quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Sobre falar sozinho

         



            O mundo apregoa que falar sozinho é “coisa de maluco”. Certamente, não atribui esse mesmo patamar àqueles que passam os dias a “pensar sozinho”. Estes não se ativeram ao simples fato que ouvir pensamentos desandados é o mesmo que ouvir sua própria voz desandada. Mas ao invés de soar pelos ares, a voz destes soa pelo pensamento, como ideias em palavras.

               Aquele que “fala sozinho”, em voz alta, parece estar a divulgar a loucura, e por isso é tido como louco. Os pensamentos não deixam sua fonte, pode-se falar em voz alta tanto os pensamentos derivados da mente certa quanto aqueles provindos da mente errada, e seus augúrios ou alinhos estarão mais ajustados à sanidade de acordo com a sanidade da qual proveem. Não adianta supor que a mentalidade certa utiliza apenas um canal de comunicação. Ela comunica apenas uma ideia, que é esta: és o filho santo de Deus, e não habitas um corpo. Os meios são aqueles aos quais disponibilizas a Aquele Que fala por Ele. E podem ser orais ou não.

               Falar sozinho é ato estranho em supor de isolamento. Demonstra certo solipsismo em ater-se como único auditor de suas próprias mensagens. Muitas das vezes, um pode falar sozinho para ater a si mesmo um conceito de professor de Deus, ou um atestado das sabedorias que “guarda para si”. Pode julgar-se tímido ou incapaz de transmitir tais “sabedorias”, e passa a crer que um monólogo interior ou externado solitariamente será apropriado para que essas sabedorias sejam divulgadas, mediante uma avaliação fechada em si mesmo, que avalia, prende e julga, sem jamais compartilhar o que é dito. Neste vício, aprende muito como não comunicar, pois passa a atestar em fala que não é necessário um ouvinte para dizer “sabedorias”. E, assim, o grande professor do nada vive a aderir uma audiência metafísica às suas ideias em suposição de prazer ao ater a si aquilo que pode “pensar”.

O onanista está novamente manifestado em tais atos. Todo prazer solitário é uma espécie de onanismo. Ele nega o compartilhamento e visa abarcar em si mesmo tudo o que é necessário para o compartilhar. Assim como o onanista pode fantasiar qualquer coisa em qualquer nível, o “professor solipsista” pode compreender a si mesmo como professor e aluno, o que seria uma deturpação da ideia de comunicação. A função disso é ater-se a uma culpabilidade em não ter capacidade de conseguir professar para os outros aquilo que tão sabiamente “recebe”, uma vez que está sozinho em tamanho isolamento. A timidez entra como desculpa para este isolamento, e mais uma vez o pensamento solitário é abrangido em termos de audiência para alcançar glórias de “incompreendido”.

Enquanto isso, a verdadeira sabedoria busca falar com ele e ele não ouve. Atem a si uma proposta diferenciada: está a se guardar para o dia da revelação. Ora, muito bem arranjado isto, pois se estás a aguardar o dia da “revelação” para “revelar”, estás muito bem em ser adequado como se vivesses um repetir dos dias em ideias; e se vives em um mundo de ideias, ideias solitárias são ideias de grandiosidade, que visam aplacar teus acessos de fúria amenizados por uma suposição de que, no entanto, tu sabes bem o que aprendes.

Tudo falácia do teu ego! E agora vens a dizer que este escrito também deve ser solipsismo. Mas não é? Se não queres compartilhar as ideias, mas como não compartilharias as ideias? Se as ideias SÃO compartilhadas? Em meio de te disponibilizares tua mente certa, não é neste escrito que vais achar desculpa para te encerrar no solipsismo. Não te é pedido para salvar o mundo antes de salvar-te a ti mesmo! Quando DOIS ou mais se reúnem em meu nome, então estão a falar sobre mim e eu estou entre eles, em instante santo. Quando escreves este texto, um dia será lido, podes ser a ti mesmo a ler; e nele eu garanto tua fé verdadeira, mas não te apraz que seja em garantias de sabedorias, pois se fosse possível, apagarias este texto por acha-lo demasiado ruim, esteticamente mal elaborado etc.

