sexta-feira, 10 de junho de 2011

UCEM - Sobre os sentidos

Obrigado a ti!

“O ouvido traduz, ele não ouve.
O olho reproduz, ele não vê."
(Suplementos –
“Psicoterapia, Propósito, Processo e Prática”. p. 28)

“Sempre tem gente pra chamar de nós.
Sejam milhares, centenas ou dois.”
(Por que nós? Marcelo Jeneci)


                Os sentidos são atuações do corpo em abstrações. São valores, se o dissermos sob auspícios poéticos. O olho reproduz, mas não integra. Não existe no olho a comprovação do que se vê, que vem de dentro, das ideias, da mente, conforme já discutimos em outra ocasião, sobre as imagens. Lá, dissemos que não se sabe o que a matéria é. Não se sabe, portanto, o que o olho vê.
Por outra: não existe no ouvido o eco do som. O CD em si não é a música. As ondas, os sons nos espaços, são vibrações. Palavras ditas são vibrações. O vento zunindo no ar, a alegria das crianças emitindo seus sons alegres em momentos calmos, o marulhar e a música, a palavra de carinho, o sorriso do filho sorrir, o sorriso do irmão sorrir, ou o sorriso gentil de todos, no ar, são sons, o som, mera onda, que o ouvido, de ler o que ouve em paz, traduz — e são ideias, a mente. A não ser que o ouvido queira ouvir as bombas e os outros sons que não divulgaremos aqui, a ideia do som pode transformar um dia à beira mar em um inferno mental, através das especulações do pensamento; outra vez: as ideias, a mente.
                Aquieta tua alma, meu tão querido irmão, que ouve o som destas palavras, que não são sons, mas são. Diz-se que quando se está alcançando a meta, os sentidos tornam-se mais aguçados. É claro! A verdadeira natureza deles está sendo relembrada.  O ouvido agora  apenas traduz e é percebido assim. Isto só pode trazer calma gentil e amor. Outra coisa não entra aqui. Jamais temerias o que acontece mediante a interpretação equivocada. Para isso, tem outra história:
                Ontem eu estava no mercado, comprando pão. Estava no setor da padaria, olhando para a cesta, que continha alguns bonitos pães. Então, alguém bateu no meu ombro e me assustei. Era meu amigo Lúcio Ângelo, que é meteorologista. Ele brincou ao dizer: ué! Tás assustado com quê, rapaz? (Meu amigo — pernambucano). Então, despertei; e percebi que estava em especulações mentais, me divertindo aos avessos, como diria Drummond, dormindo profundamente, e acho que nem mesmo os pães eu estivesse escolhendo direito antes de Deus me enviar este irmão para me ajudar. Então eu vi que não estava em si, que eu apenas via o que o olho reproduzia, enquanto a mente vagava noutro lugar. Talvez ela estivesse em Nassíria ou Nardaf, numa guerra, pedindo esmolas de status, sonhando com o passado ou pedindo outra esmola ao futuro, talvez eu estivesse assim.
                Contudo, não há guerra em Deus. Não há, portanto, guerra no ato de ver. E por conta desta intervenção de outro mim, meu amigo Ângelo, o Lúcio, me fez perceber que eu não estava na Síria, não estava em combate ——— estava eu na padaria, no mercado.
                Aí eu esqueci foi de tudo. Conversei com meu amigo sobre o cenário musical de Pernambuco, que lançou por esses dias a Karina Burh ("Eu menti pra você", onde se ouve: "Não sei se o tempo pode me livrar da culpa, que não sei se vem de mim ou da cruz, de Jesus"), o Ortinho ("Herói Trancado", onde se ouve: "retrovisores na minha frente (...) nosso passado de cada dia. Assombrações na minha frente."), Maquinado ("Sangramento da existência", onde se ouve: "Eu quero ver quando Zumbi chegar!"). E, dias atrás, também por lá tivemos Chico Science ("Afrociberdelia", onde se ouve: "de quê lado você samba?"), Otto ("Sem gravidade", onde se ouve: "A preciosa rocha que habita o amarelo do teu corpo é luz.") e Di Melo (Di Melo, onde se ouve: "a vida em seus métodos diz: calma."). É muito produtivo de coisas boas o cenário musical de Pernambuco. Todos os álbuns dos quais falei acredito interessantes e musicalmente geniais. Aparentemente eu esteja divagando aqui. Mas isto também é o blog do André Sena. Salve em si estas indicações de música. Estou ouvindo agora Marcelo Jeneci. Excelente!
                Mas voltemos: Jesus não julgou. Julgaríamos nós, que buscamos a Ele? Ele mesmo nos dá a mão e apóia. Como é gentil o caminho de volta a Deus. Sejamos mesmo gratos.
                Não faças tufão mental, não faça da imagem de nada nem de ninguém uma mentira fora do tempo. Veja a mim: não fui capaz de ver uma cesta de pão. Isto estou dizendo para ti, que lê, como indício, uma história pra sonhar.
                (Vai e vem dói)
                Assim, acordas. A imagem do mercado foi transliterada pelo meu ego como algo que não poderia ser percebido, por conta da nuvem do pensamento pensando seus voos desnecessários. Nada práticos. Existe o pensamento prático, claro. O raciocínio é da razão, e a razão é de Deus. Só há, portanto, Uma Razão. Então, para quê crias tantos pensamentos?
                Pensar com Deus é ser livre para “ver o visto”. Para ver apenas o que se vê, o que o olho revela em imagens meramente reproduzidas. Este “revelar” pode ser aplicado de maneira didática pelo estudo do currículo do UCEM. O repertório dos exercícios são pérolas ótimas, cartas na mão para lidar com as imagens apenas no “momento este”, no “agora”, em si. E ouvir os sons...
               
“Ficam no tempo os torneios da voz.
Não foi só ontem — é hoje e depois:
são momentos lá dentro de nós.
São outros ventos, que vem do pulmão.
E ganham cores na altura da voz
E os que viverem, verão.”

                               (Por que nós? Marcelo Jeneci)


Obrigado por leres até aqui. És bem vindo aqui. Te amo.

Apresento: "Por que nós", de Marcelo Jeneci. Linda música.


Nenhum comentário:

Postar um comentário