segunda-feira, 12 de setembro de 2011

O Bom Ladrão

Obrigado a Ti por abrigares a mim!
Ser o mesmo é exatamente isto: ver a identidade no outro. No entanto, esta noção de identidade não é uma projeção, isto é, não significa que estarás disposto a ver no outro tuas próprias confusões, e nem farás de outro o espelho de teu conflito. Veja bem: o outro, aquele irmão que parece estar separado, és tu. Este conceito, que parece radical aos olhos do mundo, não existe fora de ti mesmo, e quando tentas encontrar outras formas de ver a teu irmão, o vês como diferente. “O mesmo e o diferente”, eis as duas únicas opções possíveis quanto à forma de veres a teu irmão.
                Não podes esquecer que teu irmão também fabricou para si um ego. No entanto, não é para isso que olhas quando o vês, se estás em tua mente certa. Tens medo dessas palavras simplesmente porque elas te revelam o teu obstáculo maior à Chegada. Ver ao teu irmão como o mesmo significa que não vês nele um ego, tampouco o tens como uma referência para projeção, pois se o vires deste modo, isto significa que desenharás nele o que queres que teu irmão seja. Assim, não respeitas sequer o ego dele, pois acreditas que tudo nele é sem valor, e sua presença no mundo é apenas uma ocorrência de decalque, onde podes vivificar teu irmão através de teu conceito sobre ele. Eis aqui a revelação do “travesti de Deus”, aquele que quer substituir cada um neste mundo por um conceito, “criando” a todos segundo sua estranha vontade.
                Não percebes o tamanho da violência que este ato evoca. Muitas vezes, aparentas até amar ao teu irmão mesmo neste jogo. Contudo, o que fazes é interferir no verdadeiro amor, pois o amor que o ego projeta sempre cobrará no futuro a tarifa da impecabilidade. Isto ocorre da seguinte maneira: projetas no teu irmão o “bem”; no entanto, queres que este “bem” seja perpétuo, imutável, mas não pode sê-lo, pois somente o que vem de Deus é permanente. Então, em outro dia, no fatídico dia em que desejares ver a teu irmão como a projeção de um estado confuso teu, verás nele uma “diferença”, perceberás que ele não é perfeito, e virá a “cobrança”.
                Teu ego aceitará a imagem que fez de teu irmão como sendo aquela antiga, a “boa” que induziu, e ao perceberes a diferença, ele logo te dirá: “vês! Este sujeito não é confiável, pois ele não é tão bom como tu és, e gosta mesmo te de deixar confuso. Ele é teu inimigo, não é uma pessoa boa como pensavas”, e a partir disto, surgirão os “motivos” elencados em ódios, que levarão ao teu irmão uma justificativa de seu estado imperfeito, e daqui o perdão torna-se muito imerecido, pois o teu irmão é pecador, e os pecadores merecem justamente a punição do julgamento.
                Aqui está demonstrada a loucura em veres a teu irmão como “diferente”. Ele não pode ser julgado, pois o julgamento é uma ferramenta do tempo, e não é eterno, não é imutável, e assim, cobrarás de teu irmão o imposto por sua impermanência, quando na verdade és tu quem o julgas certo dia como “bom”, outro dia como “mal”. Tende piedade de ti, que vês assim a teu irmão, pois és tu quem está instável, e não ele.
                Ver a teu irmão como o mesmo significa que não projetas nada nele. Não julgas o que ele diz, apenas esperas que seu Ser Santo se revele a ti. Ainda verás a Cristo em teu irmão, pois teu irmão é o Cristo. Teoricamente, mesmo isso pode ser usado pelo teu ego, pois podes de repente julgar teu irmão como sendo um certo Cristo que inventastes, e quando vires nele a diferença, o julgamento será tão pesado que teu irmão será o oposto de Cristo, conceito tão sem significado como será para ti o teu irmão, quando visto assim.
                Como é doloroso ver ao teu irmão como um projeto, uma coisa, uma massa de modelar tão aplicada às formas terríveis que engendras. Se realmente percebestes o quanto dói em ti ver a teu irmão como culpado, alegra-te, pois isto é verdadeiramente um fator preponderante para te livrares de teus amargos juízos, seja para o que denominas injusto “bem”, seja o que escarras como sendo “mal”.
                Irmão querido, amado, tão amado que não cabes neste mundo como coisa, como matéria fabricada, como versão ensimesmada de teus anseios, escuta isto: o silêncio é de ouro! O silêncio na voz, o silêncio na mente. Pois se “ouves” o silêncio, se percebes a quietude em ti, mesmo tuas palavras nascerão deste silêncio, e estarás apto a dizer de teu irmão somente as coisas certas, que não são boas ou más, simplesmente são.
                Ouve bem ao teu irmão. Presta a ele teu pai ouvido. Senta-te calmamente ao seu lado, e mesmo que ele te diga tolices, ouve através do silêncio. Jamais julgues a teu irmão, ele não é bom nem mal, pois ele não é deste mundo, ele é apenas o santo que pode te trazer de volta à casa e tu és o anjo que ele espera para levá-lo junto com ele. Assim, na Bíblia, surge a história do bom ladrão, aquele que viu no crucificado a paz tão bonita, e se refez em amor, e naquele instante se viu a si em Cristo, e naquele mesmo dia subiu aos céus junto com Ele. Sejas, pois, tu o Cristo, e seja teu irmão aquele que crê em ti, e sejas também aquele que crê em teu irmão, e assim serão os dois apenas um, e sendo o mesmo, compartilharão a natureza tão amável de Cristo, Que os unirá e terá imensa satisfação em levá-los de volta à Casa, graças a Revelação que surgirá para os dois como uma coisa só. E assim saberás sobre ser o mesmo.
                Pai, pedimos agora a Ti a Revelação. Que vejamos a todos como Teus Santos Filhos, tão iguais a Ti, que a natureza de todos habitam em Tua imensa bondade. Pedimos a Revelação, Pai, para que possamos caminhar mansamente sobre a terra, vendo a todos como o mesmo, tão iguais como possamos, neste mundo separado, que tanto urge Teu amor. Assim, Pai, que venhas a mim e através de mim ao Teu Filho Santo, a Todos, os que São, e esperam pela Tua Graça. Assim pedimos, meu Pai, seja feita Vossa Vontade, que sempre foi, e é, e será, em mim, Teu Filho grato. Amém.



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