domingo, 28 de abril de 2019

A prática do instante santo



Falaremos sobre a prática da disponibilidade ao Instante Santo por intermédio do entendimento desta passagem do Curso:

“Um espaço vazio que não é visto como cheio, um intervalo de tempo sem uso, que não é visto como gasto e plenamente ocupado, vêm a ser um convite silencioso para que a verdade entre e faça um lar para si mesma (T-27. III. 4:1).”


A cada vez que encontramos com alguma pessoa, surge uma oportunidade renovada para a cura. Qualquer pessoa, cada encontro, são oportunidades; e como tais não deveriam ser desperdiçadas. Dispor-se ao teu irmão em um tempo visto como não perdido, um tempo dedicado, um tempo sem anseio, mostra-te a verdade sobre a Filiação neste mesmo irmão.

                Este é o perdão verdadeiro, que não está aproximado de um juízo. O abandono do medo que sentes da Unidade está presente em cada encontro santo. O julgamento daquilo que está acontecendo já é distanciamento. Portanto, o encontro santo precisa de total disponibilidade, sem esforço, e o único juízo correto a ser aplicado nos encontros que nos são dados é este: estou aqui e não estou perdendo tempo, pois é impossível para qualquer pessoa viver fora daqui, ainda que seja por um segundo à frente no futuro. Quero estar inteiro diante deste meu irmão, e darei para ele toda a minha atenção.

                Tereza Edim, professora do Curso em Milagres em Belo Horizonte, costuma dizer que a coisa mais importante que você pode dar a qualquer pessoa é sua atenção. A atenção desapegada de propósitos vantajosos retira o sentido utilitário que podemos atribuir às pessoas e, por conseguinte, aos encontros que acontecem diariamente em nossas vidas. Dizendo de maneira bem simples, Um Curso em Milagres é um curso que utiliza os relacionamentos para trazer a mensagem da Filiação Unitária. O Ser Único nos é revelado no instante santo, por intermédio de nosso irmão santo, seja ele quem for. Este é o significado — e o resultado — do perdão.

                Um tempo passado com teu irmão tem que ser visto como uma benção. Toda a tua atenção deve ser voltada para ele, sem que isso seja percebido como um sacrifício. Se tal sensação ocorrer, não estás totalmente disponível e deves considerar que de alguma maneira não estás pronto naquela ocasião. Convém dizer que, até que o encontro santo seja natural para nós, essa flutuação estará presente. Mas uma abordagem de nosso irmão como uma dádiva de Deus para nós pode começar a fazer volver nosso sistema de pensamento em direção à mente certa e à correção da perspectiva prática daquilo que realmente é a Filiação.

                Se todos os egos do mundo fossem desfeitos agora, o que restaria seria o mesmo Cristo.  Os corpos, portanto, passariam a ser bastante desnecessários, pois os corpos estabelecem diferenças, e Cristo é o mesmo. Ver o Cristo em teu irmão significa ver a natureza real dele e, por conseguinte, a tua, pois é impossível ver “fora” o que não estiver “dentro” de você. Os encontros santos são a comprovação desta verdade. Mas para isso é preciso que haja disponibilidade tua para ver ao teu irmão como teu Salvador, aquele que é curado na medida em que te ajuda a ser curado também, pois não existem diferenças para Deus; e se um oferece a cura, os dois tem que ser curados juntos, simplesmente porque Deus não dá para tomar de volta.

                 Vamos ler novamente qual deve ser nossa postura em relação ao tempo que passamos com nossos irmãos, de acordo com o Livro Texto: “um espaço vazio que não é visto como cheio, um intervalo de tempo sem uso, que não é visto como gasto e plenamente ocupado, vêm a ser um convite silencioso para que a verdade entre e faça um lar para si mesma (T-27. III. 4:1).”

                Portanto, existe uma disponibilidade a ser treinada sempre que estivermos diante de nossos irmãos. Uma coisa que pode ajudar é lembrar do julgamento final de Deus sobre nós mesmos, e o julgamento final de Deus é este:

tu és meu amado filho, criado no amor e ao amor pertencente desde sempre e para sempre. Não podes ser julgado diferentemente, a não ser em sonhos. Mas sonhos não são reais e, portanto, sejas tu amor, pois é apenas isso o que és.

Ter essa certeza pode ajudar para que não precises pensar naquilo que pensas que teu irmão pensa sobre ti. A correção da autoestima surge do sentimento de ser amado. Nossa autoestima se engradece diante da lembrança/confiança nesta certeza.

