domingo, 3 de fevereiro de 2019

Sobre a brecha





O corpo tem valor pelo que traz. Esse pensamento tem em si toda uma tese divulgada sobre o que significa a brecha da qual tanto se fala no UCEM. Já dissemos em outra oportunidade que não há nada de errado com o corpo, e que tal entendimento seria algo como um desvio de significado. O que precisa ser entendido com muita urgência é que o corpo pode ser utilizado equivocadamente, como um bloqueio, ou brecha, na comunicação.

Falemos, então, e primeiramente, sobre a comunicação. A mente é única e se comunica através deste um, em um princípio simbólico e unitário, que no UCEM é chamado de filiação. A filiação não é nada mais nada menos que o reconhecimento integral desta mesma mente em todos os teus irmãos. Muito simplesmente, os instantes santos podem te reafirmar isto, a cada vez que for percebido, e tal percepção ocorre mediante a tua disponibilidade em comunicar “pelo um”.

Presta atenção às palavras de teus irmãos, perdoando seja o que for que te digam. Nem sempre eles estarão na consciência da filiação, e neste caso, deves mesmo tomar a decisão correta, mas o teu amor por eles pode facilitar bastante esta ocorrência. Não pense que por estarem em corpos separados suas mentes estão separadas igualmente. Isso não faz nenhum sentido. O mundo pensa em termos de pensamentos privados e acredita firmemente nisso. Tal crença dá realidade a um mundo de corpos separados, e corpos assim separados seriam “brechas”, nas quais poder-se-ia manter os pensamentos privados, isoladamente.

Mas se todo pensamento cria forma em algum nível, então é impossível que o mundo como um todo esteja separado do pensamento coletivo da humanidade. A noção de que “uma andorinha só não faz verão” está bem representada pela forma com a qual todo tipo de ocorrência que se vê no mundo não é nada mais nada menos que uma construção coletiva, embora ainda bastante inconsciente neste momento da história. O mundo é uma construção simbólica, mas muito útil, mesmo quando usada diretivamente. No entanto, não é real.

O investimento nos pensamentos privados — e por essa expressão não queremos dizer apenas dos pensamentos que julgas indignos, ou daqueles que gostarias de ocultar, mas de todo o pensamento possível —, repetindo, o investimento na possibilidade de haver pensamentos privados é uma decorrência da crença do corpo como uma cápsula para a mente. Isso provocaria uma brecha na comunicação, e a ocorrência firme da separação como um esteio para o pensamento próprio, motivado pelo ego, seria comprovada, caso os pensamentos pudessem manter-se privados.

De modo bastante diferente, a mente única pode se comunicar “pelo um” direta ou simbolicamente. “Sinal amarelo”, por exemplo, “é atenção”. Pois não tem essa música, que diz: “no Novo Mundo / nada passa desapercebido. / E não existe mais sabido, / tá tudo aí.” Mas, se olharmos diretamente para isso, veremos os símbolos da mente única, para o bem ou mal, pois estarás preparando a si mesmo para que vejas a Cristo em todos os teus irmãos, ao que a brecha será, assim, desfeita. Para isso, no entanto, a disponibilidade deve ser total. A entrega ao instante santo não deve ser entendida tampouco como um atributo a ser realizado mediante a presença de pessoas especiais. Quantas vezes será preciso repetir que não existe tal coisa como o especialismo? Cristo está em todos e em cada um, e nesse paradoxo está revelada a unidade da mente. Negar o perdão na presença de qualquer um que seja é negar o instante santo, e consequentemente reforçar o significado da brecha, tendo o corpo reforçado como uma cápsula que te dá uma ideia de personalidade.

Jung criou na psicologia a expressão “complexo”. Existem os “complexos de superioridade e inferioridade” e vários outros que foram determinados utilizando esta expressão, como o “complexo Materno e Paterno”. No entanto, um estudioso das obras de Jung, chamado Edward Whitmont, atentou para um caso específico desta distorção: ele recolheu das obras do psicólogo o conceito de que o ego é apenas mais um complexo, o “complexo de personalidade”. E esta definição deixa claro que o ego é apenas uma crença em uma personalidade que pode fazer coisas.

