Gostaria de compreender essa passagem do Curso:
“É necessário provar indiretamente a verdade em
um mundo feito de negações e sem direção.” (T-14; I - §2:1)
Se a causa de algo está aparente, então o seu efeito
deveria estar igualmente claro. No entanto, a causa dos milagres pode não estar clara para
aquele que o presenciou ou ofereceu. Assim, para este, o milagre parece ter
sido “dado” e uma graça se fez. Se ele não pode perceber que autorizou a
presença da graça, então a verdade precisa ser provada de forma indireta. A isto,
geralmente, se atribui um “ato maravilhoso” ou “bondade de Deus”. Contudo, Deus
não oferece nada a Seu Filho caso Ele Mesmo não tenha permitido para si a
presença.
Uma ocorrência em amor não pode ser julgada. Ela
está para o sujeito da experiência como para um ato em disponibilidade. A culpa
gera o erro em julgar-se como não merecedor. Em um mundo no qual a grandeza está
obliterada pela culpa, o valor do Filho de Deus tem que ser demonstrado de
forma indireta para que possa lembrar-se de si. A causa estará implícita nos
efeitos que serão para ele apresentados, como se fosse mesmo o contrário.
Assim, indiretamente, diante dos milagres, o Filho de Deus acreditará que algo
aconteceu “por acaso” para ele, ou que ele está diante de "sinais". Isso é o que verdadeiramente precisa ser invertido.
O milagre é um direito ou herança. Ele não surge como uma acepção de causas
imerecidas. Portanto, vamos primeiramente demonstrar o valor do Filho de Deus.
Posteriormente, vamos compreender como o pressuposto do milagre surge
indiretamente neste mundo, para ser depois vagamente compreendido e,
finalmente, aceito.
O Filho de Deus consciente de Quem É vê milagres
como naturais. Ele sabe que o pressuposto da Causa não pode ter abandonado Sua
Fonte. Se ele está consciente de si mesmo como um Efeito de Deus, então a causa
de sua aparente vida, ou seu estar-no-mundo, não pode ter outra Fonte que não seja
Ele Mesmo. No entanto, se Ele não está consciente de Quem É, a sua real
natureza precisa ser-lhe demonstrada de modo indireto, pois algumas ocorrências
lhe parecerão imerecidas, já que chegaram como uma benção que ele não sabe de
onde veio.
O texto diz: “Como poderias aprender o que foi
feito por ti, sem o teu conhecimento, a não ser que faças o que terias que
fazer, caso tivesse sido feito por ti?” (T-14, I - §1:7). Pois bem, poderíamos
reescrever esta frase assim: Como
poderias saber o que foi feito para ti, se não tens consciência da Fonte
daquilo que chegou, a não ser que entendesses que aquilo é teu e deve ser
entendido como tal? O trabalhador em milagres precisa saber que ele é um
Efeito de Deus, portanto, o que recebe tem que vir da mesma Fonte. Este trecho fala sobre o destino do Filho de Deus no tempo como favorável, pois mesmo que
algo que ele tenha feito “por si mesmo” não possa ser compreendido como tal, ou ele
seja o vetor de algo incompreensível (“Não sei como consegui fazer isso. Foi um
milagre!”), mesmo assim, isso foi feito por ele, então ele precisa ter o
conhecimento de como isto pode ocorrer. No entanto, isto pode estar escondido
sob espessas camadas de dúvidas acerca de seu poder.
Portanto, o trabalhador de milagres não pode ter
dúvidas acerca de Sua Fonte. Mas neste mundo “feito de negação e sem direção” o
trabalhador em milagres não pode se ater ao seu real valor sem comprometer-se diretamente
com a verdade. Ele aprende, neste caso, por via indireta, e isso não é um erro ou
um problema. Na verdade, é uma fase pela qual todos devem passar. Se ele está
esquecido de seu valor, isto é, se não lembra que é amado por Deus sem nenhum
tipo de julgamento ou condenação, certamente deve estar imerso em algum tipo de
culpabilidade e não lembra que é perfeitamente inocente.
Para que possa lembrar, o contexto nos quais o
milagre acontece não pode ser tido como se fosse algo exterior a ele. E é
exatamente disso que precisa lembrar. O seu valor não entra nisso, pois ele é,
como já foi dito, perfeitamente inocente. Então, o que mais pode ser lido como empecilho
se não a culpa ou o medo? Tais elementos gerados pela mente errada fazem com
que ele se perceba erroneamente, de tal maneira que passa a crer que tudo que
vem de uma fonte diretamente associada à inocência não pode ser devida a ele. Portanto,
a primeira coisa que deve ser lembrada para que o Filho de Deus possa
experimentar o milagre sem necessidade de inferências indiretas é que ele é
perfeitamente inocente. Esta é a sua natureza e negar isso é o mesmo que negar
a si mesmo.
