terça-feira, 30 de junho de 2020

A verdade é verdadeira e nada mais é verdadeiro.

Império das Luzes - René Magritte


A verdade é verdadeira e nada mais é verdadeiro. A determinação em despertar é um dispositivo prático de conduta. De conduta! Na madrugada de hoje tive um sonho tremendo, cheio de personagens e cenas mirabolantes. Acordei com um sentimento no corpo provocado pelo sonho. O sonho aconteceu dentro da minha cabeça, mas enquanto eu estava lá vivendo aquelas aventuras insanas, tudo parecia constituir um mundo, fora de mim, e eu era literalmente o sonhador daquele sonho.

As personagens sorriam para mim enquanto me traíam, e eu percebi que trouxe para dentro do sonho noturno o relacionamento especial. Eu não conseguia pensar assim durante o sonho, mas agora tomei uma determinação. Toda noite, antes de dormir, vou me concentrar para perceber que tudo aquilo que vier a experenciar no sonho noturno é tão somente fabricação minha, que eu estou “dentro da minha cabeça”, e vou despertar para um sonho lúcido. Vou perceber aquela realidade inventada como um Show de Truman dentro da minha própria mente. Depois, vou transladar esse mesmo propósito para o sonho de vigília, para a vida irreal a que chamamos vida, e vou despertar deste sonho. Eu quero ver. Acima de tudo eu quero ver. E vai funcionar! A verdade é verdadeira e nada mais é verdadeiro.


domingo, 28 de junho de 2020

Sobre os pesadelos e a realidade das imagens




Pergunta:
em relatos sobe EQM (Experiência de Quase Morte) geralmente há considerações do sujeito que passou pela experiência acerca da presença de níveis “baixos” ou "maus" de energia, vivenciados enquanto esteve além do corpo. Em qual medida há algum pressuposto de verdade nestes depoimentos, disposto que aceitamos que ilusões não podem condenar?

Aqui há uma dúvida sincera. Não existem níveis em milagres. Isso acontece porque não existem níveis de ilusões. Uma ilusão é uma ilusão e não há nada mais a se dizer sobre a sua natureza. Por que, então, existem tantos depoimentos que associam uma presença energética, ou superpondo uma consideração de “energia negativa” versus “energia positiva”, diante dos acontecimentos deste mundo, ou mesmo quando este mundo é observado desde uma perspectiva além-corpo? Isso é muito simples de se entender. O mundo como ilusão permite que coisas que não existam pareçam acontecer. A verdade é que nada está acontecendo de verdade, mas parece que sim. Neste sentido, há coisas feitas e coisas criadas. As coisas feitas são as tais baixas energias, simplesmente porque não são criativas e vibram em acordo com o ego, que não tem poder nenhum e tudo o que faz tem pouca luz. Por outro lado, há coisas que são criadas mesmo aqui, estas estão associadas à Filiação e à mente única, sendo, portanto, sustentadas pelo poder da Própria Criação. Estes eventos criam luz. Isso não significa sobremaneira que sejam reais. Apenas são símbolos da Criação, enquanto outras ilusões são símbolos da “feitura”. Não existindo níveis de ilusão, o único remédio para tudo passa a ser o perdão, quando não há critérios de julgamento, pois ninguém em sua sã consciência vai julgar algo que tenha acontecido durante o sonho noturno como um acontecimento real. É claro que pode ocorrer de um sonho noturno entregue ao Espírito Santo divulgar um motivo criativo mesmo aqui, mas quando isso acontece não temos dúvida sobre a realidade daquilo, pois o que é verdadeiro e criativo é verdadeiro e criativo em qualquer lugar. Agora, a pergunta que você tem que se fazer com verdadeira honestidade é esta: acredito que as imagens que geram tal “energia negativa” sejam ilusões?

O Livro Tibetano dos Mortos é um pequeno manual para ser lido ao moribundo na hora de seu desprendimento do corpo ou um pouco após o falecimento. Este ritual dura certo tempo; alguns dias, se não me engano. Não lembro com exatidão a extensão deste período agora, pois cito de memória e já faz um bom tempo desde que li este maravilho documento pela última vez. Nele é possível encontrar instruções a serem lidas com a intenção de orientar o morto ou, segundo nosso currículo, com a intenção orientar a consciência que acabou de abandonar seu instrumento de aprendizado e encontra-se agora em um ambiente que pode lhe ser totalmente esquecido e estranho. No Livro Tibetano dos Mortos, este ambiente no qual a consciência se vê logo após o encerramento do ciclo de seu instrumento de aprendizado é chamado “Bardo”.

