quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Sobre a imaginação



O aprendiz de Cristo, o homem que está em fase de elevar-se, que alcança a verdade de si mesmo, não acoberta seu pressuposto amoroso através de prerrogativas que são diretivas, ou mesmo simplificadas segundo ideias que não previnem a verdadeira associação. Uma “associação”, nos termos que está aqui escrito, é suficiente para que uma palavra dita em acordo com o seu propósito se estabeleça como um recurso de reconexão entre a verdadeira maneira de explorar o inconsciente, ou elevar a mente ao estado correto, que é o mesmo que dizer Céu.
Suponha que o veio que alcança tal estado seja completamente estável. Que os pensamentos que chegam até a mente do filho de Deus estão completamente associados ao que ele é na verdade. Assim, a mente certa seria a única expressão desta mente, e não haveria nenhum tipo de pensamento que alcançasse seu ideal de existir mediante uma construção.
Portanto, pensar deve ser um ato involuntário, não acrescido de opiniões, que são pensamentos meramente dissociados, atingindo apenas a superfície da mente do filho de Deus, deixando-o a mercê do que é falso. Se o pensamento falso se engalfinha ao que é superficial, o superficial pode ser julgado por este mesmo pensamento como importante. Então, um estratagema da mente é montado para configurar o “real”, e assim surgem as imagens e o mundo.
Por outro lado, o medo do Pensamento de Deus parece justificável, pois a associação não estaria presa a um círculo de criação “espontânea”. Dificilmente, o amor que o filho de Deus lembra pode ser “pensado”. Ele não compõe imagem, e a Sua linguagem não é passadiça, não definha com o tempo e não muda. Toda a linguagem do Reino é clara e simples, e não precisa de pensamentos para acontecer. Se o pensamento de Deus pudesse se exprimir em imagens, o próprio Céu precisaria ser construído como se fosse o mundo, em suas formas, e dividido em opostos, para que pudesse ser pensado ou imaginado.
A imaginação é sobrevalorizada por conta de seu potencial criativo, associando o que explora ao tesouro que chama de seu. Sua total inconsciência do verdadeiro Criador faz com que a imaginação alcance apenas o que lhe é dado pela mente que a evoca: imagens e histórias. Por mais que as atividades imaginativas sejam valiosas para o mundo, e em certo momento sejam mesmo construídas com laivos da mente certa, ainda assim a imaginação apenas abrange o que o mundo separado supõe como real, e sua fonte construtiva são as imagens da separação.
O Espírito Santo é a alternativa às criações equivocadas e aos apelos da imaginação com seus ditames secretos e mal ajambrados. Cada vez que o Pensamento de Deus se aproxima da mente voltada para os milagres, a imaginação passa a ser um efeito indesejável como elemento precursor. Nenhum ditame alienado do “momento este” será associado com uma imagem ou pensamento, e assim surge a verdadeira Imaginação, que supõe uma atmosfera elementar de efeitos plenamente observáveis em si, mas não formados necessariamente em imagens ou palavras. Esta Imaginação do Ser é o que sentes quando estás imerso em si mesmo, e o que imaginas em tal estado é a mais próxima associação com a sensação que podes alcançar para atestares para ti mesmo que existe algo além das imagens e ideias.
No entanto, não é uma sensação, nem parece com um peso, conforme gostarias de definir. É uma total capacidade de interagir com o inefável através de um estado que ainda não é iluminado. Assim, a imaginação verdadeira intui que algo além deste mundo existe verdadeiramente, e deves agradecer todas as vezes que este tipo de impulso ou “efeito” surge para te atestar isto. Não deves, no entanto, imaginar como será a Revelação, pois a imaginação é incapaz disto e apenas te fornecerá ideias que terão como infeliz resultado um composto de segmentação entre o que é o sujeito da experiência e a ideia da experiência em si mesma. A Revelação não pode ser imaginada, mas será facilmente reconhecida.
A imaginação pode criar mundos...imaginários
Ainda há algo a ser dito sobre a imaginação. Ela não é facilmente percebida como um elemento “falso”. Não que ela seja falsa em si, nem mesmo pode ser confundida com a fantasia, que é um mecanismo automático de relação entre o que não existe e uma suposição de utilidade ou valor. A imaginação procura dissociar através da fantasia. Já foi dito que a fantasia procurar alienar através da dissociação, na medida em que incrementa o seu elemento projetado como um valor. A fantasia é uma total dependência do sujeito que evoca imagens e um sonho de construir o que não é. A imaginação, no entanto, visa promover a fantasia a um estado ideal, ou criativo, e assim não precisa sequer do mundo para existir, pois basta que o sujeito se engalfinhe em sonhos para satisfazer a si mesmo e assim alcançar prazer e satisfação voluntária. Claro que tudo isso é insano, mas parece não o ser. A imaginação conduzida pelo Espírito Santo pode produzir totais diferenciações entre a fantasia e a realidade, deixando muito claro que a “realidade de imagens” que está sendo apresentada não existe. Uma foto da praia não bronzeia. No entanto, e possível imaginar-se bronzeando.
Assim, é possível imaginar-se iluminado, ou em algum Caminho. Certamente, estás no Caminho, pois todos se lembrarão de Deus no final. Isto é certo, pois já ocorreu.
Tenta lembrar o que é dito no Livro Texto: “todo pensamento cria forma em algum nível”. Assim, a imaginação é uma tentativa de criar, mas sua aposta em si mesma como fonte faz com que sua criação esteja voltada apenas ao elemento formal. A criação de associações entre o pensamento sujo e a lixeira nem sempre é uma relação higiênica. Pode muito bem estar associada ao acúmulo. E assim o mundo se torna fragmentado, e há tantas preocupações imaginárias associadas à salvação, como a reciclagem e a ecologia, por exemplo. Estas são causas sem nenhum efeito, pois embora pareçam lógicas, são circulares, pois estão distantes da Fonte da verdadeira criação.


Imaginada casa
Não há como se reciclar o que não pode ser. A imaginação não pode mudar nada, mas pode muito bem perturbar a mente do estudante, se ele assim permitir. A criação equivocada produz a percepção de um mundo equivocado. O mundo real vem do perdão total, sem suposições ou subterfúgios para ocorrer tal como é. Não se pode imaginar o perdão.
Há uma sensação de uma luta interior entre o que se quer fazer e o que é sua função no mundo. Geralmente, isto é experimentado como um conjunto de malefícios, ou coisas das quais o individuo gostaria de “se livrar”. Ele acredita que seu melhor empenho como favorável ao Plano de Deus seria alcançar uma perfeita correção de si mesmo, e assim passa a imaginar uma “mente certa” para si. O certo aqui será aquilo que sua imaginação febril associou do que percebeu no mundo com aquilo que gostaria de encaixar em sua expectativa imaginada. Pode-se fazer planos para daqui a dez anos, e se uma doença de fixação ativer a esse plano uma convicção, não poderás ser salvo do que queres. E o estudante sentirá uma forte sensação de premência, quando não uma coerção, no sentido de que precisa “conseguir”. A imaginação do despertar faz com que o estudante se creia compelido a iluminar-se. Consequentemente, a imaginação sugere fantasias de comportamento ou estados que favorecerão isto.   
A maneira de se livrar de tudo isso é lembrar que és como Deus te criou. Se és assim, o que tens que imaginar? O que precisarias imaginar? Queres melhorar o que Deus criou perfeito? Imaginações sobre ti mesmo só podem ser fantasias sobre ti mesmo. O Teu Ser está disponível agora para te associares a Ele na verdadeira associação, que é unitária. Tu e o Teu Ser são um só, não são imaginados, pois não estão apartados para poderem compor sujeitos e objetos.
Agradece a Deus pelo Seu plano perfeito para tua salvação, ao qual não precisas aderir nada. Não precisas agir nem mesmo alcançar nenhum estado. Não interessa para Deus os teus pecados, pois apenas a imaginação supõe que pecou. Lembra de Deus como um Pai totalmente amoroso, justo e favorável ao bem estar total do Seu Filho. Então lembra de ti mesmo como favorecido por não precisares imaginar o que tens que ser para Ser.
A Ti, meu Pai, pedimos que nos faça lembrar de Teu Amor misericordioso, Que não permitiu que teu filho imaginasse a si mesmo diferente. Pedimos a revelação do que é o mesmo e do que é diferente. Amamos-te como teus Filhos santos, e saudosos de Teu abraço, agradecemos por descansarmos em Ti. Amém.

