante santo é um conceito aproximado à noção de agora, pois o agora é o instante, e se ele é um instante disposto ao Espírito Santo, tal instante só pode ser santo. O agora santo, o instante santo, o tempo santificado. Isso pode ser percebido e sentido muito literalmente, como diz o Curso. Claro que ter medo de teus irmãos é um investimento bom para o ego. O medo sempre especializa o que percebe. Ele precisa de categorias, pois só vais elevar tuas defesas contra outras categorias. O que é visto como o mesmo não pode gerar temor, pois é a mesma coisa, e pode-se confiar em algo que é o mesmo. Mas cada ator no teatro do mundo é um ego “diferente”, visto em uma personalidade “diferente”. Como ter confiança em um cenário assim?

Realmente, parece impossível. A intuição do mesmo não é suficiente, nem a teorização da mesmidade. É preciso confiança em que não há dois irmãos ocupando o mesmo espaço em espírito. Não há dois. O número dois causou a separação porque trouxe consigo o conceito de opostos. Tu acreditas em duas — ou mais — coisas quando vês com tua visão física. Há, por exemplo, uma caneta ali, um lápis acolá, mais a frente uma mesa etc. Mas tudo é uma imagem só. Isso pode ser compreendido facilmente, mas não será de grande utilidade se visto com os olhos do corpo, pois será apenas a confirmação erudita de uma solicitação em espírito. Podes ser um erudito espiritual e logo estarás apto a ser rotulado dentro dos “graus”. Decerto, o próprio Curso fala em professores avançados, e aqui no mundo isso ainda é visto assim. No entanto, quem alcança o “avançar” sabe que regressa na medida em que avança, como diz o Curso. Todo paradoxo alimenta o desfazimento da lógica especial. Não adianta saber os conceitos do Curso. Nem mesmo todo o papel legítimo de ensinar está atribuído a uma erudição. Tudo o que precisa ser ensinado está disponível através do Espírito Santo. Ele está em todos. Ninguém precisa estudar para ser professor de amor.

Mas pode ser que sejas iludido de tal forma que para ti a busca pela tua herança natural se torne significativa. Neste caso, precisas aprender a desfazer o que aprendeste erradamente. Este é o papel do professor. Ele apenas desfaz o que não é necessário. O professor avançado é, na verdade, uma pessoa que já desfez o tanto que o capacita a ajudar melhor. Ele não é especial de forma alguma, já não mais aceita para si diferenças que inflam egos. Ele nem divulga o que não é perguntado ou mesmo não se atina apenas a terminologias específicas, pois aprendeu sobre especialismo para lembrar-se do amor, e aprendeu sobre o perdão para lembrar-se do amor, e aprendeu sobre para lembrar-se do amor.

Quando te sentes advertido, parece que o significado do mundo trouxe para ti uma reprimenda. Mas quem é o responsável por significar o mundo? Quem se entrega ao martírio da perene correção? Já dissemos aqui que o professor avançado aprendeu a seguir em direção do retorno. Isso pode ser ilustrado por uma viagem de volta. Na viagem de volta, o caminho passa a ser mais fácil, pois na medida em que chegas mais perto de casa, a estrada passa a ser relembrada com bastante familiaridade. Nem precisas mais ficar procurando placas ou sinais para achar o caminho, pois o caminho agora é novamente claro para ti, quando voltas.

Se estás a te sentir advertido pelos “sinais”, lembra-te do caráter simbólico do mundo. Não há garantias nos símbolos, não sabes ainda ver a harmonia diretamente. Quando julgas os símbolos, perdestes todo o mana, isto é, a energia vital daquela espécie de “informação”. Será que ainda crês que o Espírito Santo gostaria de te advertir com punição? Certamente, o Curso diz que as crianças choram quando lhe retiram um canivete ou uma tesoura. Não sabes o que são tesouras no mundo dos símbolos. O que pode te ferir? Será que sabes? Se soubesses, não precisarias de Um Curso em Milagres.

Os milagres são respostas claras a necessidades específicas. Eles são percebidos de modo muito claro por aqueles que deles participam. Podem não ser conscientes em algumas ocasiões, como muito bem diz o curso. Não sabes quando estás operando milagre. Ao falar banalidades aparentes em alguma espécie de brincadeira, podes estar a emitir algo muito importante para alguém, mas não sabes disto. Às vezes, nem a pessoa que ouviu percebe, mas há nele Alguém Que sabe. Por isso é tão necessário que disponibilizes também por fora da gravidade. O ato grave, da imposição de um milagre, não é possível em atos temerosos. Quando é assim, o sujeito que participa da experiência pode ter graves dificuldades em se recuperar, e tudo o que não precisamos é de aumentar o medo em pessoa nenhuma.

Portanto, a advertência que percebes vem de uma necessidade tua em “procurar milagres”. Existe por parte do ego uma ganância por experiências, digamos, espirituais. Ele precisa de tua disponibilidade em achar o maravilhoso, o fantástico, para nisso dispor novos significados. O mago, o guru, o médium, o santo, o professor avançado, o estudante, o revelador, o profeta, tudo são especialismos espirituais daqueles que entendem os “segredos do mundo” e estão atentos às suas mensagens. Ora, se o mundo é uma fabricação tua  e se estás a ler até aqui de alguma forma sabes disto  então o mundo pode trazer para ti sinais de ti mesmo. Se estiveres temporariamente obliterado pela mente errada, receberás respostas indignas. Se a mente errada “joga contra ti”, então o mundo parecerá sempre contrário, te advertindo sobre erros e punições, geralmente sem apontar nenhuma forma de desfazê-las ou, pior, insuflando formas ultrajantes. 

Por isso Jesus nos diz no UCEM que somente podes estar seguro quando estás “completamente despreocupado com a tua prontidão, mas manténs uma confiança consistente na minha”. A prontidão do ego para garimpar milagres é pífia e totalmente obliterada pelo medo. O que ele sai a procurar são fragmentos do fantástico, por vezes muito atraentes, como na malícia que há por trás dos truques de mágica. Se fores a se dizer responsável por todo tipo de predição, certamente assumes um poder mágico para guiar tua vida.

Tudo que o Espirito Santo transmite é fácil, seguro e amoroso. Ele não quer jogar xadrez contigo, nem pretende que montes um quebra-cabeça de dez mil peças para saber o que é o mundo. Muito menos vai a fabricar um "especialismo espiritual" para as imagens. Mais à frente vai se dizer no mesmo texto citado acima, do UCEM, que tua dificuldade em trabalhar em milagres está associada ao teu não aceitar da Expiação. Não precisas mudar o teu comportamento, já falamos aqui sobre a ilusão de bonzinho. Educação não é cerimônia, isto é certo, mas não tens que amar o mundo em comportamento, pois o comportamento é da personalidade e a personalidade é máscara e ego. A individualidade do espírito na união em instante santo mostra que mesmo duas personalidades muito diferentes, com opiniões bastante divergentes, parecem estar sempre de acordo, pois estes são amados e percebem a si mesmo como disponíveis. Isso é a elisão da personalidade em espírito. Não podes “fazer” isso em comportamento.


Quanto às perguntas iniciais, sobre advertência acerca do futuro e garantias de certeza, podemos dizer que já respondemos ao dizer que a prontidão é de Jesus, e não do ego, que busca construir um reino fantástico e enigmático. Podem ocorrer no teu dia coisas maravilhosas e realmente miraculosas, mas essas são sempre totalmente amorosas e seus significados são tão claros e imediatos que nem se precisa pensar sobre elas. Tudo que é enigmático é do ego. Tudo o que visa confundir não ajuda. 

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segunda-feira, 15 de setembro de 2014

UCEM e a Arte - (Zé Ramalho)

      

            Muito me desagrada ouvir pessoas desatentas comentarem sua desatenção como uma sentença. Certo dia desses, disseram-me de Zé Ramalho que suas músicas pareciam búzios, jogo de Búzios, sendo a desordem. “Não dá pra entender quase nada do que ele diz.” Realmente, curioso é: como então tanto êxito? E há tanto tempo? Não pode ser apenas o nada; ou, em melhor hipótese, talvez seja mesmo por isso. Portanto, sendo tal “nada” meramente simbólico, diremos dele coisas capazes de aproximar.

