segunda-feira, 25 de março de 2013

A Verdadeira Autoridade


               
               
               O problema da autoridade não existe em conformidade com o pressuposto mandatório ou a aniquilação da vontade mediante coerção. Uma autoridade tirana não pode ser nada além de autoritária. A Verdadeira Autoridade demanda desígnio em amor — uma resposta direta da Fonte àquele que está sob Sua benção.

               A benção da Autoridade previne a tirania. Ela conduz mediante os indícios do amor, e não através de ordens diretivas baseadas na separação. A noção de ganho ou perda é sem significado para a Verdadeira Autoridade. O problema da autoridade é simplesmente uma questão de autoria, conforme aprendemos no UCEM: “Quando tens um problema de autoridade, é sempre porque acreditas que és o autor de ti mesmo e projetas este equívoco nos outros (T-3. VI. 8:2)”. Se és o autor de ti mesmo, então os outros devem responder em relação direta à autoridade que criastes. A projeção, neste caso, surge do empenho em devotar crença à tua “feitura”, pois se "outros" vierem a crer na autoridade que fizestes, então há “testemunhas” de sua existência.
               No entanto, assim como uma legião, as autoridades criadas odeiam umas às outras, pois vivem em eterna luta pelo predomínio. Obviamente, conforme aprendemos, a noção de triunfo nada tem a ver com o amor verdadeiro, pois a certeza é impossível sem compartilhar. Mas a autoridade que te destes busca apenas escravizar para manter, ou ter para conseguir. Isso é muito debilitante, e altamente insatisfatório. A Verdadeira Autoridade abençoa em primeiro lugar, para depois guiar. Ela não está nem um pouco preocupada com o predomínio, pois suas ideias são compartilhadas. Sendo assim, são da mesma natureza, e não podem contradizer a si, pois o mesmo é igual ao mesmo. A autoridade que quer fazer “diferente e maior/menor” precisa ser questionadas.
               A benção da Autoridade é, portanto, o indício seguro de que o amor está dirigindo. A segurança disto ocorre ao se perceber que a ausência de tirania elimina totalmente o medo. Apenas aquele que busca testemunhas da autoridade que construiu pode querer o medo, pois o próprio medo garante que a tirania está presente. Contudo, e persistentemente, gostaria que lembrasses que a Verdadeira Autoridade promove, através da lembrança em benção, que o amor é a Única Autoridade capaz de compartilhar. Portanto, e mais uma vez, precisas lembrar que és invulnerável. Se és invulnerável, como poderias querer o medo? O invulnerável não teme, pois é invulnerável! Contudo, se sentes medos, a que autoridades estás obedecendo?  — e neste indício plural, eis que o ego é legião.
               Mas tu podes — e deves — responder apenas a uma Autoridade, pois existe apenas Uma. Exercícios que visam fazer com que treines a tua mente em favor da Autoridade são constantes no Livro de Exercícios. Tu não tens controle sobre nada, a não ser sonhos. Mas enquanto brincas de controlar os sonhos, podes também verificar que o medo de Deus é uma falácia muito bem elaborada, através de conceitos construídos unicamente para separar. Separar-se de Deus pode fornecer a ilusão de autonomia e controle, princípios em égide na tirania. Mas ao preço do medo, que é aquele que segura o escudo. Blindando o filho de Deus em uma feitura — ou ego — tal autoridade agora é quem guia e controla através do medo, para o medo e com medo. O objetivo é a autonomia, palavra que neste contexto pode ser substituída por isolamento, ou separação. Obviamente, em tal cenário, a função guardada para ti pela Verdadeira Autoridade jamais poderá ser lembrada, pois seria a traição máxima à autoridade tirana, pois tua função somente pode ser compartilhada. O ego quer que acredites que compartilhar é perder, e perder é morrer. Mas apenas o amor quer que entendas que apenas compartilhando podes realmente ter, pois é bem verdade que “só é seu aquilo que você dá”, ou compartilha.
               Repartir não é compartilhar, e aqui voltamos à diferença discutida anteriormente sobre doar e dar. Doação é caridade e benção, mas ainda visa apenas repartir, ou tirar de si uma porção para ajudar. Obviamente, há um princípio de certeza neste ato, pois doar apoia, no contexto da segmentação, um desapego ou livramento. No entanto, compartilhar não visa nenhum tipo de segmentação, pois a parte que é dada permanece. No “doar”, o alvo é suprir. No “dar”, é garantir.
               A Autoridade somente dá, pois sabe que apenas assim pode suprir e restaurar. Ela não mantém nada para si, tampouco perde alguma coisa para “conceder uma parte”. Na verdade, podemos ver isto até mesmo nas formas, pois um pedaço de alguma coisa no mundo que foi “doada” saiu de um lugar e foi parar em outro. Se eliminarmos deste trajeto o conceito de “dono”, a mudança de lugar não pressupõe mudança nenhuma, pois o deslocamento não existe na Unidade. É por isso que quando as coisas mudam de lugar apenas podes ver a bagunça se ativeres a isto uma noção de pertencimento, ou um sujeito. A responsabilidade pela coisa atirada passa a ser de alguém, e agora não há mais um deslocamento, mas uma variação entre dois. Isto é partir.
               É difícil de entender a Unidade em exemplo de formas, pois não há garantias de elisão, e cada aspecto tomado como exemplo vivifica seu oposto. No exemplo acima, uma coisa sem dono pode ser lixo, abandono, perda, desdém, quinquilharia, apenas imagem, objeto, coisa, algo, pronome, menção. Menciona-se: o que é aquilo? E se “aquilo” não tem dono, aquilo “não é nada”.  O predicado é pressuposto na separação.
               A Verdadeira Autoridade não predica. Ela não tem adjetivos para si. A linguagem e seus compartimentos visam separar em sintaxe para elidir em semântica, mas nem todos são poetas, e mesmo a melhor poesia está dividida em linguagem e imagem. A autoridade surge inicialmente como uma “suposição” de Guia, mas sem nenhuma separação. Tu és predicado por este Guia, mas ele não tiraniza teus caminhos, pois tu não és para Ele um “sujeito”. Apenas assim poderás saber da elisão na linguagem de teus dias, conforme falares de Deus confiando Nele. Conforme fazes com a palavra escrita, convém antecipar em amor tal disponibilidade em teus encontros diários com teus irmãos amáveis. Não precisa ser em assunto ilustrado, mas o mero bom dia Guiado em elisão já é um começo bom, pelo qual a própria elisão surge ao dar amor nas palavras. Não podes temer falar de Deus, mas não precisas colocar Deus como assunto em tuas conversas para fazer Seu trabalho santo. “Amar” é o Verdadeiro trabalho.
               Pai, queremos lembrar do amor em nossos irmãos. Estamos sozinhos em sonhos, mas estamos bem em Ti. Lembrar-se de Ti é tudo que queremos. Para isso, estamos dispostos a dar, a assumir a responsabilidade por este mundo. Nossos sonhos e fantasias tem nos tomado tempo em ilusão neste mundo bobo. Queremos voltar para Ti, meu Pai. Pedimos tua graça de libertação agora, pois estamos prontos para o amor. Em fé te pedimos, amém. 

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sábado, 23 de março de 2013

Por que Jesus secou a figueira na Bíblia?




               Pergunta: Na Bíblia, numa ocasião em que estava com fome, Jesus foi até uma figueira para alimentar-se. Ao perceber que não tinha frutos, disse à figueira que secasse e não mais frutificasse. O que isto quer dizer?
              
               No UCEM encontra-se uma advertência acerca do esforço empregado nas mitologias em revelar o caráter do conhecimento. Sempre que uma narrativa está envolvida, a particularidade dos opostos está presente. Assim, neste contexto, toda narrativa está passível de julgamento. É possível quase todo o tipo de interpretação referente a um texto altamente simbólico, como é o caso da Bíblia, e o caso da passagem acerca da figueira é muito mal interpretada desde sempre. 