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"Essa música não existe" 
André Abujamra




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domingo, 19 de agosto de 2012

Pequena crônica sobre o perdão.

Quando procurei no Google
uma ilustração sobre sincronicidade
para o texto, encontrei esta.
 
Certamente, os acasos do dia a dia que se fazem significativos o são apenas para quem os vivenciam. Mas esta história me pareceu tão estatisticamente improvável, que não poderia deixar de compartilhar:

Estava indo ao mercado com minha esposa e minha cunhada. Ao chegar para estacionar, vi que por ali, próximo às vagas, estava um homem que vendia acessórios para carros: protetor para o volante, capas para banco, friso para o limpador de parabrisas, essas coisas. Pasmo que o vi e soltei imediato para as duas mulheres: "pois acho que um cara assim, no meio de um estacionamento, parado vendendo essas bugingangas, deve estar assim para roubar, disfarçado." Ao que minha esposa já emendou em mostrar meu comentário na contra-mão, e eu mesmo parecia me desconhecer em dizer aquilo. Assim, senti-me em culpa e erro.


Mas não percebi exatamente como sair disto, e o homem, tão logo desci do meu carro, se aproximou e disse: "bom dia", ao que já respondi estranhamente, dizendo que bom dia, que precisava apenas trocar o limpador de parabrisas traseiro, mas que provavelmente ele não teria o modelo exato etc. Ele calmamente disse: "olha, a gente só troca a borrachinha da paleta. Custa dez reais." Então, como para refazer o mal feito e mal dito, resolvi deixar ele trocar o limpador de parabrisas.

Pois entrei no mercado, as mulheres demorando, voltei para pagar o homem, e assim se deu o que interessa:

- Já troquei, tá certinho!
- Pois aqui estão os dez reais!
- Não, moço. Faço questão. Primeiro, teste para ver se ficou bom.

Eu queria mais testar nada! Queria ir embora dali! O homem assim trabalhador e eu pensando mal nele, e sem nem saber perdoar a situação, eu me via muito em mal estar, aprendiz em perdoar, inferindo em inferir...

Então, testei o limpador, tudo muito bom, tudo certo...e foi quando o homem disse, mas disse como se não fosse exatamente ele quem estivesse a dizer, mas o E.S. Quem dissesse através dele, ou por ele, ou por mim, enquanto apontava para o vidro limpo e lavado:

- tá vendo moço: nenhuma mancha. Nenhuma manchinha...

Isso ele disse em um tom muito amoroso, exato, como quem canta. Então, percebi que estava salvo, que o homem estava salvo, que Algo via aquilo que ocorria pelo certo. Entreguei para ele a nota de dez. Ele agradeceu e saiu. Contudo, eu não me sentia exatamente bem....parecia que havia tocado no fundo de algum poço. Eu estava culpado, achando erro, e foi no se virar daquele homem que vi, estampado em sua camisa, entre aspas, na parte de trás, decerto a camiseta bíblica:

"- Eis que Deus renova todas as coisas."

E assim se deu o perdão entre todos.

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quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Sobre o acaso


Obrigado a ti!


As sincronicidades, ou “acasos gentis”, são ocorrências seguras da mente unificada. Quando uma pessoa está sintonizada com a mente una, pode obter respostas de maneira muito satisfatória utilizando os termos desse mesmo um, isto é, elidindo todos os opostos. Perguntas algo à tua esposa e a TV responde. Um carro de som passa pela rua amplificando teu pensamento. No Japão, houve um gesto de gentileza inesperado por conta daquele sorriso. Parecem bobagens? Para o ego, tudo que é sagrado, que é unificado e significativo, parece bobagem.

No entanto, não tens que atinar teu empenho em amplificar tua mente, pois tua mente é uma coisa só, não pode ser amplificada. Se percebestes a resposta noutro lugar, isso se dá porque ainda acreditas que existem lugares. Filho de Deus, obrigado! Obrigado, pois ouvistes estas palavras que asseguram tua existência real. 

Segurança vem da entrega. Quem está seguro, está firme, aportado em algo. “O seguro morreu de velho”, assim diz o teu ego quando desvanece a segurança empenhando ditados que “ampliam” o conceito de “valia da luz”. A luz, segundo se sabe, não pode ser amplificada ou reduzida a dois. Ora, se assim fosse, quem poderia arriscar a vida por outra pessoa? Existe “outra pessoa” por quem se arriscar? A insanidade fornece propagandas a toda hora dos “heróis” e “vilões”, mas a ocorrência de verdades partidas em duas não podem ser significativas, a não ser em narrativas, que são sempre experimentos muito afastados da realidade. 

Não temas a entrega agora. Assim, permitirás que o veio de luz que está para se apresentar a ti apareça de maneira segura. 

O ego, segundo o entendes, é um pensamento do próprio ego! Uma armadilha! O ego — muito trapaceiro! Ele é capaz de te fornecer a descrição de si mesmo em troca de tua confiança. E acreditarás nele, se achas que tudo que é verdadeiro não passa de uma “descrição”.

Filho de Deus, não é assim! O que é a verdade? O ego pode te dizer isso? Ninguém conseguirá te dizer isso, pois o “isso” é uma experiência! Enquanto o ego aproveita tua ingenuidade para inserir na tua cabeça milhares de empenhos devotados ao contrário da meta, tu mesmo não sabes para onde vais. Então, em troca disso, ele fornece seus remédios e suas fórmulas mágicas de conseguir o que quer,  que é o completo isolamento do filho de Deus de todos os seus irmãos. 

Ele não poderia te aderir a um propósito assim sem te dar algo em troca. Então, ele fornece para ti algo “valioso”; digamos, um modo de vida, ou dinheiro, ou alguma sábia escolha de futuro, algo assim. Ele te mostra o plano com ênfase perfeita no que é o erro, e qual seria o caminho do acerto. No entanto, o erro muda toda hora, e o acerto também. Assim, o destino passa a ser o julgamento do erro atual. Queres mesmo viver o resto de tua vida deste jeito?

Se não, o que poderia te ajudar agora? As sincronicidades apenas apontam para uma unicidade. Uma “completeza” que está sendo agora percebida. Então, o que pode adiar o encontro de ti mesmo com a Tua Natureza, com o Si Mesmo? Será que é alguma promessa que fizeste para ti há tempos atrás, que é o mesmo que ainda segues? Pois o passado é apenas o julgamento de uma promessa, e se prometeste algo para ti mesmo, esse algo somente pode ser cumprido se o julgamento continuar. Então, o que é o passado? O passado é o julgamento adiado no presente, antecipando o futuro, saltando por cima de todas as sincronicidades ou encontros significativos. E a "meta" que este adiamento seguramente te demonstra, tu não queres olhar. 

Isso tudo é triste, mas não é real, então não pode ser triste! Alegra-te então. Se estiveres percebendo a alegria por trás dos encontros, se já alcançastes a sabedoria de te livrar de tudo o que não parece ser verdadeiro e te fere e engana, então já percebestes que a verdade não pode ser determinada por ti. Isso é um avanço e tanto! E só pode te auxiliar e te “empurrar para frente”. Agradece aos teus irmãos, que sem querer se devotam a te ajudar. Lembra que a tua santidade te protege, pois tudo a tua volta é o reflexo disto. Não tenhas piedade de ti mesmo, pois não se trata disso. Ora, se és o próprio Filho de Deus, a misericórdia vem de tua expansão e não de teu empenho em querer consolo através de pena ou comiseração. Essas coisas não te aprazem conforme crês. Embora, em termos absolutos, a piedade tenha o valor da anuência Santa do maior empenho em perdoar, que é amar. Amar é ter piedade, não por compaixão ou misericórdia, mas “piedade em ver a verdade”. Piedade é, assim, “pedir a verdade”.

