terça-feira, 12 de março de 2013

O medo de Cristo




               Ver ao teu irmão como o mesmo não significa que ele vá pensar como você. Ora, apenas na separação parecem existir ferramentas como a linguagem e a personalidade. Somente se todas as personalidades fossem iguais, teríamos a unidade do ego. Logo vês que isso é irrealizável. Também, no mito da Torre de Babel, está localizado o limite da linguagem como elemento unitário, pois o que teu irmão pensa através de palavras ou imagens separadas está bem distante da coincidência em termos daquilo que pensas de modo semelhante a ele.

               O medo marca estas diferenças. Obviamente, se teu irmão pensa diferente de ti, ele constrói um universo diferente, o que pode certamente estragar teus planos. Na separação, a única maneira de fazer com que o teu irmão se torne igual a ti é dominá-lo. Ou, através de muita humildade falseada, deixá-lo dominar-te. A contraparte dominante/dominada será o objeto de um relacionamento especial. E o lastro disto tudo será, obviamente, o medo.

               Claro que é o medo! Se afrouxares tuas cordas um pouquinho que seja, se deixares cair tuas defesas, pode ser que a “construção” de teu irmão prevaleça; ou se fores pior do que ele neste jogo insano, pode ser que ele seja prevalecido por ti, enquanto te “fazes de burro”. Não é dito nos suplementos em termos de irônica observação sobre o “quanto és bom?” Não se diz na Canção da Oração que recebes ofensas e respondes com sorriso, silêncio e complacência? A mímica do amor não chega perto sequer da mecânica do instante santo. Perdes tempo demais se queres apenas relacionamentos especiais, para cumprir contigo associações, grupos, conluios, camaradas envolvidos no medo de encontrarem a si mesmos “no mesmo”.

               O medo de teu irmão não pode ocorrer verdadeiramente. O que fazes é jogar o jogo da separação em “verdades separadas”. Se todo o mundo tem razão, não há razão alguma. Em um mundo de opostos, a unanimidade não ocorre, a não ser em oposição à abstenção. Quando todos são a favor, são contra ser contra. Não existe salvação no enleio do mundo. Por isso se diz no UCEM que “uma pergunta dupla pergunta e responde, ambas atestando a mesma coisa em formas diferentes. O mundo não coloca senão uma questão. Ela é a seguinte: “Dessas ilusões, qual é verdadeira? Quais delas estabelecem a paz e oferecem alegria? E quais podem trazer um modo de escapar de toda a dor da qual é feito esse mundo? (T-27. IV. 4:3-5).” A unanimidade escolhe alguma coisa em maioria separada, pois a unanimidade somente pode ser unânime em grupos. Nada é consenso no mundo da separação, pois aqui não é possível a unidade.

               Tens medo de ti mesmo. Apenas isso. Temes encontrar contigo mesmo em teu irmão, pois acreditas que ele representaria o teu “auto-ódio” e traria para ti a morte lenta que tramas em segredo. Obviamente, e mais uma vez, não és tu quem tramas o teu assassínio, mas teu ego, enquanto dormes. Mas dormes e sonhas; e o teu sonho em André Sena como corpo está parecendo muito doloroso para não questionares a valia dele como real.

               O medo surge de uma oposição. Se és inocente, precisa existir um culpado. Se és feliz, precisa haver tristeza no mundo. Percebes como é óbvio? Isso também implica em dizer que as “boas ações” não são mesmo garantias, pois seu oposto será chamado para concretizar a diferença em níveis. Como o milagre poderá surgir em um contexto no qual te encontras feliz em oposição à tristeza, ou curado em oposição à doença? Obviamente, o tempo se encarregará em cumprir teus enganos, pois a mutação é regra para o pensamento em opostos, e de tanto te acostumares com a mudança, em breve não confiarás mais na alegria, no amor, na temperança, pois acreditarás que tudo isto surge diante de um contexto que recua frente aos opostos. E faz muito tempo que experimentas o mundo desta maneira. Não será já uma prova de que o cenário não muda?

               A única mudança verdadeira vem através da única mudança possível. Ela também precisa vir passo-a-passo, pois não lembras como a tua mente funciona em sua forma original, e precisas entender o que ocorre contigo. Para isso, tens que vir em raciocínio, mas baseado na Razão, que não vê o erro dos conluios dos opostos. A unidade te será apresentada assim que quiseres ver de forma diferente. O diferente, neste caso, é o oposto do mesmo, pois apenas assim o mesmo e o diferente podem ser discriminados para que tu faças a escolha.

