domingo, 27 de outubro de 2013

Sobre a inveja



             A inveja parece ser uma condenação do sujeito a uma expectativa exterior a si, da qual não faz parte e não pode ter como sua. Assim, a inveja é uma satisfação em sonho, naquilo que se quer abranger como seu. É bem uma falácia em contraposição, pois a inveja garante que nunca será possível ter, já que o objeto almejado “está fora”. Diante desta perspectiva, invejoso é todo aquele que quer ter para si uma vontade diferente da sua própria.

O invejoso é, portanto, um sujeito bem confuso. Ele acredita que a diretividade é sua, isto é, acredita que pode dirigir a si mesmo, mas nisto não sabe como fazê-lo; e acredita que o caminho exterior é plausível em imitação. O invejoso quer-se cópia, mas ele não sabe sequer discernir de qual original a fonte procede.

Então, sem objetivo certo, o invejoso atravessa os dias a querer mais para si. Pode ser mais de qualquer coisa, desde que esta coisa não seja sua. Ele não acredita que possa ter algo novo ou criativo, e neste sinal de desesperança, advoga para si um espelho malgrado em miséria e complacência, no qual vê a si mesmo desvalido e sem condições de criatividade e força. Adianta, então, algum sonho; acredita que neste sonho futuro — pode ser qualquer coisa mesmo — está a felicidade, e nisto ele investe todas as suas forças. O objetivo é comprovar, pela diferença, que aquele caminho não servirá para ele. Receberá desta peleja muita frustação, e finalmente o ego dirá, categoricamente: “viu, como tu não serve para nada?” ou variações do mesmo tema, algumas bem incisivas, com o intuito sempre redarguindo para o fato premente de que o filho de Deus não poderá jamais encontrar sua função.

A inveja é o sucedâneo da culpa em projeção. O ego acredita que alguma coisa pode ser sua mediante o querer, mas este querer pode não ser genuíno, pois em estado de grande confusão, um pode não saber mais sequer o que gosta, e se jogar para os infindos abismos do desejo, no qual se quer algo a mais, algo diferente, algo que seja, preferencialmente, bem sucedido para os outros.

Como resultado certo, apenas a incerteza prevalecerá nisto. Nada verdadeiro será apresentado, e nada restará. A vontade de poder será o condutor de sua maledicência, pois muita malícia é necessária para efetivar tal processo, e segundo diretivas totalmente apartadas do amor, o filho de Deus poderá, finalmente, provar que não existe felicidade para si, somente para alguns outros. Sua busca será devotada, entretanto, para encontrar algum outro ego, tão miserável como ele, que queira supor sobre tais coisas em discursos morosos de derrocadas, nas quais um prova ao outro que não prestam, e a tal coisa podem até nomear “amizade”.

Este é um panorama minimizado das desventuras de um invejoso. Em suma, inveja é fazer uma vontade em conflito. Seus resultados não serão mais divulgados daqui por diante. É muito doloroso emitir um conceito desapropriado de amor como guia, pois a identificação pode surgir como uma garantia de que “é assim para ti também”. Mas vejamos agora tal ponto de vista sobre aquele que se confundiu ao ponto de se acreditar desvalido: será que a inveja pode ser determinada antecipadamente? Digamos: será que se vês algo que “te falta” e queres ter para ti não estás apenas a aderir um significado de tua falta projetado em uma coisa física? Mais facilmente: será que não estarias, portanto, apenas acreditando que podes preencher teu senso de incompletude com um modelo de completude fornecido “pelo mundo”? Acreditar nisso não é idolatria?

A inveja é idolatria, portanto. Não há em si nenhuma garantia de sucesso. Um vê que a sua proposta no mundo em imagem pode ser bem sucedida e logo visa aderir a si meios de copiar as formas de ver o mundo como seu. O dono do mundo seria o supremo invejoso, nesta perspectiva. Temes a mim porque quero apresentar para ti um mundo limpo de toda a inveja, de toda a tentação em teres o que não é teu. Tens medo do conflito, pois ele demonstra, em infelicidade, que estás a optar erradamente.