Senhor, Pai Nosso Santificado em nosso empenho devotado, escuta-nos ó Pai! Teu filho aguarda o Teu Chamado, desde sua criação, que não empenha em enveredar-se pelo erro, ao que se destrata ao pedido de seu filho santo, pois ele no equívoco não sabe o que faz. Ele está determinado na meta da salvação, e por ele pedimos aqui, Senhor, que o salve deste mundo e o acolha em Teus amorosos braços novamente. Amém.



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sexta-feira, 27 de julho de 2012

Sobre a curiosidade e a fé



Obrigado a ti!

A curiosidade abrange o empenho do ego em conseguir “entender” a revelação. Aquele que está “curioso” está envolto em determinações que não abrangem a fé, pois não entende aquilo que quer ver. No entanto, quer ver para, então, entender.
A fé, em oposição a isto, mas abrangendo mesmo isto, se aporta no que é totalmente real e não precisa de explicação. Ninguém pode acreditar em ter fé. A fé surge de uma disposição em lembrar. Lembrar não é “querer ver”. Lembrar é apenas “desvelar”.
Tu, que estás curioso acerca da revelação, deverias ser mais cuidadoso em relação à tua curiosidade. Ela aponta para o futuro, para algo que será um dia demonstrado, ou revelado, sendo a tua curiosidade uma pulsão em direção a este tal futuro. Assim, qualquer disposição tua para estar presente neste momento será apenas um prenúncio defasado, já que a tua curiosidade, a partir de então, buscará meios de aderir o teu entendimento à experiência, alcançando para ti a “explicação” do fenômeno.
Aquele que acredita ser “curioso”, acha que possui vantagens em relação ao devoto. Segundo o raciocínio egótico, a curiosidade é um catalisador da experiência, e apresenta em relação ao sujeito um determinante que aposta no segundo seguinte como a verdadeira amostra de Deus — explicada, logicamente.
Assim, no instante mesmo em que perceberes o mundo a rodar, quererás sair disto para entender, pois, curiosamente, eis aí o novo! E se entregar à paz que sobreviria à entrega total ao fenômeno da revelação parece algo impossível, pois é algo que o ego não compreende, e não deixa que vejas, pois não pode aceitar o que não podes “mentalizar”. Por isso é dito no curso que o ego quer que “busques, mas não aches”. Isto é, o ego te quer sempre “curioso”.
Obviamente, mesmo isto pode ser usado em teu favor se deixares que o Espírito Santo assuma a responsabilidade por “procurar”. Ele “achará” para ti o que queres, e poderás relaxar na perfeita disposição da vontade para o aprendizado, que é estabelecida na fé.
A fé, diferentemente da curiosidade, não abrange o amor como um “fenômeno”, uma discussão ética ou comportamental. Tampouco se estabelece em menores habilitações do mesmo, quando se fala sobre o seguro-desemprego, a valia de algo ou símbolos do mundo para a justiça. A fé, seu empenho seguro, não está envolta em nenhum comentário ou expectativa. A fé é semelhante a sentar-se numa cadeira e sentir a temperatura do ambiente ou observar um muro ou uma janela. Esperando o quê? Esperando nada, esperando apenas o que nada pode ser, ou seja, esperando que a espera suprima por si só a experiência em esperar.
Falar em termos de opostos sobre a colocação da fé neste mundo é tarefa que empenha concentração e esforço. É preciso que não queiras absolutamente nada para teres fé. O mundo apregoa o contrário: ter fé é ter disposição, curiosidade, empenho, devoção etc. Mas a verdadeira fé, que é a abstenção ao ego, como dito no Curso, “sentar-te de lado e não interferir”, esta fé faltam em muitos que ainda se crêem separados. A fé de Tomé vale por uma imagem. A fé de Cristo não se compreende por palavras. No entanto, a fé de São Tomé é a mesma fé em Cristo, vista em imagem.
A fé de teu irmão vale, portanto, pela tua fé — caso consigas ao menos amar ao teu irmão. Por isso se diz que o Instante Santo é um instante de verdadeira fé. O verdadeiro amor não é “curioso”. Ele não quer saber nada sobre o outro, ou sobre a “iluminação” do outro. As crianças são ainda pequenas e descuidadas, mas abrangem em si a disposição em aproximar-se de outras crianças com fé perfeita. Como seus egos estão em formação, em breve discutirão, e esta parece ser a natureza da relação infantil, que difere da adulta apenas pela sinceridade. A criança ainda está presa ao fazer. Tu, que já deverias desfazer, ages como criança quando és curioso, e queres fazer a tua fé, ao invés de entregar-se à Expiação, ao verdadeiro desfazer.
A única alegria verdadeira vem de se fazer a função que Deus estabeleceu para ti. Qual é essa função? O Espírito Santo revelará para ti, quando estiveres disposto a não querer saber! É disso que estivemos falando, pois o ego quereria que tu acreditaste na “forma” de tua função. No prêmio, no reconhecimento, no empenho devotado à miséria de sua explicação formal. Tu estás muito curioso em saber qual a tua função, mas acreditas que ela será “demonstrada” para ti. Estás tão curioso por isto, que não te entregas à tua função, que te auxiliará no teu desfazer.
Como fazê-lo? Simples! Acorda pela manhã e viva a vida sem esperar nem um segundo sequer por um pensamento ou explicação sobre nada. Apenas veja o visto. No zen se diz: “almoçou? Então vá lavar os pratos”. Eis tudo!
Parece difícil, não é? O simples parece o absurdo maior. É sentido como insatisfatório. “Precisa-se de um pensamento”, eis a tabuleta que poderia ser colocada na mente de cada curioso. No entanto, o pensamento que surge da fé não surge apenas através do empenho em perceber ou entender. Vejamos agora palavras seguras sobre a tua forma de fé:

1         A fé move montanhas e sonhos. As montanhas são sonhos. Se sonhas com montanhas ou sonhas com metades de montanhas ou sonhas com cabeças de dinossauro, sonhas com sonhos. Se sonhas com sonhos, sonhas com histórias. Se sonhas com histórias, sonhas com o passado envolto na memória das histórias.

2         A metade do abismo não é a queda.

3         A montanha é o palanque do abismo.

4         A cura é a montanha olhando de dentro do abismo para Si Mesma.

5         O olho da montanha é a fé.

Logo,

A fé remove montanhas



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sábado, 21 de julho de 2012

Balada do homem bom à procura de seu nojo

Na rua, encontrou-se o homem bom virando a esquina.
Trazia no bolso memórias e duas caixas de isopor.
O homem bom refazia um trajeto passante
E trazia os olhos marejados de luz.

Em sua vida, nunca se viu o homem bom a errar 
no claro.
Leia-se: pátina, avenca, sedução.
O homem bom sabe assobiar canófaros!
Mas quase não canta metáfora, se aguilhoada em flor.

(Moço:
Não terá por aí o senhor
Uma máquina de desfazer homens bons?
Devolvo limpa.)

Mas coragem para ser a si mesmo
O homem bom não tem.
Passa por bom em meio a outros
que são como ele
E trocam amabilidades em noites como o Natal.

(Conheci-o
Há tempos,
Quando se o via a fabricar esmolas
Em muita mansão e casas de moedas.
Tornou-se importante em não ser lembrado.
Mas ninguém tem por ele piedade.
Dizem, apenas:
— cuidado: ele é muito bom!)

Pedia socorro invertido.
Nunca ninguém o ouvia,
Pois onde pedia socorro
Figurava um lindo jardim,
Cuidado em flores e abismos,
Riscado em parede caiada
De tempos imemoriais
Para ele inacessíveis.

Finalmente, a Fundação Para o Homem Bom o acolheu.
Passa as tardes a jogar xadrez sozinho
Ou com a máquina de computador.
Teme a vida e a morte,
Mas sempre tem algo de bom a dizer.

E apenas nisso pode ser, finalmente, terrível.

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terça-feira, 12 de junho de 2012

Saudação

Boa noite com amor se diz:

1) que durmas com Deus em teu coração.
2) que acordes com Deus em teu coração.
3) que teu coração seja dia e noite em Deus.


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Sobre o medo do amor em teus irmãos


Obrigado a Ti!