               Um Jesus irascível é a primeira das opções a que os incautos se referem para emendar em uma argumentação a favor da separação, ou da posição temerosa de um Jesus cruel. No entanto, outras interpretações alcançaram uma ponta de verdade ao buscar elencar valores entre a fome de Jesus e a ausência de frutos, e assim metaforizaram a questão, e chamaram a “árvore” de “mundo”, e os “frutos” de “homens”, ao que a “secagem” da figueira seria uma espécie de premonição apocalíptica. As duas interpretações possuem elementos demais para gerarem um posicionamento maduro acerca da simbólica. Portanto, não recorreremos a nenhuma delas para tentar explicar seu significado, mas faremos uma apropriação da historia para seu uso dentro de nosso currículo. 


               A fome de Jesus é uma ocorrência em seu corpo, que dificilmente seria desesperadora, já que o Jesus dos evangelhos podia multiplicar os pães e peixes, e que seu alimento era espiritual, como se vê no episódio bíblico dos quarenta dias e das tentações. Ir até a figueira buscar os frutos significa uma colheita, e apenas neste sentido se deve entender o ato como uma busca material. Daqui, a simbologia presente é a da entrega. Uma árvore deve entregar-se ao ato de ser frutífera. Se ela não está no tempo adequado, deve estar em flor, e se não estiver em flor, não está no tempo de colheita. Se Jesus viu a árvore e entendeu assim, por que então desejou que ela secasse e não forneceu a si um milagre, como a frutificação? Simplesmente porque a secagem da figueira representa o intransitório, um apontamento para o que não pode estar em direta comunicação o tempo todo, que não pode fornecer o tempo todos os seus frutos, e assim não produz o milagre da entrega e do fornecimento.


               Pergunta: não entendi. Não há resposta aí. Por que então secar a figueira?


                Se algo não dá frutos, não pode multiplicar. Se a figueira não deu seus frutos na presença de Jesus, que é a natureza da vida, a figueira não podia prosseguir. A metáfora aqui, para o nosso currículo, é a de que a natureza não advoga pelo egoísmo, embora não estejamos falando que a figueira seja egoísta. Por isso se diz que há perigos na interpretação simbólica, pois ela alcança diversos significados. A ira de Jesus é apenas a acepção diferenciada da lei segundo a qual aquilo que não dás, não recebes. Se a figueira não deu frutos, não recebeu a vida. Mas a “vida” e os “frutos” aqui não têm interpretações diretivas, como “filhos” ou “amor”. Na verdade, apenas aponta para a lei segundo a qual o que dás, recebes. Se a árvores está seca, isto é, sem frutos, ela é apenas uma árvore seca. 


               Pergunta: Tudo bem. Mas daí a matar a árvore? 


               Nenhuma árvore foi morta. Isto é uma história! Não precisas levar tudo ao pé da letra quando se trata de histórias. A linguagem é simbólica. Portanto, uma história em linguagem é uma concepção em símbolos. No entanto, vamos direto ao que queres saber:


               Mais tarde, depois que a figueira secou, Pedro e os apóstolos maravilharam-se com aquilo. Naquela ocasião, eu lhes disse que não deveriam estar maravilhados, pois as montanhas que viam ao redor poderiam ser atiradas ao mar, caso algum tivesse fé para fazê-lo. Isso ainda é assim, pois esta é uma verdade eterna. “Não existe níveis de dificuldades em milagres” quer dizer isso. A figueira sem frutos é o ego, aquele que não dará nunca de comer a Cristo. Cristo desfez a figueira, assim como te ajudará a desfazer teu ego. Teus irmãos acreditarão no desfazer de teu ego como algo maravilhoso. Portanto, deves dizer-lhes nesta ocasião que a montanha pode ser movida facilmente. Aliás, tu mesmo poderás fazê-lo, mas dificilmente a bagunça resultante em poeira e estrondo em torno disto vale a pena para gerir a experiência em sabedoria, pois o exemplo em imagens seria um gerador de medo. Um homem que se lembrou de Deus ao nível deste conhecimento, sabe que não precisa de espetáculos para induzir a crença, e sabe certamente também da espécie de figueira ele pode desfazer, pois esta tal figueira que se diz na Bíblia, esta certamente secará. Fica contente!


               Obrigado.


               Amo-te, pelo que te agradeço em aceite. 

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De que se trata os níveis dos quais Jesus fala no Curso?




               Os níveis podem ser comparados às camadas entre diferentes escalas de valores. Uma coisa que é comparada à outra está afastada desta por algum valor, ou nível. A graduação da escala não importa. Não estamos a falar de diferenças em termos dos “continentes” destas diferenças. A Unidade não pode ser dividida em nenhum nível; não existem diferenças de valores na Unidade, pois não há em Si divisões ou partes a serem escalonadas.

               O amor não obedece a nenhuma escala, pois ele não distingue. A distinção em níveis é uma característica da separação. Os níveis a que se reporta o milagre são impossíveis, pois a Fonte dos milagres não está escalonada. Portanto, não há milagres maiores, ou especiais. Quando lês a palavra “nível” no Curso isto deve ser entendido como “uma parte” ou um “pedaço” separado de outro, ou seja, está-se referindo à ilusão em separação. Se um milagre pudesse ser dado em um lugar em vez de outro, ou em outro lugar simultaneamente, os milagres poderiam ser diferenciados entre si como mais ou menos benéficos. Contudo, lembremos que “o milagre nada faz. Tudo o que ele faz é desfazer (T-27. I. 1:1)”. Sendo assim, como poderia um "desfazer" de uma coisa igual acontecer de uma maneira diferente aqui ou ali? Se o desfazer propõe uma mesma resposta, ou um objetivo comum, como é o caso dos milagres, então a diferença entre dois “desfazeres” que angariam diferentes objetivos é impossível. A cura do cego e a multiplicação dos peixes é a mesma coisa sob o ponto de vista da cura da escassez. Nada falta ao Filho de Deus. O Milagre é a proposta em perceber a abundância através do desfazer da noção de escassez.

               Os milagres não são eventos associados à forma, mas podem ter seu pressuposto em desfazer aplicado à forma, de modo que cada um perceba o que vê como verdadeiramente um milagre. Mas os milagres não são espetáculos (v. princípios dos milagres); se o vires, precisas saber que algo foi desfeito em direção à Unidade, em pressuposto de expiação. Obviamente, a expiação e o milagre trabalham juntos, e um pressupõe o outro. Não pode haver milagre sem a graça de Deus, assim como a expiação é um milagre da graça. Ambos estão divulgados como forma se parecem surgir como imagens neste mundo. Mas muitos dos milagres que acontecem são realmente uma forma de te fazer ver o mundo real, ou em favor de direcionar o teu empenho em direção à mente certa.

               Quando pensas que um milagre precisa se manifestar extraordinariamente, podes estar associando o milagre ao medo. Um empenho fortemente associado ao medo pode querer ter para si uma “prova” do desfazer, sendo que esta prova executa uma noção de diferenças em níveis, pois agora um milagre não surge para desfazer, mas para “dar uma resposta”, ou “reforçar uma opinião”. Ora, isso é impossível quanto aos milagres, pois eles vem para dar, e dar é receber! Como poderiam então estender, se fossem meramente a prova de alguma coisa? O espetáculo de cura não é a cura, pois se acreditas que ao te curares estarás devendo algo a Deus ou ao Espírito Santo, estás enganado quanto ao primeiro princípio dos milagres, que dita que não há diferenças nas expressões de amor. Como poderia Deus aguardar alguma coisa de Seu Filho como um pagamento? A gratidão não é um pagamento, pois é expressada em oração. Então, se o milagre é dado, ele é recebido onde é dado, e não há para isso nenhum tipo de “mistério” ou “compreensão simbólica”, pois os símbolos são artefatos da Visão em percepção.