Na verdade, a filiação se une nas criações de Deus, que não podem ser concebidas através da mágica. “A união faz a força” nem sempre parece dar certo. Porque será?

Pede para ver e verás. É muito simples! É muito mais simples do que sempre pensas. Não existe nada mágico nisso. A mágica quer fazer crer que existe unidade em coincidências fortuitas, na medida em que nega o instante santo ao falar de amor exterior, amor pelo próximo, amor pelas pessoas, pela humanidade, em ser sempre bom e de bem, em estar amoroso em vias de se dizer gestor de tal tipo de amor. O ego escolhe a quem amar de acordo com as vantagens que vê ou não. E até uma mesma pessoa pode ser vista por ele hora como boa, hora como má. Isso traz o conceito de distanciamento, pois é preciso se precaver contra os momentos em que teu irmão irá atacar. Para isso, muitas vezes é necessário, em nome de tal amor, contra-atacar para preservar tua segurança. Não parece loucura tudo isso, diante de nosso aprendizado?

E é bem isso que é! Certamente, neste momento da história, um despertar coletivo não parece possível. O sistema de pensamento que reforça o corpo como cápsula é sobrevalorizado, e quando surgem histórias de pessoas que se comunicam “pelo um”, isto é dito como um fenômeno paranormal, reservado a algumas pessoas especiais.

A verdade é que não existem pensamentos privados. Existem escolhas. Nisso podemos seguir por um caminho bastante familiar: parece que não sabemos decidir direito, e por isso a união “pelo um” pode muito bem ser mal compreendida como repreensão. Na verdade, o mal e o bem são categorias que podem ser vistas de cima do campo de batalha como sendo irreais. Então, como poderia surgir a culpa? Houve o erro na escolha? O equívoco na decisão? Pois escuta o que o livro te diz: escolhe outra vez. É simples. No entanto, reserva-te no que Jung dizia sobre a realização do arquétipo de si-mesmo: ao se perceber a característica da unidade, é preciso ter ética. O que se quer dizer com tal ética? O que poderia ser, senão o perdão ao outro, e consequentemente a si mesmo?

Todos temos que tomar decisões aqui. Isso nos leva a uma questão fundamental, e a questão é essa: quem é você? Ora, muito simplesmente você é a instância que toma as decisões, enquanto assiste a esse corpo mitar em ego ou se comunicar pelo um. Você é o observador, o tomador de decisão, apenas isso, enquanto se pensa encapsulado neste fenômeno corpo. O ego ou o Espírito Santo atuam em corpo, enquanto dormes. Mas sempre é um ou outro que está atuando neste teatro mundo, e você vai perceber isso, quando quiser parar de jogar o jogo do bem versus o mal.

Portanto, e muito simplesmente, a comunicação não se dá pelas palavras “em estado de dicionário”, como diz Drummond. Às vezes, algo é dito em sentido completamente diferente das sequencias de palavras, acaso isoladas em significação unicamente racional. Muitas vezes, o que se fala não condiz com o que se diz, e a resposta não está nas entrelinhas, está na comunicação “pelo um”, que sempre deixa seus claros sinais.
Falamos sobre o tempo como sendo irreal e isso parece que não pode deixar de ser assim, pois uma coisa sempre parece surgir depois da outra. Mas é justamente por conta disso que podemos ver sua irrealidade, pois o tic-tac do tempo não é nada mais que uma ilusão de mudança nas formas. De onde estamos, não temos nada a ver com essas coisas que vemos mudar. Lembra disso, pede apenas para lembrar disso por ti mesmo.

Então, do ponto onde somos um, o mundo se torna o símbolo da união “pelo um”. E o corpo perde o significado de trincheira contra a unidade, ao que o perdão se torna a única resposta possível. Há ajuda nisso. Pede, mas pede com certeza. Usa os exercícios para isso.  “No começo é difícil / eu sei que é / mas depois não é mais não.”



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