Pergunta: em relatos sobe EQM (Experiência
de Quase Morte) geralmente há considerações do sujeito que passou pela experiência acerca da presença de níveis “baixos” ou "maus" de energia, vivenciados enquanto esteve além do corpo. Em qual medida há algum pressuposto de verdade nestes depoimentos, disposto que aceitamos que ilusões não
podem condenar?
Aqui há uma dúvida sincera. Não
existem níveis em milagres. Isso acontece porque não existem níveis de ilusões.
Uma ilusão é uma ilusão e não há nada mais a se dizer sobre a sua natureza. Por
que, então, existem tantos depoimentos que associam uma presença energética, ou
superpondo uma consideração de “energia negativa” versus “energia positiva”,
diante dos acontecimentos deste mundo, ou mesmo quando este mundo é observado
desde uma perspectiva além-corpo? Isso é muito simples de se entender. O mundo
como ilusão permite que coisas que não existam pareçam acontecer. A verdade é
que nada está acontecendo de verdade, mas parece que sim. Neste sentido, há
coisas feitas e coisas criadas. As coisas feitas são as tais baixas energias,
simplesmente porque não são criativas e vibram em acordo com o ego, que não tem
poder nenhum e tudo o que faz tem pouca luz. Por outro lado, há coisas que são
criadas mesmo aqui, estas estão associadas à Filiação e à mente única, sendo,
portanto, sustentadas pelo poder da Própria Criação. Estes eventos criam luz.
Isso não significa sobremaneira que sejam reais. Apenas são símbolos da Criação,
enquanto outras ilusões são símbolos da “feitura”. Não existindo níveis de
ilusão, o único remédio para tudo passa a ser o perdão, quando não há critérios
de julgamento, pois ninguém em sua sã consciência vai julgar algo que tenha
acontecido durante o sonho noturno como um acontecimento real. É claro que pode
ocorrer de um sonho noturno entregue ao Espírito Santo divulgar um motivo criativo
mesmo aqui, mas quando isso acontece não temos dúvida sobre a realidade
daquilo, pois o que é verdadeiro e criativo é verdadeiro e criativo em qualquer
lugar. Agora, a pergunta que você tem que se fazer com verdadeira honestidade é
esta: acredito que as imagens que geram tal “energia negativa” sejam ilusões?
O Livro Tibetano dos Mortos é um
pequeno manual para ser lido ao moribundo na hora de seu desprendimento do
corpo ou um pouco após o falecimento. Este ritual dura certo tempo; alguns
dias, se não me engano. Não lembro com exatidão a extensão deste período agora,
pois cito de memória e já faz um bom tempo desde que li este maravilho documento
pela última vez. Nele é possível encontrar instruções a serem lidas com a intenção
de orientar o morto ou, segundo nosso currículo, com a intenção orientar a consciência
que acabou de abandonar seu instrumento de aprendizado e encontra-se agora em
um ambiente que pode lhe ser totalmente esquecido e estranho. No Livro Tibetano
dos Mortos, este ambiente no qual a consciência se vê logo após o encerramento
do ciclo de seu instrumento de aprendizado é chamado “Bardo”.
Como estou
citando de memória, não lembro exatamente tudo, mas sei que um dos critérios desta
orientação ao “morto” é sussurrar-lhe à consciência, através de um ritual no
qual orientações lhe são passadas, que tudo o que ele estiver presenciando no
Bardo como imagens são ilusões, e que ele deve seguir em direção à luz, sem
medo. Segundo o livro, neste momento várias imagens tremendas e associadas aos
medos mais profundos do recém-transferido podem surgir, e é neste momento que
lhe é citado que tudo o que vê como imagens macabras são ilusões. No entanto,
há um segundo momento no qual imagens sagradas que foram associadas durante
aquela vida como sendo mais celestiais serão apresentadas também à consciência
do “morto”, como, por exemplo, a presença de santos e anjos em lugares incríveis
e maravilhosos. O Livro Tibetano dos Mortos relata que esta fase do Bardo
também deve ser tratada como ilusória pela consciência, embora ela traga a antessala
da luz (perceba como isso parece com a noção de “mundo real” ou “mundo perdoado”,
presente em nosso currículo. Segundo essa noção, antes do despertar veremos o “mundo
perdoado”). Acaso o medo surgir em
qualquer uma dessas fases, é possível (segundo a crença do livro) que várias cenas
de copulações surjam como imagens àquela consciência, um momento no qual ela
pode se sentir atraída para aquelas imagens, para ser então absorvida por elas,
ao que retornaria por meio deste caminho a encarnar em uma “nova vida”, através
de alguma concepção. Salvo engano, a mente é advertida também pelo leitor do
Livro Tibetano dos Mortos, como um último esforço simbólico, de que as imagens de
copulação são igualmente ilusórias (posto que irão conduzi-lo novamente a um
mundo de ilusão).
(De toda
forma, e igualmente, se há níveis de ilusão que façam com que uma mente que
aprendeu um pouco mais possa ver a copulação de extraterrestres, e então aportar
em um planeta mais evoluído, e daí nascer por lá, isso não importa. Pois, de qualquer
maneira, nascer em um corpo que precisa de matéria é ilusão e ponto final).
Portanto, imagens
vistas em sonho são ilusórias e pertencem ao repertório fantasiado que aquela
mente percorreu por aqui, enquanto acreditava habitar um corpo. Essas serão as
imagens que fornecerão o escopo de sua experiência em sonhos noturnos, por
exemplo. Durante a noite, imagens associadas ao seu modo de ser podem ser
direcionadas a fazer com que o sujeito da experiência sinta “satisfação”. Por
outro lado, acaso o sujeito da experiência esteja tão iludido de que está afastado
de sua realidade e é um sofredor, imagens de terror poderão surgir diante daquilo
que ele nomeia pesadelo.
Pergunta: a
teoria junguiana diz que os sonhos podem ter efeitos compensatórios. Uma pessoa
que sonha com extrema pobreza pode ter uma atitude consciente de esbanjamento.
Isto faz algum sentido?
Em um mundo de
opostos, o equilíbrio é uma tendência diante das eventualidades de uma
característica própria de vai-e-vem (vicissitudes), ou seja, se há trânsito
pelos opostos, uma hora este trânsito passará pelo meio-termo entre A e Z. A
noção de compensação visa fazer com que o indivíduo possa ater ao seu
pressuposto básico uma consideração sobre si mesmo mais apropriada ao que ele
realmente é. Em outras palavras, pode ser um chamado à mente certa pela
exposição demasiada à mente errada. A cura disto seria corretamente empreendida
por alguém que olhasse para as imagens à sua frente e escolhesse questionar sua
validade, sabendo que não são reais. Assim, ele perdoa, e pode mais facilmente considerar
sua opção pelo oposto sofredor (mente errada) diante de uma nova alternativa
(mente certa). Mas para isso é preciso que o sonhador noturno também seja considerado
irreal, como é citado no Texto, ou ele vai acreditar que sonhos (noturnos)
influenciam sonhos (de vigília), e isso não quer dizer nada verdadeiramente.
São estratégias de adiamento do ego e não têm valor real para o despertar. Isso vale também para a noção de uma experiência de quase morte ou extra-corpórea. O mundo real é abstrato.