A verdadeira Visão não vê nos milagres excentricidade. O natural não pode ser especial. Se vires a um doente e acreditares fortemente que podes dar a este doente o milagre da cura, estás querendo "adicionar algo" a ele. Não vês que isso contraria o milagre como algo que vem apenas para desfazer? Desfazer a doença somente pode ocorrer no contexto da anulação da crença em escassez. Na Bíblia, Jesus Cristo repete em diversas ocasiões expressões tais como: “levanta-te e anda!” “ A tua fé te curou” e tantas outras que apontam para o fato de Ele não ver escassez naquelas pessoas.  Realmente, se crermos que a vida é um sonho em imagens — e é bem isto o que ela é — se acreditamos verdadeiramente nisto, então as imagens que surgem do contexto da escassez são aquelas nas quais se provaria que separação é cruel. No entanto, se admitires diante de teu avanço no aprendizado que as imagens que vês são de tua própria fabricação ("meus pensamentos são imagens que eu tenho feito"), então poderás dizer que a crueldade em imagens somente pode surgir para aquele que se crê punível. Ora, claro que um milagre surgido neste contexto temeroso estará totalmente divergido de qualquer propósito de cura, pois o nível no qual ele venha a surgir como efeito estará dissociado de sua Causa. O nível no qual o medo atua é o nível da percepção. Se o milagre em percepção atua como ação, a reação do observador somente será amedrontada. Por isso que Jesus, ao divulgar milagres, ressalvava aos seus irmãos aquelas expressões de ênfase, pois eles precisavam restaurar em suas mentes a certeza, ou seja, precisavam perceber que Jesus Lhes relembrara de suas mentes certas em Si Mesmos, pois eles, curados, não poderiam manter a cura, acaso caíssem em idolatria ao homem Jesus. E é também por isso que se diz no UCEM que uma pessoa pode “emprestar” sua fé a outra, pois àquela não haverá mais dúvidas quanto à verdadeira abundância. Crer na abundância é confiança, o primeiro atributo dos professores de Deus.

Jesus afirma no UCEM que não Lhe devemos reverências. A reverência deve ser reservada a Deus. Tampouco os milagres devem ser reverenciados. “Milagres devem inspirar gratidão, não reverência. Deves agradecer a Deus pelo que realmente és (T-1. I. 31:1-2).” Devemos a Jesus o respeito, por ser um irmão mais velho e amoroso, e a obediência, por sua maior sabedoria, conforme Ele mesmo deixa claro no UCEM (T-1. II. 3: 7-8). No entanto, isto está distante da noção de idolatria, pois um Jesus idolatrado seria um ídolo e não o exemplo do Mesmo. O mesmo não pode ser idolatrado, pois a natureza indistinguível da igualdade elide a possibilidade de idolatria. Quando Jesus afirma: “tu és o Filho de Deus”, ele reitera a Ti Mesmo como Si Mesmo, sendo ambos apenas Um. O curador cura o curador  não curado.

O fato de não haver níveis de dificuldades em milagres abrange uma grande associação de fatores que não podem ser expostos. Como poderíamos classificar todos os milagres como iguais, se levantarmos os exemplos de suas ocorrências diferentes no mundo das imagens? “A tua fé te salvou” quer dizer isto: a fé, que abrange uma expectativa em algo “além deste mundo”, é a resposta ao fato de que o milagre desfaz uma crença. Ele não prova nada. Ele apenas restaura na mente daquele que o recebe a certeza de sua mente certa e da abundância do Filho de Deus. Ademais, o milagre não é apenas passível de ser visto nas imagens. Como já dissemos, o fator preponderante no milagre é a sua capacidade de fazer com que o Filho de Deus se lembre de Casa. Para isso, o amor recebe em vias de alegria o repertório da ocorrência de milagres, e o amado filho sente-se reconfortado por lembrar-se de si mesmo como amado, querido, requisitado com a urgência que se dá àquele que está distante — mas apenas sonha-se que alguém assim está.

Pai, lembramo-nos de Ti pelos milagres que nos destes. Agradecemos a Ti por todos os milagres nos quais recordamos Tua graça. Pedimos a nossa herança em milagres conforme prometeste ao teu filho, que se lembra de ti isento de petição, em herança, conforme sendo o mesmo dar e receber. Dai-me, Pai, a graça de retornar à minha consciência os milagres que dei como recebidos, pelo que lembrarei do mesmo e de minhas criações, pelo que é Tua Vontade, o despertar de Teu Filho, amém. 

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sexta-feira, 22 de março de 2013

A Inquietude durante o sono noturno.