               Ver ao teu irmão como o mesmo é dizer que a revelação dele como o Cristo é verdadeira para ti. Não temes a teu irmão, nem ao nome dele, o cargo que ocupa, enfim, não temes o mito que ele representa. Temes ausentar-te completamente de defesas e veres nele o Cristo, pelo que verás o Mesmo, e serás imediatamente desvanecido, pois verás um evento em plena unidade, resgatado dos opostos. Isso pode ocorrer a qualquer momento, com qualquer um, e a confiança em teu irmão como o mesmo pode abranger a tua observação de um mundo sem diferenças em todos aqueles que te parecem corpos separados. Quando vires a Cristo em teu irmão, verás a confiança surgir em ti restaurada. Pouco a pouco, aprenderás a perdoar não apenas este que vistes em unidade, mas a todos, estendendo a cura em teus irmãos, participando com eles do retorno a Casa.

               Mas para isso não podes temer teu irmão, ou a “superfície” dele. Aquilo que vês no teu irmão é uma superfície. Podemos até dizer que é como uma casca, uma bem máscara inteira, nomeada “corpo”. A este corpo constróis uma história, e adicionado a ele surge o mito de cada um, pois cada pessoa que vês te parece restrita a um corpo, nome e mito. Mas lembra da característica inerente dos mitos que aprendeste em nosso currículo: cada mito tem personagens bons e maus. Teu irmão hora é bom, hora é mau. Para isso acontecer, foi criado neste mundo separado o julgamento.

               O julgamento que dás ao mito de teu irmão é a historinha da carochinha do que ele é. No UCEM isto é chamado de travesti de Deus : “Fica contente por teres escapado à caricatura de salvação que o ego te ofereceu e não olhes para trás com saudade do travesti grotesco que ele fez dos teus relacionamentos (T.16. VI. 10:1)”. O julgamento bem traveste teu irmão em um mito. Ele adiciona ao que ele é o teu julgamento sobre ele. Isso não faz de ti um grande mago? Um deus? Mas não é isso que queres. E não penses que o mito que o teu irmão representa para ti é o mesmo para outro irmão que também se crê separado. Pois na verdade cada um que se crê separado também se crê um mago, um deus; e é por isso que não podes ver unidade de opiniões sobre uma mesma pessoa entre aqueles que ainda dormem.

               Não é para isso que queremos olhar agora. Vejamos, portanto, como escapar ao medo que acreditas ter de teus irmãos.

               Se teu irmão não é um mito, o que ele é, então? Certamente, acreditas que não temes a santidade nele. No entanto, é justamente isto o que temes, pois a revelação da santidade de teu irmão como o mesmo, ou a Face de Cristo nele, demonstraria a tua impotência em seres deus, em julgar. Mostraria que todas as tuas construções são falhas, pois se opõem umas as outras. Imediatamente, Deus traria o Seu Julgamento para ocupar o lugar que deixaste vago, caso queiras olhar para um irmão — basta um! — com fé perfeita em que ali não existe um corpo limitando-o; sequer um mito ambulante. Ali estás tu, o mesmo, em unidade perfeita, e eis aqui: é isso o que temes tanto em teus irmãos!

               A sensação de isolamento nos altamente temerosos é premente, e pode ser auxiliada com fervor pelo Espírito Santo em direção ao livramento. Dizem que certa vez Jesus disse a Helen - a professora que transcreveu o Curso - que a única coisa a se fazer em um deserto é fugir. Não queres ficar por aqui, pois este mundo em opostos não pode ser estabilizado. O mutável não pode ser estável. Tudo o que é direcionado em favor do amor como um oposto ao medo — os amados, os parentes, os amigos — são o oposto em mito, no tempo, do medo que tens em perdê-los — os traidores, os rejeitadores, os inimigos — e isso não vai ter fim, pois o mundo dos opostos existe através do raciocínio circular.

            A única mudança possível vem através da ausência de defesas, que é força verdadeira. A partir deste primeiro passo, podes ver ao teu irmão novamente como alguém que pode ser amável, pois o medo que tens de que ele te mate pode ser deixado para lá. A seguir, podes perceber o teu irmão em si, ainda que em formato mito, pois a mente certa é o teu apoio na separação em direção à revelação. Ele não vai te matar. Ele quer estar perto de ti. E se ele mesmo estiver em medo, tu não ativas o teu medo em resposta, mas vês o pedido de ajuda, e amas ao teu irmão, pois também já passastes por isso, quando crias na mudança e nos mitos. Agora podes ajudar ao teu irmão, o mesmo, e recebes ajuda. Por isso se diz que é dando que se recebe, pois dás ao mesmo. Quando Jesus disse “o que fazes ao mais pobre dos meus irmãos fazes a mim” Ele quis dizer isso: fazes ao teu irmão o que fazes a ti mesmo. Tu não o vês em pobreza de mito, nem em escassez, mas vês o teu irmão como ele é — o mesmo.

                     Lembra-te do caráter abstrato das imagens. Ama ao teu semelhante, pois é isso que ele é. Esquece o que ele te fez, pois em um mundo de mutações é possível “fazer”. Mas se queres ver um mundo em criação, precisas mais que urgentemente abolir tuas defesas. Os próximos passos te serão explicados a seguir. Por enquanto, pratica isso.

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