Há, no entanto, meios para a mudança. Não és a bagunça que as ideias mal ajambradas em tua mente gostariam de fornecer. Tu te confundes com essas ideias apenas para “parecer ser”. Mas se entregares as tuas ideias mal ajambradas à correção, como poderias “sair perdendo”? A ganância é culpa em escassez, decerto. Se gostas de ter, tens que tomar. “Ter” não está associado a “gostar”, mas a “receber”. E se recebes o que é teu, não terás medo de ter, pois será sempre dado e não tomado. Apenas recebe-se o que é dado, não podes tomar uma imagem ou uma profissão. O mau humor que vige nestes pressupostos está em aguentar uma forte disposição em contrário da paz.

Amado amigo, que não está perdido nestes escritos tensos e altamente investidos em culpa, escuta isto: não és uma imagem. A imagem que “roubastes” não é tua; não a inventastes, o teu ego não é a ti mesmo, e tudo o que queres como teu é erro. Há acerto em encontrar ajuda e pedir ajuda, mas o Ajudante que pode te fornecer a verdade não é aquele que pode ser um dia admirado e condizente com as glórias do mundo, com o reconhecimento do mundo, pois o mundo reconhece Jesus em uma cruz e até hoje não entendeu a ressurreição. Quererias mesmo que eu estivesse ainda pregado a uma cruz, meu amado? Achas que essa imagem agrada a fé que estou a te ensinar? Se não crês na morte, porque acreditas que precisas de coisas finitas para seres feliz? Percebe que em cada dia devotado à cópia tu apenas te empenhas mais e mais em querer repetir a crucificação. Eu não preciso mais ser crucificado, já escapei disso contigo. Que tal sairmos agora pela porta da frente, hein? Que tal se apenas víssemos o visto, sem pressupor. Não aguardando mais que o amor de nossos irmãos? Parece difícil, eu sei, eu já estive aí, mas veja que o amor não é impossível, pois tu consegues fazer, não é mesmo? Então, como não poderias CRIAR?

Olha, não te perturbes mais com o que não entendes. Não te peço que saia daqui para encontrar o ali. Não se trata de como vais te perceber, entende? Não será apenas através de diretivas que encontrarás a paz, entendes? A mudança na mente é certa, mas é preciso que estejas disponível para seres TU a mudança, entendes assim? Não ocorrerão mudanças no que não existe. As ilusões de amor, paz, felicidade, glória, amizade etc são ilusões, nada mais que isso. Não significa que, por não existirem, não possam simbolizar amizade, esperança, paz, felicidade, alegria, bem-aventurança etc, mas não esteias nas imagens destas coisas a sua fonte. A fonte de toda a alegria do mundo és tu mesmo, meu mim. Lembra-te de Mim?

Senão, não temas o que virá como coisa. Planeja, se quiseres planejar, mas não te atenhas ao planejamento como se fosses te salvar. Olha: vê aos exercícios do UCEM na fé que te guarda e ajuda, pois eles ajudam a mim também e eu virei para te salvar. Com CERTEZA. Não temas, minha criança, pois não são as ideias destes textos que podem te ajudar. Não precisas temer as ideias. Não precisas temer a nada, pois nada há a temer. Eu estou atrás e à tua frente. Eu guardo para ti tuas criações. És demasia em alegria e pelos teus tantos, que levaremos conosco em lembrança, eu agradeço neles, por eles, agora em benção, pois há neste instante, querido irmão, muita alegria, mesmo aqui. Podes vê-la, podes tê-la para ti, sem ser tua, entretanto.

Calma nisto! Decerto que se faz muito pouco em julgar. Adianto que um se atrasa na medida em que se adianta pelos mistérios de grande e forte devoção, fé genuína e disponibilidade atestada em crase! Quisera ter dois irmãos como André. E tenho — pelo que este mundo está salvo — pois enquanto há dois falando sobre mim, eu estarei com eles.


Pai, lembra a teu filho de Mim. Não temes ele a Mim, mas ao seu anseio mal atraído, Pai, pois ele teve ideia de que não valia nada. Teu Filho, Pai, perdeu-se por um instante nessa ideia. Ele não lamenta, ele não sabe; mas peço a Ti, que tens lembrança de Nós, que traga a Nós o Vosso Reino, Seja feita Tua Vontade, e para nós seja dada a lembrança em harmonia e alegria, conforme é assim Tua Vontade e é Nela que queremos voltar, Amém.

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