               Na verdade, se estiveres a ler até aqui, pode ser que já alcances entender a música de Zé Ramalho, pois não fostes embora ainda. De toda forma, emprego mal o verbo “entender”, pois não é este o caso, embora seja exatamente este o engano: não se pode alcançar entender — na acepção que se compreende algo como sendo o exato igual — as composições do poeta místico Zé Ramalho. Em suas músicas nada corresponde ao exato igual. Uma pedra pode ser tudo, mas nunca deixará de ser fundamento. Portanto, é nas imagens que reside o sagrado “segredo” das mensagens de Zé Ramalho. Tentaremos esboçar aqui uma aproximação a algumas delas.

               As músicas de Zé Ramalho sugerem as imagens em potência estética capazes de traduzir para a consciência mensagens de alta importância para o indivíduo. Quando se diz, por exemplo: “se eu disser que é meio sabido / você diz que é meio pior”, no meio de uma canção que trata de um homem e seu avô-pai (Avohai), percebe-se claramente uma acepção plausível nas conversas entre homens, onde o “sabido” é desfeito no meio de uma conversa sincera. Você diz a bobagem de sabido e o amigo demonstra amavelmente o erro e já emenda no acerto. Geralmente, disso se ri, pois percebe igualmente a si mesmo como um “planeta quando perde o girassol”, isto é, como alguém que saiu da órbita do sol, que perdeu a linha, saiu do foco etc, ou como diz o UCEM: “aquele que for o mais são no momento em que a ameaça é percebida, deve lembrar-se de quanto é profundo o seu débito para com o outro e de quanta gratidão lhe é devida e deve alegrar-se por poder pagar a sua dívida trazendo felicidade a ambos" (Texto: Cap 18, V, 7:1).

               Em “A Peleja do Diabo com o Dono do Céu” o embate dos opostos é clarificado desde o título. Nosso apego em imaginar o mundo como sendo o simulacro do céu, numa espécie benevolente de platonismo, é desfigurado pelo ‘diabo’ da música com argumentos em favor da relatividade do bem e do mal. Certo é que a leitura unilateral do platonismo como o bem “bonzinho” desfigurou a sociedade a tal ponto que a neurose coletiva hoje em dia parece residir na crença em que o acerto pode vir a ser o errado acertado, ou a correção pela culpa, ou ainda a crucificação pela vida afora, no que se afirma como algo natural e justo que “cada um carregue sua cruz”. Nisto, nenhuma moral nos valha. Já sabemos pelos ensinamentos do UCEM que não há motivo para se carregar nem cruz nem culpa. Mas gostaríamos que a cruz (ou o medo) fosse o paraíso. Entanto, adverte o artista:


“Com tanto dinheiro girando no mundo,
quem tem pede muito, quem não tem: pede mais.
Cobiçam a terra e toda a riqueza
do reino dos homens e dos animais.
Cobiçam até a planície dos sonhos,
lugares eternos para descansar,
a terra do verde que foi prometido,
até que se canse de tanto esperar,
que eu não vim de longe para me enganar”.

            E na terra o homem vem a cobiçar até “a planície dos sonhos / lugares eternos para descansar”. Bem, se o intuito do homem é se enganar com o platonismo de bonzinho, vá lá! Mas aqueles que não vieram “de longe” para se enganar sabem que a cruz de bonzinho é o mesmo que a cruz de culpa e mal, sendo ambas engodo e ilusão, nada tendo nada a oferecer a não ser artifícios que apontam na direção ora de um, ora de outro. Nisto, o mundo gira, eternamente, neste embate de opostos. Então, na cobiça por riqueza “no reino dos homens e dos animais”, os homens buscam “lugares eternos para descansar”. Terra “do verde” prometida como sendo um lugar físico ou espiritual que se compra, com dinheiro ou com barganha de bonzinho. E o dinheiro é símbolo capital daquilo que se diz: “quem tem pede muito, quem não tem: pede mais”.

               No entanto, é no rio que se vê o restolho destes embates. Basta ver a poluição de qualquer rio que corta uma cidade. No rio, pode-se ver a correnteza a arrastar de tudo: desde os peixes que deslizam suaves nas profundezas aos troncos e outras coisas flutuantes que passam acima, na superfície. O psicólogo suíço Carl Jung falava que no rio próximo a sua casa de infância era comum aparecerem corpos de afogados, desavisadamente. Mas, dizendo simplesmente, o rio nada tem a ver com o que é jogado nele. Como julgaríamos o rio, então? O rio é bom ou mal? Na verdade, nada podemos dizer a respeito do rio. Portanto:

"A nau que flutua no leito do rio,
conduz à velhice, conduz à moral.
Assim como Deus, parabéns o mal”.

               Pois que, no rio de tempo, que é a vida, tanto faz o deus de bonzinho, de dono do céu, como o deus do mal de malzinho. É tudo a mesma brincadeira, os tais “jogos de enganar”. Podemos até rir disto tudo, se quisermos. Aliás, no UCEM se diz que "na eternidade, onde tudo é um, introduziu-se uma ideia diminuta e louca, da qual o Filho de Deus não se lembrou de rir. Em seu esquecimento, esse pensamento passou a ser uma ideia séria, capaz de ser realizada e de ter efeitos reais" (Texto: Cap. 27, VIII, 6:2-3). Portanto, trabalharemos, cumpriremos nossos compromissos, caso queiramos, sem jamais carregar nenhuma cruz. Não há nenhuma necessidade disso.


Finalmente, mesmo sobre este texto podemos dizer que

“O tom da conversa que ouço me criva
de setas, e facas, e favos de mel:
é a peleja do diabo com o dono do céu”.

               Traçamos aqui um panorama ilustrado utilizando pequenos trechos de duas músicas de Zé Ramalho (“Avohai” e “A Peleja do Diabo com o Dono do Céu”), já por si capazes de demonstrar a riqueza simbólica que se vê por toda sua obra. Utilizamos no início do texto a palavra “sagrado” em relação às músicas de Zé Ramalho, mas tal coisa não se deu por conta da sagração àquilo que se devota em altares, pois lugar santo de Zé Ramalho é função, é palco e festa. No entanto, agradecemos à arte e seu cumprimento em desfazer nossas doiduras. Um pintor pode encontrar no Livro do Apocalipse imagens capazes de extasiar quaisquer de seus afetos, desde que ele mesmo as compreenda e tenha talento para traduzir. Nisto, pode ser que seu quadro ilustre uma igreja. A arte aponta em direção a uma compreensão imediata, se realizada com perfeição. Perfeição não se trata de uma técnica perfeita ou de um ponto fechado ao qual se chega. Todo artista sabe que a perfeição estética é impossível. Mas o verdadeiro artista igualmente percebe quando “vibrou a corda da poesia”, no dizer do Poeta Adélia Prado. Nisto, pode-se dizer que o artista realizou uma obra de arte.

               Adicionalmente, a tradição do trabalho de Zé Ramalho se faz pela linha simbolista que por vezes encontra pontos de contato em Raul Seixas, mas não tão notadamente simbolista como naquele, pois com Raul Seixas se aprende muito sobre a “lei” e a “doutrina”, mas com Zé Ramalho vai-se à “liturgia”.

Faço aqui meu voto de gratidão ao trabalho e de admiração à obra deste admirável artista brasileiro, da Paraíba, o Senhor Zé Ramalho. Salve, nosso querido Zé!

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sábado, 6 de setembro de 2014

Sobre os animais

         
          Os animais não estão diferenciados na separação como “indivíduos” em pressuposto consciente. Entretanto, vemos que são capazes de encontrar sua comida, reconhecer seus donos, bem como amam e retornam o amor dado, são igualmente capazes de sair e reencontrar suas casas, além de saber que a casa é sua e perceberem a si mesmo através de nomes. Ainda assim, embora saibam destas e de muitas outras coisas, eles não “sabem que sabem”, isto é, não possuem a consciência conforme esta é concebida nos seres humanos.
  
                Portanto, uma vontade predeterminada nos animais não lhes fornece o pressuposto básico consciente que determina o ideal ou o objetivo de uma ação, isto é, eles realmente não sabem o que fazem. Isto não quer dizer que estejam errados ou certos. Paralelamente, percebemos que a ação humana é corretamente dirigida quando é afim à mente certa. Pode o animal, então, reconhecer a mente certa?