               O sono ao qual chamas vida parece variar continuamente de acordo com suas baixas e altas em expectativas. Deveras, aquele que não tem expectativas não pode se alterar em digressões e esperanças de mudanças. A vicissitude surge em um contexto de investimento em escassez. Somente o oposto da escassez, que é a volúpia ( a eternidade não cumpre opostos ), poderia admitir uma associação entre o que se diz verdadeiro e o que é ilustração. O amor é invariável. Seria impossível que a variação conformasse em si mesma qualquer tipo de glória ou divulgação de ameaças, pois seu pressuposto é a mudança, e não ater a classificação a um único estado. A vida em sonho é sempre digressiva.
               No caso do sonho noturno, o que ocorre é uma generalização dos pressupostos da variação em acordo com o tempo. Obviamente, o tempo pode ser “suprimido” ou alterado durante o sonho noturno, conforme o sabemos. Quando o sonho noturno e o sonho diurno buscam “competir” pela realidade do sonhador, há um conflito geralmente estabelecido pela insônia ou inquietude durante o sono, pois nenhum destes dois estados parece “agradar” ao sonhador. O alto grau de hipnotismo não parece favorecer seu estado de atenção, e aquele sonho que melhor o seduzir, vence.
               Um pode sonhar que naquilo a que chama vida, há uma torneira pingando, ou uma cigarra em estrídulo, o impedindo de dormir. Este sonho configura sua escassez em sono e comprova sua des-espiritualização em fadiga. Por outro lado, o sonho noturno ao qual consegue se entregar, “comprova” em imagens de terror que o sonhador do sonho é uma mente aturdida, e que não há escapatória para ele, pois as imagens que surgem neste contexto atribuem a si mesmo um débito em relação ao cotidiano do sonhador, e aparentam ser mensagens que “não o deixam dormir”.
               Obviamente, tal estado ocorre mediante uma grande devastação, ou cisão, na qual o sonhador prefere alternar seu estado consciente entre sonhos, para divulgar sua fadiga em termos experimentáveis. Na verdade, o sonhador não quer dormir, pois ele precisa divulgar que o sono é necessário e lhe falta, tanto que seu corpo em escassez admite o cansaço, e todos os atributos do corpo parecerão falhar, pois ele teve uma noite ruim.
               No entanto, não é possível que se peça ao separado para sonhar com estas coisas em sua consciência. Ele não pode sabê-las. Seu total alheamento em relação aos pressupostos do despertar é tão inconsciente que somente através de uma revelação da verdadeira natureza do corpo ele poderia entender sobre o cansaço físico. No entanto, e adicionalmente, o homem que vê a si mesmo como corpo precisará de descanso, pois tal investimento demanda muito gasto em energia.
               A noite vem para estabelecer — como oposto — a denúncia acerca daquilo que foi vivido — através de opostos — durante o dia. O sono passa a ser o oposto da vigília, e o pressuposto desta em “descanso”. O sono noturno são teus pensamentos em imagens, não formatados pelo tempo, em variáveis sucessivas e diferenciações de conceitos. Não temes os absurdos do sonho noturno, pois criastes regras para dizer a ti mesmo que durante a noite “é assim”.
               Quando não consegues adormecer, significa que estás fadigado em fadiga. Algo semelhante em apropriação ao próprio cansaço em estar cansado. Parece um absurdo? Pois é para se rir mesmo, conforme a separação só engendre absurdos. O ego, em cansaço, pede ao corpo, em cansaço, que descanse em sono, enquanto ele mesmo — o ego — satisfaz a si em autômatos de sonho em vigília. No entanto, para isso acontecer, o corpo precisa estar acordado, e se o ego quer sempre “mais”, não podes dormir enquanto ele continuar a “fazer”. O empenho do ego em gerir conceitos em imagens é interminável, mas durante o sonho noturno, seu predomínio pode ser obliterado por um que esteja em vias de despertar. Assim, esta estratégia em insônia visa confundir o sonhador entre sonhos, e dificultar a percepção da ilusão de ambos os estados. Tanto o sonho noturno quanto o sonho em vigília são irreais. A alternância entre estes dois estados em várias vezes durante uma mesma noite pode ser entendida como o empenho do ego em demonstrar que somente podes acordar de um sonho para cair em outro.
               Isso não é assim. A ocorrência da insônia pode ser curada meramente entregando o teu sono em confiança ao Espírito Santo. Como se faz isso? É muito simples: quando fores dormir, lembre com amor de uma situação na qual o dia “te forneceu” amor. Isto fará com que te lembres de ti mesmo amável. Tenta lembrar-se de como és amável. Busca, depois, livrar-se da imagem que suscitou tal pensamento, e te entrega unicamente à sensação. Isto fornecerá para ti uma compreensão do corpo como um instrumento de aprendizado para o amor. Não é uma libertação, pois as sensações são percepções; mas é um empenho em direção à cura do corpo como autômato em jogo de sonhos. Ao chegar a este estado, que já sabes como experimentar, pede ao Espírito Santo que vele pelo teu sono, enquanto ainda dormes. Ele compreenderá isso como tua disponibilidade, e não falhará em admitir para si um indulto para conciliar o sono noturno com teu empenho em despertar.
               Na verdade, “dormir direito” é uma expressão contraditória, pois ninguém pode verdadeiramente dormir. Apenas o sonho em “dormir” assume para o sonhador a possibilidade de encontrar no sonho noturno um oposto à vida real. Tudo lá pode ser obliterado, variado, ressignificado enfim, qualquer empenho em gerar salvação através de um oposto pelo mesmo, causa uma diferenciação neste “mesmo” fabricado. Explicando novamente: o sonho noturno não pode repetir a vigília, assim como as imagens da fantasia não antecipam o evento fantasiado. Sonhar é reproduzir fantasias, e fantasiar é sonhar reproduções.
               Se não consegues dormir direito, és agora alguém que pode definir a si mesmo como “aquele que não consegue dormir direito”, e isso é uma limitação. Tampouco podes definir teu sono sem definir a ti mesmo em auto-julgamento. Como farás então a diferenciação? Apenas encontrando o meio termo entre o que é dormir e o que é realmente descanso. O descanso real está em dormir sossegadamente, não em matérias de impulso ao sono do sono. Dormir bem é apenas dormir, e nada mais. Se quiseres não te inquietar à noite, procura devotar teu dia aos encontros santos e aos instantes santos. Na medida em que aprenderes a ter apenas isso, teu sono noturno será também um sono santificado. 

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terça-feira, 12 de março de 2013

O medo de Deus


             

