sexta-feira, 27 de julho de 2012

Sobre a curiosidade e a fé



Obrigado a ti!

A curiosidade abrange o empenho do ego em conseguir “entender” a revelação. Aquele que está “curioso” está envolto em determinações que não abrangem a fé, pois não entende aquilo que quer ver. No entanto, quer ver para, então, entender.
A fé, em oposição a isto, mas abrangendo mesmo isto, se aporta no que é totalmente real e não precisa de explicação. Ninguém pode acreditar em ter fé. A fé surge de uma disposição em lembrar. Lembrar não é “querer ver”. Lembrar é apenas “desvelar”.
Tu, que estás curioso acerca da revelação, deverias ser mais cuidadoso em relação à tua curiosidade. Ela aponta para o futuro, para algo que será um dia demonstrado, ou revelado, sendo a tua curiosidade uma pulsão em direção a este tal futuro. Assim, qualquer disposição tua para estar presente neste momento será apenas um prenúncio defasado, já que a tua curiosidade, a partir de então, buscará meios de aderir o teu entendimento à experiência, alcançando para ti a “explicação” do fenômeno.
Aquele que acredita ser “curioso”, acha que possui vantagens em relação ao devoto. Segundo o raciocínio egótico, a curiosidade é um catalisador da experiência, e apresenta em relação ao sujeito um determinante que aposta no segundo seguinte como a verdadeira amostra de Deus — explicada, logicamente.
Assim, no instante mesmo em que perceberes o mundo a rodar, quererás sair disto para entender, pois, curiosamente, eis aí o novo! E se entregar à paz que sobreviria à entrega total ao fenômeno da revelação parece algo impossível, pois é algo que o ego não compreende, e não deixa que vejas, pois não pode aceitar o que não podes “mentalizar”. Por isso é dito no curso que o ego quer que “busques, mas não aches”. Isto é, o ego te quer sempre “curioso”.
Obviamente, mesmo isto pode ser usado em teu favor se deixares que o Espírito Santo assuma a responsabilidade por “procurar”. Ele “achará” para ti o que queres, e poderás relaxar na perfeita disposição da vontade para o aprendizado, que é estabelecida na fé.
A fé, diferentemente da curiosidade, não abrange o amor como um “fenômeno”, uma discussão ética ou comportamental. Tampouco se estabelece em menores habilitações do mesmo, quando se fala sobre o seguro-desemprego, a valia de algo ou símbolos do mundo para a justiça. A fé, seu empenho seguro, não está envolta em nenhum comentário ou expectativa. A fé é semelhante a sentar-se numa cadeira e sentir a temperatura do ambiente ou observar um muro ou uma janela. Esperando o quê? Esperando nada, esperando apenas o que nada pode ser, ou seja, esperando que a espera suprima por si só a experiência em esperar.
Falar em termos de opostos sobre a colocação da fé neste mundo é tarefa que empenha concentração e esforço. É preciso que não queiras absolutamente nada para teres fé. O mundo apregoa o contrário: ter fé é ter disposição, curiosidade, empenho, devoção etc. Mas a verdadeira fé, que é a abstenção ao ego, como dito no Curso, “sentar-te de lado e não interferir”, esta fé faltam em muitos que ainda se crêem separados. A fé de Tomé vale por uma imagem. A fé de Cristo não se compreende por palavras. No entanto, a fé de São Tomé é a mesma fé em Cristo, vista em imagem.
A fé de teu irmão vale, portanto, pela tua fé — caso consigas ao menos amar ao teu irmão. Por isso se diz que o Instante Santo é um instante de verdadeira fé. O verdadeiro amor não é “curioso”. Ele não quer saber nada sobre o outro, ou sobre a “iluminação” do outro. As crianças são ainda pequenas e descuidadas, mas abrangem em si a disposição em aproximar-se de outras crianças com fé perfeita. Como seus egos estão em formação, em breve discutirão, e esta parece ser a natureza da relação infantil, que difere da adulta apenas pela sinceridade. A criança ainda está presa ao fazer. Tu, que já deverias desfazer, ages como criança quando és curioso, e queres fazer a tua fé, ao invés de entregar-se à Expiação, ao verdadeiro desfazer.
A única alegria verdadeira vem de se fazer a função que Deus estabeleceu para ti. Qual é essa função? O Espírito Santo revelará para ti, quando estiveres disposto a não querer saber! É disso que estivemos falando, pois o ego quereria que tu acreditaste na “forma” de tua função. No prêmio, no reconhecimento, no empenho devotado à miséria de sua explicação formal. Tu estás muito curioso em saber qual a tua função, mas acreditas que ela será “demonstrada” para ti. Estás tão curioso por isto, que não te entregas à tua função, que te auxiliará no teu desfazer.
Como fazê-lo? Simples! Acorda pela manhã e viva a vida sem esperar nem um segundo sequer por um pensamento ou explicação sobre nada. Apenas veja o visto. No zen se diz: “almoçou? Então vá lavar os pratos”. Eis tudo!
Parece difícil, não é? O simples parece o absurdo maior. É sentido como insatisfatório. “Precisa-se de um pensamento”, eis a tabuleta que poderia ser colocada na mente de cada curioso. No entanto, o pensamento que surge da fé não surge apenas através do empenho em perceber ou entender. Vejamos agora palavras seguras sobre a tua forma de fé:

1         A fé move montanhas e sonhos. As montanhas são sonhos. Se sonhas com montanhas ou sonhas com metades de montanhas ou sonhas com cabeças de dinossauro, sonhas com sonhos. Se sonhas com sonhos, sonhas com histórias. Se sonhas com histórias, sonhas com o passado envolto na memória das histórias.

2         A metade do abismo não é a queda.

3         A montanha é o palanque do abismo.

4         A cura é a montanha olhando de dentro do abismo para Si Mesma.

5         O olho da montanha é a fé.

Logo,

A fé remove montanhas



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