domingo, 10 de março de 2013

A cura da separação




                A vontade dirigida fortemente em favor de empenhos separados pode certamente fornecer as características associativas da separação. A doença a que chamamos “separação” não é em si mesma uma doença, mas uma fornecedora do “lugar” no qual as doenças podem acontecer. O medo da separação é infundado, mas é factível que a doença em decorrência da separação seja claramente perceptível neste contexto como sofrimento.
                A grande premência do sentimento de isolamento é um óbvio efeito do investimento errado. Vejamos: se investes na separação como teu esteio, o teu sentimento de si mesmo será o de um separado. Parecerá que estás destacado de tudo, mas que isto vem pelo custo de alto empenho em independência. Teu ego não deixará de fornecer os elementos aos quais devotas tua idolatria e apresentas como empenhos aos quais merecem tua “dedicação”. Assim, a morte surge como um evento separado, que cortará de vez a tua vida de todas as outras vidas, pois esse é o ápice da separação.
                No entanto, enquanto não surge a meta principal, as meta secundárias em direção a este terrível sonho advogam que a separação não ocorreu, por isso são precisos arranjos entre ti e o mundo para que possas transitar nele; separado, mas pertencente à sua roda. Tu és um dos habitantes do mundo, tens o direito de estar aqui, mas neste “aqui” os corpos e os diferentes objetos devotam para ti a prova de que a separação ocorreu em um contexto no qual teu empenho falhou, e precisas agora defender-te, sob pena de receberes o ataque, que virá nas formas de falta: de amor, de dinheiro, de companhia, de pessoas para conversar etc. Em outros termos mais simples, é a crença na escassez.
                Obviamente, parece que não vale a pena deixar isso para trás, pois o medo surge agora como o elemento “protetor” da separação. O separado crê que entrou em uma bolha, mas que pode conviver com outras bolhas e com as “coisas bolhas”, sem jamais tocar em nenhuma delas, e totalmente à parte de tudo o que percebe como sendo externo a si. Essa sensação, que é fortemente defendida pelo medo, pois o que poderia ocorrer caso todas as bolhas estourassem?[1] Ele seria totalmente dissolvido e “perderia” sua identidade. Ele precisa muito temer as “outras coisas” ou os “outros”, pois em caso de contato, ele pode ser dissolvido, eliminado, totalmente destruído pelo que é externo a si, e agora que surge, como cavaleira da insanidade, a batedora oficial da separação, a tão insanamente protegida “culpa”.
                A culpa surge como a faca que aponta para teu peito a ameaça: “tu estás errado quanto ao que és”. Obviamente, isto — e apenas isto — está correto segundo a perspectiva da culpa. No entanto, enquanto o Espírito Santo diz que o erro nunca existiu, que és amado e que basta apenas mudares a perspectiva para veres a cura, a culpa, por outro lado, dita que a cura não existe, que  morte é a única certeza deste mundo, e que irás para o túmulo mais rápido se tentares te aproximar demais. Ela continua com a faca apontada, uma faca de espuma, mas te hipnotiza em argumentos aos quais devotas teus empenhos dizendo: mas a morte será que é meu fim, o que posso fazer para escapar? E da culpa, do medo e da morte surge o ego, que te diz o que queres ouvir para estar separado, mas em defesa contra a separação.
                Isso é possível? Será que estarás seguro se defendendo a favor do que queres escapar? Ele gostaria que visses em tudo a faca, apontada de volta para ti, pronta para estourar a tua bolha e te colocar indefeso frente a frente com o inimigo. Sem tuas defesas, serias trucidado pela separação, e o teu irmão poderia finalmente completar sua vingança, tramada em meneios escondidos, aos quais não tens acesso, mas que visam te jogar sempre no túmulo, pois a tua morte não tem final sem que o tempo possa dizer: “agora, uma coisa virá atrás da outra”, e por fora das bolhas surgem as horas, os minutos, o passado e o futuro, e se estiveres disposto a perceber a insanidade em tudo isso, o perigo aumenta, e teu ego tentará, de todas as maneiras possíveis, te retrair para “dentro”, sendo este tal “dentro” uma marcação em perspectiva, localizada com o centro em teu umbigo, sendo o corpo o grande troféu pelo qual, em certeza de defesa, podes agora respirar aliviado, pois finalmente esta faca está longe, longe; encostada em alguma outra coisa — teu corpo —mas não pode te atingir jamais.