Ou terias muito orgulho em ser o transmissor! Rapaz, endireita a tua mente rápido, pois precisamos de ti em amor. Não vês que em doação tu crias? Não és capaz de ver isso? No entanto, em teu sonho de glória, queres ser professor de professar! Isso é uma incúria entre os profetas, pois ser profeta não é nada fácil em termos que o mundo apraz como real. Mas é muito fácil, pois sendo a vontade de Deus — não se abriu o Mar Vermelho? Não parou por horas o sol?

Estejas apenas em amor, e palavras de amor sairão pela tua boca e serão bem vindas aonde chegares. Tu és amado por Deus, não estás em solidão de entender nada. Não precisas disponibilizar em formas que outros não entenderiam. Precisas de sabedoria, sim; mas nisto não podes determinar nem julgar os meios. Se falas sozinho em teu quarto, para o vento, como podem te responder os teus irmãos? Estás a te iludir em prazer de discurso, em acreditar, onanista, que sabes o que é a verdade e podes divulgá-las em solipsismo. Decerto que neste escrito queres ver uma ocorrência disto, mas não sabes do Plano de Deus, não julgues o que não entendes. O que dizes para o vento se vai com o vento. Teu útil proceder neste mundo está ligado ao ensinamento, mas não está proposto como uma ocorrência solipsista. Não tenhas medo destas palavras, elas não visam te trazer nenhum prazer, tampouco estão ligadas a algum tipo de satisfação. Precisarás, inclusive, de alguns dias para aceita-las como tuas. Assim, poderás lê-las e entende-las, e seremos dois a ler, e eu estarei contigo neste evento que não está em julgamento, conforme pensas agora em juízo.

Teu medo da sabedoria se traveste de sabedoria apenas para te engabelar. Queres dizer-te grande orador, mas tens medo de teus irmãos. Então, não podes lhes dizer quase nada, por enquanto. Portanto, segue por agora apenas em vias de OUVIR! Não vais a falar o que quer dizer a tua boca. Ouve bem a teu Amigo, a Quem deste ouvido nestes dias. Ele não fala para o vento ou para os objetos. Ele fala para ti! Podes até emprestar a boca do teu corpo para que Ele fale CONTIGO. Assim, não és tu o solipsista que visa encontrar a si mesmo como onanista. És aquele que ouve de um Outro, mas sendo este a Ti Mesmo, em diálogo em dois, e isto podes até falar em voz alta, no meio do ponto de ônibus, se quiseres, pois nisto estarás a divulgar a sabedoria, desde que, nisto, seja ELE Quem te diga o que fazer. Ele não vai te expor ao ridículo, mas lembre-se que Deus parece ridículo para o mundo. Não tenhas pressa, que não visamos aqui assustá-lo. Queremos dizer de tua coragem em expor o que é o comum a todos, em vias de te parecer que vais a “manchar” tua “imagem”. Uma imagem não pode ser manchada; simplesmente, porque uma imagem não existe. Não és o professor de Ti Mesmo, como pode supor um incauto leitor do UCEM, que lê sobre o fato de “teu professor estar em ti”. Mas És o Professor de Ti Mesmo —  não és imagem de tua imagem.

Se rirem de ti, deixa rirem de tua imagem! E rias tu também, pois foi uma bobagem que fizeste para provar o erro. Não é risível isso? Seria orgulho querer manter o professor de Deus aprisionado ao teu ego, como um conforto para o isolamento, em prazer de jogar nada ao vento. A ideia de isolamento não condiz com a noção de compartilhamento, e não pode ser verdadeira. Logo, nada que venha da ideia de isolamento é real, mesmo que esteja envelopada em altas alegorias.


Pai, pedimos ao Teu Companheirismo Amoroso a generosa ajuda dos milagres. Pedimos em amizade verdadeira que sejas para Teu Filho, visto Nele Mesmo, Quem És. Pedimos em nome de Tua Glória e Teu Amor a revelação verdadeira, em milagres, pelo que esperamos em sabedoria pedir Ajuda, ao que sempre e sempre respondeste. Pelo amor ao Teu Filho Santo, te pedimos, Amém. 

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