             O medo de Deus é realmente uma definição totalmente clara quanto ao que te atrasa em relação à salvação. Acreditas que o atraso está nas formas. Pois bem, qualquer ídolo pode te atrasar, e para isso todas as formas podem aderir julgamento impróprio. A única certeza sobre o que é o teu irmão é dada a ti pela interpretação do Espírito Santo. Tu acreditas que podes fazer uma interpretação tua. Mas já entendestes sobre o teu julgamento em favor do sucesso e do fracasso em termos de sua relatividade.
               O amor não é uma propriedade atributiva aos corpos ou às imagens. Já dissemos várias vezes que não é o corpo do teu irmão que é amado por ti. Segundo a perspectiva doente, o amor é doença. A única verdade sobre o amor na separação surge então da construção de um amor especial, feito aqui mesmo, e por ti, para assim te defenderes do amor real. Daqui podemos recair em toda a nossa discussão anterior sobre a defesa.
                  A única maneira de abandonar o medo de Deus é lembrar-se de Cristo. Isto pode ser muito facilitado pelo perdão e acelerado através do instante santo. Não pense que o Espirito Santo desistiria de ti por conta de um equívoco teu. Mas os equívocos dirigidos são atrasos espontâneos, e Ele precisa esperar por tua disponibilidade. Não temas o futuro, pois ele ainda não veio em tua mente, e o que já aconteceu não pode ser mudado. O empenho em favor disto é inútil. O livre arbítrio pode ser direcionado? É claro que podes te atrasar, se queres saber a resposta. Mas a direção de tua real Vontade é inequívoca, não pode ser alterada pelo atraso. O livre arbítrio é real, pois tudo o que vem de Deus é real.
               Não gostarias de encontrar com tua real vontade? Pois o empenho em direção a isto não pode ser desperdiçado. Enquanto acreditas que estás fazendo feio, talvez estejas em direção do espírito, se isto estiver associado à real alegria. Tens que ter novamente cuidado aqui, pois teu ego gostaria que tu acreditasses que ele pode prover a alegria. No entanto, a alegria do ego é solitária e inadequada ao compartilhamento. Seu resultado óbvio é o isolamento e a alienação, precisamente em te acreditares portador de algumas certezas.
               A alegria do ego virá, portanto, em termos de certeza. A necessidade de isolamento em certeza trará uma alegria solipsista, geralmente cruel, ácida e irônica. É isso o que queres como simulacro da alegria verdadeira? Claro que não! No entanto, o medo de Deus provoca como resultado em oposto a alegria inversa, ou a vontade dedicada aos contrários. Isto não pode jamais ocorrer, pois o Espírito Santo já recebeu de ti a disponibilidade necessária para o início do processo do desfazer de tua insanidade. Não percebes isto ainda, mas lembrastes que És como Deus Te criou.
               Agora precisamos trazer isto à tua consciência. O medo de Deus ainda acontece para ti porque crês que trarás ao teu universo mental a revelação através de teus próprios métodos. Isso não pode ocorrer assim. Terás que disponibilizar-te ao Espírito Santo em amor e continuidade. Assim, poderás afrouxar as rédeas de tua direção equivocada e aceder ao que é real. Parecerá mesmo que estás “perdendo” muitas coisas, pois o que virá será uma diferenciação que, simbolicamente, traduzirá uma mudança na perspectiva das coisas que chamas de tuas, ou das ideias que te destes. No entanto, nada deixará de ser gentil, pois és amado com a qualidade do mesmo em teu irmão, conforme aprendes a perdoar. Este mundo retornará para ti a tua gentileza, e não será em suas formas que terás prazer ou premiação.
              Deus, quando é lembrado, acontece como uma diferenciação entre o que é verdadeiro e o que é falso. É algo bastante simples, mas para uma mente devastada parecerá o “novo”. Obviamente, não é nada novo, apenas uma redescoberta. Lembrarás disto, mas mesmo assim ficarás contente, pois perceberás no amor de Deus a tua libertação, e a libertação para quem decidiu voluntariamente pela servidão parece uma coisa nova. No entanto, o filho de Deus nunca foi escravizado, apenas não se lembra disto em suas imagens de terror formato mundo.
               Deus não se aproxima de ti, pois a distância para Ele é um conceito destituído de significado. Deus não está para ti assim como uma ferramenta de dispersão está para o ego. Deus És Tu, pois Tu estás Nele. Uma coisa unificada a outra são da mesma natureza.  Em breve falarás de Deus sem pudor, e sem mecanicismo. Fica contente, pois o amor veio para te buscar. Saúda-o com alegria, Criança de Deus!
               Lembra, portanto, que sempre que tens raiva de teu irmão, estás a ocultar de ti mesmo duas coisas: o medo de ver a Cristo nele, e a tua indisponibilidade para o perdão. Não há exceções a isto. A raiva indica que o medo se apoderou de ti como um conselheiro acerca do julgamento merecido pelo teu irmão. E o medo não aparece, pois ele fica “justificado” pela raiva. Obviamente, o perdão será imerecido. E se tiveres que dar perdão, será então o perdão-para-destruir, que suja para depois lavar.
               Não faz sentido ter raiva de teu irmão. Ele jamais te fez nada e nem pode fazê-lo. Ele é teu igual, o mesmo, sendo que a raiva que vês nele é a raiva de ti mesmo, projetada. Ele não pode te interferir, pois ele não alcança a tua vida separada. Isto já deveria estar claro para ti agora, pois já vimos que a unidade em ego é impossível. E se parece que ele te fez alguma coisa, isso não deve ser julgado ou associado à raiva. A ausência de raiva fortalece a presença do perdão, que desmascara o medo e o desfaz, através do amor.
               O medo do amor é um corolário do medo de Deus. Temes ao que o teu amor em irmão quer te entregar em formato lírios. Acreditas que terás que devolver para ele o mesmo, e isto tem que ser verdadeiro! No entanto, o teu ego dirá que dar “o mesmo” é impossível, pois para ele o medo impera como uma realidade; atestada em teu investimento na defesa. A escassez surge para te provar que és miserável, e o ego tenta “voltar ao controle” para tentar dirimir tuas dúvidas quanto ao que és.
               O ego não sabe o que és. Tu sabes, mas não lembras. Para lembrar, saiba que tudo aqui está de “cabeça para baixo”, como diz o UCEM. É bem possível que te lembres de Deus sem temor, se fizeres como diz a Bíblia: “De tudo o que se tem ouvido, o fim é: Teme a Deus, e guarda os seus mandamentos; porque isto é o dever de todo o homem (Eclesiastes 12:13).” Pois o temor a Deus, em mundo de cabeça para baixo, é um conceito em símbolo de tua necessidade de amor, que pode chegar para ti como algo terrível, como se Deus fosse algo terrível, e é por isto que também é dito na Bíblia: “assim, meus amados, como sempre vocês obedeceram, não apenas na minha presença, porém muito mais agora na minha ausência, ponham em ação a salvação de vocês com temor e tremor (Filipenses 2:12).”  
O terror e tremor que aqui se comenta equivale a esta passagem do Curso: “No entanto, Deus pode levar-te ate lá [além das imagens], se estiveres disposto a seguir o Espírito Santo através de aparente terror, confiando em que Ele não te abandonará e não te deixará lá (T-18. IX. 3:6).” Deus não quer aproximar seu filho do medo, mas seu filho pode sonhar que O teme, e a salvação precisará que tu venhas a Deus, mesmo com medo, pois o Espírito Santo não te abandonará, e ele será gentil em te fazer ver que o terror e tremor são infundados, e que tudo o que tu realmente queres te será dado em Deus.
Portanto, não há justificativa para a raiva de teu irmão por medo de Cristo, nem para o medo de Deus em crise de escassez. Tudo é teu, não há diferenciações no mundo real. Esperamos pelo teu empenho santo hoje e sempre. O Espírito Santo está contigo para te envolver em amor e fazer-te ver que nada falta ao filho de Deus, e que seu investimento em escassez não teve realmente nenhum efeito.
Pai, viemos aqui sem medo ao lembrar que És amoroso, que estás em nosso favor, e que tudo o que precisamos nos é dado em Ti, meu Pai. Pedimos Tua intervenção em nós, para que o Amor seja restaurado em Sua plenitude em nossa memória, e para isso aceitamos o medo até percebermos sua ilusão em formas, para a plenitude do amor de volta, e para que nosso empenho seja dirigido em favor de Tua Vontade, conforme por Ela esperamos, e em amor Te pedimos, amém.

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O medo de Cristo




               Ver ao teu irmão como o mesmo não significa que ele vá pensar como você. Ora, apenas na separação parecem existir ferramentas como a linguagem e a personalidade. Somente se todas as personalidades fossem iguais, teríamos a unidade do ego. Logo vês que isso é irrealizável. Também, no mito da Torre de Babel, está localizado o limite da linguagem como elemento unitário, pois o que teu irmão pensa através de palavras ou imagens separadas está bem distante da coincidência em termos daquilo que pensas de modo semelhante a ele.

               O medo marca estas diferenças. Obviamente, se teu irmão pensa diferente de ti, ele constrói um universo diferente, o que pode certamente estragar teus planos. Na separação, a única maneira de fazer com que o teu irmão se torne igual a ti é dominá-lo. Ou, através de muita humildade falseada, deixá-lo dominar-te. A contraparte dominante/dominada será o objeto de um relacionamento especial. E o lastro disto tudo será, obviamente, o medo.

               Claro que é o medo! Se afrouxares tuas cordas um pouquinho que seja, se deixares cair tuas defesas, pode ser que a “construção” de teu irmão prevaleça; ou se fores pior do que ele neste jogo insano, pode ser que ele seja prevalecido por ti, enquanto te “fazes de burro”. Não é dito nos suplementos em termos de irônica observação sobre o “quanto és bom?” Não se diz na Canção da Oração que recebes ofensas e respondes com sorriso, silêncio e complacência? A mímica do amor não chega perto sequer da mecânica do instante santo. Perdes tempo demais se queres apenas relacionamentos especiais, para cumprir contigo associações, grupos, conluios, camaradas envolvidos no medo de encontrarem a si mesmos “no mesmo”.

               O medo de teu irmão não pode ocorrer verdadeiramente. O que fazes é jogar o jogo da separação em “verdades separadas”. Se todo o mundo tem razão, não há razão alguma. Em um mundo de opostos, a unanimidade não ocorre, a não ser em oposição à abstenção. Quando todos são a favor, são contra ser contra. Não existe salvação no enleio do mundo. Por isso se diz no UCEM que “uma pergunta dupla pergunta e responde, ambas atestando a mesma coisa em formas diferentes. O mundo não coloca senão uma questão. Ela é a seguinte: “Dessas ilusões, qual é verdadeira? Quais delas estabelecem a paz e oferecem alegria? E quais podem trazer um modo de escapar de toda a dor da qual é feito esse mundo? (T-27. IV. 4:3-5).” A unanimidade escolhe alguma coisa em maioria separada, pois a unanimidade somente pode ser unânime em grupos. Nada é consenso no mundo da separação, pois aqui não é possível a unidade.

               Tens medo de ti mesmo. Apenas isso. Temes encontrar contigo mesmo em teu irmão, pois acreditas que ele representaria o teu “auto-ódio” e traria para ti a morte lenta que tramas em segredo. Obviamente, e mais uma vez, não és tu quem tramas o teu assassínio, mas teu ego, enquanto dormes. Mas dormes e sonhas; e o teu sonho em André Sena como corpo está parecendo muito doloroso para não questionares a valia dele como real.

