quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Sobre a consulta a oráculos (I-Ching, Tarô etc.)



               A consulta oracular não possui em si nenhum pressuposto em garantia que proverá uma previsão acertada. A forma mais adiantada a que se pode remeter o “futuro” não está estabelecida pelo tempo, e sim pelo instante. Uma consulta oracular pode, entretanto, estabelecer para o consulente uma “forma” para aquele instante, mas se o próprio consulente não estiver em sua mente certa, a forma da consulta será indeterminável ou incógnita.

               Todo tipo de oráculo visa estender em criação a expectativa do consulente. Se vai a “acertar” ou não, isto é de uma variabilidade imensurável, pois tudo depende, obviamente, da disponibilidade do consulente. O oráculo é um desenho da mente do consulente em certo instante; e somente se ele estiver em sua mente certa poderá perceber em tal desenho um cartel de possibilidades plausíveis e pontuais em sua diretividade. Mas, se estiver em sua mente certa, precisará de outro tradutor?

               Uma maneira de agregar ao oráculo um sentido, já que parece não fazer nenhum sentido aguardar uma previsão de algo que vem “de fora”, é acreditar nele. Segundo a nossa perspectiva de aprendizado, não existe tal coisa de oráculo, pois este não pode ser o portador da salvação, visto a salvação não vir de fora em nenhum formato. A conscientização de que a salvação é um processo interior não tem em si nenhuma garantia de evocação simbólica. Tudo é dado de forma direta e legível, sem partições em símbolos ou necessidades interpretativas que gerem variações: pode ser isso, mas pode ser aquilo. No entanto, se acreditas no oráculo, precisas de uma atenção em relação a tua mente certa, para que nenhum tipo de desídia possa ocorrer em submissão à consulta que foi realizada como portadora da “mente errada”. Nesses casos, o melhor a se fazer é não levar a consulta a sério, pois ela não pode garantir diretividade precisa.

               Quando um Filho de Deus segue em busca de um oráculo, certamente está a pedir orientação em favor de sua mente certa, pois gostaria de saber sobre algo que não apraz, ou não o contenta no momento. A dúvida leva o consulente ao oráculo, que é procurado em momento de conflito e busca-se nele a Vontade de Deus. Não deixa de ser um ídolo, uma construção que visa encontrar Deus em vias mundanas, e por conta disto foi completamente rechaçado pelos teus antepassados como incúria ou má fé. A idolatria é problemática e é ela quem gera a noção de “pecado”, pois o ídolo visa substituir. Nisto, o oráculo é uma moldura falsa para abrigar falsas expectativas, pois nada pode substituir a palavra de Deus dada por Aquele Que fala por Ele. Quem pode se arrogar como intérprete Dele, senão o Seu Espírito Santo?

               Tua teimosia em aceitar este explicado vem de uma tentativa em manter mais um ídolo. Quantos mais queres construir? Decerto, durante anos consultastes o I-Ching, que muitas vezes te serviu e serviu bem. Agora, estás a consultar o tarô, que também não é risível em suas formas, conforme poderia pensar alguma involução em juízo. Ora, uma garantia espetacular de acerto não significa a repetição do acerto. Ganhar uma vez na loteria não implica em ganhar sempre. Mas, se o que fascina é o dinheiro, jogas na loteria ou queres o dinheiro? Ou o fascínio está no jogo? Seria possível que o fascínio do ídolo estivesse “além dele”? Isto é assim, pois se vieres a ganhar um milhão na loteria, não dirás: “venci o jogo”, mas sim: “tive sorte”.

                Quem negará a relação entre o jogo e a sorte? Mas o que é a sorte? Existe tal coisa? Seria como se houvesse uma parte de Deus que estivesse em descontrole e precisasse da mágica para acertar as coisas. Um Filho de Deus quer muito sair de uma situação de conflito e de repente, sem sequer se dar conta, lembra que sua vontade é a mesma de Deus, e surge para ele o desatar do nó. Na verdade, o conflito não existe, pois o que há é a Vontade de Deus em Si, sem nenhum arranjo possível em outra forma. A sorte não entra nisso, pois não é sorte conseguir aquilo que é teu. Podes ter certeza que ganhar na loteria pode ser um grande atraso para um que precisa de outros meios para entender do Céu. Um homem assim, muito medroso, pode até ganhar na loteria e dizer: “tive sorte”, enquanto está mesmo é se atrasando. Portanto, não há acasos nos planos de Deus. Nada pode ser determinado por um pressuposto que seja em sorte, pois Seu Plano é perfeito, e não admite conflitos. O “atalho” em relação ao Seu Plano não vem da sorte, mas da disponibilidade em aceitá-lo tal como É.

