domingo, 10 de setembro de 2017

Sobre assumir a responsabilidade





O mundo não pode conter nenhuma imagem real de si mesmo, pois ele não pode se autocriar. A perspectiva da natureza como criadora espontânea da vida, sendo ela mesma um fator “externo”, do qual a mente não teria parte em seus desígnios extra-humanos, é rapidamente corrigida se pensarmos que a Mente é una e não pode deixar a Sua Fonte, que é interna, pois Deus não está lá fora. Quando certo ponto de vista procura igualar a natureza a Deus, isso tem que ser levado em consideração. O fenômeno da vida se expandindo em matéria como uma ordenação em mente certa pode ocorrer, mas não é espontâneo, pois se a vida é um efeito na natureza convém perguntar qual seria sua causa. Os gregos nomeavam tal princípio em mito através da ideia de um titã, de nome Gaia, que estendia a vida na natureza.
Sendo assim, podemos afirmar que nada acontece lá fora que não tenha sido antes pensado por alguma mente. No caso dos princípios, seria então tal ato trazido pela mente de Gaia? ou pelo Deus do gênesis? Há sempre algum mito de criação que eleva a matéria ao pressuposto de portadora da vida. Mas, se as criações são extensões, como se deu a primeira extensão?
Uma forma de apreender o princípio único que criou toda forma de vida é aceder o mistério da criação ao mito. Falamos há pouco sobre Gaia. Outra forma é encontrar um pressuposto no tempo que angarie a resposta como tal. No entanto, como diz o Livro Texto, todo mito de criação se confunde com a própria origem do ego, pois ele gostaria muito de te engodar na seguinte questão: quem és tu? Obviamente, buscar pela origem do homem no artifício do tempo pode trazer muita especulação intrigante, não é mesmo?
O Curso em Milagres não busca dar essa resposta, senão nesta forma: um dia, surgiu no Céu uma ideia diminuta e louca da qual o Filho de Deus se esqueceu de rir. A falta de alegria não poderia ser produzida no Céu. Assim, a criação do mundo é um mito em separação e tristeza.
                Como aconteceu realmente não nos cabe saber. A especulação metafísica das origens não é absolutamente nosso assunto agora. Mudar tua mente não quer dizer “trazer de volta pelo início”. Para desfazer esta diminuta ideia tudo o que precisamos são: fé, estudo e trabalho. A fé em saber que Sou Filho Perfeito de Deus e isso não pode ser desfeito. Consequentemente, sou todo amor e a felicidade é a característica que rege minha existência. Estudo para mudar minha mente, pois uma mente sem treino não é capaz de realizar coisa alguma. E trabalho, pois disciplina demanda empenho.
                Certamente, agora uma dúvida paira no ar: se a vida originou-se do próprio desejo de separar-se, qual a origem da matéria? Ainda e igualmente, esta pergunta confunde-se com as origens do ego, e para isto responderemos apenas que a vida é dada por Deus como uma dádiva para que se possa lembrar Dele.
Nada é mais apavorante que desencadear uma nova forma de pensar. A especulação sobre as origens da vida é  conforme ciência  válida até esbarrar no fenômeno homem. O homem não se desenvolveu, ele sempre foi. Ele é o meio e o fim da expiação. A Mente Certa não possui muitas formas. A vida é um bem estendido pela mente certa, mas ela se realiza a si mesmo no homem. E o homem é responsável pela vida no planeta e por tudo o que acontece nele.
As criações são extensões, e tudo o que acontece em tua vida é uma direção a que te destes enquanto estavas assumindo que o mundo era algo “exterior”. Agora, pouco a pouco o Ser Que Deus Criou deixa claro para ti que as imagens são espelho mundo da tua mente. Escolher certo é escolher pela Vontade de Deus, que é a tua vontade mesma. Assumir a responsabilidade por este mundo torna-se uma obviedade diante desta perspectiva. As imagens mundo são tua criação. A expiação virá em teu favor para que sejam usadas promissoramente para o teu desfazer.
Isto é tudo. O Curso em Milagres é um curso prático para a cura da mente. Ele não está dividido em fases ou estabelecido através de propugnações. A meta de Um Curso em Milagres não é encontrar respostas para um mundo irreal, e sim satisfazer as condições pelas quais se possa escapar deste mundo. Jesus venceu o mundo. Seu princípio é puro amor, sem especulação.
                Ainda uma coisa precisa ser dita: por mais que a curiosidade científica pareça esmiuçar os parâmetros da matéria para encontrar respostas sobre seu funcionamento “autônomo”, os princípios de correção (como a medicina e toda a área da saúde, assistência social, qualquer forma de magistério), de criação (engenharia, exatas em geral) e de especulação e conhecimento (letras, sociologia, direito e afins), são áreas dignitárias diante da capacidade em estender, mas não podem em si mesmas fazer real o que não pode aceder ao conhecimento tal qual o Curso em Milagres apresenta este termo. Por fim, as ideias de cura são extensões no tempo do amor de Deus em nossos irmãos como médicos, por exemplo. As outras áreas tem que partir desta inspiração. De acordo com isto, este aprendizado também pode ser estendido por qualquer um deles, que venha a ser um Professor de Deus. A responsabilidade por este mundo surge de uma entrega total, inclusive para nossa função aqui.