O cansaço como retorno da experiência é um processo simbolicamente enriquecedor. Embora não estejas muito propenso a aceitar isso como um avanço, podes dizer a ti mesmo que alcançastes "distinguir". Fazer isso é alcançar um passo a mais na medida da sanidade em prol de um advento generoso em relação a Si Mesmo.
“Sentir muito” é uma expressão que evoca desespero e culpa, pois implica em uma falsa associação entre o amor e a mente. A mente produz equívocos que, se desatados pelo espírito, podem alcançar a clareza suficiente para eliminar os espectros das sombras que te chamam dos escuros cantos da tua alma, te convocando para repetir os mesmo tristes caminhos nos quais te fizeste enganado.
Decerto, em meio ao que tens em mãos, parece que a vida tem sido amarga e deficiente, e que o teu próprio exercício de criar te abandonou, e a impotência e a morte serão tuas companheiras certas.
Bem quisto filho de Deus, não te penses assim, nem te imagines assim. Nada, em nenhuma forma, pode te contentar por muito tempo. O que desististes e acreditaste como perda não foi perda, pois não podes perder o que criastes com amor. O caminho não é logicismo, pois não se baseia em continuidade pelo que expressa os termos do corpo ou dos sentidos. Não há certeza alguma em que o caminho que é teu possa ser direcionado pelo teu querer. Isso não pode ser assim.
Agora, que experimentastes o instante santo, é hora de caminhar seguro para fora do terror e do medo. O teu empenho não pode ser maltratado pelo que tu chamas de amor, mas é engano e erro. Saber que estás em Deus é teu único propósito real, e estar em Deus é a única saída verdadeira. Não te equivoques nisto.
               Sabes que não queres o ego como teu guia, mas tens medo dele. Isso é tolo, pois o ego não pode te fazer nada, pois ele nada é. Como uma conclusão de pensamentos terríveis, ele engalfinha teus pensamentos em círculos que atendem a sua especificidade, que não é nada mais que imagens que aterrorizam e fortes empenhos em te manter ciente do desespero. Ele não esquece nada, e simplesmente te relembra cenas de terror incitando tua concórdia com o seu logicismo barato. Dizemos “barato”, mas ele não tem valor. Portanto, nem sequer é barato, pois o logicismo do ego é um circunlóquio totalmente sem significado, e se vale das imagens de terror que associa à miríade de pensamentos que evoca para que não possas escutar a Voz por Deus.
               A tua imaginação não criativa ajuda ao ego neste processo, pois não queres te livrar de vez disto. Acreditas que se livrar do ego é morrer. No entanto, lembra-te agora do Curso, Quando pede que consideres o que o diabo tem feito na tua vida. Será que queres, realmente, permanecer como aceitante de tais dádivas sem valor?
               Quando lembras o que criastes com amor, lembras geralmente de teu empenho artístico. Não posso te dizer o que é tua função, pois não estás pronto. No entanto, verifica se teu empenho é assim perdido quando fazes o teu trabalho. Pergunta a ti mesmo se estás totalmente alheio o que fazes. Se a resposta for afirmativa, alguma coisa então deve te manter atrelado ao que não queres, pois permaneces lá. Essa tal coisa não pode te gerar alegria, pois alegria estaria totalmente relacionada ao significado, e esse não pode ser medido pelo empenho que seguramente te devotas em relação ao sentido. Quando dizemos “sentido”, queremos dizer que um total apoio do favor de Deus, ou da Graça de Deus, não será dirigido a ti que não queres perceber a ti mesmo como amoroso. Se ouvires um som de desamor, deves apenas te ater a isso como sendo equívoco e pedido de ajuda.
               Não há erro no que fazes, pois fazes bem. Não há necessidade de retorno, pois bem sabes, em tua mente certa, o que é o erro e o acerto. Não existem caminhos para trás que não seja retorno, mas o único retorno possível é o retorno ao Pai, e o caminho para o retorno a Ele é uma ponte, a qual Ele mesmo te ajudará a atravessar, pois sozinho te enveredarias por caminhos de medo e terror.
               A voz do ego te parece clara porque o medo te parece claro. Parece que o medo desperta em ti uma vontade, ou pulsão, para a ação dirigida. A palavra vontade é ideal neste contexto, pois Deus não pode se ausentar da vontade de Seu Filho. Assim, quando eleges a tua própria vontade, eleges um substituto para tua real vontade, e é nela que gostarias de permanecer, pois o medo parece mais seguro que a mudança. Mais uma vez, o Livro Texto fala sobre a primeira mudança, que te trouxe para cá em sonhos, e criou o medo e a morte nestes tais sonhos estranhos. Portanto, conforme prossegue o Texto, temes outra mudança, pois poderia te levar para um “terceiro sonho”, no qual serias mais amaldiçoado do que neste. Ora — diz sorrateiramente o ego — se a primeira mudança gerou o mundo do terror, uma segunda mudança poderia ser bem pior. No entanto, entende a falácia deste pensamento através disto: Há apenas Deus e o Reino é unificado e santo. Não se pode retornar para nenhum outro lugar, pois nada existe a não ser Deus, e retornar a Deus é certo justamente por conta disto. E lembras que não haverá mudança alguma, pois não existem diferenças de níveis na realidade, e tu estás na realidade, apenas não te lembras disto.
               Não podes ser arremessado na realidade para não compartilhares do destino de Brunder Klauss[1], por exemplo. Não podes ser despertado para paz sob os auspícios do terror, ou não compreenderás a paz como algo beatífico, e terás mais medo ainda, o que te poderá indisponibilizar a angariar ao verdadeiro retorno.
               Filho de Deus perfeito, acalma-te aqui. Esquece agora dos conceitos e lembra da ajuda de teus irmãos. Neles, perceberás a Voz que fala por Deus falar a ti. Acredites no Instante Santo, e assim aprenderás a ouvir o amor nos teus irmãos, até que o despertes em ti mesmo. Poderás ouvir a voz do Amor assim que quiseres, mas apressa-te em amar aos teus irmãos, que apenas são a tua disponibilidade em amar ou desprezar-te. Se um irmão te desprezar, não o julgues, pois és tu mesmo quem te estás mal julgando. Ninguém pode te ofender, pois nada que vem “de fora” pode ofender ao Filho de Deus. Se te percebes ofendido, percebes um irmão separado de ti, uma lacuna no Reino, um absurdo tão grande que podes inclusive considerar que ver a um irmão como acusador é ver um erro, ou assistir a uma inexistência, ou ainda presenciar uma alucinação, para ser mais exato. Teu irmão irado, acusador, invejoso, maltrapilho em termos armistício és tu espelhado em alucinações do que não és. Não vejas a ninguém assim, pois não és assim.
               Peça em oração para que vejas ao teu irmão como a ti mesmo. Peças para que o Espírito Santo te mostre o caminho, pois “enquanto houver percepção, há lugar para a oração”. Lembra que o amor de Deus não te abandonará jamais. E lembra que o Reino é completamente consistente e o ego não prevalecerá contra Ele. Amém.


[1] Ver neste blog: http://cursoemmilagres.blogspot.com.br/2011/01/ucem-quanto-tempo-leva-ate-deus-dar-o.html

terça-feira, 15 de maio de 2012

A natureza amorosa dos irmãos


Obrigado a Ti!


     Gostaria de saber o significado desta passagem do Livro Texto:  “Se o pagamento é equiparado ao ganho, estabelecerás um preço baixo, mas pedirás um alto retorno.” (UCEM, Cap. 9, II - §10).
    Adicionalmente, também preciso saber mais sobre isso: “Não confiarás na orientação do Espírito Santo, nem acreditarás que ela é para ti, a não ser que a ouças em outros.” (UCEM, Cap. 9, II - §6).


