sábado, 21 de julho de 2012

Balada do homem bom à procura de seu nojo

Na rua, encontrou-se o homem bom virando a esquina.
Trazia no bolso memórias e duas caixas de isopor.
O homem bom refazia um trajeto passante
E trazia os olhos marejados de luz.

Em sua vida, nunca se viu o homem bom a errar 
no claro.
Leia-se: pátina, avenca, sedução.
O homem bom sabe assobiar canófaros!
Mas quase não canta metáfora, se aguilhoada em flor.

(Moço:
Não terá por aí o senhor
Uma máquina de desfazer homens bons?
Devolvo limpa.)

Mas coragem para ser a si mesmo
O homem bom não tem.
Passa por bom em meio a outros
que são como ele
E trocam amabilidades em noites como o Natal.

(Conheci-o
Há tempos,
Quando se o via a fabricar esmolas
Em muita mansão e casas de moedas.
Tornou-se importante em não ser lembrado.
Mas ninguém tem por ele piedade.
Dizem, apenas:
— cuidado: ele é muito bom!)

Pedia socorro invertido.
Nunca ninguém o ouvia,
Pois onde pedia socorro
Figurava um lindo jardim,
Cuidado em flores e abismos,
Riscado em parede caiada
De tempos imemoriais
Para ele inacessíveis.

Finalmente, a Fundação Para o Homem Bom o acolheu.
Passa as tardes a jogar xadrez sozinho
Ou com a máquina de computador.
Teme a vida e a morte,
Mas sempre tem algo de bom a dizer.

E apenas nisso pode ser, finalmente, terrível.

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