                O instante santo tampouco pode ser induzido pela nossa vontade/volição. A única coisa necessária é disponibilidade. Estar verdadeiramente com uma pessoa é estar ali e só. Momentos assim são julgados como tediosos para o ego, mas lembre-se destas palavras do Curso, no Manual dos Professores: “Tu percebes o mundo e tudo nele como significativo em termos das metas do ego. Essas metas não têm nada a ver com os teus maiores interesses, porque tu não és o ego (L-pI. 25. 2:1)”. Uma das metas mais valorizadas pelo ego é o isolamento.

                O Livro Texto ainda diz que o ego irá apontar os milagres ocorridos nos instantes santos como fantasias (T-17. V. 7:1-14). O aconselhamento do sistema de pensamento da mente errada procura convencer-nos de que os milagres são “insanidade”, excepcionais demais, e que para promover a sanidade é importante, dentre outras coisas, manter distância do instante santo, isto é, de teus irmãos.  Às vezes a aproximação pode até mesmo ser encorajada pelo ego — pois o ego sabe que você não é bobo —, mas uma aproximação cautelosa, cheia de reservas, pois o teu irmão em estado de disponibilidade para o instante santo é um inimigo para o ego.
                O Livro Texto também se refere aos milagres ocorridos nos instantes santos como os momentos em que a Filiação te responde por intermédio de teu irmão. No entanto, adverte que o ego classificará tais atos como fantasias. O ego vai te dizer que a comunicação da Filiação pelo Um é uma fantasia, que estás enlouquecendo, e que deves excluir tais fantasias de teu irmão para salvar tua sanidade diante de “mistérios”. E depois adverte para que não ouças um conselho daquele tipo. Eu tenho um amigo, Marcos Morgado Ribeiro, com quem posso dizer que já tive a oportunidade de confirmar de maneira explícita o fato — pois é um fato — da unidade da Filiação. Já tive inúmeras declarações específicas vinda deste amigo em contextos muito particulares, divulgados como resposta às minhas inquietações através de postagens no facebook, mesmo sem termos conversado sobre nada disso (na verdade, converso muito pouco com meu amigo Marcos e ele sabe muito pouco sobre a minha vida). No entanto, suas mensagens são como balas de prata, pontuais, incisivas e irrefutáveis. Como poderia eu desdizer de especificidades como estas, se não fosse pelo fato de a Filiação ser uma só mente? E o que se dizer de tantos outros acontecimentos sincrônicos, que revelam um aspecto unitário subjacente ao mundo?

                 O conhecido psicanalista Carl G. Jung cunhou para isto um termo: sincronicidade. Quando eventos relativamente destacados de causa e efeito ocorrem diante de “acasos significativos”. Um encontro santo totalmente disposto ao teu irmão tem o poder de produzir acasos assim. No entanto, em nosso currículo, dizemos que os encontros santos revelam o caráter unitário da Filiação, e isso somente pode ser conseguido através do perdão.

                O Livro também nos diz que diante da ocorrência de fatos que comprovem a unidade da Filiação, o ego gosta de falar em “mistérios”. Que não é possível entender como isso pode ter acontecido, deve ser algum tipo de bruxaria etc. Nosso currículo é bastante diferente. Ele nos diz que estamos cegados pelo medo, mas o instante santo amoroso e completamente disponível para os atos ditos surpreendentes são a verdade em sua forma mais pura. Contudo, neste momento da história parece que o instante santo é algo estranho, perturbador, não científico e, portanto, desmerecedor de crédito. Vigora em nosso século a comunicação pelo ego, informativa, mas muito pouco conclusiva, que visa distanciar e produzir encontros não-santos, muitas vezes disfarçados sob a euforia de prazer que o parlatório fugaz e o jogo das ideias engendram. “Ficam no tempo os torneios da voz (Marcelo Jeneci)”.

                Por fim, acho importante uma advertência: nosso irmão não é um oráculo. Não deveríamos entrar no instante santo em busca de respostas objetivas, embora o curso diga que todo irmão tem as respostas de que necessitas. Muitas das vezes, pode ocorrer também de o encontro santo ser silencioso e abranger uma experiência de paz e confiança em alguma pessoa. O instante santo não serve para ganhar coisa alguma. Esse seria o entendimento do ego. O instante santo é um momento no qual ambos estão em serviço comum. No Manual dos Professores isso é explicado assim: “qual serve a quem? Quem ganharia mais somente com orações? Quem precisa apenas de um sorriso, não estando ainda pronto para mais? (M-29. 2:1-4).” Contudo, a experiência de imersão no instante santo produz cada vez maior percepção de seus efeitos, pois: “o plano de estudo é altamente individualizado e todos os aspectos estão sob a orientação e o cuidado particular do Espírito Santo. Pergunta e Ele responderá (M-29. 2:6-7).”

                Tenha fé ao perguntar.

                Obrigado por ler até aqui. Te amo, irmão querido.

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