               Voltemos então à questão do oráculo. Vimos que uma consulta oracular verdadeira não tem nada a ver com sorte. Também não está determinada por uma pressuposição em termos de futuro, pois o tempo é uma ilusão em formas, passando algumas na frente de outras. Quando lanças as moedas do I-Ching ou dispõe em mesa as cartas do Tarô, estás a colocar em tua frente, em mágica, uma especulação do que seria tua mente certa. Decerto, é uma tentativa de disponibilizar, mas sem muito sucesso garantido, pois se está a investir em algo que “pode falhar”. O oráculo infalível não pode existir, mas a mente certa é infalível. A garantia do oráculo não está nele mesmo, mas naquele que é Seu Intermediário, ou o Intérprete. Pode ocorrer de o Intérprete ser o próprio consulente, mas nesse caso sua precisão dependerá de uma honestidade total. Em todo caso, somente em honestidade o jogo é anulado e passa a constituir determinantes que se elidem em azar-sorte e passam tão somente a significar.

               A interpretação do oráculo, portanto, deve estar a serviço da mente certa, ou do Intérprete. É Ele Quem diz o que as cartas significam, ou o que os símbolos significam. Se ativeres disponibilidade em realizar isto através destes meios, nisto não há problema algum, pois não estás a esperar nada da sorte, nem visas encontrar nos símbolos idolatria. Se vires a carta nomeada Imperador, não esperas dela um aviso reinante: quase não sabes o que quer dizer o Reino. Mas tal “informação” está em ti, e pode ser revisitada por Aquele Que sabe. A carta IMPERADOR deve ser compreendida em contexto, fora de seu valor histórico, mesmo dentro da história do tarô. Assim, podes começar a “brincar” de ouvir tua mente certa através Daquele Que te fala de certezas, e se assim fizeres, perceberás que as cartas do tarô, as moedas do I-Ching, os búzios, enfim, todos apontam em direção da certeza. Verás tuas consultas “dando certo”. No entanto, na medida em que neste exercício tu mesmo te aproximas desta Voz, em breve não precisarás mais de um meio material para que ela se expresse para ti, e um oráculo verdadeiro, que é a vida mesma, se apresentará em imagens, conforme sendo imperador aquele que visa no mundo Outro Reino, pelo que é e será para sempre distante deste aqui, de formas, nas quais um pode acreditar em ato de divergir, e outro pode aproximar em ato de instruir, sempre no intuir de superar estas duas apreciações em favor de Deus, pelo que não necessita nenhuma substituição para gerir sabedoria em Seu Amor, que não tem meio e não se expressa, não determina categorias, não aprecia nenhum tipo de desídia. Portanto, eis que o tarô amável, o I-Ching generoso, lançados búzios em amor, visam compreender que transitar pelos meios não pode deixar de ser enganoso, embora mesmo o errado possa ser consertado pelo amor em meios, e nisto se vê pelo que os corpos se enganam em serem a Nós mesmos, mas podemos ver amor na mente em atos de corpos, tanto que na cura dos milagres o meio em corpo, ao invés de vetor da discórdia, passa a ser prova do Amor de Deus, Que curou a mente que curou o corpo.


               Não julgues. Acima de tudo, não julgues. Não sabes o que é o Amor ainda. Portanto, faça daquilo que te parecer adequado um meio para a felicidade, mas felicidade verdadeira vem do Pai, e não pode ser determinada de outra forma a não ser em ilusões. Se podes ouvir a Voz por Deus em meios de oráculo, verifica se tal meio produz para ti alegria genuína, se tudo o que vês é verdadeiro em seu transitar no tempo, e se o Intérprete ao Qual ouves está a te dizer dos meios ou sobre Ti Mesmo. Se assim for, bendito seja o teu oráculo, até que venhas a saber que de Deus - sabemos todos nós em verdade - o futuro é apenas um: a reunião de todos os Filhos de Deus em Si, como sempre É. Bem como, Sabedoria nisto é: cada um tem o seu caminho, e o encurta de modos que ninguém saberá como julgá-lo, amém.

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