                Agora, a separação é real. E podes ouvir o professor que fizestes, para provar que a culpa, o medo e a morte são reais. A sensação de opressão vem como um prêmio, pois podes dizer: “realmente é assustador!” Agora minha pergunta é: para quê isso? Qual é o propósito? Querias experimentar a dor, o medo e o ataque? Pois bem: não tivestes já muito mais do que o suficiente? Eu vim para te buscar. Nas queres te deixar ir desse sonho? Em verdade, não vais embora de lugar nenhum. Pensa nisto: no universo, rondando em torno de mil milhões de planetas, está a terra, que é um micro ponto em meio a esta “imensidão”. Dentro deste micro ponto, estás tu, minúsculo em relação a ele, como um corpo, um nanoponto dentro de um ponto. No entanto, acreditas mesmo que, se apanhas aquela xícara no mercado, compra-a com as tais “tiras de papel”, podes dizer agora que um ponto é dono de outro pontinho? O sonho permite que o teu corpo seja o centro de todos os pontos, e o teu umbigo está mesmo bem no centro de uma rosa dos ventos, cujo o norte é a tua vontade e o universo inteiro para diante de ti, para fora, externo em pontos e mistérios, todos com uma faca apontando para ti. Realmente, para te defenderes disto, terias que ser um mago, e viver em mágica.
                A mágica chama de vida, e o mago chamas André Sena. Pronto, eis a loucura revelada em ponto. Obviamente, André Sena será o nome de um corpo neutro, restaurado, conforme seja tua vontade de estar em paz, sereno, claramente destacado da loucura em acreditar que uma construção pode tomar o lugar de Deus. De acordo com a insanidade, Deus seria Aquele Que fornece a faca à separação, e Jesus é o culpado por ter divulgado o cangaço celestial. Tudo isso é até para se rir, para compor piada. Não aconteceu nada, nada se separou na unidade, e já dissemos que a culpa é a produtora das imagens. Portanto, a culpa de Adão forneceu-lhe os meios para “existir fora do lugar bom”, o medo fez com que o lugar “fora” fosse real, pois ele pode matar, e o ataque virou a defesa necessária. Daí as guerras e os motes em favor de angariar pontos nesta vida como um grande fortalecedor do sujeito como portador de coisas. E se ele possui coisas —e “coisas” são todas as imagens — as coisas fazem dele o sujeito de todos os seus predicados construídos.
                O perdão restaura, o amor pacífica, a ausência de defesas liberta e a paz vem. Somente através da ausência de defesas poderás perceber que a tal faca é um brinquedo de espuma. Tolo demais para ser levado a sério, e por isso se diz no UCEM que é “despedido com uma risada”. A faca de espuma é temida pela crença em que ela possa ferir. Ela não pode ferir. O hipnotismo em anos que te é sussurrado como verdade foi capaz de te iludir, mas estás percebendo a ilusão, para quê continuarias então em busca de nada?
                Os símbolos de amor não te serão tomados. Por fora da bolha está tua verdade, e tu és amor, portanto, verás apenas isso. Para veres a faca de espuma, escuta a Teu Professor. Confia nele enquanto vês as imagens de amor que ele te demonstra como sendo Tua real Vontade. Não há erro em acreditar em amor como a única verdade, pois todo o temor surge do medo da faca de espumas e dos assassinatos que cometestes com ela. É para se rir! Será que matastes com uma faca de espuma? Então a culpa é para se ver apenas em tolice, e o que vier para ti em imagens podes ver apenas em amor, sem nenhum tipo de julgamento, pois o julgamento do nada é apenas o nada decalcado.
                Devota teu dia hoje ao amor. Parece realmente doloroso o empenho em ausentar completamente de defesa. É como uma criança caminhando para tomar um bom banho de mar em um dia de sol, temendo a água fria no caminho e os seres marítimos e o medo de morrer afogado. No entanto, no caminho um amigo amoroso lhe diz a verdade, que a praia é em Natal, que a água é quente, que não há nada a temer, que ele pode confiar no mar se ele mesmo souber agradecer ao mar em empenho de nadar em lugar de calma, e que o grande amor de todo o mar é dele, e eis o banho bom, sem medo algum, embora a um tempo atrás parecesse que era temível e terrível aquele evento que se reconhece agora no bom. Amém, amado. Empenha-te neste dia em amor. Ausência de defesas é cura da culpa. O que revelarás é o que és, e só pode ser amoroso. Não queres continuar como fantoche da culpa. Deus está a falar para ti através de Teu Professor. Escuta-o hoje, e ele te conduzirá com amor, mesmo diante de “aparente terror” no caminho do bom banho de Natal. Esperamos por ti em paz. Amém.


[1] A metáfora da bolha é de empréstimo a Marcos Morgado.

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Um comentário:

  1. Tu me parecES um tanto acelerado como Sena, mas a tua cena não é de morte, e por isso, o Sena renasce em ti, pois tu põES em cena, que a única vitória do Sena, foi experienciar que não pode morrer para a Vida.

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