Falaremos sobre a prática
da disponibilidade ao Instante Santo por intermédio do entendimento desta
passagem do Curso:
“Um espaço vazio que não é visto como cheio, um intervalo de tempo sem uso, que não é visto como gasto e plenamente ocupado, vêm a ser um convite silencioso para que a verdade entre e faça um lar para si mesma (T-27. III. 4:1).”
A cada vez que
encontramos com alguma pessoa, surge uma oportunidade renovada para a cura.
Qualquer pessoa, cada encontro, são oportunidades; e como tais não deveriam ser
desperdiçadas. Dispor-se ao teu irmão em um tempo visto como não perdido, um
tempo dedicado, um tempo sem anseio, mostra-te a verdade sobre a Filiação neste
mesmo irmão.
Este
é o perdão verdadeiro, que não está aproximado de um juízo. O abandono do medo
que sentes da Unidade está presente em cada encontro santo. O julgamento daquilo
que está acontecendo já é distanciamento. Portanto, o encontro santo precisa de
total disponibilidade, sem esforço, e o único juízo correto a ser aplicado nos
encontros que nos são dados é este: estou aqui e não estou perdendo tempo, pois
é impossível para qualquer pessoa viver fora daqui, ainda que seja por um
segundo à frente no futuro. Quero estar inteiro diante deste meu irmão, e darei
para ele toda a minha atenção.
Tereza
Edim, professora do Curso em Milagres em Belo Horizonte, costuma dizer que a
coisa mais importante que você pode dar a qualquer pessoa é sua atenção. A
atenção desapegada de propósitos vantajosos retira o sentido utilitário que
podemos atribuir às pessoas e, por conseguinte, aos encontros que acontecem diariamente
em nossas vidas. Dizendo de maneira bem simples, Um Curso em Milagres é um
curso que utiliza os relacionamentos para trazer a mensagem da Filiação Unitária.
O Ser Único nos é revelado no instante santo, por intermédio de nosso irmão
santo, seja ele quem for. Este é o significado — e o resultado — do perdão.
Um
tempo passado com teu irmão tem que ser visto como uma benção. Toda a tua
atenção deve ser voltada para ele, sem que isso seja percebido como um sacrifício.
Se tal sensação ocorrer, não estás totalmente disponível e deves considerar que
de alguma maneira não estás pronto naquela ocasião. Convém dizer que, até que o
encontro santo seja natural para nós, essa flutuação estará presente. Mas uma
abordagem de nosso irmão como uma dádiva de Deus para nós pode começar a fazer
volver nosso sistema de pensamento em direção à mente certa e à correção da
perspectiva prática daquilo que realmente é a Filiação.
Se
todos os egos do mundo fossem desfeitos agora, o que restaria seria o mesmo Cristo.
Os corpos, portanto, passariam a ser
bastante desnecessários, pois os corpos estabelecem diferenças, e Cristo é o
mesmo. Ver o Cristo em teu irmão significa ver a natureza real dele e, por
conseguinte, a tua, pois é impossível ver “fora” o que não estiver “dentro” de você.
Os encontros santos são a comprovação desta verdade. Mas para isso é preciso
que haja disponibilidade tua para ver ao teu irmão como teu Salvador, aquele
que é curado na medida em que te ajuda a ser curado também, pois não existem
diferenças para Deus; e se um oferece a cura, os dois tem que ser curados
juntos, simplesmente porque Deus não dá para tomar de volta.
Vamos ler novamente qual deve ser nossa postura
em relação ao tempo que passamos com nossos irmãos, de acordo com o Livro
Texto: “um espaço vazio que não é visto como cheio, um intervalo de tempo sem
uso, que não é visto como gasto e plenamente ocupado, vêm a ser um convite
silencioso para que a verdade entre e faça um lar para si mesma (T-27. III. 4:1).”
Portanto,
existe uma disponibilidade a ser treinada sempre que estivermos diante de
nossos irmãos. Uma coisa que pode ajudar é lembrar do julgamento final de Deus
sobre nós mesmos, e o julgamento final de Deus é este:
tu és meu amado filho, criado no amor e ao amor pertencente desde sempre e para sempre. Não podes ser julgado diferentemente, a não ser em sonhos. Mas sonhos não são reais e, portanto, sejas tu amor, pois é apenas isso o que és.
Ter essa certeza pode ajudar para
que não precises pensar naquilo que pensas que teu irmão pensa sobre ti. A
correção da autoestima surge do sentimento de ser amado. Nossa autoestima se
engradece diante da lembrança/confiança nesta certeza.
O
instante santo tampouco pode ser induzido pela nossa vontade/volição. A única
coisa necessária é disponibilidade. Estar verdadeiramente com uma pessoa é
estar ali e só. Momentos assim são julgados como tediosos para o ego, mas
lembre-se destas palavras do Curso, no Manual dos Professores: “Tu percebes o
mundo e tudo nele como significativo em termos das metas do ego. Essas metas
não têm nada a ver com os teus maiores interesses, porque tu não és o ego (L-pI.
