terça-feira, 27 de setembro de 2011

Um sonho que tive III






Sonhei que estava em um carro com um amigo e sua filha recém nascida. Chegamos até uma casa antiga, dessas em que a varanda circunda todo o entorno, e sentamos em um banco largo de madeira. Assim que sentamos, a menina ficou de pé e começou a falar comigo. Como seu discurso fosse muito sábio, prestei bastante atenção. Ela me falou sobre a importância em abandonar o ego. Disse-me uma palavra chave, depois continuou com uma série de explicações das quais não lembro o conteúdo, embora versassem todas ainda sobre o desfazer do ego.
Assim que a menina parou de falar, vi que um rato preto estava num canto da parede. No entanto, logo após, no mesmo lugar onde se via a imagem do rato preto, vi dois filhotes de gato, também pretos, substituírem-na.



Interpretar o sonho é o mesmo que julgá-lo. Não posso, portanto, fazê-lo, pois sonhar é tão ilusório quanto perceber. Contudo, há uma percepção certa. Pergunto: há uma percepção certa no sonho noturno?

Já dissemos aqui que não há diferenças entre o sonho noturno e o sonho de vigília, isto é, a vida conforme conheces. No entanto, as imagens no sonho de vigília tendem a ser mais persistentes, como dizia Einstein. Dificilmente olharás para uma imagem em algum lugar do mundo, fecharás os olhos, e então verás outra coisa. A mágica de tais atos seria apenas uma série desordenada, que não conviriam sequer para a função óbvia da percepção que é distinguir as coisas. No entanto, a noção de tempo, que é o estabilizador do mundo, não está presente nos sonhos noturnos.
É incrível que tantas pessoas negligenciem isto. Mesmo psicólogos com experiência por vezes deixam passar esta noção tão simples: o tempo do sonho noturno é apenas o empenho do sonhador em construir seu mundo. Assim como o tempo no sonho de vigília é apenas uma referência de ordenação. Por isso, no Manual dos Professores está dito que, com o desfazer do ego, surge uma falta de estrutura, pois o tempo, o estabilizador do mundo, também é revelado como uma ilusão, e o caráter óbvio dos sonhos de vigília aparece de maneira muito evidenciada através da dissolução do tempo.
A percepção certa precede o despertar, pois ela apresenta o caráter da percepção perdoada, isto é, ausente de julgamentos. A partir deste ponto, Deus pode finalmente fazer a passagem pela estreita fenda que separa a percepção do conhecimento. A percepção certa é prerrogativa do Espírito Santo. Ele pode te ajudar a traduzir as imagens do sonho de julgamento que vês em imagens perdoadas. Assim, surge a possibilidade da transferência.
No sonho noturno isso não acontece assim. A ausência do elemento temporal como um ordenador faz com que as próprias imagens simbolizem os estados que elas evocam, sem a projeção direta, e sim gerando por si mesmas um significado. Por exemplo, se sonhas com uma criança falando sobre o desfazer do ego, certamente há uma imagem de pureza envolvida nisto. Assim como as imagens do rato e dos gatos pretos evocam a perseguição e uma noção de ataque, além de certa predisposição aos baixos instintos. No entanto, estas interpretações de nada adiantam, pois apenas sugerem estados que são julgados posteriormente. Durante o sonhar noturno, no entanto, raramente o sonhador percebe que está sonhando, e é como se ele não fosse “iluminado” também durante o sonho noturno. Portanto, a percepção do sonho noturno não fornece às imagens seus significados imediatos, assim como durante a vigília muitas vezes o sonhador diurno não apreende o significado do que vivencia, e evoca o passado em busca de entender o que se passou. Da mesma forma, ao tentar lembrar o sonho para entender o que se passou, o sujeito busca a si mesmo no passado do sonho, e de nada adianta tais procedimentos.
Contudo, há uma vantagem em lembrar dos sonhos noturnos. A sua permanência na memória faz com que o sonhador se torne cada vez mais consciente da distinção entre a percepção noturna dos sonhos e a percepção da vigília. Esta diferença na realidade não existe, mas para ti, que ainda dormes, parece que existe. Portanto, essa conscientização ou memória do estado de sonho noturno evocado, pode fazer com que apreendas conscienciosamente uma relação com as imagens do sonho noturno, fato que pode trazer alguns ganhos para te assistir no sentido de despertares do sonho de estares lendo isto, por exemplo.
Podemos dizer, portanto, que há sim uma percepção certa no sonho noturno, mas esta se dá apenas em termos de mensagens, como se fossem projeções atuantes, que não estão estáveis por conta da ausência do elemento temporal. Assim, as imagens do sonho são meras mensagens que tu envias a ti mesmo, assim como são as imagens da vigília. Portanto, despertar para a realidade dos sonhos diurnos fará com que a revelação também se dê no campo dos sonhos noturnos, na medida em que te tornarás consciente das mensagens que envias para ti mesmo.

Obrigado por leres até aqui. És bem vindo aqui. Te amo.


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