quinta-feira, 23 de junho de 2011

UCEM - Sobre a preguiça

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Falaremos da preguiça em uma acepção diferente da comumente empregada, que é a de inação. A preguiça será discutida aqui como uma interferência no agir, que está radicada unicamente no “fazer”, em oposição ao “criar”, abstendo-se esta ação, obviamente, do aspecto criativo.
Quando falamos em “fazer”, ou quando se diz que alguém “faz” alguma coisa, apontamos apenas para o movimento do ego no mundo das formas, para sua desordem. Quando falamos em “criar”, falamos da sintonia com a mente certa, da verdadeira criatividade, que são as extensões de Deus. Por exemplo: se sabes o que fazer mediante uma ocorrência qualquer, se sabes imediatamente que decisão tomar em tal situação através de uma prontidão advinda de tua relação de entrega, isto se chama “agir pelo não agir”[1], ou seja, agir sob inspiração ou graça do espírito. No entanto, se nesta mesma situação tu ages imediatamente, mas por conta própria, estás apenas agindo, e ação pura não é conhecimento, pois “certeza não requer ação” (UCEM, cap. 3, III - § 5). A ação torna-se conhecimento apenas quando realizada sem nenhuma interferência do teu ego, pois apenas desta forma pode deixar de ser ação. Assim, pode-se dizer que há uma preguiça que acontece mediante uma suposta ação no mundo, ou seja, embora o indivíduo esteja percebendo alterações na forma de sua vida, sente que algo está se configurando em termos de mudanças apenas neste nível. O sujeito pode até estar ficando rico ou atribuindo a si títulos e honrarias, mas não encontra nessas coisas mais que o frustrar-se da ação não dirigida, de tal maneira equivocada que chega a abster-se da condição paulatina de amor, que cresce apenas nas formas criadas. A preguiça entendida desta forma é, portanto, paralisante.
“Criar” é diferente de “fazer”. Por isso dizemos que a preguiça é uma interferência no agir. Pode-se agir das duas maneiras citadas, pois a ação é apenas a mudança das formas no tempo. Contudo, a ação preguiçosa é aquela que apenas faz, não sendo, portanto, criativa.
É preciso muito cuidado aqui, pois o teu ego pode adquirir excelentes meios de te impedir de criar através destes argumentos. Agir em consonância com o espírito é agir em alegria. Isto deve ser sempre enfatizado. Agir verdadeiramente é agir com Amor. É possível até mesmo cumprir uma tarefa aparentemente banal e criar, pois a criação de Deus não depende de suas formas no tempo. A criação de Deus pode ser um bom-dia, pode ser um pensamento feliz, pode ser a primavera bem cuidada em jardinagem ou atos pedreiros com assobios. Nada se perde em criação se é entregue nas mãos de Deus. No entanto, caso recebas o prêmio Nobel, a medalha do Grande Mérito, o prêmio Destaque do Ano e estejas em mau humor ou êxtases de emoção em auto-conceito de grandiosidade, isto ainda é equivoco e preguiça, se assim.
Obviamente, a preguiça é tida como um ‘resistir’, e essa acepção está incluída aqui. No entanto, advertimos para o ato da preguiça que se estende nas formas, que constrói o erro visível, a preguiça que é nomeada ação. Este equívoco de nomear o fazer como agir é valorizado no mundo como um ato criativo, pois caso não fosse assim, não seria possível a expressão “trabalhador preguiçoso”, que indica alguma ação. A preguiça em sua forma estática é a inação. Contudo, mesmo estar em inação pode ser uma maneira de criar. Meditar corretamente é um “fazer nada”, mas, por conta de sua relação com a mente certa, é uma forma de criar. Mas meditar também pode se reduzir ao fazer, se o ato for realizado com preguiça, ou seja, com interferências.
Enquanto durar a percepção, estarão presentes os opostos. A preguiça é apenas a “ação” da mente errada. É um fazer, uma apenas conveniência. É inclusive muito trabalhoso ser preguiçoso, pois é necessário justificar a preguiça, ao passo que as criações da mente certa não precisam de justificativas. Por isso se diz em linguagem popular que o preguiçoso trabalha em dobro, pois, além de fazer, precisa justificar o fazer, até perceber a necessidade em desfazer.
Portanto, a verdadeira preguiça é evitar fazer o trabalho de Deus. É interferir na ação do Espírito Santo ao ponto de se ver destacado da vida. Se tiveres que fazer algo, e não o fizeres, isto é a comum acepção de preguiça. Se tiveres que seguir tua mente certa — e é certo que tens que segui-la — e não o fizeres, cansas tua alma em inação, pois a preguiça é o tédio do mundo, e suas consequências de desconforto.
O escape da preguiça é envolver a ação em não interferência. Isso aparenta ser um paradoxo, mas não é assim. A preguiça não desenvolve nenhuma criação. Se apenas sentares em quietude e puderes ter certeza que os atos que farás serão indicados pelo Espírito Santo, isto será certamente o guia correto para tua saúde. Esta certeza vem de Deus e está abrangida em um sentimento de paz que perdoa o mundo inteiro. Assim, aprende que o empenho da ação não dirigida é esforço preguiçoso, que não preenche o vazio que fornece a sensação de desamparo que as tuas ações por vezes apresentam. Tens que saber que a ação não tende ao mal, nem ao equívoco, se estiver apresentada pela tua mente certa. Isto é advogado por uma presença pacífica que sempre pode ser medida pela alegria. Nada que se faz com preguiça é relacionado à alegria, e sim ao medo. Apenas o amor ao teu irmão pode te trazer de volta a boa ação dirigida. Pergunta a Cristo o que deves fazer, e ele te responderá na medida em que aceitares Sua resposta. 

 

[1] Lao Tsé – Do livro: Tao Te king


Obrigado por leres até aqui. És bem vindo aqui. Te amo.
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