               No caso dos animais domésticos a ocorrência calma do amor está estabelecida em uma ação conviva, realizada na relação amistosa entre os reconhecíveis para o animal, sendo o amor capaz de aumento, quando, por exemplo, há visitas em casa ou em caso de presenças frequentes de parentes, amigos etc. Nos animais ditos selvagens, as ocorrências de amor surgem mais frequentemente em pressupostos determinados em suas proles e clãs, embora haja muitos casos em que animais ditos selvagens foram domesticados ou adestrados e expressaram seu amor de modo muito expansivo para além de seu nicho reconhecível.

               Cada espécie representa uma simbologia da separação. A separação trouxe consigo a criação da vida, e assim o ato de criar fez com que o nada pudesse viver. Tal ato em criação realiza tanto o criar quanto o fazer nas espécies. O Filho de Deus criou a vida para poder escolher diferentemente. Com isso, demorou-se até conseguir reconhecer o que fez. Tal possibilidade alcançou extensão no homem. A vida em torno do homem deveria ser dominada e protegida por essa consciência. No entanto, neste momento da história, o homem integral ainda não existe, ou seja, a humanidade ainda não está totalmente guiada pela mente certa, para que o reconhecimento do meio ambiente como um todo possa ser realizado. Por enquanto, ainda acredita-se que adaptar-se ao meio ambiente é dominá-lo pela força e violência determinadas pelo ego. Assim, a escassez em ato será suprida pela natureza em suas formas e meios, transmutadas em alimentos, roupas, materiais etc. A vida removida para o uso do material que encarnava a vida é ainda assassinato, mas não é ainda percebida assim neste momento da história, e o material morto pode ser comido ou vestido, sendo ainda para o ego símbolos do suprimento da escassez em fome ou frio. Claro que um ideal pretederminado em medo não pode ser divulgado como erro enquanto as mentes que assim o fazem crêem nisto como “tradicional” ou “consequente”; tampouco se pode exigir saltos na evolução. A vida como um todo integrado ainda é uma suposição filosófica neste momento histórico.

Alegria é Universal
               Assim, dizemos que a vida como um todo não pode ser determinada como uma ocorrência separada em animais diferentes. O homem não é a realização de Deus, mas nele se manifesta a consciência reconhecendo a si mesma, e apenas nele esta consciência é passível de compreensão. A mente certa não é a mente do homem, mas a mente humana guiada pela Mente de Deus. A mente humana realiza-se através de ideias, mas a Mente de Deus É. O Espírito Santo não age como ideia, mas pode realizar o amor através de ideias, se assim for necessário. O amor nos animais também é inspirado pela Mente de Deus, mas não está condicionado pela consciência, como no caso homem. Ele está presente diretamente e depende da disponibilidade deste em relação ao seu meio. Para o animal, a participação mística (participation mystique) é uma realidade direta. Isto quer dizer que, embora o animal  veja o mundo como uma unidade consigo mesmo, não alcança diferenciar-se ainda, ao ponto de perceber-se separado, para assim desenvolver a consciência da distinção, necessária à consciência do retorno. No entanto, a maioria dos animais já são capazes de perceber a dualidade (fome e saciedade, amor e medo, ausência ou presença de dor etc), embora ainda não alcancem distinguir. O medo nos animais pode ser terrível, pois a eles pode parecer que o próprio mundo é o medo em si, então a defesa dos animais é muito agressiva quanto ao que percebem como medo, pois não podem ainda racionalizar em distinção que aquilo é um símbolo de seu próprio medo.

               Nos já admitimos esses símbolos em nossa própria espécie como “o ladrão”, “o assassino”, “o inimigo” etc. Nas outras espécies isto é percebido como “selvagem”, “indomável”, “ameaçador” etc. Pode-se perguntar se um artrópode como o escorpião pode ser tido como amável. Respondemos dizendo que o amor ainda não deve ser estabelecido como uma noção de compartimentos da vida, pois realmente a criação do filho em equívoco ainda está a “amansar-se” neste mundo. No entanto, a vida em escorpião já salvou muitas vidas, pela sua contenção em tamanho. Certa vez, caminhando com meu amigo João Silvério, vimos um cãozinho da raça pinscher. Esta é uma raça pequenina, mas muito conhecida por conta do temperamento tanto agressivo quanto medroso. Então João presenteou-me com esse esclarecimento: "Deus sabe o que faz. Imagine se o temperamento do pinscher estivesse no Pit Bull." E rimos.

               O homem cabe em si todas as suas selvagerias, mas a vida ainda se estabelece em diversas fases. No entanto, o núcleo criador do princípio vital não é o homem ou a vida humana, mas a vida mesma. Por isso se diz no UCEM que “tudo é realizado através da vida e a vida é da mente e está na mente. O corpo nem vive nem morre, porque não pode conter a ti, que és vida. (Cap. 6, V-A, 1:3,4) ” Portanto, a vida real não está no corpos dos animais,  humanos ou outros. Mesmo se há vida extraterrestre, se estiver contida na esfera da separação (O Universo), ainda assim não pode ser a vida real, que não precisa de um meio material para existir. Isso não pode ser compreendido neste momento da história a não ser através de símbolos.

Os animais e as formas de vida não-humanas são, portanto, o símbolo da vida em estado semi-consciente. Sua ocorrência visa o equilíbrio exato da vida no planeta. Já dissemos aqui que a presença do escorpião na terra pode evitar algum assassinato entre os homens, assim como a existência da barata perdoa muita feiura. Aquele que puder entender, ouça e clarifique.

           Paz entre os vivos, amém.



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quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Sobre as diferenças entre educação e cerimônia

Você tem medo de quê?


Pergunta:
o ego do meu irmão é o que eu temo nele?

Resposta: Não. Temes na verdade o Cristo nele.

Pergunta: Hoje vi uma senhora em um banco na praça e não consegui sequer o bom dia. Um homem corria seu cooper e eu não consegui acenar em um cruzamento na corrida. Tive medo de mim?

Resposta: Na verdade, tens medo de sofrer alguma punição por parte do teu irmão. Veja só o que é a loucura do medo de teu irmão: ele parece caminhar em um corpo, que é outro corpo, ele tem neste corpo outro cérebro e outra “mente”, então ele pode pensar de modo diferente do teu. Esta é a lógica do mundo, certo?

SIM.

Ok. No entanto, vejamos a perspectiva de nosso currículo: não existe nenhuma lógica no caos. Não há o que determinar. Se tiveste medo de teu irmão, o que determinastes no caos?

QUE ELE É DIFERENTE E PODE REAGIR DE FORMA DIFERENTE.

Exatamente. Isto só é verdadeiro para o medo, que advoga pela ganancia em manter a si mesmo enquanto assume seus atributos “para sempre”. A defesa é o organismo principal para a manutenção do caos. Podes te nomear tímido ou precavido, mas isto não é verdadeiro. Tens medo de receber ajuda ou amor. A tua irresponsabilidade em relação ao mundo está definida nisto. Se queres mesmo amar a teu irmão, tens que começar amando. Ele não vai te ferir, ele te espera de braços abertos, mas enquanto temes a ele, pode haver uma resposta temerosa realmente, e isso seria falta de educação. A tua responsabilidade em relação a tua própria educação remete à noção de cerimônia, ou de ser cerimonioso.


               Portanto, queres gerir o teu apoio em relação ao mundo como uma ferramenta de discórdia na qual és sempre tímido e com isso passível de ser “perdoado”. Qual é, homem! Não existe medo em ser responsável! Ser amável é recorrer ao teu mesmo com confiança e sem temeridade. Se ele te pedir ajuda, dá a ajuda, ora bolas — eis tudo.

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segunda-feira, 21 de julho de 2014

Como saber o que realmente quero, estando confuso?



Se “o que vejo reflete um processo em minha mente, que se inicia com a minha ideia do que quero”, como saber o que eu realmente quero, estando confuso? E, segundo, há uma missão para cada um de nós?

O UCEM diz que esta é a nota mestra da salvação. Decerto, quando sabes o que queres, o caminho apresenta o que queres como imagem; um vetor valioso para ti, envolvendo a direção perceptível àquilo que designastes como apropriado. A forma com a qual julgarás isto é inútil, pois aceitar o que é teu envolve apenas a própria aceitação e disponibilidade. Portanto, a questão primordial, além da teoria envolvida é: como saber o que se quer? E, adicionalmente: o que é a confusão? As respostas para estas duas perguntas responderá a terceira, sobre a missão, ou a função de “cada um de nós”.