Como estou citando de memória, não lembro exatamente tudo, mas sei que um dos critérios desta orientação ao “morto” é sussurrar-lhe à consciência, através de um ritual no qual orientações lhe são passadas, que tudo o que ele estiver presenciando no Bardo como imagens são ilusões, e que ele deve seguir em direção à luz, sem medo. Segundo o livro, neste momento várias imagens tremendas e associadas aos medos mais profundos do recém-transferido podem surgir, e é neste momento que lhe é citado que tudo o que vê como imagens macabras são ilusões. No entanto, há um segundo momento no qual imagens sagradas que foram associadas durante aquela vida como sendo mais celestiais serão apresentadas também à consciência do “morto”, como, por exemplo, a presença de santos e anjos em lugares incríveis e maravilhosos. O Livro Tibetano dos Mortos relata que esta fase do Bardo também deve ser tratada como ilusória pela consciência, embora ela traga a antessala da luz (perceba como isso parece com a noção de “mundo real” ou “mundo perdoado”, presente em nosso currículo. Segundo essa noção, antes do despertar veremos o “mundo perdoado”).  Acaso o medo surgir em qualquer uma dessas fases, é possível (segundo a crença do livro) que várias cenas de copulações surjam como imagens àquela consciência, um momento no qual ela pode se sentir atraída para aquelas imagens, para ser então absorvida por elas, ao que retornaria por meio deste caminho a encarnar em uma “nova vida”, através de alguma concepção. Salvo engano, a mente é advertida também pelo leitor do Livro Tibetano dos Mortos, como um último esforço simbólico, de que as imagens de copulação são igualmente ilusórias (posto que irão conduzi-lo novamente a um mundo de ilusão).

(De toda forma, e igualmente, se há níveis de ilusão que façam com que uma mente que aprendeu um pouco mais possa ver a copulação de extraterrestres, e então aportar em um planeta mais evoluído, e daí nascer por lá, isso não importa. Pois, de qualquer maneira, nascer em um corpo que precisa de matéria é ilusão e ponto final).

Portanto, imagens vistas em sonho são ilusórias e pertencem ao repertório fantasiado que aquela mente percorreu por aqui, enquanto acreditava habitar um corpo. Essas serão as imagens que fornecerão o escopo de sua experiência em sonhos noturnos, por exemplo. Durante a noite, imagens associadas ao seu modo de ser podem ser direcionadas a fazer com que o sujeito da experiência sinta “satisfação”. Por outro lado, acaso o sujeito da experiência esteja tão iludido de que está afastado de sua realidade e é um sofredor, imagens de terror poderão surgir diante daquilo que ele nomeia pesadelo.

Pergunta: a teoria junguiana diz que os sonhos podem ter efeitos compensatórios. Uma pessoa que sonha com extrema pobreza pode ter uma atitude consciente de esbanjamento. Isto faz algum sentido?

Em um mundo de opostos, o equilíbrio é uma tendência diante das eventualidades de uma característica própria de vai-e-vem (vicissitudes), ou seja, se há trânsito pelos opostos, uma hora este trânsito passará pelo meio-termo entre A e Z. A noção de compensação visa fazer com que o indivíduo possa ater ao seu pressuposto básico uma consideração sobre si mesmo mais apropriada ao que ele realmente é. Em outras palavras, pode ser um chamado à mente certa pela exposição demasiada à mente errada. A cura disto seria corretamente empreendida por alguém que olhasse para as imagens à sua frente e escolhesse questionar sua validade, sabendo que não são reais. Assim, ele perdoa, e pode mais facilmente considerar sua opção pelo oposto sofredor (mente errada) diante de uma nova alternativa (mente certa). Mas para isso é preciso que o sonhador noturno também seja considerado irreal, como é citado no Texto, ou ele vai acreditar que sonhos (noturnos) influenciam sonhos (de vigília), e isso não quer dizer nada verdadeiramente. São estratégias de adiamento do ego e não têm valor real para o despertar. Isso vale também para a noção de uma experiência de quase morte ou extra-corpórea. O mundo real é abstrato. 

domingo, 17 de maio de 2020

Carta aberta de um aprendiz feliz

Fé!



Muitas vezes eu gosto de apresentar ensinamentos sob a forma de curtas sentenças, colocadas em sequência, e com isto busco atingir uma maneira apropriada para fortalecer na mente do estudante o sistema de pensamento que aprecio e sigo. Acredito que esta seja uma característica importante para um professor honesto. Um professor deve ensinar bem o que aprende, mas deve acreditar naquilo que ensina para que ele mesmo possa aprender melhor, como diz o Livro Texto. Acho que algo parecido pode ser encontrado naquela famosa frase do magnifico escritor João Guimarães Rosa: “mestre não é quem ensina, mas quem, de repente, aprende”. Isso não significa, no entanto, que um professor seja perfeito naquilo que ensina ou aprende. O professor que acredita estar acima ou melhor que seus alunos está incorrendo em especialismo para consigo mesmo. De toda forma, o melhor método de ensino é o amor, mas o erro também pode convencer pelo contraste.