               Duas premissas interessantes, que visam ainda a estabelecer certa tendência a buscar uma prerrogativa mais honesta, na busca que estabelece parâmetros verdadeiros. Nunca desistirei de ti, pois não posso desistir de mim mesmo, mas quando temes a teus irmãos, tu estás desistindo de ti mesmo. Assim, o preço que se paga não pode ser equiparado ao ganho.
Digamos que, em um encontro casual com um “desconhecido”, tu estabeleces o que queres dar e o que queres receber. Mesmo que estabeleças o amor como objeto de tal barganha, o custo não será proporcional, pois o que pensas que estás “dando” na verdade pode ser uma negação do doar. A gentileza não tensiona. Portanto, em um encontro em que não há plena alegria, a tensão estará presente, e certamente o “dar” será convertido em “doar”. 
               Para entendermos esta diferenciação, precisamos relembrar que a gentileza não faz barganhas, e que a caridade é diferente do amor, pois a caridade ainda vê diferenças em níveis. Como o próprio Livro Texto ensina, a caridade ainda percebe alguém “maior” ajudando alguém menos consciente. Assim, a acepção da doação aproxima-se da caridade, mas não é o verdadeiro “dar”. “Doar” implica em “ganhar”, mas “dar” não estabelece nenhuma relação, pois o dar é o desapego. Quem recebeu aquilo que já era seu, mesmo que inconsciente, não recebeu nada realmente, apenas esteve em alinhamento com o que já era seu. Da mesma maneira, aquele que doa se relaciona com o objeto da doação em termos caridosos, enquanto o dar realinha com o desapego. Quando há um encontro santo, não há um encontro “caridoso”. Se encontrares a um amigo ou a um desconhecido na rua e de repente acreditas que tens que ser amoroso para com ele, tens aí um pensamento que está na direção correta, mas não é ainda um inteiramente “dar-se”. O Espírito Santo pode utilizar teu empenho em doar amor para que tu entendas que não precisas doar algo a alguém que já o possui. É possível doar coisas, mas o amor, por seu caráter imanente em cada ser, não pode ser doado; pode ser apenas estendido, e seu aumento se dá pelo reconhecimento, não pelo recebimento.
               Assim, é impossível “dar amor”. Como poderias dar água ao mar? No entanto, é possível adicionar água ao mar, e mesmo sendo de água doce, o mar a transmuta em água salgada, assim como rio o faz com a água salgada em doce. Não podes ajudar a Deus a ser “mais Deus”. No entanto, podes fazer com que Ele se alegre e receba tua doação como sendo um reconhecimento de que a água é mar em quaisquer circunstâncias, pois toda água vai dar ao mar. Queremos dizer com isso que água do mar não pode ser coincidida com outra coisa. Não podes fazer uma praia com um balde de água e um pacote de sal. Portanto, o teu amigo é apenas um reconhecimento do amor, não uma doação estabelecida como um bônus.
               Dar não significa que serás destituído. Assim, não haverá estabelecimentos como valores. A serventia em dar é não estabelecer diferenças. Respondendo finalmente à tua pergunta, dizemos que se estabeleces um preço para algo, estás em vias de estabelecer diferenças, e esta diferença será paga por ti, que doas. Se em um encontro não santo queres imaginar um encontro santo, a diferença entre eles será dada pela tua inconsciência do que acontece. Assim, mesmo que acredites que estás vivenciando um encontro santo, a ausência de alegria subjacente em tal encontro demonstra o troco que mal recebes.
               Isso não será assim para sempre. Na medida em que cada irmão desperta, o mundo torna-se um “lugar melhor”. Colocamos a expressão anterior entre aspas por não existir nenhum mundo. No entanto, o instante santo se tornará mais presente e a acepção do “dar” tornar-se-á mais clara para todos. A expressão “mais clara” implica que algo foi reconhecido. Isso significa também que a realização do “dar” já está disponível, apenas não está sendo percebida. Por isso deves ter bom ânimo. A tua linguagem não está disponível para todos, mas o amor que há em ti está disponível para todos. Assim, tu mesmo estás disponível para todos. É por isso que apenas nos teus irmãos podes encontrar o amor. Os “outros” não são outros absolutamente. Os outros demonstram tua impossibilidade em dar ou tua disponibilidade para isso. Eles representam o estado mental a que aderes.


A vida em seus métodos diz: calma.
Aquele que apenas vê o ego em outros, atesta para si mesmo, no panorama representativo de suas relações, a que sistema de pensamento adere. Se acreditar que pode realinhar-se, ou reconhecer em si o amor, verá um retrato gentil do mundo — numa tela inventada, certamente; mas puramente santa, pois reverbera o ser em sua plenitude nas relações. Assim, quando confias em teu irmão, confias também nisto, e permites o relacionamento santo, bem como a vinda do Espírito Santo a ti através dos teus irmãos. Podes ouvir coisas surpreendentes de teus irmãos sobre ti mesmo, se permitires o amor adentrar nas tuas relações. E se estiveres disposto a não julgar nada, a não querer “doar amor”, a não querer “melhorar” o que já é perfeito, a aceitares a imagem que chega de teu irmão a ti com amor, seja em suas formas lustrosas, seja em suas formas mendigas — ambas ilusões — se o vires com amor, o ajudas; e recebes por isso o valor exato em retorno, que é a também ajuda. E ouvirá ao Espírito Santo falar através do teu irmão, literalmente. Tu não precisarás confessar tua vida a ele para provar que ele está sendo o vetor do Espírito Santo para ti. Não é assim que fazes isso! Basta que o ames, e o Espírito Santo em ti fará para ele o Seu trabalho santo. Assim, não há barganha, há reconhecimento de uma igualdade. E nem sempre o que o Espírito Santo te dirá será utilitário, nos termos que o mundo aplica esta palavra. Se buscares apenas informação, não receberás o que queres receber, sequer o que tens para reconhecer, que é apenas amor.
Pode ser que um irmão te diga coisas surpreendentes, mas não é isso que esperas dele. Teu irmão não é um oráculo. O Espírito Santo demonstrará para ti em teus irmãos que tu és apenas amor. O que mais queres saber? Não terias a ajuda de qualquer irmão que percebesse em ti isso? De que precisas a mais? Querer mais que o amor é querer que teu irmão agora “doe” algo para ti, o que é apenas trocar o erro de lugar. O teu irmão também só pode te dar, pois caso contrário, estabelecerias para ele o valor do ganho, e ambos pagariam o alto preço da perda da consciência da natureza real da relação humana, que é amor.
Adicionalmente, a orientação do Espirito Santo é a mesma para todos: dá apenas amor, pois é isso que tu és. Ouvirás em teus irmãos o que permitires ouvir, e será sempre amoroso para ti, se o vires com amor. Informação não é necessariamente amor. Informações são dadas e, como tal, são altamente passíveis de julgamentos. Espera que o Espírito Santo cante o amor para ti, e Ele certamente o fará.
Não temas, filho de Deus, não temas ao teu irmão. Ele não te fará nenhum mal se o quiseres bem. Tu, que queres bem aos teus irmãos em segredo, por que então fazes segredo do que é divulgável? Por que não amar como queres? Se não fores correspondido, e isso certamente ocorrerá, apenas significa que teu irmão não entendeu o teu amor, e está te pedindo ajuda. Negarias ajuda a quem sofre? Pois se deres amor e não receberes amor, é apenas isso que está ocorrendo:  o teu irmão não está permitindo o encontro santo. Mas para chegares até essa conclusão, que pode muito bem ser interpretada insanamente, precisas dar amor irrestritamente, seja para o rei, seja para o mendigo, como o fazes quase sempre em pensamento. Porque, então, não o fazes agora? Porque não amas como gostarias? Não precisa se emocionar com um pensamento apenas óbvio. Melhor seria rir disto. Assim, és mais honesto, e te aproximas do reconhecimento de ti mesmo. Escreves imitando ao Curso, e assim fazes bem o que escondes. Mas porque não alcanças a tua própria mão? Estão aí os teus irmãos para ajudar, se os vires com amor. Eu responderei para ti neles, se permitires. Nada está errado, nada está certo. Acima do certo e do erro estamos em Deus, e Nele o certo e o errado se elidem em perdão. Pai, escuta ao teu filho santo em memória de mim. Ele ama aos seus irmãos e repete para si mesmo que ainda é como Tu o criastes. Ele lembra, Pai, de Ti, e assere seus sentidos em direção à percepção certa. Está determinado a ver, e se compadece de Teus santos filhos no verdadeiro definir do Mesmo, amém.