Estar confuso é ato de grande intensidade mental, pois sempre é percebido como desafiador, desconfortável e desgastante. Desde o início da experiência da existência, cada indivíduo pressupõe para si um mundo de tal forma plural que mesmos as primeiras ideias já estão divididas como pai e mãe em um bebê, por exemplo. Depois, são feitas milhares de outras, até que a linha que iniciou a divisão seja impossível de ser retraçada. Seria como voltar caminhando por todas as ruas que caminhastes até hoje. Certamente, já esquecestes muitas. Inclusive, em muitas delas estavas dormindo em um carro ou um ônibus. É impossível retraçar o caminho das origens do ego, pois foi um caminho que traçastes “dormindo”.

Agora, estás confuso, pois queres entender a complexidade do mapa. O que são todos esses caminhos? Não são coisa alguma — eis tudo! E aí já há resposta. Contudo, a simbologia não abrange a terminologia que pode te aderir a esta ideia com efeitos consolidados para além da apenas emoção causada por uma imagem, como no caso do mapa. Vamos lá, então, tentar compreender, pois a confusão é apenas uma ideia, é a Boa Nova é esta: podes mudar de ideia!

O especialismo é um recorte em torno de algo que valorizas. Qualquer coisa pode ser especial para ti. Teu dinheiro, emprego, posses, valores morais, éticos, ou coisas mais intangíveis como teus dons, o modo como percebes teu estar-no-mundo, o medo, o calor de outra pessoa, o amor pelos filhos, tudo são recortes feitos em meio a outras coisas que vês ou pensas. Claro que algumas têm valor! Mas o especialismo promulga que o valor é dado pela tua avaliação, e não pode ser assim, se quiseres ver a integridade.

Se tu tens que valorizar tudo conforme teu julgamento, quem é o grande juiz acerca do valor das coisas? Quem, desde bebê? Ah! Mas agora virá o especialismo do oposto do bem, para dizer que és maldito, ou condenado, ou finalmente foi revelado o caráter miserável de tua etc. Pois podes julgar em direção ao oposto do bem, igualmente. Podes recortar também os pedacinhos de miséria e julgá-las como terríveis.
O incrível é que tanto o julgamento para o bem como para o oposto do bem são terríveis, em seus efeitos em devastar tua mente e te seduzir para as imagens deste mundo. Pode acontecer contigo um milagre, e ao invés de agradecer a Deus, tu podes louvar o milagreiro! Tudo pode ser julgado, mas o confuso sempre irá julgar erroneamente, porque seguirá o professor errado, isto é, o mestre em rotular.

Vamos com calma, pois não ficaremos muito tempo aqui, nesta demonstração arredia. A resposta virá como deve ser: amorosa, simples e sem medo. No entanto, temos que olhar para a devastação e suas partes, para compreendermos o que é o especialismo e como tens investido nisso. Tua pergunta sobre “saber o que se quer” somente pode ser respondida se tiveres os meios corretos para a escolha igualmente certa, pois podes julgar erradamente, e é isto o que faz do especialismo o tradutor das imagens em recortes mágicos. Agora, para ti, o mundo está totalmente dividido em tua mente, e um mundo dividido somente pode ser um mundo mágico, pois no Céu não há divisões. No Céu não há mágica ou ilusões. Contudo, na experiência da separação isto não pode ser compreendido sem ajuda.

Alguns falam em desapego. Pois bem, o conceito de “desapego” não foi corretamente compreendido. O desapego não significa necessariamente destituir-se. Podes ter filhos não especiais, dons não especiais, dinheiro não especial e até mesmo opiniões sem especialismo são possíveis, desde que possas compreender que, no momento da acepção da opinião, da visão do filho em corpo, do ater do dinheiro em conta, saibas que isso é apenas mágica, não tem valor real, embora tenha Valor Real, quando julgado corretamente via mente certa. Tudo que é visto com amor é real.

Mas não sabes ainda o que é o Amor; portanto, o Valor Real das coisas não está claro para ti. O Valor Real está na apreciação correta que o Espírito Santo faz para ti das coisas especiais que vês separadas. Não é dito no UCEM que, antes do último passo, verás inicialmente um mundo perdoado? Então precisas de disponibilidade para não ser confuso. Como isso se dá? Primeiramente, precisas ver a confusão em toda a sua dimensão, como diz o UCEM, sem minimizá-la. Para fazer isso, cada qual tem seu modo e recebe as instruções, se permitir. Alguns teatralizam no corpo o ato terrível da ameaça, alguns escrevem terríveis cartas, outros percebem pensamentos de ataque, mas cada um desenvolve um modo de encarar seu especialismo sem disfarces. Sem isso, seria difícil que o Espírito Santo pudesse surgir como uma Alternativa, pois tens necessariamente que ver o ego como algo que não queres. Somente através deste contraste a escolha ganhará significado.
Senão, o que fica é aquele “sonho” da iluminação futura, que um dia virá por si mesma para despertar os coitadinhos que etc. O Espírito Santo não pode invadir a tua mente e te obrigar a mudar de ideia! Isso é explicado no Capítulo 2 do UCEM: “Se eu interviesse entre os teus pensamentos e os seus resultados, estaria adulterando uma lei básica de causa e efeito, a lei mais fundamental que existe”. A causa da “iluminação” ou despertar não pode ser imposta, tampouco pode ser que a causa do despertar seja a miséria que tu te encontras. Com isso, quero dizer que não adianta ficar se amarrando no pessimismo para que o Espírito Santo venha a ti por pena. Ele não tem pena de ti, simplesmente porque sabe que tu não precisas de piedade, pois tu és completo como Deus te criou; portanto, Ele pode te ajudar a lembrar disso, e a desfazer o sonho de especialismo, que tanto te corrói.

Agora, limpo de todo o julgamento, a tua função surgirá clara para ti, pois ela não pode ser vista em meio a tanta coisa embaralhada em tua mente. Já julgaste até mesmo tua função como indigna para ti! Não conseguirás acreditar nisso muito em breve, e rirás disso.

Para escolher outra vez, primeiramente lembra-te dos exercícios iniciais, que visam te inferir que nada daquilo que vês tem significado. Lembra-te que aprendestes mal ao pensar que era tu quem tinha que definir o significado das coisas. Lembra-te disso. Depois, procura ver o desamor aparentemente em ti mesmo, sem ocultá-lo. Pede ajuda para ver a devastação em ti mesmo, em uma forma que tu a reconheças, mas que não te atemorize. Presta atenção: precisas muito deste contraste para escolher de novo. Enquanto não vires uma escolha como totalmente desagradável, vais continuar acreditando que não é preciso mudar de ideia, isto é, mudar tua mente, pois certo dia a iluminação virá por si só e etc. A iluminação não pode invadir a tua mente contra a tua vontade. Precisas não querer mais a mente confusa, e para que isso ocorra precisas olhar para a tua culpa sem disfarces. Verás que não faz sentido manter a insanidade. O UCEM é prático e seus resultados são muito favoráveis! Escuta isso: basta pedir ajuda, mas pedir verdadeiramente, pois ninguém quer permanecer onde é atormentado. Este lugar não existe, é apenas a mente errada e seus pensamentos insanos, que projetam no mundo um verdadeiro suplício. Se este é o caminho de Jó, que seja! Mas virás amado, conforme Filho muito Amado de Seu Pai era Jó, Que em certo momento escolheu corretamente, e o ego, ou a mentalidade errada, não teve mais o “direito” de atazanar sua mente.
O direito foi dado por ti, que fizeste um ego, mas pode ser igualmente desfeito, pois tens em ti as mesmas capacidades criadoras que Deus te deu na Tua Criação. Se não as tivesses, não poderias ter feito um ego! Contudo, fizestes um ego para substituir a ti mesmo. O ego é, portanto, uma ideia insana, pois ele é apenas uma forma negativa de ti mesmo, que és o Cristo. Uma forma que é a antítese de Cristo somente pode ser o anti-Cristo. E tu idolatras o teu ego enquanto ele aparenta ser aquilo que tu és.