25. 2:1)”. Uma das metas mais valorizadas pelo ego é o isolamento.
O
Livro Texto ainda diz que o ego irá apontar os milagres ocorridos nos instantes
santos como fantasias (T-17. V. 7:1-14). O aconselhamento do sistema de
pensamento da mente errada procura convencer-nos de que os milagres são “insanidade”,
excepcionais demais, e que para promover a sanidade é importante, dentre outras
coisas, manter distância do instante santo, isto é, de teus irmãos. Às vezes a aproximação pode até mesmo ser
encorajada pelo ego — pois o ego sabe que você não é bobo —, mas uma
aproximação cautelosa, cheia de reservas, pois o teu irmão em estado de
disponibilidade para o instante santo é um inimigo para o ego.
O
Livro Texto também se refere aos milagres ocorridos nos instantes santos como os
momentos em que a Filiação te responde por intermédio de teu irmão. No entanto,
adverte que o ego classificará tais atos como fantasias. O ego vai te dizer que
a comunicação da Filiação pelo Um é uma fantasia, que estás enlouquecendo, e que
deves excluir tais fantasias de teu irmão para salvar tua sanidade diante de “mistérios”.
E depois adverte para que não ouças um conselho daquele tipo. Eu tenho um
amigo, Marcos Morgado Ribeiro, com quem posso dizer que já tive a oportunidade
de confirmar de maneira explícita o fato — pois é um fato — da unidade da
Filiação. Já tive inúmeras declarações específicas vinda deste amigo em
contextos muito particulares, divulgados como resposta às minhas inquietações
através de postagens no facebook, mesmo sem termos conversado sobre nada disso
(na verdade, converso muito pouco com meu amigo Marcos e ele sabe muito pouco
sobre a minha vida). No entanto, suas mensagens são como balas de prata,
pontuais, incisivas e irrefutáveis. Como poderia eu desdizer de especificidades
como estas, se não fosse pelo fato de a Filiação ser uma só mente? E o que se
dizer de tantos outros acontecimentos sincrônicos, que revelam um aspecto
unitário subjacente ao mundo?
O conhecido psicanalista Carl G. Jung cunhou
para isto um termo: sincronicidade. Quando eventos relativamente destacados de
causa e efeito ocorrem diante de “acasos significativos”. Um encontro santo totalmente
disposto ao teu irmão tem o poder de produzir acasos assim. No entanto, em
nosso currículo, dizemos que os encontros santos revelam o caráter unitário da Filiação,
e isso somente pode ser conseguido através do perdão.
O
Livro também nos diz que diante da ocorrência de fatos que comprovem a unidade
da Filiação, o ego gosta de falar em “mistérios”. Que não é possível entender
como isso pode ter acontecido, deve ser algum tipo de bruxaria etc. Nosso
currículo é bastante diferente. Ele nos diz que estamos cegados pelo medo, mas
o instante santo amoroso e completamente disponível para os atos ditos surpreendentes
são a verdade em sua forma mais pura. Contudo, neste momento da história parece
que o instante santo é algo estranho, perturbador, não científico e, portanto,
desmerecedor de crédito. Vigora em nosso século a comunicação pelo ego, informativa,
mas muito pouco conclusiva, que visa distanciar e produzir encontros
não-santos, muitas vezes disfarçados sob a euforia de prazer que o parlatório
fugaz e o jogo das ideias engendram. “Ficam no tempo os torneios da voz (Marcelo
Jeneci)”.
Por
fim, acho importante uma advertência: nosso irmão não é um oráculo. Não
deveríamos entrar no instante santo em busca de respostas objetivas, embora o
curso diga que todo irmão tem as respostas de que necessitas. Muitas das vezes,
pode ocorrer também de o encontro santo ser silencioso e abranger uma
experiência de paz e confiança em alguma pessoa. O instante santo não serve
para ganhar coisa alguma. Esse seria o entendimento do ego. O instante santo é
um momento no qual ambos estão em serviço comum. No Manual dos Professores isso
é explicado assim: “qual serve a quem? Quem ganharia mais somente com orações? Quem
precisa apenas de um sorriso, não estando ainda pronto para mais? (M-29. 2:1-4).”
Contudo, a experiência de imersão no instante santo produz cada vez maior
percepção de seus efeitos, pois: “o plano de estudo é altamente individualizado
e todos os aspectos estão sob a orientação e o cuidado particular do Espírito
Santo. Pergunta e Ele responderá (M-29. 2:6-7).”
Tenha
fé ao perguntar.
Obrigado
por ler até aqui. Te amo, irmão querido.
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