Ponto de Equilíbrio - Eu




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terça-feira, 1 de maio de 2012

Sobre o pensamento relativista


Arnaldo Antunes (acima);
Foto do letreiro de Arnaldo Chaveiro
no centro da cidade de Várzea Grande-MT (abaixo).
Esses dados compuseram uma significativa sincronicidade para mim.




“É impossível que o Filho de Deus seja simplesmente
conduzido por eventos exteriores a ele. É impossível que os acontecimentos
que vêm a ele não tenham sido sua escolha. Seu poder de decisão é o determinante de toda situação na qual ele parece se achar por acaso ou por acidente.”
(UCEM Cap. 21, II, §3)





Os pensamentos relativos são “informações”? Eles contêm alguma coisa plausível em si?

A “teoria” mais básica do UCEM é que não existe nenhum tipo de ocorrência no mundo que não seja testemunhada por uma percepção, e sendo testemunhada por uma percepção, não pode ser verdadeira. Portanto, as relações simbólicas que realizas entre as imagens e sons que ouves não podem ser tomadas como exemplos de avisos, caso entendas tais avisos como “mensagens que vem de fora”. Não existe tal coisa. Quando há comunicação entre a Filiação, tal fato se dá entre o que é Um, ou através d’Aquele Que comunica pelo Um. Associações não são comunicações, se entendidas literalmente. São desvios simbólicos do significado, e visam abranger uma totalidade através de medidas ou conceitos correlativos.
 Jung falava em sincronicidade. Pois bem, a sincronicidade ocorre quando eventos totalmente não relacionados ganham significado através de uma leitura atemporal de seus conteúdos. Se não fosse assim, o conceito de sincronicidade não se desviaria da apenas coincidência. Quando duas pessoas pensam a mesma coisa, ou intencionam certo objetivo, com uma relação muito próxima no tempo, isto é, quando pensam praticamente juntos em uma ideia, então temos constelada uma coincidência. Isto ocorre unicamente por conta de afinidades, eletivas ou não. No entanto, se duas pessoas pensam na mesma coisa e a “pronunciam” ao mesmo tempo, neste caso ocorre não apenas uma “empatia”, mas uma relação incomum, significativa, que está associada ao fato de a mente certa ser afim à União entre os dois. Assim, quando duas pessoas pensam na mesma coisa, ao mesmo tempo, e repetem oralmente tal coincidência, a tradição popular solicita que se “toque” no verde, uma cor que está associada a feitiços e bruxarias em suas implicações simbólicas, pois o “tocar” no verde garante simbolicamente que a pessoa “lembrou” primeiro que não estava totalmente consciente da união das mentes, e a isto se associa boa sorte.
O fato de veres nas ocorrências dos teus dias relações não diretivas, ou de fazeres associações, está ligada ao teu empenho em entender o mundo esteticamente. Isto é uma prerrogativa daqueles que entendem as mensagens do inconsciente, mas é muito importante saber distinguir as “coincidências” das “sincronicidades”, sob a pena de caíres no reino fantástico que o teu ego certamente criará, de modo invariavelmente assustador. Isso não quer dizer nada, contudo. “A vida em seus métodos diz: calma”.
A consciência é a ferramenta do significado. É através dela que o Espírito Santo busca fazer com que entendas a mensagem do Reino, que é apenas esta: não estás aqui, onde percebes a ti mesmo como um corpo. Este mensagem será repetida por Ele de todas as maneiras que puder, angariando tua consciência para voltar-se nesta direção. Tais eventos, quando se tornam mais intensos, geram medo, pois o ego está tornando-se assustado com as mensagens óbvias que te são enviadas. Ele te diz que aquilo que percebes como sendo amor, é o terror de uma mensagem exterior, que visa te atacar, e que, portanto, precisas imediatamente pensar sobre isso. Assim, ele ganha tempo, enquanto tenta impor novos significados, pois os símbolos são inesgotáveis em significação, até que um destes significados se alie à sua condição miserável, e é justamente a esta infeliz interpretação que escolherás, por agora, pois estás terrivelmente assustado com teu despertar. Amigo querido, amável, tão admirável em teu empenho, digo que estás muito seguro, pois não serás desperto  já estás desperto há muito tempo. A Revelação é um “reconhecimento”. Quando vires algo que te assuste, e este algo for deste mundo, isto é, for algo perceptível, guarde disto apenas a impressão amorosa, pois do contrário estás interpretando em favor de teu ego, e será mais difícil para ti mesmo permitir a expiação, pois é ela que retorna a tua mente à condição de estender o Reino.
É muito claro que interpretas em favor do Reino até mesmo as coisas mais abjetas. Mas não precisas chegar a tanto para entender sobre a natureza inclassificável do perdão. Para tanto, tu contas com milhões, bilhões de irmãos, aparentemente separados, cada qual realizando sua função, embora permitam ou não que o Espírito Santo o faça, pois, pela natureza de Sua Origem, Ele o fez. Assim, cada vez que vês a um irmão, fazendo seja lá o que for, saiba que ele faz aquilo pelo bem do Reino, mas pode estar certamente equivocado na interpretação disto, e assim surgem os erros e a noção infeliz de pecado. Ninguém jamais pecou, sendo filho de Deus; e ninguém jamais pode pecar, pois o pecado não existe. O erro, quando visto, pede por correção e, às vezes, uma pessoa em sua mente errada precisa de algum tipo de contenção temporária, pela própria natureza assustadora dela, e no próprio Livro Texto é dito que pessoas assustadas podem ser cruéis às vezes. Mas isso não se aplica a ti nos termos que te assustam, pois não são as contenções sociais que te atrasam, mas aquelas que tu mesmo aplicastes como “trincheiras” contra o Amor.
Mas não tenhas medo do amor. Nem o confundas com suas formas divulgadas. Muitas das coisas que o mundo chama de “amor” não passa de “medo” disfarçado em belas melodias de palavras ou sinceras declarações temporárias de afeto ou apoios divergidos de propósito. O verdadeiro amor não espera por conveniências para se manifestar. Ele não é oportunista. Ele apenas é. E isso é sempre sentido como amável e acolhedor, e não suporta, isto é, não comporta dúvidas.
Ademais, Arnaldo Antunes é um excelente artista, mas mesmo suas obras não estão blindadas contra interpretações amedrontadoras, se forem ouvidas/lidas sem amor. Nele, encontrastes uma das “dez mil formas” de tua linguagem. Quanto ao resto, saiba que a inocência não pode ser judiada, e ela não será adquirida pelo tempo, em uma idade específica ou em uma cena ou comportamento específico. A inocência está unicamente associada ao perdão; e por ser totalmente pura, é criativa. Os adultos são criativos e não deixam de sê-lo pelo fato de o tempo passar, pois subjacente ao tempo, e “por fora” dele, numa dimensão que não é deste mundo, a criatividade é uma fruta madura, disponível em caráter de sempre, distante de ti apenas pelo intervalo de um espirro.
(“EUCRIDES”, FALA PRA MÃE: QUE NUNCA LI NUM LIVRO QUE UM ESPIRRO FOSSE UM VíRUS SEM CURA!)
               Bem lembrado.
               (E onde fica o conceito de idolatria neste contexto?)
            Como dito acima, não há idolatria se interpretas as imagens como sendo inexistentes, ou seja, como sendo apenas símbolos. Mesmo as pessoas, em termos muito extremados, são símbolos de seus egos, ou símbolos da separação. No entanto, por estarem vivas, e habitarem em si o Espirito Santo de Deus, são passíveis de Amor e capazes de transmiti-Lo. Idolatrar uma pessoa é não saber o que essa pessoa é. Mas o amor elide a idolatria em respeito, e abrange apenas o amor, por deixar nosso tolo conceito dos outros de lado, e assim apenas apreciar as criações da filiação, que podem ou não ser divulgadas amplamente. No entanto, isso não deve ser colocado em uma escala de valor. Mesmo o que é divulgado pode ser mal interpretado e vice-versa. Certo, mesmo, só Deus, e Ele é teu único Objetivo, por ser o Único Que Há. Esteja sempre em sintonia com o Espírito Santo, aberto à sua interpretação correta de tuas percepções equivocadas. Quando a verdade não te parecer gentil, isto se dá porque estás com medo, e o medo apenas evoca o ataque.
               Pai, pedimos a Ti que nos faça entender que somos apenas um. Que a Filiação e o Reino são totalmente unificados, e que possamos perceber a natureza una da filiação ao vermos Cristo em nosso irmão. Pai, pedimos para que possamos ver, pois estamos determinados a ver, amém.