               O medo surge de uma oposição. Se és inocente, precisa existir um culpado. Se és feliz, precisa haver tristeza no mundo. Percebes como é óbvio? Isso também implica em dizer que as “boas ações” não são mesmo garantias, pois seu oposto será chamado para concretizar a diferença em níveis. Como o milagre poderá surgir em um contexto no qual te encontras feliz em oposição à tristeza, ou curado em oposição à doença? Obviamente, o tempo se encarregará em cumprir teus enganos, pois a mutação é regra para o pensamento em opostos, e de tanto te acostumares com a mudança, em breve não confiarás mais na alegria, no amor, na temperança, pois acreditarás que tudo isto surge diante de um contexto que recua frente aos opostos. E faz muito tempo que experimentas o mundo desta maneira. Não será já uma prova de que o cenário não muda?

               A única mudança verdadeira vem através da única mudança possível. Ela também precisa vir passo-a-passo, pois não lembras como a tua mente funciona em sua forma original, e precisas entender o que ocorre contigo. Para isso, tens que vir em raciocínio, mas baseado na Razão, que não vê o erro dos conluios dos opostos. A unidade te será apresentada assim que quiseres ver de forma diferente. O diferente, neste caso, é o oposto do mesmo, pois apenas assim o mesmo e o diferente podem ser discriminados para que tu faças a escolha.

               Ver ao teu irmão como o mesmo é dizer que a revelação dele como o Cristo é verdadeira para ti. Não temes a teu irmão, nem ao nome dele, o cargo que ocupa, enfim, não temes o mito que ele representa. Temes ausentar-te completamente de defesas e veres nele o Cristo, pelo que verás o Mesmo, e serás imediatamente desvanecido, pois verás um evento em plena unidade, resgatado dos opostos. Isso pode ocorrer a qualquer momento, com qualquer um, e a confiança em teu irmão como o mesmo pode abranger a tua observação de um mundo sem diferenças em todos aqueles que te parecem corpos separados. Quando vires a Cristo em teu irmão, verás a confiança surgir em ti restaurada. Pouco a pouco, aprenderás a perdoar não apenas este que vistes em unidade, mas a todos, estendendo a cura em teus irmãos, participando com eles do retorno a Casa.

               Mas para isso não podes temer teu irmão, ou a “superfície” dele. Aquilo que vês no teu irmão é uma superfície. Podemos até dizer que é como uma casca, uma bem máscara inteira, nomeada “corpo”. A este corpo constróis uma história, e adicionado a ele surge o mito de cada um, pois cada pessoa que vês te parece restrita a um corpo, nome e mito. Mas lembra da característica inerente dos mitos que aprendeste em nosso currículo: cada mito tem personagens bons e maus. Teu irmão hora é bom, hora é mau. Para isso acontecer, foi criado neste mundo separado o julgamento.

               O julgamento que dás ao mito de teu irmão é a historinha da carochinha do que ele é. No UCEM isto é chamado de travesti de Deus : “Fica contente por teres escapado à caricatura de salvação que o ego te ofereceu e não olhes para trás com saudade do travesti grotesco que ele fez dos teus relacionamentos (T.16. VI. 10:1)”. O julgamento bem traveste teu irmão em um mito. Ele adiciona ao que ele é o teu julgamento sobre ele. Isso não faz de ti um grande mago? Um deus? Mas não é isso que queres. E não penses que o mito que o teu irmão representa para ti é o mesmo para outro irmão que também se crê separado. Pois na verdade cada um que se crê separado também se crê um mago, um deus; e é por isso que não podes ver unidade de opiniões sobre uma mesma pessoa entre aqueles que ainda dormem.

               Não é para isso que queremos olhar agora. Vejamos, portanto, como escapar ao medo que acreditas ter de teus irmãos.

               Se teu irmão não é um mito, o que ele é, então? Certamente, acreditas que não temes a santidade nele. No entanto, é justamente isto o que temes, pois a revelação da santidade de teu irmão como o mesmo, ou a Face de Cristo nele, demonstraria a tua impotência em seres deus, em julgar. Mostraria que todas as tuas construções são falhas, pois se opõem umas as outras. Imediatamente, Deus traria o Seu Julgamento para ocupar o lugar que deixaste vago, caso queiras olhar para um irmão — basta um! — com fé perfeita em que ali não existe um corpo limitando-o; sequer um mito ambulante. Ali estás tu, o mesmo, em unidade perfeita, e eis aqui: é isso o que temes tanto em teus irmãos!

               A sensação de isolamento nos altamente temerosos é premente, e pode ser auxiliada com fervor pelo Espírito Santo em direção ao livramento. Dizem que certa vez Jesus disse a Helen - a professora que transcreveu o Curso - que a única coisa a se fazer em um deserto é fugir. Não queres ficar por aqui, pois este mundo em opostos não pode ser estabilizado. O mutável não pode ser estável. Tudo o que é direcionado em favor do amor como um oposto ao medo — os amados, os parentes, os amigos — são o oposto em mito, no tempo, do medo que tens em perdê-los — os traidores, os rejeitadores, os inimigos — e isso não vai ter fim, pois o mundo dos opostos existe através do raciocínio circular.

            A única mudança possível vem através da ausência de defesas, que é força verdadeira. A partir deste primeiro passo, podes ver ao teu irmão novamente como alguém que pode ser amável, pois o medo que tens de que ele te mate pode ser deixado para lá. A seguir, podes perceber o teu irmão em si, ainda que em formato mito, pois a mente certa é o teu apoio na separação em direção à revelação. Ele não vai te matar. Ele quer estar perto de ti. E se ele mesmo estiver em medo, tu não ativas o teu medo em resposta, mas vês o pedido de ajuda, e amas ao teu irmão, pois também já passastes por isso, quando crias na mudança e nos mitos. Agora podes ajudar ao teu irmão, o mesmo, e recebes ajuda. Por isso se diz que é dando que se recebe, pois dás ao mesmo. Quando Jesus disse “o que fazes ao mais pobre dos meus irmãos fazes a mim” Ele quis dizer isso: fazes ao teu irmão o que fazes a ti mesmo. Tu não o vês em pobreza de mito, nem em escassez, mas vês o teu irmão como ele é — o mesmo.

                     Lembra-te do caráter abstrato das imagens. Ama ao teu semelhante, pois é isso que ele é. Esquece o que ele te fez, pois em um mundo de mutações é possível “fazer”. Mas se queres ver um mundo em criação, precisas mais que urgentemente abolir tuas defesas. Os próximos passos te serão explicados a seguir. Por enquanto, pratica isso.

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segunda-feira, 11 de março de 2013

As duas metades


           

             Somente é possível perceberes a ti, neste mundo de opostos, como íntegro ou dividido. No entanto, apenas um destes estados corresponde à tua mente certa. Assim, aquele que te parece “o outro” também será, de acordo com o modo como o vês, dividido; e o encontro entre duas pessoas, diante da perspectiva da separação, é um arranjo que pode ou não “dar certo”.

               A metade de ti mesmo que apresenta sanidade está aparentada em teus irmãos santos. Se não queres vê-los santificados, como poderiam cumprir como espelhos de tua sanidade? Deus não te deixaria enxergar a ti mesmo como insano, pois isso seria a “prova” de tua insanidade. Por isso é dito no UCEM que o Espírito Santo representa a outra metade de tua mente que é negada, enquanto ocupas parte dela com o teu ego.

               A cisão surge em projeção como um conluio de corpos. Diversas pessoas são dispostas como outras metades de ti mesmo, mas em cisão. Portanto, são as cópias de tua mente errada, e não são de maneira alguma confiáveis. Segundo teu julgamento insano, o medo das pessoas é segurança, pois te provem o recuo necessário para que possas “pensar” tuas relações. O medo é garantia de que jamais metade de ti será corrompida novamente, pois antes de tua separação, a unidade da mente era certa, mas veja quantos ladrões há agora no mundo! Cada irmão roubou de ti metade que era para ser tua! Eles são ladrões! Precisas mesmo te defender!