Não haverá uma batalha nem sequer enfrentamento nisso. Nosso caminho é diferente. Nosso caminho é amoroso, pois visa desfazer e não contrapor. Desfazer o sonho que te colocastes, quando dissestes a ti mesmo: haja luz, e fostes embora do paraíso para dormir com a luz acesa. Agora, na hora de acordar, tens que perceber que é sonho! Tudo que está aí fatiado em partes é sonho de especialismo e alimenta teu ego. O instante santo é o momento em que vês que isso não pode ser assim. Percebes que certo tipo de pensamento “muito amigo teu”, de muitos anos, não pode ser o que pensarias sobre ti mesmo se fosses amado por ti! Perceberás o ódio querendo se voltar “contra ti”, mas não temas, pois não é real. Assim que vires isso, basta lembrar que isso não pode ser amoroso, portanto não é definitivamente real. Para que não tenhas nenhum medo, basta apenas que esta ideia esteja firmemente estabelecida em tua mente: “eu sou o Filho Perfeito de Deus, Que é totalmente Amoroso. Suas ideias são o próprio Amor. Se as ideias que tenho agora não são amorosas, então elas não podem vir de mim, nem são reais.” Reitero: esta ideia precisa estar firmemente estabelecida em tua mente, se vais realizar isto.

E de onde veem as ideias irreais? De lugar nenhum, ora! Elas não existem. São apenas fatias de pensamentos de desamor, que não tem existência real, e somente poderiam fomentar um mundo onde podem haver guerras, doenças, medo etc. Não fosse nossa presença aqui, seriam ainda os dinossauros a devorar uns aos outros.

Se quiseres olhar para tua mente errada, lembre-se inicialmente do que diz o UCEM: “Não tens nada a perder olhando-a de olhos abertos, pois tamanha feiúra não tem lugar na tua mente santa.” Obviamente, perceberás a devastação! Diante de tal perspectiva, a única coisa que poderás fazer é escolher Alguma Alternativa. Não vais querer manter a devastação por muito tempo. Escuta o que diz ainda o UCEM: “Ninguém que aprenda pela experiência que uma escolha traz paz e alegria, enquanto outra traz caos e desastre, necessita de persuasão adicional”.
Diante da miséria, somente se pode ir em direção à cura. Não verás um mundo terrível se fizeres a escolha certa. A escolha certa somente virá se a quiseres, somente então ela te é dada. O UCEM diz que “a Bíblia faz muitas referências às dádivas imensuráveis que são para ti, mas precisas pedir”. Para pedir, precisas estar disposto a pedir verdadeiramente. Não haverá erro em pedir aquilo que não mais temes. A confusão é a escolha pela mente errada, mas a mente certa virá àqueles que escolherem dar para receber, o oposto do pensamento confuso, que acredita que precisa significar tudo (julgar) para receber a resposta. Tua função será percebida muito facilmente após esse processo.

Finalmente, peçamos Ajuda para efetuarmos tal processo e que seja para logo nossa escolha pela mente certa. Amém.

(Obrigado por ler até aqui. És bem vindo aqui. Te amo).

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segunda-feira, 30 de junho de 2014

Em resposta ao meu amigo Vitor Meireles, que perguntou sobre a diferença entre “extensão” e “projeção”


            Pergunta: Como posso distinguir entre “extensão” e “projeção”?

Resposta: A projeção é o medo atuando em decalques e adesivagem, mas o atributo está em ti. Então, o atributo que vai “lá fora” é o mesmo, mas agora está em outro ou em outro lugar, outro grupo etc. A projeção “acontece” separadamente daquele que projeta. Portanto, podes agora julgar aquele que “recebeu” a projeção. Igualmente, podes dizer qual o valor que tens de ti mesmo, mas desviado em outro, para não perceberes o “mal” em ti. Agora, o mal está lá fora e podes, finalmente, eliminá-lo. Para o ego isto seria perdoar, ou seja, eliminar o mal. A causa finalmente está descoberta: o maldito é aquele que contém o mal.

               É muito fácil perceber o autoengano no qual está envolvido aquele que utiliza a projeção. É como se não gostasses da cor azul. Então, para extirpar o mal em si, ao vir um carro azul, poderias muito bem desdizer do carro, ou da empresa, ou mesmo daquele que comprou o carro. “Nunca que eu compraria um carro dessa cor!” e vai-se por aí a separar de si o mesmo, pois o azul é uma cor “maldita”. Muitas das vezes, nem isso aparece, pois a projeção já ocorreu, e pode ser que o sujeito esteja tão temeroso em relação a cor azul que pode projetar bonzinho, dizendo: “este é um excelente carro, só não gostei da cor”. O importante é que o atributo agora está “lá fora”, pode ser atacado sem te ferir.

               Por outro lado, a extensão de Deus não separa. Ela não está “lá fora”, pois, sendo onipresente, é a extensão do todo, ela não pode ser “colocada em algum lugar”. Sendo igualmente simbólica, não pode ser categorizada, como a projeção. Seu atributo é união. Queres unir àquilo que está dentro o mesmo. O amor se estende para abranger e não tem nenhum atributo perceptivo, pois não precisa de justificativas para “ir lá fora”, pois não existe “fora”. A extensão revela o caráter do mesmo e pode ser percebida simbolicamente, geralmente como um ato abençoado. Em nosso caso, pode ser percebida nos milagres, nas manifestações distintivas da Filiação que nomeamos “acaso”, por exemplo. Um irmão te relembra que tens que apagar o fogo de um bule de água que deixaste no fogão, simplesmente porque falava de futebol e te disse: “aquele time é fogo!”. Um amigo te presenteia com um livro, e era o livro que você tanto queria e “ninguém sabia”. Uma pessoa te diz “bom dia” e você responde e eis que surge um dia bom. Estes são exemplos de como os símbolos da extensão podem surgir, mas eles são percebidos sem julgamento. É bom lembrar-te disto para evitar enganos, pois podes projetar inclusive tua descrença nisso e dizer, de bonzinho: “o mundo é cheio de acasos positivos” e isto é apenas um belo modo de apagar/julgar o amor.

               Não preciso dizer que a extensão não tem atributos perceptíveis em julgamento. Por isso que é difícil falar sobre a extensão em exemplos, pois envolve a experiência direta de quem a percebeu na própria consciência. Geralmente, apelamos para uma história, um mito pessoal: “certo dia, quando eu etc”. E funciona bem, pois pode ser um generoso alerta. Mas a sensação que se tem sobre os atributos criativos da extensão são muito claros, pois envolvem sempre a clareza. Já a projeção é um enredo separatista, ela sempre joga o significado para longe. Basta xingar, mesmo que seja “xingar bonito”.

É preciso dizer ainda que é possível também projetar coisas boas que não queres ver em ti mesmo, mas geralmente como um elogio ao outro, com o sufrágio para evitar que percebas algum valor dentro de ti. (Aqui a palavra sufrágio foi utilizada com o significado de rogo, por meio de oração ou obra pia, pela alma de um morto. Tal projeção visa “matar em ti”, ou “dar-te em esquecimento” o que seja de bom).

               Para perceber somente as extensões de Deus, vigie e ore em favor da unidade da Filiação. Não há separação. Dificilmente cairá nas armadilhas do ego se lembrares que és um com todos os teus irmãos. Como podes desdizer de algum deles? Decerto, se eles errarem, uma atitude pode ser tomada para que a correção se faça, mas tu não defines isso. A polícia não é o julgamento pessoal do policial. Por isso Jesus disse sobre Madalena que aquele que não tivesse pecado que atirasse a primeira pedra, pois ele sabia que a lei em si era impessoal, mas sua aplicação no contexto do ódio era projetora, pois a própria lei tinha nascido da projeção. Mas a projeção coletiva é a grande projeção. Quando se diz no UCEM “contempla a grande projeção” se quer dizer isso.

               Por enquanto, não nos ateremos às projeções coletivas. Nosso foco é o individuo que se crê separado da Filiação. Quando compreenderes a natureza totalmente inclusiva da Filiação, compreenderás sobre a projeção coletiva — ou a grande projeção — e as imagens nas quais parecem ocorrer.

               Em suma, a projeção separa, demonstrando o erro, e a extensão une, revelando a união. Por ser separada, a projeção pode ser julgada e é realizável pela mente errada com muita presteza, pois seus símbolos são destacados do todo. Podem ser julgados. Na extensão, os símbolos sempre apontam na mesma direção. E mesmo quando aparentam ser “males”, revelam seu verdadeiro propósito de modo valioso diante da compreensão do seu significado, que pode não ser imediato. Lembra-te do que diz o UCEM sobre o ego sempre fornecer suas “dádivas” imediatamente.

