terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Sobre disponibilizar-te



Pergunta: Quem és tu, que eu não vejo?

O que “ver”? Como assim “ver”? Será que ainda não entendes que a percepção é uma foice? Se pensas na morte, somente em imagens podes morrer. Não está claro a esta altura? Já deveria estar, ora! A experiência em “saber” é um atraso medonho, busca ancorar. Ficar parado no mesmo lugar não é o mesmo que esperar. “Serena expectativa” não é parar. “Para aí, espera por mim!” Tal é o pedido de ajuda que queres que eu te forneça? Não vou pedir para parar nem vou seguir. Isto é segurança de propósito. Sei onde vou chegar, por isso não vou a lugar algum. A revelação da tua natureza não pode ser partida em duas. Como queres saber Quem Sou? Duas coisas não estão divididas se são a mesma. Parece que te sou diferente por que a volição ainda é para ti um valor. Tens, afinal de contas, planos. Queres chegar a algum lugar. Somente por conta deste equívoco, eu vou contigo; e sou apenas Teu Amigo. Mas não sou o teu amigo em par, embora não estejas sozinho. Não há lugares, não há um “tu” a quem se reportar. Nenhum corpo é um “tu” a quem se reportar. Uma gota d’água, duas gotas d’água, três gotas d’água até virar mar é gostar de conversar com os irmãos. Ouve-os e fala-te. Me verás também neles.

Mas se esperas de mim um sinal em teu irmão, que tal amor, ahn? Que tal bom dia? Que tal obrigado? Que tal menos cerimônia? Não digo em “educar”, não falo assim. Nada está perdido se estás apenas dormindo, não é? Mas o tempo é desperdício. Qualquer tempo, mesmo o melhor tempo aproveitado, dormindo, é relógio de sonho, ponteiro que desafia as horas e não dá a conta do viver. Decerto que não há problema, mas parece muito problemático em tua atual experiência, não é verdade? Crês realmente que é tudo um sonho? Se cresses, não estarias mais aqui, ora! Escolherias certo. Mas podes escolher outra vez. Ah, se podes! E vamos juntos, eu e eu, em ti, vamos lembrar o que não tem nome nem pode ancorar nada, pois o vento é contrário e a noite é alta.

Tá com medo? Claro que está! Não lembra o que faz, então tem medo de criar, e apenas faz. Agora temos certeza nenhuma, mas sabemos quem é João Batista, Aquele Que prepara o caminho. Aprendemos com Mooji, santo seja, sagrado irmão. Agradeço, sempre agradeço. Recomendo. Vamos tentar de novo, André.
Mas não penses que o nome refaz o homem, André. O nome não é sequer o símbolo do homem, rapaz. Advirto: se temes o amor, temes o amor feito e temes o amor que pensas. Temerás então o instante santo, pois terás pudor em parar um pouco para “fazer amor”, no sentido mesmo de um amor que é fabricado. Ora, vamos! Não digas que não entendes! Trato como criança, mas chega a hora em que mesmo a criança precisa fornecer seu debulho no trabalho. Tripalium??? Deveras, mas não subestime a capacidade de uma imagem deste mundo poder simbolizar o certo. Nada é real, confirmo. Mas nem sempre o que ancora desapropria. Vês o barco à deriva? Pois o Curso em Milagres, neste mundo, não é um Livro, não é objeto de papel? As ideias é que não contam nisto. Por isso peço que o trabalho em debulhar venha desvelar o que não está pronto em “verdades certas”. Anzol não ancora barco, André.

Venho. Se pedires para eu vir, venho. Se queres que eu desça a lenha, a gente faz fogueira, ora. Não é bom? Fogueira com os amigos e dia de São João? Sei que gostas do folguedo e dizem até que santo André carregava sempre consigo uma viola de cinco cordas. Não está na Bíblia, mas eu bem me lembro. Ora, se! E fazemos imagens em sonhos para sonhar o despertar. Também se diz em não dizer, entende? Se não entende, não pode entender ainda, e talvez seja cedo. A festa mesmo é mais tarde, apenas daqui a pouco. No enquanto, pode ser viola, poesia, vinho bom e folguedo. Não está errado isto, pelo certo. E o certo eu proponho. Vamos então ao trabalho diurno, enquanto insistes na sesta:

O almejado não pode ser alcançado. Parece que almejar ajuda, mas não é assim. Tal qual a verdade, que não precisa de ajuda para ser verdadeira, aquilo que é certo não precisa ser almejado. Não almejas uma herança que é tua. Podes acreditar que alguém precisa morrer para restar herança. Certo é — precisas mesmo nascer de novo.