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quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Referências para pesquisa no UCEM

Estas são as formas de referência adotadas pela Foundation for Inner Peace para localizar trechos do Curso. Tento manter as publicações do site neste formato. Nem sempre acerto. Enjoy it.


quarta-feira, 26 de julho de 2017

Sobre a culpa



 

A culpa mora no “arrependimento”, pois o arrependimento provoca a culpa quando remonta a uma ideia de punição. Pensamos que, diante de nossos erros, certamente algo pode ser devolvido como punição. A culpa tenta, então, “demonstrar” que há no indivíduo um atenuante, na forma de arrependimento, e que assim ele pode prosseguir na vida, mesmo em erro. No entanto, a culpa paralisa, pois apoia o medo como ferramenta para essa suposta expiação.

A culpa demonstra insanidade na medida em que apoia o medo. Quem pode dizer que um homem desenvolve uma parte de si mesmo através do erro? Apoiando o erro como forma de desenvolvimento? Certamente, não haverá nenhum problema com isto, pois podem existir “lições aprendidas” com o erro, mas desde que o erro seja visto como um equívoco, como diz o Livro. Mas se o erro precisar ser expiado através da culpa, o indivíduo que evoca a culpa para se expiar através do arrependimento torna-se um perverso torturador de si.

O totalitarismo nascido da culpa surge mediante uma “propaganda” feita pelo ego, exercida sobre o sujeito da experiência, diante da qual a culpa tenta provar que ele é uma pessoa totalmente normal. Explico: o sujeito culpado é visto como qualquer outro no mundo, sofre das mesmas mazelas e é vítima da sociedade ou daquilo que “lhe acontece”. Ele é vítima do mundo que vê: a culpa está lá fora, em alguém ou em algum sistema, e ele apenas se vê como um incapacitado diante da impossibilidade de mudar para melhor as mentes ou condições externas a ele.

Ou por outra: pode também ver a si mesmo como o pior diabo de todos, e assim precisa imiscuir no seu proceder formas diferentes de aceder ao medo, diante de corroborações de erros e faltas de virtudes morais, éticas ou mesmo a falta de honra diante dos seus pares. Seu apoio interno a este tipo de desídia lhe traz mais para perto de si mesmo, e o solipsismo decorrente de tal modo de ver a si mesmo é o isolante social que o faz ver em todas as pessoas alguém que lhe é melhor, ou mais honrado, ou moralmente mais valioso etc.

Assim, a culpa surge por dois tipos de viés: de dentro para fora, quando o sujeito da experiência se vê como um pobre coitado diante dos outros, segundo sua “nobreza” em perceber a si mesmo como um pária. Ou de fora para dentro, quando o indivíduo se vê como um cosmopolita dissolvido na massa, ou um lavrador diante da natureza, ou qualquer outro tipo passível de ser oprimido por alguma força exterior.