               “A oração é o veículos dos milagres”. Para ver a natureza toda inclusiva da Filiação em sua gloriosa extensão, a oração com o coração em Deus é um bom caminho. Adicionalmente, sugiro a leitura integral do capítulo 7 do livro texto, para melhor compreensão da “crença inacreditável”.

                    Que Deus nos ajude em nosso aprendizado. Amém.


               (Adicionalmente, a própria etimologia das palavras “extensão” e “projeção” apontam para a verdade, pois a palavra “projeção” vem do Latim PROJICERE, formada pelo prefixo “pro-, “à frente”, aglutinado à JACERE, “lançar, atirar”, ou seja, lançar/atirar à frente. Por sua vez, a palavra extensão vem do Latim EXTENDERE, junção do prefixo EX-, “fora”, mais TENDERE, “esticar”, isto é, esticar/abranger até fora). Estes dados foram recolhidos no site referência sobre etimologia http://origemdapalavra.com.br, no dia 30/06/2014, às 15:47.

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sábado, 14 de junho de 2014

Sobre as crenças e as ideias

Obrigado!


“Essa é a nota mestra da salvação: 
o que vejo reflete um processo em minha mente, 
que se inicia com a minha ideia do que quero.”
(Lição 325) 


               Pergunta:
O UCEM diz: “Só no momento em que as crenças se fixam é que as percepções se estabilizam. Com efeito, então, de fato vês aquilo em que acreditas (T-11, VI, 3-4).” Disto compreendi que, se tenho uma crença fixa, a percepção derivada desta crença surgirá para mim como uma vivência no mundo. Como, então, ter somente as vivências felizes? Compreendi corretamente?

               Resposta: A organização das ideias é fundamental para o iniciante. Decerto, apreendestes bem o conceito acerca das ideias como noções formadoras da percepção, mas isto não te parece muito verdadeiro no momento. Ainda preferes a mágica e a consequente nomeação do mundo de acordo com suas ocorrências como acasos, sorte, azar, afazeres, revoluções, conservadorismo etc. Para ti, o mundo ainda “acontece” e possui uma certa “mecânica”. Mesmo as evidências mais claras acerca do fato de que o mundo é a xerox do teu pensamento, para ti são transformadas em pré-conceitos (os acasos e etc’s).

               (Claro que o mundo acontece, mas ele não é dado! Vamos compreender isto de uma vez por todas, pois é preciso crescer e divulgar).

Sem entendimento, as ideias são caóticas. São como referências que emitem apenas opiniões, sem relação entre si. Uma mente desordenada é caótica. Como poderia uma mente assim “projetar corretamente (estender)”? Para que isso aconteça é necessário ver o mundo perdoado, André. Não há meios de se dizer isso em termos da mente se não verificarmos primeiramente o que significa o medo. Portanto, falaremos sobre o teu medo de tudo, para que possamos entender mais à frente sobre a percepção e a real natureza do teu “mundo”, bem como da maneira de organizar corretamente as ideias.

               O medo é uma ferramenta bastante aprazível àquela ideia influente que apreendestes sob o nome de diabo. Mas o diabo é o pai da confusão. A ideia confusa, portanto, é o instrumento para a confusão. Se não compreenderes algo, como podes apreendê-lo? Decerto que a intuição te vale, mas um mundo puramente intuitivo é um mundo mágico e isto ainda é separação. É o sonho de um mundo “dado” que pode ser benigno; o sonho de um mundo mágico que determina o que te acontece, embora de maneira “inconsciente” para ti. Como és “intuitivo”, sabes “ler o mundo”. Realmente, o Espírito Santo parece uma ideia inconsciente para ti, apenas por enquanto. Mas precisas das ideias Dele, pois é Ele Quem sabe Quem Tu És.

O medo é a confusão das ideias. Não podes ter segurança se não tens clareza. Ora, se não sabes o que queres, nem sequer como fazer para chegar a algum lugar ou que caminho tomar e para tudo precisas de oráculos ou de um texto que te oriente, isto significa que estás perdido. Se chegastes a esta consciência, estás no caminho certo! Realmente, não sabes o que fazes aqui. Isto gera medo. “Um mundo sem significado gera medo”. Então acreditas agora que é preciso significar o mundo urgentemente. Eis o círculo vicioso que é a confusão. Uma necessidade urgente de algum “mais”. Mais significados, por exemplo. Talvez entender melhor o Curso em Milagres. Isto te fará crer que precisas entender melhor sobre “essa coisa das ideias”, “a relação entre as ideias e as projeções” e isto vai te atrasar, pois não se trata de entender sempre, mas de experimentar em ato. Entrega o entendimento Àquele Que já o tem. Tua única contribuição nisto é ser feliz, e sair do caminho, pois Ele tem as respostas.

Portanto, se Ele tem as respostas, decerto também sabe quais são as ideias certas. Mas enquanto quiseres fabricar ideias serás imitador de outros, ou defensor dos fracos, defensor dos fortes, pobre coitado de esmolinha, o futuro rico de alguma fama, um cara muito gente boa, um canalha, um artista sem arte, um pensador de opiniões, geralmente optando entre dois lados de uma ponte que leva de volta a lugar nenhum, até chegares aqui: à falta de sentido sobre tudo.

Então te apressarás em ressignificar para compreender novamente. Percebes o engodo? Quantos planos ainda tens à mão? Quantos acreditas que conseguirás gerenciar sem Ajuda?

O medo é a suprema crença na autonomia egótica. Não precisas mais nem de amigos, se não quiseres, pois tens “teus planos”, e “quando eu chegar lá, eles finalmente reconhecerão o meu valor”. Podes, no entremeio, aderir cumplices às tuas variantes de pensamento, como a ilustração moral ou o comedimento nos atos e a opinião política, geralmente contrária e, principalmente, vilipendiosa. Disto decorrem amizades sem fruto, conversas sem rumo, desagravos sem motivo e tudo o mais o que a desordem pronuncia. Claro que não é sempre assim, pois o ego não é bobo, ele sempre te oferece suas “dádivas”. Principalmente, ele te dá “esperança”. Urgh, que estranho! Ter esperança no futuro é a maior doença que há, pois ter a mente no futuro é o eterno adiar. A esperança é sempre esperar, mas o otimismo é real e é agora. Saímos deste entrecho pessimista neste momento, pois não queremos mais viver na ilustração. Viste em emoção como o medo é terrível e sua ocorrência vigora na expectativa de que o impossível, isto é, tua autonomia completa, vai ocorrer favoravelmente.

Agora, que vimos que o medo é o caos projetado no mundo pelo teu desejo insano de autonomia, podemos responder à pergunta inicial, sobre as ideias certas. Pois bem: sem ordem, tudo é desordem. A ordem surge da ordenação das ideias e da clareza de se saber o que fazer, para onde ir e o que se quer. Estabelecer a meta é a solução. Vejamos este trecho do Cap. 17 sobre estabelecer a meta:

Em qualquer situação na qual estejas incerto, a primeira coisa a considerar, muito simplesmente, é “O que eu quero que resulte disso? Para quê serve isso?” O esclarecimento da meta tem que estar no início, pois é isso o que vai determinar o resultado. No procedimento do ego, isso é revertido. A situação vem a ser o que determina o resultado, que pode ser qualquer coisa. A razão dessa abordagem desorganizada é evidente. O ego não sabe o que quer que resulte da situação. Ele está ciente do que não quer, mas somente disso. Ele não tem absolutamente nenhuma meta positiva (T-17, VI, 2).”  



E “positiva” neste contexto quer dizer “clara”. Neste momento também parece que não sabes o que fazer. Pois bem, já dissemos que tens ajuda nisto, mas precisas sair do caminho. Enquanto ainda lutas para manter tua autonomia, minas as capacidades claras que possuis e crias preconceitos sobre coisas que genuinamente aprecias, pois temes a opinião dos outros, mas a opinião dos outros é apenas a tua projeção voltando. O medo dos outros é o medo do amor. O medo do amor em teus irmãos ainda te parece terrível, pois a libertação te parece terrível. Caro irmão, querido amigo, teu irmão és tu mesmo. Se estiveres em algum lugar com outros dois, e eles estiverem em alegria, e não consegues te inserir no contexto daquela alegria, é mais fácil julgar os dois irmãos como egoístas e sectários, mas és tu quem tem medo deles, e a reação deles a ti é parte do teu sonho, pois não és um mero personagem no sonho de ninguém. Outra opção insana seria introjetar e dizer que eles não gostam de ti porque és um miserável sem graça que etc. No entanto, isto é apenas masoquismo representativo do teu desejo de ser odiado, para provar coisas espúrias que pensas sobre ti mesmo.

