Na rua,
encontrou-se o homem bom virando a esquina.
Trazia no bolso
memórias e duas caixas de isopor.
O homem bom
refazia um trajeto passante
E trazia os olhos
marejados de luz.
Em sua vida, nunca
se viu o homem bom a errar —
no claro.
Leia-se: pátina,
avenca, sedução.
O homem bom sabe
assobiar canófaros!
Mas quase não
canta metáfora, se aguilhoada em flor.
(Moço:
Não terá por aí o
senhor
Uma máquina de
desfazer homens bons?
Devolvo limpa.)
Mas coragem para
ser a si mesmo
O homem bom não
tem.
Passa por bom em
meio a outros
que são como ele
E trocam
amabilidades em noites como o Natal.
(Conheci-o
Há tempos,
Quando se o via a
fabricar esmolas
Em muita mansão e
casas de moedas.
Tornou-se
importante em não ser lembrado.
Mas ninguém tem
por ele piedade.
Dizem, apenas:
Dizem, apenas:
— cuidado: ele é muito bom!)
Pedia socorro
invertido.
Nunca ninguém o
ouvia,
Pois onde pedia
socorro
Figurava um lindo
jardim,
Cuidado em flores
e abismos,
Riscado em parede caiada
Riscado em parede caiada
De tempos
imemoriais
Para ele
inacessíveis.
Finalmente, a
Fundação Para o Homem Bom o acolheu.
Passa as tardes a
jogar xadrez sozinho
Ou com a máquina
de computador.
Teme a vida e a
morte,
Mas sempre tem
algo de bom a dizer.
E apenas nisso
pode ser, finalmente, terrível.
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