Estes dois modos de ver leva o sujeito da experiência separada a crer que a única maneira de se ler como um indivíduo se dá através da imitação. O Curso diz que no relacionamento especial se busca trocar a si mesmo por alguém de mais valor, mediante a incorporação de um modo melhor de pensar, ou um modo de agir mais condizente com a vida etc: “(...) quando (o ego) acha o relacionamento especial no qual pensa que pode realizar isso, ele se desfaz de si mesmo e tenta se “trocar” pelo ser do outro”.

Quando a culpa emerge com toda sua força diante destas fantasias, afirma exatamente o que é a propaganda do “real” que está por trás de todas as desculpas listadas acima: você é um pecador por ser como é, e merece punição e morte. Ou mesmo coisas que atestem isso, através de algum símbolo de mal viver. O sentimento que isto provoca muitas vezes é escamoteado através de muita procrastinação ou por meio do sentimento de vitimização, mas sempre surge como um sucedâneo para o medo da vingança que o erro certamente trará. Se você pensa assim, as coisas se darão assim.

O Curso em Milagres vem em nosso auxílio para dizer que isso não precisa ser assim. A independência não é isolamento, tampouco o sentimento de admirar os outros não precisa se destacar em especialismo. O Curso deixa muito claro que cada um tem uma função aqui que somente ele pode realizar. O livro diz ainda que és livre para procrastinar, ou para buscar apenas relacionamentos especiais, baseados no medo de valorizar suas próprias ideias. No entanto, há um Amigo capaz de remontar ao teu repertório de pensamentos as ideias que podem desfazer tudo isso. 

Esse Amigo é o Espírito Santo. Ele não pode estar contigo se tu mesmo não permitires. Ele pode ser encontrado em ti mesmo, dentro de ti mesmo, e também no dentro que vem de teu irmão, quando vires o teu irmão como o mesmo. Nunca poderás especializar “o mesmo”. Como seria possível? A natureza do mesmo é o amor que com amor se doa, e depois se estende, totalmente diferente de como o mundo nos ensinou a completar. O que se paga no especialismo é a morte. Não a morte mortal, pois a morte não existe, o corpo é um fiel depositário de um recursto muito limitado a que chamamos ego. NO todo, no “por dentro” de teu irmão, estamos reunidos não como “uma unidade partida em muitos”, pois  esta é a definição do sonho. Na verdade, pensemos assim: o homem quando vê o visto, segundo o filtro dos preconceitos de seus dias, vê ideias que lhe fornecem os sentidos de seus dias. O Espírito Santo nele também vê o dia, mas não acredita em matéria e forma, e assim divulga Suas Próprias Ideias para aqueles que se permitem ver. No entanto, imaginemos um suposto "homem A", que vê suas ideias de acordo com suas experiências. Certamente, tal homem pensa ser diferente do "homem B", que utiliza para si outro filtro ideológico para se ver no mundo. Contudo, se pudéssemos “desfazer” a personalidade do tal "homem A", que tão diligentemente o próprio "homem A " construiu, e depois “desfazer” a personalidade do "homem B" que tão diligentemente o próprio "homem B" construiu, os corpos A e B veriam o mundo “puro”, aparentemente através do “nenhuma personalidade”, mas, realmente, segundo a ótica do mesmo. O mesmo não é um complexo de ideias que tem seus dias contados. Desfazer isso não traz nenhuma perda.

Obviamente, tais coisas são vistas como mentiras pelo ego. A culpa demonstra claramente que o valor de todo o estratagema de se sentir bode expiatório do medo tem valor, e que melhor seria morrer a desfazer o que não existe. No entanto, como uma certeza plena, fica a garantia de que ninguém pode desfazer a vida, mesmo se um meteoro caísse aqui na terra e destruísse o planeta. A vida é uma instância imaterial, não precisa de matéria (humana ou extra-terrestre, se você pensou nisso) para existir. A vida é um “a-priori” a-priori.  