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terça-feira, 24 de abril de 2012

Desfazer o acusador

Todo mundo quer amor
           


"O papel do acusador aparecerá 
em muitos lugares e sob muitas formas. 
E cada uma parecerá estar acusando a ti. 
Entretanto, não tenhas medo de que ele não seja desfeito."
(UCEM, Cap. 31. V, §16)






           O que significa ver o “acusador” em todas as formas?

Ver o acusador significa que em algum momento escolhestes ver a função de tua mente fora de ti. Assim, o que parecia te iludir gerenciando amor em ilusões de grandeza, e parecia te mostrar um mundo inofensivo, agora não tem mais que esconder-se atrás do manto da inocência, que é apenas uma fraude consistida, como bem dizes, ou ingenuidade. O acusador não existe em si. Ele é a tua mente errada apontando para ti seu dedo de fogo, exprimido em auto ódio e em laivos direcionados de autocomiseração. Enquanto escondias de ti mesmo esse fato, parecia que eras inocente em um mundo odioso, que apenas aparentava esconder de ti o amor que tinhas por ele, e que no final das contas era o lugar dos pobres diabos que nele caminhavam sem saber da glória que era ser tão “santo”. Agora, quando vistes que o ego nada tem de santidade, o mundo passa a ser o projeto de sua afirmação, e tudo o que ele apontava para si, como fosse fogo em ti, passa a ser o mundo de Nero, seu imenso caos ordenado em misérias para as quais o ego introduz seu pensar errático evocando um mundo terrível.
Ver o acusador significa que ao menos tivestes a nesga de lucidez em ver “fora de ti” aquilo que era teu próprio caos interno. As projeções tornaram-se intensas, e agora o dedo de fogo parece real, e te aponta em cada caminho uma forma diferente de medo e de afastamento, e é isso o que o teu ego busca, através de teu isolamento. No entanto, é dito que não deves temer, que certamente isso será desfeito para ti, e certamente o será, desde que estejas disposto a ajudar. Ajudar significa apenas estares disponível ao Espírito Santo, para que Ele possa trazer para ti a Expiação, que é teu direito e tua única possibilidade de cura. Novos caminhos te iludem a todo o momento, te solicitando empenho em teu sonho insano. Veja bem: o que parece ser a acusação do mundo? Parece que és vítima de uma série de enganos e azares que te foram ocasionados aleatoriamente, sem ordenação, e a isso chamas “vida”, ou a “tua historia”.  Diremos no UCEM que isso é o sonho mau que te destes, mas agora esse sonho se revela mau de maneira diferente, um pouco mais lúcido, pelo menos; mas isso quer dizer apenas que, embora ainda haja no sonho a figura do acusador, ele se tornou levemente menos insano, conforme explicaremos.
Poderias conjecturar, com razão, que ver a “face do acusador” em todos os lugares não pode significar que algo melhorou. Mas insisto em te dizer que agora podes ver a tal “face” projetada, e não vês mais a toleima de inocência que era o teu recusar em crer-se violentamente sádico, sendo que a mais bela inocência era apenas julgamento, e o que se via em tua vida era a devastação masoquista, em um jogo tão desesperado que quase não sobraria nada para prover de novo o teu esteio, não fosse tua piedade genuína em buscar ajuda. Não vieste para apanhar e bater, para a luta diária que sonhaste em miséria, mas para apenas amar e amar, e a soma de amar e amar é viver verdadeiramente, amor com amor não ilude, não engana, não imita, amor com amor deixa viver.
Se tens teu talento? Isso é uma pergunta que somente pode ser feita por um que não vê a palmo de seu nariz. No entanto, em teu estado atual, precisas escrever para ti mesmo como se fosses pobre coitado agora, sendo o mundo então muito mal, muito difícil de se viver, e são imperativas grandes mudanças para o ajuste pela “novidade”. Talvez uma “novidade” traga garantias de mudança, afinal de contas o novo possui este caráter: ele transmuta, renova, reacende chamas e revigora as tentativas. No entanto, o novo de hoje é o velho de amanhã, e o caráter de desapontamento que o tal novo traz consigo é o de olhar para trás e acreditar que bom mesmo era a vida de antes etc. Assim, o novo e o velho são extremos que se aliam em busca de “esticar” o tempo para frente e para trás, em uma dialética infinita, de síntese improvável, pois o que o futuro imaginado mostra não é um projeto, e sim uma fantasia.
Portanto, muita coisa há que se fazer para poder “mudar” o futuro para “melhor”. Mas todas elas se resumem na Expiação. Expiar é meramente não querer mudar nada, e deixar que a face do acusador se transforme lentamente na face do amor, que é o indício mais claro que a cura está se aproximando. A beleza que tu procuras em teus atos ingênuos está guardada para ti aonde ainda nem sequer pensaste em buscar. As tais “armadilhas” do ego são trilhas que pretendes enveredar para novas experiências em termos de trabalho, relacionamentos, caminhos, diversões etc. São meios para que tenhas sucesso ou para que obtenhas satisfação. São vários nadas abstraídos de tua mente, que não podem satisfazer, pois não deixaram sua fonte, que é o ego. Sendo assim, o sonho egótico apenas traz consigo vislumbres de futuras reparações. Ele te diz que tudo agora dói, mas se fizeres isto ou aquilo tudo vai mudar. Seu arquétipo nesta manifestação é o do titereiro, e tu és para ele a marionete. Assim, ele traz para ti o seu “mundo” amarrando-te em seus cordões de aço, arrastando tua mão direita para cima e teu pé esquerdo para trás, fornecendo muitas vezes uma aparência cômica ao teu estar-no-mundo. No entanto, anjos pairam ao teu lado, e piram a teu favor, pois falam em tua linguagem, e são apenas o que tu vês como sendo a “loucura certa” do mundo. Apenas nisso teu senso estético está bem preservado. O caos do mundo é uma obra de arte em elaboração. Para ti, muito de Basquiat parece linguagem. Muito de Miró são expectativas justas. Muito de Magritte ainda certamente virá.
(Isso não deve ser interpretado).