               Agora, não podes falhar em teu pensamento. O raciocínio é a única saída. E enquanto pensas, pensas, pensas, o Espírito Santo observa calmamente, te chamando em cada oportunidade dada, que jamais é desperdiçada, para que vejas teus irmãos de novo como eles são: metades de ti mesmo, devolvidas a ti pelo mesmo, sendo sempre o mesmo, pois a metade de dois em um é Um.

               Os instantes santos provem o recurso necessário para desenvolver a confiança em tua metade remanescente. Queres entregar o que sobrou ao Espírito Santo para que Ele possa te ajudar e entregar-te a cura? Ele não se contem em ansiedade para fazê-lo! Ele te ama, e ele olha para teus irmãos nos entreolhos deles, pelo que te ensinou a veres o duplo, a área em torno dos olhos que é sempre limpa; e é para lá que olhas em metáfora de corpo quando vicejas confiança. Mas não é no corpo de teu irmão que está a metade de ti mesmo que foi “lançada fora”. Esta metade está em ti, recuperada pelo Espírito Santo quando disponibilizas a tua fé verdadeira em mim. O teu irmão não é uma criação impossível. O teu irmão — metade dele nunca existiu. Assim como metade de tua mente está ocupada demais com raciocínios. Mas vejas, aqui, como tudo pode ser santificado, bastando a disponibilidade! Achas mesmo que isso pode ocorrer apenas em literatura? Achas que o Espírito Santo, Que fala para ti por Deus, pode ser limitado? Ele, que te cura e particiona as metades em quartos santos, pelo qual podes ver que metade da metade “já foi” restaurada? Em quantas partes pretendes dividir a ti mesmo até encontrar a devastação?

               A devastação é impossível, pois o Espírito Santo representa a certeza, e a certeza não pode ser abolida, mesmo no mundo dos opostos, pois a certeza é o oposto da incerteza. Um mundo incerto pode ser consertado pela certeza. É assim que age o Espírito Santo, reencontrando em ti a certeza. No entanto, não existem mil metades de ti mesmo. Existe a mente certa e a mente errada. Os papéis aos quais tais cisões aderem podem ser variados, e a isto as pluralidades de personalidades no mundo servem bem ao papel de irmãos em diferenças. Metades são diferentes, pois são porções, não são íntegras. É para isso que serve o mundo e seus muitos e diferentes plurais. Os arroubos de unidade que o mundo prega como justiça são enleios de forma. Sabes muito bem que a justiça não olha para o erro!

               Agora é para se ver bem: metade que foi promulgada como santa, mas através de teus pressupostos descritivos, são apenas julgamentos. O relacionamento especial é isso: metade em amor, metade em ódio. Como poderá se estabilizar algo assim? Não adianta tentar! Precisas de algo novo, uma nova forma de pensar, não podes mais alcançar o perdão através do raciocínio, mas teu raciocínio perdoado pode e será muito útil, como diz o UCEM: verdadeiramente útil.

               Vamos compreender agora como duas metades surgiram em tua mente. Já compreendes que em um mundo de opostos, tudo é particionado em dois. Até mesmo Deus é irado ou bom, segundo a definição que se dá de Deus por lá. Então, a mente precisava estar restaurada (em Espírito Santo) e separada (ego). A parte de tua mente que pensa estar separada é aquela que crê que a unidade da mente é impossível. No entanto, a unidade da mente é a salvação. Metade de tua mente acredita em separação, e metade não pode crer, embora veja a separação e não acredite nela. Esta metade que não crê na separação és tu mesmo, mas a outra metade remanescente precisa de ajuda, pois ela foi “negada”, e precisou construir a si mesma, e o mundo veio a “parecer existir”, e outras pessoas são seus plurais em diferenças, pois ela precisa, para crer que não existe, ser de alguma forma atacada. A divisão da mente em vários corpos foi o “plano” no qual isso pareceu acontecer.

               Realmente, é preciso que se entenda que o universo físico não existe. A mente Una existe, e apenas Isto existe. A separação foi a tentativa inútil de criar duas mentes unas, cuja contradição já se dá na própria terminologia. Por isso surgiram todos os temas da queda, da grande guerra etc. Na verdade, o que houve foi um sonhar maluco, do qual estás despertando.

               Não estás perdido! Ora, tu vês quase a coisa toda, e queres o quê? A prova? Pois a prova te será dada, se pedires honestamente. Mas não será uma prova em absoluto, pois é apenas “o mesmo” revelado. A revelação da mesma coisa não pode ser exatamente uma revelação, pois é a mesma coisa, não é? Portanto, lembrar-te-ás de Deus e de tua Unidade Nele.  E se tu mesmo estarás unificado, restaurado, íntegro, não poderás ver novamente “outra metade”. Isso será para ti a revelação de Quem São os Teus Irmãos. E quanto adorarás a Deus e serás grato pelos teus irmãos! E como trarás contigo o teu tanto, em Si, pela lembrança real na memoria deles de Quem São.

               Não percamos tempo, então! Lembra que com uma metade só não é possível restaurar, mas o Espírito Santo te lembra de Ti Mesmo para Ti. Para teres confiança, abra mão da defesa. Esse primeiro passo é importante, pois pode fazer com que a confiança se fortaleça, pois não verás o ataque que crês, mas verás a gratidão de teu irmão pelo que fazes por “vocês dois”. Não o julgues, não podes julgá-lo! O que terás que fazer te será dito, não precisas de raciocínio construído, pois a Razão te apoia nisto.

               Tem fé no teu irmão. É impossível que metade de ti não cumpra a restauração. O esquecimento é um fenômeno temporário, pois pertence ao tempo. A memoria do que é sempre ainda está disponível. A salvação não azedará o mundo, muito pelo contrário! Verás o teu irmão bater à tua porta ainda hoje, se assim quiseres. E com ele e o teu tanto verás o Único Deus restaurado em Tua Mente como certa. E não terás medo de ti mesmo em teus irmãos, pois serão um em Sua Mente, pelo que serão felizes e gratos, esquecidos de empenhos degenerados, e rememorados da Glória de Deus Nele Mesmo. Assim seja, para breve.

               Pai Nosso, estás conosco em Ti, pela memoria de Ti que não olvidamos, não podemos olvidar, pois nossas metades não existem. Pedimos Teu Chamado, Pai; para vermos nossos irmãos como são, para que possamos chamá-los também até à lembrança de Quem Somos em Ti. Nosso empenho é o Teu, Pai. E por isso pedimos a restauração de nossa mente íntegra, segundo a Vontade de Tua graça, em paz pedimos e chamamos por Ti, Meu Pai, amém.

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domingo, 10 de março de 2013