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segunda-feira, 24 de julho de 2017

Sobre a liberdade





O tempo dita as regras do cotidiano. Uma causa não admite jamais que não haja sobre ela um efeito. Se tu és um efeito de Deus, como poderia que a Causa disto pudesse ser uma evidência em favor do tempo? O diâmetro que circunda os dias, as eras, a história como ciência ou como uma procissão de fatos não nos diz quem somos. Um tempo virá em que o momento presente será a medida de todas as coisas. Até lá, a ciência histórica ou a procissão dos fatos dirá sobre o homem o que significam seus erros, traduzidos em efeitos e causas. 

Mas — repito — se tu és um efeito de Deus, como então admitir que de alguma maneira o tempo possa te determinar e dizer quem és, ou onde erraste? O pior inimigo da verdade é a mentira sobre si mesmo, não é? A proclamação de independência não pode ser contextualizada se não houver uma metáfora que a reitere como causa, diante de fatos. Assim, por mais memória que se aplique ao reter dos fatos, sempre haverá um resíduo de julgamento. 

Até onde pode ir um homem em busca da verdade sobre si mesmo? Se ele pensa que pode encontrar uma memória que repita seu ser diante de sua história — como uma injustiça recebida ou cometida — necessariamente ele se condena ao passado. A causa estaria lá onde foi cometida/recebida a injustiça. Como voltar lá para remediar/restaurar? 

A servidão voluntária é um erro. Ninguém pode se sujeitar a um erro diante de fatos que o justifiquem como tal, a não ser que seja insano. Uma doença mental, entretanto, pode ser curada pelos milagres com tanta facilidade quanto uma doença física. Se tu és verdadeiro em teu coração, como poderias encontrar medo diante de pessoas dignas e decentes? Não será porque tais pessoas te dizem que tu tens que estar errado diante de teu próprio medo? Ou seja, não será porque imediatamente te verias como ela e te perdoarias por tudo o que fizeste ou deixaste de fazer? As pessoas honestas, decentes e morais existem somente em especialismos.

Quem sabe o que fazer em qualquer situação é Aquele Que responde pela mente certa. Apenas ele sabe tudo o que é certo, em qualquer situação. Nem sempre o certo é uma correção moral ou um contexto ético válido para a pessoa. Muitas vezes, o contexto ético de uma pessoa foi forjado diante de muito  medo e falta de julgamento em favor de si mesmo, e assim se é colocado em meio a muito desfavor mental e perigosas neuroses insidiosas que precisam de algum deságue, geralmente nem um pouco ético.

Talvez, se um prior de um condado esquecido na Alemanha ou na cidadela armada no Chile dissesse sobre si mesmo o que espera da vida, ser-lhe-ia fornecido um ponto de vista mental e ele poderia ou não acreditar naquilo.  Mas não é o medo quem trama as conseqüências surdas da derrota ou vitória. Na verdade, tudo o que se especializa em novidades aguerridas traz consigo a vontade deliberada de sacudir um pouco a poeira da moral, da ética. 

Sob o signo de Jó, podes pedir uma experiência durante vários anos, e não verás nada, porque és arrogante e queres tudo como barganha. Só precisas vir com as mãos vazias, até mesmo de força de vontade, desde que estejas pronto para não querer sujeitar-se a nada deste mundo. Nem mesmo à morte. 

Mas ainda queres algo aqui, ainda acreditas que vale a pena buscar, ter, adquirir, fazer, receber com glórias ou se definir com medo. Tolices, mas altamente valorizadas. Tolices, mas duramente aprendidas. Agora, o medo pode definir melhor quem és, pois há coisas a se fazer, e podes temer não conseguir.

A experiência vem a cada um quando estiver pronto, como diz o Curso. O momento não é agora, mas está próximo, pois a tua decisão foi firme e não foi feita no tempo. Não pode ser mudada. 