Mas — não és o que pensas sobre ti mesmo. Não és a ideia que te destes. A ideia de ti mesmo habita imutável em Deus e a tua opinião não conta nisto. Se odeias a ti mesmo, quem odeia a ti mesmo? E isto não é apenas uma crença em ti mesmo como odiado? Como o mundo seria diferente se cresses em ti mesmo como merecedor de amor!

As ideias formatam as crenças. Elas são o inicio do pensamento, e as ideias a que dás valor formam a tua crença. Se "a projeção faz a percepção", tua crença em ti mesmo como um ser odioso precisa de muita resposta em termos de solidão no mundo, quando não de violência, para te ajudar a manter tua crença projetada por aí. O mundo é o resultado de tuas crenças; crenças surgem de ideias e ideias não deixam sua fonte. 

Há uma Fonte segura, que estabelece ideias seguras e um mundo perdoado, ao invés de uma tela da projeção dos teus medos, o teu filme de terror e solidão. Já é hora de estabelecer a meta firmemente. Agora, nossa meta é Deus. Nossa meta é ser feliz. Nossa meta é reencontrar verdadeiramente com nossos irmãos. Nossa meta é a honestidade. Temos Auxílios para cumprir nossa meta. Podemos aderir, realmente, na forma, aos símbolos das nossas metas. Ser honesto requer os símbolos da honestidade, ser feliz requer os símbolos da real alegria, mas se não sabes como atingir a isto, peça Ajuda, lembrando sempre com otimismo que és Filho de Deus, que és Amado pelo próprio Deus, que independente de qualquer coisa que penses ou que acreditas que outros pensem a teu respeito, tu és tão valioso para Deus que Ele se sente incompleto sem ti. Volta, irmão. Vem com as mãos vazias de julgamento para Casa. Deus te chama e é a Ele que escutas quando abres mão de teus sonhos de autonomia e realizas a entrega ao Espírito Santo. A união com Ele agora é a tua meta. O caminho para as ideias verdadeiras estão estabelecidas para ti nos exercícios. A oração também é uma meta favorável agora. A verdadeira oração é na forma que tu quiseres,  naquilo que acreditas, com ou sem palavras, mas o coração sempre estando em Deus, tudo é feliz. Amém.




Medo - Titãs. 


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domingo, 27 de abril de 2014

Sobre "Dar Certo"

             


               Não existe nenhuma garantia de que a vida “dê certo”. Tudo aquilo que em determinado momento na vida aparece como certo pode ser erro em outro, e vice e versa. Mesmo assim, buscamos em altos esforços fazer a vida dar certo nos termos que queremos. Pode ser até que alguém escolha uma forma mundana na qual insiste, enquanto apenas se atrasa, pois ninguém sabe verdadeiramente o que significa “dar certo”.

                Primeiramente, é o medo que desfaz todas as perspectivas favoráveis no mundo. Não se sabe de onde vem o medo, mas o percebemos como uma disposição desfavorável em relação ao mundo. Às vezes, parece que os mecanismos do mundo desfazem a toda hora, sob a forma de medo, nosso aprendizado mais feliz. No entanto, isso ocorre simplesmente porque não queremos um aprendizado realmente feliz, amoroso e sem temor. Ora, não é verdade que muitos dizem estar em busca de amor em um mundo sem amor? Como encontrá-lo, baseando-se em ideias conflitadas? Se não há amor no mundo, como encontrá-lo? Não se acha o caminho para o Oeste seguindo em direção ao Leste. Mesmo se deres a volta ao mundo, estarás caminhando sempre para o Leste.

                Esta dicotomia — ou dissociação — na qual se busca encontrar algo onde não está surge de uma tentativa em ser “diferente”. Não é o amor que realmente se busca, mas o “sucesso”, o êxito em encontrar. Geralmente, isto é confundido a tal ponto que ser feliz no mundo em contratos sociais passa a ser o objetivo para ter paz. Portanto, se não podemos encontrar o amor no mundo, podemos projetá-lo no sucesso. Jesus venceu o mundo, mas não o fez pelo meio ilusório. Jesus não foi exatamente um “homem de sucesso”. Dar certo não é uma prerrogativa da forma, mas ser feliz, isto sim, nisto Jesus sucedeu, desfez o desamor e soube-se a Quem Ele Respondia. Na verdade, qualquer um que queira realmente experimentar o que seja “dar certo” tem que ser feliz. O amor infeliz é impossível. Quem “sofre por amor” está enganado.

A partir do momento em que se deseja ser feliz, não se pode mais pensar em sucesso. A chegada do amor é a escolha em ser feliz. Tampouco seja o caso em que se projete esse amor nas coisas, crendo que apenas o bonito é o certo. Ou que “perdoar o feio” é o certo. Ser feliz não é uma escolha estética. Na verdade, ser feliz não é uma escolha, mas um estado de graça que surge de uma verdadeira disposição ao mundo. Ver tudo com os olhos de Cristo significa isso. Não abençoas apenas o que dá certo ou o que é belo. Teu olhar deve ser sempre benção. Nisto se é puro.

Mas não deves esconder nada de ninguém. É isto que se diz “disponibilidade ao Espírito Santo”. Aquilo que dá certo não é um meio garantido, mas olhar para o certo ou o incerto com amor abre as portas pelas quais Ele Mesmo verifica os meios. Como diz a música do Pato Fu: “conte o teu angélico segredo”, pois “quando algo sai do seu controle / o mundo volta a respirar”.

                Agora falemos sobre o domínio do medo sobre o mundo. O mundo precisa da ideia da superação como o medo precisa de mais terror. A ideia de superar-se garante o sucesso no futuro, enquanto o presente será sempre indigno. O desamor garantirá o teu olhar de desejo e verás no sucesso a garantia de superar a si mesmo. Geralmente, como o sucesso tem a outros como modelo, a ideia de superação é a própria inveja, pois tudo o Que Se É permanece obscuro, sob os auspícios do “bom exemplo”. A moral não entra nisso, pois o “bom exemplo” é criado em cima do desejo do sonhador. Se estiver em conflito com os ideais do mundo, o sonhador pode até crer que é revolucionário. Se estiver em favor, será um guardião de algo. Por conta disso se diz que o desejo somente pode surgir do conflito.

                No entanto, o desejo em si não é um erro. A questão deste texto é: quem pode garantir que está desejando o que é melhor para si? Cada passo parece incerto demais e as garantias são tão poucas que qualquer ideia pode fazer com que o individuo busque ancorar suas expectativas no que não faz sentido. Há pessoas tão vazias de si, que qualquer ideal lhe serve como tampa, desde a simples visão de si mesmo como melhor que os outros — geralmente através da fofoca e da maledicência — até assumir ideias que não lhe cabem em absoluto, enquanto crê que caminha.

                Como saber se estás agindo assim? Simples. Estás feliz? Realmente feliz? Acordas feliz para fazer o que fazes? Então estás atuando no caminho certo. Caso contrário, não entre na armadilha da autoavaliação. A autoavaliação pode fazer surgir o desejo de se superar. Teu papel é sair do caminho. Olha para tudo com benção, e a resposta surgirá. Deixa que os meios sejam avaliados para ti, mas não por ti. Não precisa ser religioso para se fazer isso. Mais uma vez: teu papel é sair do caminho. Como se faz isso? Busca a Deus não como um objetivo de sucesso, ou uma superação da tua falta de fé, mas busca Deus no Amor, pois Lá certamente O encontrarás, mesmo que seja “por amor às causas perdidas”, pois uma causa nunca é perdida se é para ti.