Podemos entender com um exemplo: digamos que a
sentença proferida por um juiz seja desfavorável para certo réu. Certamente, diante das leis do mundo, a causa e o efeito de tal
sentença podem até mesmo estar ajustadas. Mas o milagre surge da ideia diante da
qual tal réu se contesta e pode até mesmo assumir para si a culpabilidade do crime no tempo,
mas não a punição de Deus, desistindo da ideia de que ele é efeito deste mesmo
crime e se percebe inocente. Ele errou, mas agora pode ver a si mesmo como
perfeito, capaz de gerar inclusive um novo panorama para a vida, diante de uma
perspectiva agora sábia que possa trazer para si verdadeiras vantagens
de correção durante seu “estar-no-mundo”.
Neste caso, o milagre surge diante da mudança de
ideias que compõem um sistema de pensamento. Usamos um exemplo extremo, mas a verdadeira mudança surge através do
amor. Contudo, o amor próprio não é uma causa a se revogar. Pode ser que o
criminoso altere sua forma de ver a vida caso relembre de Sua Fonte, e isso
para ele será um verdadeiro milagre. Lembremos o que diz o Texto: “O milagre
nada faz. Tudo o que ele faz é desfazer” (T-28; I; §1:1). Portanto, o milagre
surgirá na mente do Filho de Deus como uma correção, mas ele não precisa ser um criminoso para que isso ocorra desta forma. Isto é o que ele precisa
ter em mente. Se não quiser ter para si a correção por se acreditar culpado, como poderá perceber o
milagre? Assim, em erro, ele pode facilmente acreditar que uma é realmente vítima do mundo
que vê.
A disponibilidade para aceitar o milagre surgirá
diante de uma inclinação em lembrar. Os milagres são para o Filho de Deus, não para
sua vontade consciente. As ocorrências de milagre não surgem mediante uma
petição. Não podemos saber todo o panorama do Plano de Deus; portanto, o que
julgamos como milagre pode estar em erro. A cada dia, a cada hora e mesmo a
cada segundo, os milagres estão disponíveis como ferramentas do desfazer. Mas não
podem ser julgados como tal se forem compreendidos em forma julgável. Grande
milagre é um dia de sol na praia, mas grande milagre pode ser a chuva que
impeça a praia. Não sabemos a Vontade de Deus diante de fenômenos julgados. A
tudo, sede grato.
Então, o milagre pode aparentemente ser julgado
como algo “desfavorável”. Numa circunstância indireta, será necessário, então,
deixar que a pronta-resposta ao milagre seja um desfazer igualmente indireto,
no qual será necessária ainda a ferramenta “tempo” para que o sujeito da
experiência possa lembrar-se disto no seu suposto “futuro”.
Outra forma na qual indiretamente pode-se
perceber o milagre é através do instante santo. Numa conversa aparentemente
banal, caso haja disponibilidade para isso, as palavras podem cumprir sua
função simbólica como pressupostos de novas acepções. Ouve bem ao teu irmão,
pois ele é o mesmo, e nele estão todas as respostas que tens em ti, mas que
temes ouvir. Todos já receberam “alertas” ou “avisos” ou mesmo correções vindas
de “outra pessoa”, muitas vezes de modo pouco usual. É o famoso “parecia que
ele falava de algo que só eu sabia”, e em muitos casos assim o é. A dinâmica do
instante santo não pode ser compreendida sem disponibilidade, e é por isso que as
pessoas se encontram e não se ouvem ou se veem. As pessoas temem-se demais umas às outras.
Por fim, as referências indiretas da verdade
podem ser muito bem compreendidas no perdão. O perdão total, que permite que as
referências milagrosas ocorram como correções, somente podem chegar ao sujeito
da experiência se ele se abstiver de julgamentos de qualquer espécie. O Mundo Novo que surgirá de tal disponibilidade não poderá mais ser controlado por ele
(ou, melhor dizendo, ele não mais terá a ilusão de controle). Ele faz um plano,
ou tem uma ideia, mas entrega ao Espírito Santo e o mundo que ele quer será
claro para ele como uma água límpida. Ele só não pode tomar decisões por conta
própria. Isso é necessário aprender. Tens um Professor, um Amigo, que guiará
tuas decisões de acordo com tua real vontade. As consequências que virão podem
surgir em um cenário bem diferente daquele que imaginarias, mas lembra que o
milagre surge como um ato em desfazer as ideias erradas que tinhas sobre tua
incapacidade para cumprir tua função, por exemplo.
Pai, viemos agora a Ti em disponibilidade para
possamos cumprir Teu Plano, Que é o de felicidade completa para o Teu Filho.
Ele precisa de ajuda, Pai, pois não lembra Quem É. Fornece-nos Teus milagres
para que o mundo descortine-se para ele, conforme ele possa compreender quanto
de sua função pode ajudar o Teu Plano em despertar o Teu Filho, para que Ele possa
saber da natureza dos milagres por si mesmo, e assim alcançar a glória da Tua
Vontade. Amém.