Pai, venho pedir-te de mãos abertas e livres de qualquer desejo que seja feita a Vossa Vontade. Venho dizer que não tenho nada a adicionar que não seja loucura e medo. Não peço função nem coragem, apenas a sadia expressão de Ti, diante daquilo que queiras Teu, e nada mais adquiro como vontade própria. Mas peço tua compreensão amável e teu olhar voltado ao Teu Filho, pois ele te ama e te espera, como um Filho, Que Ama Seu Pai. Amém.  

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sábado, 11 de março de 2017

Sobre o excesso de pensamentos e a sombra.

       


        O excesso de pensamentos não é aparente para quem não os percebem, ou se acredita confundido com eles. É possível confundir-se com uma sequencia de pensamentos, de tal forma aparentemente difundido como “nossos”, que a presença do pensamento torna-se a realidade da pessoa naquele instante.

       Para além do “penso, logo existo”, que define o homem à luz do pensamento racional e estabelece uma relação de causa e efeito entre estruturas lógicas do pensamento, o “existente por pensar” está apenas aderindo a uma causa sem efeito, pois o pensamento “solto” nasce de uma volição, não está em busca de aderir a si mesmo nenhum efeito. Ele  apenas surge, traz consigo uma ideia, depois desaparece, e o sujeito busca compreender a si mesmo a partir de imagens, ideias, noções aproveitadas de coisas escutadas de orelhada e assim por diante. Alguém que está agindo nestes termos, mas não se percebe assim, pode muito bem ser influenciado por qualquer tipo de ideologia.

          Por outro lado, aquele que percebe a si mesmo como um ser pensante, pode muito bem iniciar a observar-se como portador de uma estrutura que aqui chamaremos de “mente errada” (termo encontrado no livro Um Curso em Milagres) capaz de fornecer diversos tipos de pensamentos em variadas formas através da imaginação, tais como imagens, opiniões, pseudos planejamentos, conselhos, ativismos libertários e todo tipo de noção acerca da qual o pensamento seja capaz de construir como ideia, a fim de distrair o observador deste fenômeno e fazê-lo aderir ao pensamento fornecido como se isto fosse ele mesmo.

A luz desfaz a escuridão
        No entanto, quando você consegue finalmente perceber-se destacadamente do pensamento como uma noção totalmente identificada com você, ou seja, quando você percebe que você não é seu pensamento, você pode ver a si mesmo como um observador da mente. Este observador da mente seria algo como a mente observando a si mesma, ou como dito também no livro Um Curso em Milagres, você percebe-se identificado com a “mente certa” a observar a “mente errada”. Quando isso começa a acontecer, é realmente uma benção, mas pode ser interpretado pelo observador como loucura.

O medo é o princípio que rege o apego ao pensamento como um fundamento da existência e a base única do nosso eu. Quando essa loucura é vista em ato, ou seja, quando a natureza ilusória dos pensamentos é percebida, é possível que o sujeito seja tentado a perceber a si mesmo como louco, pois doutrinou a si mesmo durante anos a identificar-se com o pensamento como a realidade única de seu ser e viu que essa realidade é ilusória. Mesmo assim, a tentação em querer manter uma relação com o pensamento como uma identidade pessoal ainda não desapareceu por completo. Neste caso, o sujeito pode experimentar um conflito muito agudo: ele percebeu que não é aquilo que são seus pensamentos, mas também não sabe onde encontrar uma base sólida onde encontrar seu verdadeiro Ser. Isso pode provocar no sujeito uma grave ansiedade.

           Esse é o momento da fé. Quando o Filho de Deus passa a abandonar a ideia de si mesmo como uma mera estrutura de pensamentos, começará a surgir para si, em sua total completeza, algo que ele poderá descrever como um novo eu, com tudo o que é amoroso e belo ressurgindo para si, brilhando em sua mente como uma ocorrência feliz, reverberando com o mundo em amor e capaz de atribuir a si mesmo aspectos positivos ou capacidades revigorantes que o individuo acreditava estarem perdidas para sempre.

