No
UCEM, os milagres são ditos de prata, em comparação aos sonhos dourados de
felicidade do Filho de Deus — mas ambos devem ser guardados como tesouros (T-
28; III; 1:1). O tesouro do Filho de Deus, mesmo enquanto sonha, é a felicidade
que percebe. Mesmo aqueles que se creem separados ficam felizes quando ficam
felizes. O milagre viria então em segundo lugar, em escala de diferenças de
níveis, mesmo suplantando os níveis, pois ele permite ao Filho a perpetuação de
seu tesouro primeiro, que é a felicidade. Nos princípios dos milagres está dito
que “uma das
maiores contribuições dos milagres é a sua força para liberar-te do teu falso
senso de isolamento, privação e falta” (T-1; I; 42).
O
onanista é isolado, privado e faltoso, pois baseia sua vida unicamente em sua “imanência”
pessoal. O objetivo dele é a perpetuação do prazer pessoal, isto é, um empenho
na percepção como um “valor” que faz com que o mundo torne-se altamente sensual,
pois o sentido evoca a percepção em busca de satisfação. Obviamente, tal fato
não se dá apenas na sexualidade.
A
derivação da satisfação em suas formas aprazíveis como fantasias ou melhorias
contínuas do sonho são as metas em imagens que surgem na mente do egotizado, ou
onanista. Ele simplesmente deseja. Contudo, daí à consecução do desejo já é
outra história. Geralmente, a fantasia criada pelo ego fornece a maior
distância possível entre a imagem da fantasia e a execução desta. No entanto, o
que há de intercessão em termos frustrantes é apresentado como a realidade do
sonhador. Assim, a fantasia grandiosa de
ser algo ou alguém é demonstrada em contraponto ao fato de ver-se em vida como
nada ou ninguém. A ênfase, logicamente, recai sobre o nenhures.
Uroboro |
Então,
o onanismo surge como sucedâneo da vida em fantasia. A satisfação consigo mesmo
através de imagens feitas pelo sonhador, seja em termos íntimos do corpo, seja nos
termos esquizofrênicos da dissociação, torna-se uma meta definida, altamente valorizada,
e ilusória como uma pedra falsa na moldura do falso retrato. Para o sonhador,
entretanto, este estado de satisfação temporária detém muito de seu empenho,
pois nisto ele pode sobrevalorizar seu sonho e ater a ele “objetivos” e “satisfações”.
Tais gratificações insanas criam um sistema viciante, pois propõem que um dia
saciarão o desejo. Contudo, falta ao onanista a percepção de que o desejo
alimentado pela “gratificação” é a mesma imagem que a gratificação fornece.
Assim, não há gratificação alguma. O onanista é alguém como uma Uroboro: uma
cobra engolindo o próprio rabo, cujo objetivo insano é devorar a si mesma. Aqui
a imagem simboliza a loucura da autossatisfação ou o ultimato da autonomia.
Portanto,
podemos dizer que o onanista é o idolatra: ele quer aquele mais! Ele masturba
sua consciência em busca de uma imagem de si mesmo na qual possa se ver. Ele
não vê os outros, mas sua projeção em outros. Ele não vê sua função, mas a
projeção de si mesmo em fazer coisas. Ele não vê sua derrocada, mas a sua dor incompreendida.
Assim, precisa de mais de si no mundo; é necessário que o mundo seja ele mesmo,
dividido em vários sensores de si que não podem ter a nobreza de suas
sensações. Sua meta seria uma orgia cósmica de seus sentidos, e o sucesso deste
empreendimento viria sobre o orgasmo de uma compreensão total dos seus
pensamentos corretos, mas incompreensíveis até mesmo para ele. Tal é, na mente
do separado, a contração em mito de Sodoma e Gomorra.
As palavras até agora apresentadas envolvem sensualidade, mas este aspecto do onanista abrange um profundo investimento no “eu” para muito além da libido. O “eu” torna-se tudo, inclusive sua religião, que venera obviamente o deus “eu”, ou um “ex-deus” venerado por um “ex-eu”. Este blog, por exemplo, pode ser uma boa prova disto, na medida em que ele visa substituir ensinamentos que estão bem mais clarificados no próprio Curso em Milagres; e apenas um milagre pode fazer dele algo diferente do que me aparenta agora. Para mim, que escrevo, onanismo é meta! Deus me ajude a livrar-me desta percepção de mim mesmo.
***
Acalmamo-nos
agora em termos diferentes. Pois precisamos sair daqui com alguma sabedoria.
Decerto que o onanista não pode ser referenciado como totalidade. Sua meta é o
isolamento para fora, e este paradoxo pode servir para a própria solução da
situação, visto que a salvação se revela mesmo é em paradoxos.
Em
alto empenho, há uma referência entre o onanista e o esteta, onde se encontram formas
semelhantes de julgar o mundo. O esteta se diferencia ao ver a beleza como um
valor em si. O onanista vê a beleza apenas em si, e nisto está o valor da
beleza para ele. Cada um vê para si um tesouro diferente, mas apenas uma
moldura guarda um retrato bonito, que não precisa de moldura, pois ele mesmo é
a beleza. O onanista pode lembrar-se do esteta, o seu oposto enantiodrômico,
isto é, o “contrário dentro dos
mesmos termos”. O que o onanista vê através de seu ego não precisa ser a cauda
que devora. O esteta pode ensinar que as imagens são apenas falsas concepções
em formato joia, mas seu valor está em algo que os transcende. Nada neste mundo
é bom ou mal, nada é julgável. A insanidade surge do desejo, que é um julgamento
em ter. O esteta contempla, vê e então se vai. Ele sabe que a beleza não pode
ser aprisionada, que ela não está naquele belo poema, naquele belo quadro, naquela
bela música, da qual eles são meras indicações. O esteta apenas apresenta para
si as formas que outros propuseram, e assim ele pode perceber a beleza dada
como recebida, e ele é para a vida um vetor da beleza em si, enquanto aprende
que a beleza que vê está nele mesmo. Ela não “faz uma beleza” para se
hipnotizar. Ele vê o belo no sublime. Assim, percebe que as imagens em beleza
neste mundo apenas apontam para a Verdadeira Beleza que é o Reino, e o esteta
sabe que o Reino não é deste mundo. Ele não quer devorar as imagens com os
sentidos, pois sabe que a Beleza não é uma imagem. E sabe também que o seu
corpo não é o lugar da beleza, mas que pode simbolizar o esteta enquanto ainda
estiver sonhando. O onanista precisa lembrar-se de não projetar mais. Sua gana
em dissolver-se pode muito bem ser compreendida como uma ânsia pela unidade
projetada “para fora”. O onanista
precisa urgentemente lembrar daquilo que dissociou, conforme descrito acima.
Calma
é o que se pede em termos nos quais as imagens do mundo podem desassossegar um
irmão.
Pai,
pedimos aqui para esquecermo-nos dos ídolos que fizemos para substituir a Ti. Pedimos
a experiência da nossa verdadeira natureza, para que nossa fé possa crescer em
um fundamento verdadeiro. A única Vontade que é a nossa é a Tua, e apenas Nela
veremos o que é belo e bom. Pedimos a Tua Intercessão para que saibamos disto
por nós mesmos, amém.
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Nossa! Você condenou mesmo os onanistas! Colocou-os abaixo dos vermes. Eu prefiro acreditar em outra teoria que diz que sexualidade não tem nada a ver com espiritualidade.
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