Assim, venho dar um relato pessoal diante do panorama que quero desenvolver para minha vida, que é este: ser um trabalhador em milagres em meu cotidiano e um professor de Deus diante do UCEM. Isso não significa que eu não vá cometer erro algum. Como bem diz o Livro Texto, isso apenas significa que não há nenhum deles que eu queira manter privadamente ou conduzindo minha vida para um efeito de culpabilidade, diante de um contexto paralisante.

Isso tampouco quer dizer que vou divulgar meus erros literalmente em um edital. Não se trata disto e não recomendo a ninguém que o faça, a não ser que queira, como disse outro mestre, o psicanalista Carl Jung, atrair para si a ruína moral. No entanto, não quero esconder meus erros mantendo-os sem entregá-los todos para a correção do Único que pode fazer a correção verdadeira de minha percepção equivocada. Em outras palavras, quero entregar tudo ao Espírito Santo para que Ele possa fazer o que é melhor para mim diante do fato cada vez mais claro de que eu nada sei.

E quanto mais percebo esse “não-saber”, mais feliz eu fico e melhor aprendiz me torno. É um paradoxo para o ego dizer que “não-saber” é “saber”, mas tal afirmação está sendo promulgada neste mundo desde os tempos de Sócrates e se consolida cada vez mais em tempos de despertar como uma consideração válida. Tal pressuposição não se perpetuaria por tanto tempo na história se fosse apenas um slogan. E por falar em slogan, gosto de falar que não sou muito favorável a slogans. Afirmações do tipo: “somos todos um”, “nossa mãe terra” ou “precisamos viver em harmonia” não passam de palavras vazias, se não houver repercussão em nossa vida prática.

Demorei para entender que o UCEM é a vida prática. O mais importante é viver os ensinamentos para que eles possam surtir efeito real, mesmo que para isso você tenha que parecer em alguns momentos um tipo desagradável e irritante. Crianças gritam quando lhe tiram uma tesoura que lhes poderia machucar ou quando lhe alertam sobre algum ponto de vista para o qual ainda não estão preparadas para perceber como saudável. Isso acontece comigo também, muitas vezes, por isso é preciso estar vigilante. De toda forma, e ainda diante disto, é importante se ater ao fato de que não sabemos de tudo. Portando, não nos cabe querer dar uma de herói e buscar regular o mundo. Eu sou uma criança também e não entendo nada, como diz a música de Erasmo. Mas já aprendi que cair de um precipício é muito ruim e que não dá para desistir no meio da queda. E não vai adiantar gritar slogans do tipo: “o amor me ama!”, para se salvar.

Meu ensino é duro porque minha vida foi marcada pela dureza. Lidei com isso convertendo este rigor em disciplina, pois tudo o que pude alcançar nesta vida me veio através do estudo. Assim, para mim, um bom estudante é aquele que estuda o conteúdo e não fica apenas preso a considerações intuitivas. Eu não sou perfeito neste tópico também; tampouco acredito que a intuição não tenha imenso valor e não é isso que estou querendo dizer, absolutamente! Mas se há um livro, um texto e um método, eu quero ler o texto para bem aprender o método.

E se eu aprender a ponto de professar, quero professar o método, diante de seu valor e sua consistência. O texto do UCEM é bastante consistente e eu não tenho como me ater a ele sem divulgar sua mensagem. Assim, tudo que faço acredito, e peço ao Espírito Santo que corrija minhas crenças quando estiverem equivocadas.

Finalmente, gostaria de terminar exaltando o valor do estudo para a consolidação do aprendizado. Acho que aprender é estar vivo, mas um apoio “teórico” cai muito bem. Algumas pessoas aprendem o conteúdo do UCEM muito facilmente e eu acredito que isso esteja ligado de alguma forma a uma questão do estabelecimento da crença pela abertura à fé. Existem outras, no entanto, que tem muita dificuldade e precisam de ajuda. Eu ajudo para que eu possa viver melhor e me ajudar também. Eu procuro fazer como faz aquele rio, que é o Milton Nascimento, quando diz: “eu tenho esses peixes e dou — de coração”. Não sou perfeito, mas sou perfeito como Deus me criou e é para lá que tenho que olhar junto com meus irmãos. Obrigado e bom final deste dia!