         Neste momento, aspectos mantidos através de pensamentos privados, isto é, tudo aquilo que o sujeito relegou ao esquecimento e não quis ver em si mesmo ou mostrar, será trazido à luz.  É preciso ter confiança e saber que a completeza do Filho de Deus é luz e não escuridão. Certamente, seria muito difícil realizar isso sem ajuda.

          A Ajuda é fornecida por Deus, através de Seu Espírito Santo. A “mente certa” é o lugar onde os pensamentos de Deus podem ser observados e tudo o que estava oculto pela escuridão será revelado sem mancha, como se lê na Bíblia: “e não me lembrarei mais de seus pecados e de suas iniquidades.” (Hebreus 10:17). Tais pecados não são as “coisas erradas” nas quais você se vê condenado por tê-las "feito". Tampouco a solução para dirimir suas consequências ilusórias, lançando-as na sombra e relegando-as ao esquecimento terão sucesso. O pecado que você acredita ver em si mesmo não reside  no ato passado, mas na culpa e no desamor associados a tais coisas. Quando elas aparecem, o perdão surge como uma perspectiva de cura. O caminho mais curto para a realização de tal processo dá-se através do perdão aos outros.

       Caso escolhas ouvir a “mente certa”, poderás escutar o Pensamento de Deus, ao invés de teus tolos pensamentos sobre devaneios imaginados. O mundo que vês é apenas o reflexo destes devaneios. A “mente certa” não possui pensamentos privados, pois tudo lá é compartilhado. “No mundo novo, nada passa desapercebido / e não existe mais sabido / tá tudo aí” (Tá tudo aí, música de Rubinho e Mauro Assumpção).

           Certamente, já é possível perceber a esta altura que o teu papel neste jogo chamado vida é o de escolher entre observar a “mente certa” ou a “mente errada”. Observar a mente errada e se identificar com ela é o mesmo que chamar pela condenação, pelo erro ou o desamor. Estes são os regalos do ego, dados para depois serem cobrados como culpa ou medo, ou a falcatrua da dor disfarçada de prazer. Você não existe como um feixe de pensamentos. Você é um tomador de decisão.
  
            Acaso você se decida por ouvir apenas os pensamentos oriundos da “mente certa”, certamente vais encontrar um Amigo capaz de te ajudar. Ele não te influencia, não te dirige, não te compele. Mas se O escolhes como Guia, ouve-O e escolhe segui-Lo, os efeitos das ações sugeridas por ele podem muito bem ser interpretadas e seus efeitos comparados com o modo antigo de pensar. É essa comparação que te faz distinguir entre a “mente errada” e a “mente certa” e escolher bem.


           Portanto, por um tempo é necessário ouvir toda a confusão da mente como algo destacado de você. Esse é o princípio da sanidade. Por fim, a oração é o caminho para a paz.  Sempre que quiser paz na tua consciência, faz da oração teu link com a mente certa. E o Amor despontará na tua consciência por Si Mesmo. Como é dito em Um Curso em Milagres: você não precisa fazer nada. 

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Música citada no texto: "Tá tudo aí".

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domingo, 5 de março de 2017

Uma curta reflexão sobre o conceito de "ideia"



A melhor maneira de expressar a noção de alguma coisa diretamente parece se dar através de imagens.  O mundo é imagem e, portanto, ideia. Veja-se os ditados, por exemplo. São imagens, simbolizando situações limites em expressões diretas ("água mole em pedra dura...", "melhor um pássaro na mão..."). Imagens diretas. Goethe dizia que "a ideia, na imagem, torna-se inexaurível". Utilizaremos, portanto, uma imagem para expressar justamente a noção de ideia.

Digamos que alguém nos questionasse algo nos seguintes termos: " — você faz ideia do que está acontecendo nesta sala neste momento?". Ora, a questão remete diretamente à expressão de um contexto imediato. Donde podemos concluir que a ideia de um momento é o contexto dele. Daí: "tudo é uma ideia" (C.Q.D).