A cura da separação




                A vontade dirigida fortemente em favor de empenhos separados pode certamente fornecer as características associativas da separação. A doença a que chamamos “separação” não é em si mesma uma doença, mas uma fornecedora do “lugar” no qual as doenças podem acontecer. O medo da separação é infundado, mas é factível que a doença em decorrência da separação seja claramente perceptível neste contexto como sofrimento.
                A grande premência do sentimento de isolamento é um óbvio efeito do investimento errado. Vejamos: se investes na separação como teu esteio, o teu sentimento de si mesmo será o de um separado. Parecerá que estás destacado de tudo, mas que isto vem pelo custo de alto empenho em independência. Teu ego não deixará de fornecer os elementos aos quais devotas tua idolatria e apresentas como empenhos aos quais merecem tua “dedicação”. Assim, a morte surge como um evento separado, que cortará de vez a tua vida de todas as outras vidas, pois esse é o ápice da separação.
                No entanto, enquanto não surge a meta principal, as meta secundárias em direção a este terrível sonho advogam que a separação não ocorreu, por isso são precisos arranjos entre ti e o mundo para que possas transitar nele; separado, mas pertencente à sua roda. Tu és um dos habitantes do mundo, tens o direito de estar aqui, mas neste “aqui” os corpos e os diferentes objetos devotam para ti a prova de que a separação ocorreu em um contexto no qual teu empenho falhou, e precisas agora defender-te, sob pena de receberes o ataque, que virá nas formas de falta: de amor, de dinheiro, de companhia, de pessoas para conversar etc. Em outros termos mais simples, é a crença na escassez.
                Obviamente, parece que não vale a pena deixar isso para trás, pois o medo surge agora como o elemento “protetor” da separação. O separado crê que entrou em uma bolha, mas que pode conviver com outras bolhas e com as “coisas bolhas”, sem jamais tocar em nenhuma delas, e totalmente à parte de tudo o que percebe como sendo externo a si. Essa sensação, que é fortemente defendida pelo medo, pois o que poderia ocorrer caso todas as bolhas estourassem?[1] Ele seria totalmente dissolvido e “perderia” sua identidade. Ele precisa muito temer as “outras coisas” ou os “outros”, pois em caso de contato, ele pode ser dissolvido, eliminado, totalmente destruído pelo que é externo a si, e agora que surge, como cavaleira da insanidade, a batedora oficial da separação, a tão insanamente protegida “culpa”.
                A culpa surge como a faca que aponta para teu peito a ameaça: “tu estás errado quanto ao que és”. Obviamente, isto — e apenas isto — está correto segundo a perspectiva da culpa. No entanto, enquanto o Espírito Santo diz que o erro nunca existiu, que és amado e que basta apenas mudares a perspectiva para veres a cura, a culpa, por outro lado, dita que a cura não existe, que  morte é a única certeza deste mundo, e que irás para o túmulo mais rápido se tentares te aproximar demais. Ela continua com a faca apontada, uma faca de espuma, mas te hipnotiza em argumentos aos quais devotas teus empenhos dizendo: mas a morte será que é meu fim, o que posso fazer para escapar? E da culpa, do medo e da morte surge o ego, que te diz o que queres ouvir para estar separado, mas em defesa contra a separação.
                Isso é possível? Será que estarás seguro se defendendo a favor do que queres escapar? Ele gostaria que visses em tudo a faca, apontada de volta para ti, pronta para estourar a tua bolha e te colocar indefeso frente a frente com o inimigo. Sem tuas defesas, serias trucidado pela separação, e o teu irmão poderia finalmente completar sua vingança, tramada em meneios escondidos, aos quais não tens acesso, mas que visam te jogar sempre no túmulo, pois a tua morte não tem final sem que o tempo possa dizer: “agora, uma coisa virá atrás da outra”, e por fora das bolhas surgem as horas, os minutos, o passado e o futuro, e se estiveres disposto a perceber a insanidade em tudo isso, o perigo aumenta, e teu ego tentará, de todas as maneiras possíveis, te retrair para “dentro”, sendo este tal “dentro” uma marcação em perspectiva, localizada com o centro em teu umbigo, sendo o corpo o grande troféu pelo qual, em certeza de defesa, podes agora respirar aliviado, pois finalmente esta faca está longe, longe; encostada em alguma outra coisa — teu corpo —mas não pode te atingir jamais.
                Agora, a separação é real. E podes ouvir o professor que fizestes, para provar que a culpa, o medo e a morte são reais. A sensação de opressão vem como um prêmio, pois podes dizer: “realmente é assustador!” Agora minha pergunta é: para quê isso? Qual é o propósito? Querias experimentar a dor, o medo e o ataque? Pois bem: não tivestes já muito mais do que o suficiente? Eu vim para te buscar. Nas queres te deixar ir desse sonho? Em verdade, não vais embora de lugar nenhum. Pensa nisto: no universo, rondando em torno de mil milhões de planetas, está a terra, que é um micro ponto em meio a esta “imensidão”. Dentro deste micro ponto, estás tu, minúsculo em relação a ele, como um corpo, um nanoponto dentro de um ponto. No entanto, acreditas mesmo que, se apanhas aquela xícara no mercado, compra-a com as tais “tiras de papel”, podes dizer agora que um ponto é dono de outro pontinho? O sonho permite que o teu corpo seja o centro de todos os pontos, e o teu umbigo está mesmo bem no centro de uma rosa dos ventos, cujo o norte é a tua vontade e o universo inteiro para diante de ti, para fora, externo em pontos e mistérios, todos com uma faca apontando para ti. Realmente, para te defenderes disto, terias que ser um mago, e viver em mágica.
                A mágica chama de vida, e o mago chamas André Sena. Pronto, eis a loucura revelada em ponto. Obviamente, André Sena será o nome de um corpo neutro, restaurado, conforme seja tua vontade de estar em paz, sereno, claramente destacado da loucura em acreditar que uma construção pode tomar o lugar de Deus. De acordo com a insanidade, Deus seria Aquele Que fornece a faca à separação, e Jesus é o culpado por ter divulgado o cangaço celestial. Tudo isso é até para se rir, para compor piada. Não aconteceu nada, nada se separou na unidade, e já dissemos que a culpa é a produtora das imagens. Portanto, a culpa de Adão forneceu-lhe os meios para “existir fora do lugar bom”, o medo fez com que o lugar “fora” fosse real, pois ele pode matar, e o ataque virou a defesa necessária. Daí as guerras e os motes em favor de angariar pontos nesta vida como um grande fortalecedor do sujeito como portador de coisas. E se ele possui coisas —e “coisas” são todas as imagens — as coisas fazem dele o sujeito de todos os seus predicados construídos.
                O perdão restaura, o amor pacífica, a ausência de defesas liberta e a paz vem. Somente através da ausência de defesas poderás perceber que a tal faca é um brinquedo de espuma. Tolo demais para ser levado a sério, e por isso se diz no UCEM que é “despedido com uma risada”. A faca de espuma é temida pela crença em que ela possa ferir. Ela não pode ferir. O hipnotismo em anos que te é sussurrado como verdade foi capaz de te iludir, mas estás percebendo a ilusão, para quê continuarias então em busca de nada?
                Os símbolos de amor não te serão tomados. Por fora da bolha está tua verdade, e tu és amor, portanto, verás apenas isso. Para veres a faca de espuma, escuta a Teu Professor. Confia nele enquanto vês as imagens de amor que ele te demonstra como sendo Tua real Vontade. Não há erro em acreditar em amor como a única verdade, pois todo o temor surge do medo da faca de espumas e dos assassinatos que cometestes com ela. É para se rir! Será que matastes com uma faca de espuma? Então a culpa é para se ver apenas em tolice, e o que vier para ti em imagens podes ver apenas em amor, sem nenhum tipo de julgamento, pois o julgamento do nada é apenas o nada decalcado.
                Devota teu dia hoje ao amor. Parece realmente doloroso o empenho em ausentar completamente de defesa. É como uma criança caminhando para tomar um bom banho de mar em um dia de sol, temendo a água fria no caminho e os seres marítimos e o medo de morrer afogado. No entanto, no caminho um amigo amoroso lhe diz a verdade, que a praia é em Natal, que a água é quente, que não há nada a temer, que ele pode confiar no mar se ele mesmo souber agradecer ao mar em empenho de nadar em lugar de calma, e que o grande amor de todo o mar é dele, e eis o banho bom, sem medo algum, embora a um tempo atrás parecesse que era temível e terrível aquele evento que se reconhece agora no bom. Amém, amado. Empenha-te neste dia em amor. Ausência de defesas é cura da culpa. O que revelarás é o que és, e só pode ser amoroso. Não queres continuar como fantoche da culpa. Deus está a falar para ti através de Teu Professor. Escuta-o hoje, e ele te conduzirá com amor, mesmo diante de “aparente terror” no caminho do bom banho de Natal. Esperamos por ti em paz. Amém.


[1] A metáfora da bolha é de empréstimo a Marcos Morgado.

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