Todo mundo quer amor
Portanto, ver a face do acusador significa realmente um avanço. Ao menos estás experimentando o papel de “vítima” com consciência, e apenas assim poderás perdoar. A Expiação serve bem a este propósito. Expiar significa que a “face do acusador” será desfeita a teu favor. Anjos estão aí para te demonstrar que não estás sozinho. E quando o mal parecer invadir tua “realidade” lembra que estás blindado, literalmente. Nenhum mal pode atingir o Filho de Deus, pois não há crueldade nem Nele nem em Ti. Assim, o que é então a crueldade que vês no mundo em termos definitivos? O mal que vês no mundo é tua projeção de tua auto acusação e teu auto ódio. És uma criança de Deus tão amável que teus problemas não parecem sequer tomar forma de problemas para a ilusão a que se chama “sociedade”. Teu sonho ainda é tão gentil em tua vida verdadeira que não se pode sequer dizer que és um malfeitor, embora para ti mesmo não pareça assim. Para ti, melhor seria te chamares “sádico” ou “masoquista”, em termos extremados ilustrativos. Pois aquilo que imitas e guardas, tu transformas em maneira de te deludir. No entanto, como um mago incrível, um que consegue incrivelmente manipular estas coisas que são as imagens, ou a percepção, a que chamas “formas”, tu vês aqui em um belíssimo jogo estético que transforma o que tocas em ouro puro; mas em forma de Midas, sem aproveitamento quase nenhum. Daí pedimos para ti a verdadeira comiseração, que é permitir que a Expiação te mostre o caminho da alegria, pois tu és um que consegue ver alegria demais aqui, ainda nesse estado em que estás, o que é um feito realmente incrível. Quando puderes ver a alegria que há em ti brotar como água que segue curso acima, curso abaixo, alargando margens até ao mar, continentes, serás o doador universal, assim como o sangue tipo “o” negativo vem para dizer o que é apenas doar, sendo negativo pelo que é de amável, sendo que é apenas o que é, pois o sangue “negativo” não é sangue ruim, pois sendo tipo “o”, é para todos. O artista verdadeiro é como o sangue “negativo”. Ele não tem fator que responda ao que lhe é de direito, mas pela própria natureza de sua constituição é adequado a todo o tipo de transplante. Tipo “o” são os grandes artistas. E os grandes artistas não temem sua “negatividade”.
No entanto, ser um “grande artista” não significa que o mundo virá aos teus pés, ou que agora sabes bem qual é tua função aqui etc. Cuidado com essas palavras, pois no estado em que te encontras quase não sabes o que fazer, e não deves empreender coisa alguma sem perguntar ao Espírito Santo como fazer para alcançar a Expiação. Após esse período em que ver ao acusador significa entender sobre as projeções, a tua própria consciência será capaz de perceber os caminhos, e dificilmente conseguirás obliterar tuas escolhas certas. O sonho de sucesso, status etc, nada tem a ver com o “grande artista”. A palavra “grande” aqui é até mesmo inadequada, pois ela promove excelentes meios de julgar. Melhor seria a palavra feliz. És um feliz artista, da arte melhor, que vem de Deus. E quererias algo maior que Seu Aplauso?
No entanto, como dissemos, o que é teu está em seu lugar. Não há sonhos que digam o que és. Deixa o tempo fluir seus espantos enquanto solicita de ti mesmo o empenho em ver. Por enquanto, basta isso: disponibilidade em aceitar a expiação para ti mesmo. Essa é a única responsabilidade de um professor de Deus. Paciência, pois és jovem em termos do mundo, e és jovem também em tua maneira de pensar. Amadurecer significar tornar-se pronto, mas lembra que a prontidão é do espírito, que é perfeito. Portanto, és perfeito como és, pois tu és espírito.
Pedimos, ó Pai, que o teu filho possa novamente ver. Aqui dizemos que nosso empenho é devotado, e não teremos mais vingança em nossas mentes para desdizer de Teu Propósito. Para todos os nossos irmãos guardamos Vossa gentileza, e queremos compartilhar em nossos corações e mentes o que Tu queres que seja doado aos Teus Filhos. Teu Filho é Santo, meu Deus, assim como são santos os Seus Irmãos. Ajuda-lhe a ver, meu Pai, pela glória de Teu Nome, amém. 



Todo mundo quer amor. 
Titãs, na voz de Arnaldo Antunes



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domingo, 19 de fevereiro de 2012

Sobre a neutralidade

Obrigado a Ti!



                1.
                Uma coisa não pode ser neutra, pois possui em si possibilidades. Quando dizemos “possibilidades”, queremos dizer “capacidade para algo”. Assim, se entendermos como conceito de “coisa” qualquer elemento passível de ser nomeado, diremos que a neutralidade é impossível, pois até mesmo o nome de uma coisa já lhe confere atributo. Ora, se podemos dizer sobre “aquela coisa” que ela se chama “isto”, como poderia esta mesma coisa ser neutra? O mesmo pode ser dito sobre as ideias.
                No entanto, não falamos aqui sobre o “valor” de algo. Isto já é outra discussão. Se dermos a alguma coisa um “valor”, esta coisa precisa ser comparada a outra, ou posta em uma escala. Esta escala, ou grau de comparação, necessariamente precisaria estar graduada em valores máximos e mínimos, ou em valores opostos, como “bonito/feio, agradável/tedioso, alegre/infeliz etc.” Logicamente, e pela mesma razão, não é possível neutralidade através de julgamentos.
                Se ainda aqui há dúvidas, lembra-te destas palavras de Cristo: “Essa é a nota mestra da salvação: o que vejo reflete um processo em minha mente, que se inicia com a minha idéia do que quero.” E assim encerramos a discussão com este axioma: a “vida”, e tudo o mais que se vê no mundo, é uma projeção, e não pode ser neutra, pois foi apenas posta aí fora por ti, e é o resultado de um processo equivocado de pensamento. Damos aqui Graças a Deus, pois um equívoco pode ser corrigido, e mesmo aquilo que não é neutro pode ser totalmente inofensivo.
                Lembremos, no entanto, que o fato de algo não ser neutro não lhe confere realidade, conforme estudamos. Uma xícara não existe no Reino, mas seu atributo de “conter” reflete uma ideia, que aqui pode ser o atributo de xícaras, potes, copos, buracos ou recipientes de qualquer espécie. A mesma noção pode ainda ser estendida ao útero, à noção religiosa da Grande Mãe, a qualquer meio de transporte, ou ao estado de transição que se dá entre uma aparente coincidência e a atestação de um fato, que revela motivos que contém plausibilidade, ou ainda eventos relacionados a qualquer tipo de transição em geral, que traduz em si um atributo, permanente ou não, de conter “mensagens”, como nas premonições ou em certos tipos de sonhos. Portanto, a noção de “conter”, existindo como ideia, será atribuída a um sem-número de objetos no mundo físico, ou através do simbolismo de tais ideias. No caso da xícara, ela pode conter café ou chá. Se continuarmos este tipo de raciocínio com apenas estes três elementos, encheremos linhas e mais linhas de especulação simbólica.
                Não é possível esgotar um símbolo. Nem o valor de algo pode ser universal. O dinheiro que vale em um país tem valor diferente em outro, e pode não ser sequer aceito em um terceiro. Não existem coisas neutras, ou coisas sem valor. Existem apenas as coisas, seus nomes e atributos, e algum uso.

                2.
                Convém lembrar que o “desapego” procura elidir o valor das coisas ao desvincular o objeto ao desejo. Este processo nada tem a ver com neutralidade. Apenas um insano desapegaria do uso sadio das coisas enquanto estiver neste mundo em um corpo, ou — já que estamos indo tão profundamente na metafísica — como imagem. É correto lembrar que o amor é a unidade de medida da sanidade. Quando amas verdadeiramente a um irmão, lembra-te de Deus. A noção de unidade se refaz em qualquer pensamento amoroso que tiveres, mesmo em relação aos ambientes. Já foi dito em outro lugar neste blog das sábias palavras de Chico Science: “deixar que os fatos sejam fatos naturalmente/ sem que sejam forjados para acontecer/ deixar que as coisas que lhe circundem estejam sempre inertes/como móveis inofensivos/para nunca lhe causar danos/sejam eles morais, físicos, ou psicológicos.” E eis aqui tudo demonstrado. Deixar os fatos “serem” é liberdade. O vento que beija teu rosto na praia, ou a criança que te dá abraços no jardim jamais serão neutros, mas são amorosos. Assim, o desapego é uma noção de relevância. O que é relevante para ti, neste mundo insano? Nada? Então continues a estender neste mundo o amor. Se “o que vejo reflete um processo em minha mente”, nada pode ser neutro, mas tudo pode ser apenas o estender do amor de Deus aqui neste mundo. Portanto, pense apenas com amor.
               
3.
                E agora perguntamos: existe alguma coisa neutra? Ora, para que algo seja neutro, este algo não pode ser representado por nenhum tipo de ideia. A palavra portuguesa “neutro” vem do latim ne [nem]+uter, utra, utrum [um ou outro]. Ou seja, neutro seria “nem um, nem outro”. Este homem é feliz? Nem uma coisa, nem outra. Este carro é novo? Nem uma coisa, nem outra. Agora, diga: das coisas que experimentas em tua percepção diária, para quais podes dizer: “nem um, nem outro?”, a menos que seja um erro?
Há uma maneira de isso ser assim: devote indiferença àquilo que não existe, isto é, a tudo o que vês no mundo da percepção. No entanto, guarda para ti os pensamentos de amor, pois a pouco já ficaste com raiva também. Assim, eis o mundo retornado pacífico À Tua Santa Mente. E pedimos a Nosso Pai que venha até nós, para nos transportar pela “brecha”, esta “estreita fenda” que nos separa do Reino, e pedimos que seja para logo a compreensão empírica disto. Amém. 



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