Por isso, verifica agora sem medo o que tens a oferecer ao mundo. Não é verdade que tens saudades de teus irmãos? Não é verdade que gostarias de rir com eles? Então, o temor da amizade, o temor do amor em teus irmãos é uma tortura que visa impedir.  Não deixar fluir é represar a água, mas não podes sozinho fazer uma represa desse tamanho e não sentir a pressão da correnteza a bater e solicitar vazão para irrigar a vida ciliar. Do outro lado, fica enchente; e as grossas barreiras de troncos em formato parede rangendo, pulsando, espargindo água, quebrando-se em lascas, não demora o dilúvio a vir! No entanto, estamos ensinando a liberar o córrego. Devagar, que, senão, tirando o tronco errado, é enxurrada e machucado. Isso não precisa ser assim, já falei!

Não tire conclusões aqui. Voltemos ao instante santo. O paradigma do instante santo é não prever o que vai acontecer mesmo sabendo que será feliz. É isso. A entrega ao desconhecido somente pode ser realizada se tiveres certeza de que esse desconhecido é bom. Eu te garanto que é bom. O instante santo é sempre bom, mas não pode ser “planejado”. Ah, se acaso disseres: “agora eu vou ter um instante santo”. Cadê o instante santo? Se queres, não tens...já disse no começo do texto. Mas o instante santo pode ser “disponibilizado”. Repete comigo: disponibilizado. Sem medo agora: dis-po-ni-bi-li-ZA-do. Dispor sem planejar, eis que, deste modo, o instante santo chega fácil, facílimo, como água de batismo. Não precisa dizer o que é o instante santo, nem deseje jamais o instante santo. Nem esperes que ele venha. Apenas pare sem pedir para parar, acalma-te sem pedir para ter calma, sossega mesmo no olho do furacão — e ele é. Santo, como o instante ao qual não se pediu guarida, mas a guarida veio. Certo, como o instante santo ao qual o medo não precisa vir, pois se chegar, já era.

“Qual a diferença entre o instante santo e a noção de “agora”?”

Tal como Eckhart Tolle trata a noção de “agora”, praticamente nenhuma. Mas as noções de “agora” e “instante” ainda trazem em si um pressuposto temporal. É por isso que assumimos o adjetivo “santo” ao instante, pois ele não é um instante como uma “fatia do tempo”, mas um instante que não tem relação alguma com o tempo. O agora parece fugaz, pois se pode dizer, como na música de Arnaldo Antunes, que “agora é outro agora”. Pode-se dizer também o mesmo em relação ao “instante”. Por isso se diz que o instante santo é um instante—santo. Santificado, ele não pode ser tocado pelo temporal, pois ele está em segurança na eternidade, e somente é chamado de instante porque a linguagem não tem nome para a experiência atemporal. “Epifania” não alcança descrevê-lo, pois o instante santo não contém informação. Se contiver, não é uma revelação de causa, pois o instante santo é um efeito do que tu És. Nada é revelado no instante santo, mas nele estão todas as respostas que quiseres.

Portanto, admita mais o instante santo em tua vida. Maior frequência e, principalmente, maior disponibilidade. Já desististe deste mundo há muito tempo! Nada há nele a se perdoar. Ele nem existe, para quê gastar imagens? Olha, vamos vir, vamos embora, e fiquemos, sabendo que podemos ajudar, ajudamos — e festa!
Pai Nosso, que estais nos céus. Santificado seja Vosso Nome. Venha a nós o Vosso Reino, seja feita a Vossa Vontade, assim na terra como no Céu. O pão nosso de cada dia nos dai hoje, e perdoai as nossas ofensas assim como perdoamos a quem nos tem ofendido. Não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal — livrai-nos dele, Senhor — amém.

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