Todos os dias lembra de dizer a ti mesmo: “Ainda sou como Deus me criou”, ou “ Deus me ama independentemente do que eu pense sobre mim mesmo”, ou ainda “sou feliz, pois sou amado pelo próprio Deus”, ou qualquer outra frase com o sentido de que és amado, pois deves lembrar de que és amado, que és digno, e que o erro e o acerto são categorias e que Deus não é categorizador. Deus é perdão e amor. No Amor que dás, Deus está ali. Ama e és livre, pois Deus é amor. Essa consciência abre espaço para uma nova consciência que pode te mostrar algo favorável. Não desejas ser feliz? Então lembra que és amado. Deus te ama independentemente de tuas ações, pois Deus é Amor e o amor não categoriza em certo e errado. Quem faz isso são os homens, com medo e julgamento. Faz o que é certo no mundo, para não naufragar, para viver uma vida boa, mas se errastes, o que tem se errastes? Se acertastes, o que isso te dá na verdade? Seja feliz, e largue mão do controle sobre quem merece ou não ser amado por ti. Todos são filhos de Deus. Todos merecem teu olhar de benção. Sucesso verdadeiro é amar e ser amado.

Isso, sim, dá certo. E o certo virá para ti na forma que é para ti. Amém.



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segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Sobre a natureza da função em perdoar.



                A expressão “temer a Deus” não está associada a um temor real. No mundo, isto parece ser um elogio, e é interpretado como obediência. Será obediência desde que a compreensão de Deus figurada em uma potência terrível e temível seja real. Por outro lado, “ser santo” também não está associado a santificar ações, pois o ato gratuito, puramente ético, pode estar ou não em consonância com tua real vontade. Como guiar-se para a ação neste contexto no qual o medo de Deus tornou-se a realidade da vontade?

                Na verdade, aparenta ser urgente apreciar o medo em casos assim. O indivíduo diz que o medo pode ser destituído de suas influências através da observação do próprio medo. Claro que ver o ego “em ato” é muito benéfico, no sentido de favorecer uma forte disposição contrária à manutenção dele, através de vivências de loucuras que não serão mais apreciadas após uma observação lúcida. Mas, desta forma, precisarás de muitas eras até alcançar viver todos os erros dos quais o ego é capaz, escolhendo favorecer os erros até acertar o conserto. Será que esse “atalho espinhoso” é favorável e condizente com tua vontade verdadeira?

          Uma possibilidade muito pouco considerada em relação à observação do ego é uma contextualização de suas ações como veículos do medo em ato. Podemos, através disto, reduzir todas as ações do ego a um denominador comum: o medo. O curso ensina isto de modo muito seguro, a partir das considerações sobre o instante santo, que desfaz o medo por intermédio da disponibilidade. Adiante, em favorável expectativa, o momento em que a farsa do medo será percebida não ocorrerá através dos atos do ego, de sua “sombra”, ou seja lá o nome que deres àquilo que dele tu não quiseres mais aderir. Mas perceba que o engenho em fornecer nomes ao ego em torno de si mesmo, como uma órbita psicológica e inconsciente, é apenas “mais do mesmo” em termos de algo que não vês, e dizes que é o inconsciente, pois te é dado em esquecimento.

                Não falamos em tecer mentiras como fossem teorias adequadas! A dor da doença é passível de grande compaixão. Um ego santo pode ser muito maldoso. Sua constituição em duplo, em um mundo de opostos, provoca justamente aquilo a que a condição oposta ao santo se refere, por isso afasta a Deus e o teme. Cuidado com a bondade nestas tolas condições! O santo jogando xadrez com o diabo é uma amplitude técnica no mundo dos opostos, psicologicamente falando, nas engrenagens positivas da ciência. Em ti, é muito sofrimento e ilusão em formas de ser ou não ser, sendo e não sendo. O santo não se santificou, por isso não atribua a si nenhuma toleima em santificação. Melhor nesse caso um aparte honesto, vislumbrando tudo o que não é correto com honestidade e, se possível, com humor. Este é o modo com o qual te aproximas do que fizestes com equidade.

                Bem fizestes um ego, construístes uma pessoa, viestes até aqui para essa diversão com o lego de ossos, carne e sangue. Pois bem, está aí o corpo, disposto ao teu uso, e até mente isto tem. Então: És ou não és como Deus Nosso Pai? Capaz de criar? Mas preferes manter ele aposto à tua vida até que compres novas peças? Podem se montar vários deles.

                Portanto, ao sinal de medo, o santo se esconde novamente em forma de grande vetor de sabedoria. Agora, ele percebe que isto é uma carta, de si para si. Ajuda nisto é favorável também a todos, pois ele é todos, não em hipótese psicológica, mas na Mente Uma, que apenas a verdadeira experiência fornece dela o sentido. Não se pode aprender sobre a Mente Uma. O Curso não ensina como fazer isto, ele ensina apenas a desfazer, não é? Mas pode-se estudar sobre a psicologia ordinária desta mente que fizeram, em lego de população. Aliás, não existem as palavras, você bem sabe disso; mesmo a literatura fantástica é apenas uma contraparte existencial complementar, que visa apenas a tentar suprir a ausência da experiência; a psicologia busca consertar e aliviar, a medicina visa curar etc.

                Não temas agora, pois perceber o falso é sempre favorável. Ajuda a desfazer. Também há agora o temor de o santo acreditar que descobriu a verdade última das coisas e pode-se, portanto, demitir os médicos e fechar as faculdades de psicologia, pois o André escreveu uma carta que ensina tudo. Quanta asneira observável em riso! Não é de se rir que um dia alguém viu o falso sendo ainda falseado? No entanto, quantos dispostos ao caminho de Tomé? Pois digo: São Tomé é o padroeiro dos arquitetos, geógrafos, engenheiros e das pessoas em dúvida.

                Temer a Deus é uma expressão contraditória, é só pode ser corretamente compreendida em seu corpus simbólico. Temer, neste caso, vem à acepção de perda, solicitude à perda, receio. Por extensão de sentido, Temer a Deus significar andar com esperança de que Ele venha àqueles que seguem "Suas Ordens", àqueles que O agradam. É uma coisa do velho testamento, admitida em lei. A boa nova é diferente: Deus é amor. Decerto, alguns evitam o naufrágio seguindo as leis. Não há garantia nenhuma em se tratando deste mundo separado que estamos a dizer alguma coisa certa. No entanto, para nossa salvação, há ideias derivadas da Mente Certa. Estas são seguras. Temer a Deus seria como Temer estar sem Ele. Mas mesmo essa ideia é impossível, embora seja ela o motor e o ideal da separação.

                Para nossa prática, bastam os exercícios e muita disponibilidade em vendo. As imagens estão aí para auxiliar de volta. A tua criação em ego se assemelha a historia do homem que estava isolado em uma ilha e criou uma jangada para sair de lá. Ele precisou usar o material disponível na ilha, que era toda a realidade que ele percebia e da qual dispunha para construir a jangada. Assim, este mundo com suas imagens e formas será a maneira pela qual vais descobrir que podes sair daqui. Mas Jangada boa lembre-se, é abstrata e é amar. Não vês o amor estendido ainda aqui? Pois monta nesta jangada e eis o mar!

                Assim, dizemos que ver o ego em ato é útil apenas em princípio. Por isso o Curso diz que o ego aprova a iniciativa dos alunos em analisá-lo. Uma primeira abordagem neste sentido é verdadeiramente útil, mas não pode gerar o circunlóquio da acepção reiterada em “quem sou eu?” , “como me melhorar?” etc. Não sabemos nada sobre o mundo separado, pois ele figura para nós como uma “coisa em si”, sem sabermos nada sobre elas. Quando fizestes este mundo, tivestes este cuidado de não lhe dar realidade, e nisto o Espírito Santo figurou em tua mente separada para fornecer a ti mesmo os cuidados e a memória do perdão. Não poderias te separar de todo, pois Deus não pode perder uma parte de Si Mesmo. Por isso, é hora de ouvir, de voltar, suave, feliz.


                Pai Nosso, pedimos ao Teu Espírito Santo que nos guie em disponibilidade de linguagem para que nos seja dada a melhor forma de compreender. Nós, que pedimos por este meio, pedimos em dúvida, Pai; ao que sabemos, no entanto, grande Teu Amor por nós, Que não olha para esse mal feito como feito, mas bem nos quer, e a isso devotamos nossa maior fé em esperança de que possamos levar conosco os nossos, e pedimos nisto que apareças com a face da esperança novamente, conforme esquecemos, mas lembramos em todos os atos amorosos e felizes ao quais dispomos, e nisto cremos, pelo bem de teu filho que feliz se alegra em Teu Nome, e mesmo em medo vela pela imagem da amizade e amor entre os Teus Filhos santos. Peço-te diante de Tua Vontade a luz da revelação, meu Pai. Amém.


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